A Breve História de Regulus Black escrita por Mrs Borgin


Capítulo 85
85. Pelos caminhos mágicos do vácuo




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Pelos caminhos mágicos do Vácuo

As horas se arrastavam no quarto silencioso. Regulus estava arrependido de ter pedido a Kreacher que voltasse somente à noite. Deveria ter pedido ao elfo que deixasse suas coisas escondidas no quarto, então ele poderia aproveitar melhor o tempo. O livro que ele havia pego na biblioteca de sua avó não estava ajudando muito. Era um livro comum sobre plantas comuns, com informações igualmente comuns. Não havia nenhuma informação lá de que flor de picão, alfazema e menta pudessem fazer parte da composição do pó de flu. E nada em suas propriedades que lhe chamasse atenção. Aborrecido, ele jogou o livro sobre a mesa de cabeceira. O som oco da madeira fez Sirius respirar mais profundamente. Regulus olhou para o irmão. Ele estava se sentindo já bastante angustiado em ver o irmão dormir. Ele se aproximou da cama do irmão e olhou o rosto de Sirius. De alguma forma, Sirius parecia sorrir. Isso irritou Regulus.

— Debochado! Você que provocou tudo isso! Se não fosse tão cabeça-oca poderíamos estar jogando quadribol lá fora... mas não, o senhor Sirius Black, defensor das garotas mestiças indefesas achou por bem apontar uma varinha para o próprio pai! – ele gritou com raiva e ficou olhando para o corpo inerte de Sirius. A mesma expressão serena em seu rosto. Aquilo lhe deixou ainda mais angustiado, olhou para o frasco da poção para fazer dormir e sentiu uma súbita vontade de jogá-lo contra a parede. Então deu as costas para o irmão, bufando, e saiu do quarto batendo a porta com força, antes que pudesse fazer algo de que fosse se arrepender depois.

— O que foi, filho? – perguntou sua mãe que se aproximava arrastando os pés, provavelmente para dar para o irmão uma nova dose da poção, como ela estava fazendo a cada duas horas.

Regulus abaixou a cabeça.

— Nada, mãe. Só estou um pouco entediado. Hum... Será que eu poderia chamar Kreacher para me fazer companhia? – ele disfarçou um sorriso maroto que insistiu em tomar conta de seus lábios.

— Claro, filho. – respondeu-lhe a mãe, com a mão na maçaneta do quarto. Regulus apressou o passo em direção à escada, deixando Sirius e a mãe e os “problemas que não lhe diziam respeito” para trás.

O garoto achou que seria bom chamar Kreacher quando estivesse só na biblioteca, pois não poderia correr o risco do elfo aparatar na frente do pai carregando coisas que pudessem gerar perguntas embaraçosas. Ele passou apressado pelos avós que conversavam baixinho na sala de estar e foi até a biblioteca. Para sua decepção, Orion estava lá. Não poderia chamar Kreacher naquele momento. O que faria, então? Ele caminhou até as estantes e ficou lendo os títulos, sem saber ao certo o que iria pesquisar. Agora lhe restava menos de 48 horas para o encontro em Cokeworth com... com... provavelmente seria com Rosier e ele não tinha nada para mostrar. Isso o desesperou e pedia medidas extremas.

— Pai, professor Flitwick comentou na última aula de feitiços sobre a rede de flu e fiquei intrigado. Quer dizer, a gente usa isso desde que nasceu e eu nunca me perguntei como funcionava. Você sabe alguma coisa sobre a rede de flu ou sabe onde posso encontrar uma informação?

Orion olhou para o filho por cima da edição vespertina do Profeta Diário. Regulus olhava para ele com um ar tão inocente que foi difícil não responder, embora Orion soubesse que perguntas acompanhadas de excesso de explicação normalmente escondiam segundas intenções. Orion coçou a barba, pensativo.

— Não creio que eu saiba mais do que você, filho. Mas porque não tenta aquele livro de capa roxa, três prateleiras acima do livro “As mais macabras monstruosidades”. Eu nunca o li, mas o título sugere que seja algo neste sentido.

Regulus correu os olhos pelas prateleiras na direção que o pai apontara. Lá estava ele numa prateleira próxima do teto, um livro grosso de capa roxa intitulado “Pelos caminhos mágicos do Vácuo”. Regulus apontou sua varinha para o alto e “chamou” o livro:

Accio “Pelos caminhos mágicos do Vácuo”! – o livro voou em sua mão, fazendo-o perder o equilíbrio com seu peso. Ele agarrou o livro e agradeceu – Obrigado, pai. – então foi se sentar à mesa próxima da janela e o mais distante possível dos olhos do pai.

O livro era perfeito. Como poderia não ter notado o livro antes?

“No que concerne ao uso de transportes mágicos por bruxos menores de idade, a rede de Flu é, sem dúvida, a via mais segura. Enquanto as vassouras apresentam alto índice de queda e a aparatação acompanhada resulte em mais estrunchamentos que uma mãe poderia suportar, a rede de flu não apresenta riscos iminentes à saúde do menor, uma vez que sempre carrega em segurança o corpo – ou a parte dele colocada na rede – sem causar danos ou rompimentos. Porém deve-se evitar que crianças que ainda não pronunciam as palavras corretamente tenham acesso à rede, uma vez que tatibitati não é uma língua reconhecida pelo pó de flu.”

Ele folheou as páginas com avidez. Haviam mais do que 200 páginas sobre o assunto.

“Capítulo 11 – Lareiras interligadas

A descoberta das propriedades mágicas mistura prateada que hoje conhecemos como pó de flu, foi apresentada a Sociedade dos Mais Extraordinários Fazedores de Poções por Ignatia Wildsmith, durante o congresso anual da sociedade em 1278.

Ignatia Wildsmith contou, durante o congresso, que após observar o processo de fecundação da planta de flu – cujos esporos, sob o sol intenso, somem de dentro de uma flor e reaparecem em outra – resolveu testar estas sementes em diversas misturas na tentativa de obter algo que pudesse ser usado nos transportes mágicos.

Em uma noite particularmente fria, ela estava em seu laboratório testando o que era sua 741ª tentativa de mistura de vegetais com este propósito. Após imergir um pequeno camundongo no pó prateado e não obter nenhum efeito a não ser um animal com espirros, a bruxa teria jogado a mistura em sua lareira com raiva, na tentativa de se desfazer do pó. Em contato com o fogo, o pó prateado teria causado uma explosão de chamas verdes que tomou conta do recinto e por alguns instantes a bruxa pode ver claramente a sala de estar de sua casa da perspectiva da lareira e então fora jogada para o meio da sala, coberta de fuligem, mas sem sinais de queimaduras.

Após vários testes com a mesma mistura se conseguiu determinar, com a ajuda de encantamentos específicos, as destinações possíveis criando-se a chamada rede de flu como a conhecemos hoje. Tais encantamentos, bem como as proporções exatas da mistura usada no preparo do pó de flu são desconhecidas do público em geral. Mas a fábrica que detém o direito de fabricar o pó mantém o mesmo valor de venda há séculos, de modo que não há necessidade de produzi-lo em casa.”

Duas páginas adiante, lia-se:

“A rede de flu é controlada pelo Ministério da Magia para evitar que lareiras de casas trouxas sejam acidentalmente ligadas à rede. Hoje em dia, somente as lareiras em cuja chaminé foi adicionado um pouco de pó de flu durante a construção poderão ser usadas e ligadas à rede. Antigas chaminés, de construções anteriores a esta medida, estão automaticamente conectadas à rede, de forma que foi necessário que empregados do Ministério visitassem pessoalmente cada uma delas para lançar feitiços protetivos sobre aquelas que não tenham permissão para serem ligadas por alguma razão.”

— Hum, então o que bloqueia a lareira da sala comunal da Sonserina é apenas um feitiço. Interessante. – ele resmungou em voz baixa, esquecendo-se da presença do pai.

— O que você disse, filho? – perguntou Orion, deitando o jornal em seu colo.

— Nada, não, pai. Este livro é fantástico, pai! Você sabia que a receita exata do pó de flu foi descoberta por acidente? Aqui diz que a bruxa estava pesquisando e misturando as coisas, mas não conseguia resultado algum, então jogou no fogo pra se livrar da coisa. E Bum! Apareceram as chamas verdes. Incrível, né?

Orion olhou para ele levantando uma sobrancelha. Estaria Regulus tentando embromar mais uma vez?

— É mesmo incrível, várias coisas são descobertas por acidente, meu filho. Bom que esteja se divertindo com a leitura. – ele sorriu para o filho e tornou a erguer o jornal.

Regulus voltou a folhear o livro.

Tentativas frustradas de uso:

O efeito espiralado da fumaça que as chamas esverdeadas produz de alguma forma mudavam a estrutura das frases e palavras quando gritadas dentro do fogo sem que o bruxo entrasse nas chamas. Devido a este pequeno problema, em pouco tempo se desistiu de usar as lareiras como uma forma de enviar mensagens de voz e se abolir o uso das corujas.

Pouco antes de sua morte aos 93 anos, Ignatia revelou que havia uma mistura que permitia o envio de mensagens de voz incorpóreas, porém este segredo ela levou ao túmulo e não foi encontrada nenhuma informação substancial em suas anotações.”

O garoto sorriu abertamente. Então havia um meio. Seria ele detectável pelo Ministério?

— Jantar! – avisou vovó Melania com um sorriso triste.

Regulus marcou o livro na parte em que havia parado a leitura e foi se unir à família na sala de jantar. Ele estava completamente animado com as últimas descobertas, sentindo-se realmente bem, de forma que foi um choque quando entrou na sala de jantar e viu a mãe soluçando enquanto as lágrimas escorriam silenciosamente em seu rosto. Orion foi até ela e a deu um abraço apertado, dizendo baixinho:

— Vai ficar tudo bem.

Walburga secou as lágrimas como guardanapo que estava sobre a mesa e assentiu com a cabeça.

— Eu sei, eu sei... mas é doloroso. Eu quero tanto que isso faça efeito, que ele acorde mais calmo, que ele...

O que ela esperava que acontecesse realmente, Regulus não chegou a saber, pois a mãe voltava a soluçar e tentar segurar o choro. Regulus sentiu um misto de raiva e pena do irmão ao mesmo tempo. Ele havia provocado tudo aquilo. Se ele ao menos soubesse o quanto sua mãe sofria, ele não faria nada daquilo de novo. Ou faria? Pensar no irmão quase lhe tirou a fome e o entusiasmo pelas novas descobertas. Quase. Então ele tomou fôlego e se sentou ao lado da avó, tomando o cuidado de elogiar o magnífico jantar.


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