A Breve História de Regulus Black escrita por Mrs Borgin


Capítulo 83
83. Natal em Bramshill




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Natal em Bramshill, 1974

Orion, Walburga e os avós Melania e Arcturus estavam sentados à mesa conversando alegremente enquanto aguardavam o tradicional almoço de Natal dos Black quando Regulus desceu as escadas. A neve caía sem pressa do lado de fora e o fogo na grande lareira no canto da sala aquecia todo o ambiente.

— Onde está seu irmão? – perguntou Walburga.

— Na casa das vizinhas, suponho. – ele respondeu, sem desgrudar os olhos da mesa fartamente posta. Sua barriga roncou e ele sentou-se rapidamente ao lado da avó, de frente para o seu pai. – está muito cheiroso, vó. Posso? – ele perguntou, estendendo a mão para a concha na sopeira.

— Vamos esperar seu irmão. – respondeu a avó, sorrindo carinhosamente para ele.

Regulus admirava as baixelas de prata com o brasão da família, a louça reluzente com o mesmo brasão impresso, sentindo orgulho de pertencer àquela família. Ele olhou ao redor, estavam todos muito felizes e bem arrumados.

Subitamente a porta da sala se abriu e Sirius irrompeu por ela, todo sujo de fuligem, molhado com os cabelos negros salpicados de neve branca. Ele gritava ofegante e gesticulava, ofendendo e acusando o pai e o avô pela desgraça que acontecera na casa dos vizinhos.

Então, aconteceu tudo muito rápido. Regulus viu, do outro lado da mesa, a ponta da varinha de Sirius apertando contra a pele do pescoço do pai quando sua mãe sacou a própria varinha e num segundo depois o Sirius havia caído com o corpo flácido no chão.

Regulus levantou-se de sua cadeira e correu em direção ao irmão e, por um momento, pensou – ou desejou – que ele estivesse morto e isso o encheu de culpa. Quando deu a volta na mesa e chegou ao lado se Sirius, sua mãe já estava ajoelhada no chão, chorando baixinho seu remorso e com a cabeça do filho em seu colo. No instante seguinte Orion parou de esfregar o próprio pescoço e tomou o filho desacordado no colo e o levou escadaria acima.

Regulus, que havia acompanhado o pai de perto, observou a mãe puxar o lençol e o pai deitar o corpo flácido do irmão com cuidado nos lençóis brancos. Depois o pai saiu apressado sem dizer uma palavra. Regulus permaneceu calado em pé à cabeceira da cama, olhando a despir o irmão carinhosamente, limpar seu rosto com um pano macio e cobri-lo.

— Mãe, ele vai ficar bom? – a voz escapou de sua boca mais trêmula do que ele gostaria de admitir, no mesmo momento que Walburga apontava sua varinha para a face de Sirius.

Sua mãe, por algum motivo que ele não entendeu muito bem, desistiu do feitiço que iria fazer, abaixou a varinha e respondeu carinhosamente para Regulus:

— Claro, ele só vai dormir por uns dois dias, depois você terá seu irmão de volta. Ele precisa descansar.

Regulus soltou um suspiro aliviado. Uma porta bateu ao longe. O garoto ficou curioso, então deixou Sirius e a mãe no quarto e desceu as escadas. O pai havia acabado de chegar da casa dos vizinhos. Orion contou para seus pais e seu filho que a viúva do Leloush havia tentado incendiar a casa usando magia e, por sorte, Sirius estava lá e tinha ajudado as meninas a controlar o fogo a tempo. Madame Leloush havia se deitado depois disso e as meninas estavam limpando os estragos.  Orion contou que Madame Leloush já não era mais a mesma, não havia se recuperado e nunca mais se recuperaria do trauma do ano anterior. Não havia tom de lamento em sua voz, embora Orion continuasse mostrando respeito pela bruxa. Ninguém comentou.

Regulus olhou esperançoso para a mesa da sala de jantar ainda posta, mas parecia que ninguém mais tinha a intenção de comer. Os avós se recolheram a um canto da janela aos cochichos e Orion subiu as escadas. Regulus pensou um pouco e depois seguiu o pai.

A porta de seu quarto estava entreaberta, os pais conversavam e ele não queria interromper, tampouco queria deixar de saber o que conversavam. Ele encostou-se na parede ao lado da porta e ficou atento à conversa que vinha de dentro do quarto:

— ... Você não? – perguntou Orion ao notar a varinha de Walburga sobre a mesa de cabeceira.

— Não, não tive coragem... – ela respondeu, acariciando os cabelos do filho, ainda sentada ao lado da cama em uma cadeira de madeira escura de espaldar alto. Orion acariciou a testa da esposa.

— Talvez fosse o melhor a ser feito... Ele sofreria menos... – Orion disse olhando para o filho deitado na cama.

Walburga irrompeu num choro. Em meio a soluços, ela falou:

— Não! Meu Sirius não! Ele vai crescer e vai perceber que está errado! Ele é tão parecido com você Orion... Você também tinha ideias erradas sobre os trouxas quando era novo... eu me lembro... É só rebeldia adolescente, ele vai crescer... Deixe ele com suas memórias...

Regulus não podia acreditar em seus ouvidos. Então seus pais discutiam se iam ou não apagar a memória de Sirius? Teriam feito isso outras vezes? Ele estava prestes a entrar no quarto quando ouviu a voz grave do pai trovejar:

— Você está certa, querida. Nós juramos nunca fazer isso um com o outro, nem com nossos filhos e não vai ser por tão pouco que vamos quebrar nossa palavra. Sirius vai crescer e não vai demorar muito para que volte para o nosso lado. Vamos deixar que ele chegue à conclusão sozinho, como eu cheguei.

Então se fez silêncio. O garoto espiou pela porta. Os pais estavam se beijando. Disfarçadamente ele caminhou em direção à escada, deixando seus pais às sós. Sua barriga roncou e ele apressou o passo, descendo as escadas rapidamente. Com sorte ninguém se importaria se ele provasse um pouco da sopa de ervilhas e do pudim de carne.


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