A Breve História de Regulus Black escrita por Mrs Borgin


Capítulo 73
73. A gosma suspeita




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A gosma suspeita

Nunca um mês iria demorar mais do que aquele. Isso, ao mesmo tempo que o tempo parecia correr mais depressa. Uma aula mal terminava e quando Regulus se dava conta já estava em outra sala de aula ou correndo para a sala de Slughorn. E então era hora de dormir novamente.

Era quarta-feira, terceiro dia de detenção, o mais novo dos Black deixava a sala comunal da Sonserina em direção à sala de Slughorn quando um grito estridente o paralisou e quase estourou seus tímpanos:

— REGULUS BLACK!!!!! ONDE O SENHOR PENSA QUE VAI?

Por um momento ele teve vontade de gritar algo do tipo “não é da sua conta”, mas achou prudente não enfrentar Emma desta forma. Ele não queria perder sua vaga no time. Lentamente, o garoto virou seu corpo. Emma estava ao fundo do corredor, em frente às escadas que davam acesso ao salão principal. Ela empunhava sua vassoura de modo ameaçador, Regulus pensou que fosse atirá-la nele. Então relaxou e sorriu. Pelo menos não era a varinha. Ele caminhou lentamente até Emma e respondeu:

— Estou indo cumprir minha detenção com o professor Slughorn. Pensei que você tivesse recebido meu recado, pedi que Lucinda o entregasse essa manhã.

— Eu recebi, mas pensei que era brincadeira. – ela respondeu, muito brava. – como você pode pegar uma detenção sabendo que nosso próximo jogo é contra a Grifinória e, do jeito que eles bateram a Lufa-lufa no primeiro jogo, não vai ser fácil vencê-los...

— Relaxa, Emma. O jogo contra a Grifinória vai ser depois das férias de inverno. Temos tempo. E eu consigo pegar o pomo antes da Lisa Prewet. Acho que isso ficou claro no último jogo...

— Você está sempre muito seguro de si, não é Reg? Pois eu já estou cheia disso! – ela gritou, atirando a vassoura ao chão. – Tudo é mais importante do que o Quadribol para você, você chega atrasado aos treinos e aos jogos e, como se não bastasse, agora arrumou esta detenção! O que você está pensando? Que é insubstituível? Pois hoje vou testar o Paul Parkinson no seu lugar!

— Emma, Paul não consegue apanhar nem os próprios óculos quando escorregam do nariz...

Emma lhe lançou um olhar de desprezo.

— Suba! – ela ordenou à vassoura, então segurou firmemente seu cabo e deu as costas ao garoto, subindo as escadas rapidamente.

Regulus fez o caminho para o escritório de Slughorn dando murros nas paredes. “Porque será que Emma, de repente, tinha se tornado tão hostil? Será que ele iria perder seu posto para o imbecil do Parkinson?” o garoto deu mais um murro na parede.  Não sentia raiva de Emma, mas da situação. John estava certo, aquilo era culpa dele. Ele é quem deveria ter tomado mais cuidado ao roubar o pó de flu e usar a lareira. Após um quinto murro ele descobriu, tarde demais que descarregar sua frustração nas paredes do castelo só lhe rendia arranhões e uma dor lancinante nos nós dos dedos. Ele mordeu os lábios segurando um grito de dor, enquanto massageou a mão dolorida. Resmungando um bocado, bateu na porta e, logo após ouvir a voz do professor o convidando para entrar, num incompatível bom humor, Regulus pegou na maçaneta e abriu a porta. Ao olhar a quantidade de caixas e potes cheios de um conteúdo esquisito espalhados por todo canto, ele conseguiu perceber qual o motivo de tanta satisfação do diretor. Quanto mais trabalho havia para os garotos, mais o professor enchia sua barriga de abacaxis cristalizados, sorrindo sem parar.

Jack, John e Theodor já estavam trabalhando quando ele se aproximou na grande bancada. Eles pareciam bastante adiantados no serviço, embora Regulus soubesse que não havia se demorado mais que três minutos com Emma.

— Hey, Ami! O que temos para hoje?

— Aqui, Reg. Temos que pegar uma medida dessa coisa preta viscosa e grudenta, colocar dentro de um frasco assim, depois pesar e anotar o peso nesta etiqueta. Aí é só colocar dentro da caixinha e colar a etiqueta desse jeito – Amifidel colocou a etiqueta lacrando a caixa.

— E o que é esse troço?

Theodor chacoalhou os ombros.

— Não sei, Slughorn não disse... acho que é ilegal – ele completou, num sussurro.

Regulus olhou a etiqueta que Amifidel acabara de colar. Ela estava previamente preenchida em uma língua estranha. A única coisa que Regulus identificava era “H. Slughorn Aphotecarium”. Ele ergueu as sobrancelhas. Aquilo era curioso. O que seria? Olhou para o professor, que o observava. Então abaixou a cabeça e começou a repetir o que Amifidel lhe mostrara. Não importava o que fosse a gosma preta, o resultado era o mesmo dos dias anteriores: trabalho chato e maçante.

 Pelo menos ele tinha tempo de pensar no que ele mais do que desesperadamente desejava: outro plano para entrar no clube e fazer Emma entender que não precisava de outro apanhador, muito menos do idiota do Parkinson. Ele olhou para John, que olhou para o outro lado.

— O que tem o John, hein? – Regulus perguntou a Amifidel, em voz baixa.

— Ele ainda acha que você é culpado por estarmos aqui...

— Ele deve achar que estou adorando estar aqui! – ironizou Black.

— Bem, não é só isso... ainda tem aquela garota...

— Que garota?

— Uma menina do primeiro ano, de cabelos ruivos... ele gosta dela, eu acho. E agora ela não para de perguntar de você...

Regulus olhou para John, indignado. Abriu a boca para dizer que não tinha culpa se a garota estava caidinha por ele. Então lembrou-se de que havia sim jogado charme para o grupo de meninas que o havia cercado na tarde de domingo. Não para a ruiva em especial, mas para todas elas. Achou melhor não falar nada e voltou seu olhar para a caixa.

Lembrou de Alice. No dia anterior ele havia corrido até ela logo depois do almoço com o tabuleiro de xadrez embaixo do braço. Ela estava com suas amigas no jardim, conversando. Ele lembrava bem, teve que se encher de coragem para interrompe-las, pedir licença e convidá-la para jogar. Foi um esforço enorme, as garotas todas o reprovaram com o olhar. Alice simplesmente tinha respondido que sentia muito, mas estava ocupada. Ele bufou ao lembrar daquelas palavras. Ele havia feito o maior esforço do mundo, comido rapidamente seu almoço sem esperar sobremesa, corrido até a sala comunal da Sonserina pegar o tabuleiro, procurado por ela em vários cantos, inclusive tinha perguntado para um grupo de garotas da Lufa-lufa se sabiam onde ela estava e ela o recompensava com um “agora não.” “Como assim????” A amiga estava fria e não parecia compartilhar de sua ansiedade em encontrar tempo para que ficassem juntos. Ele não conseguia entender.

Ele pegou mais um bocado da gosma preta e pesou. O que seria aquilo? Não tinha ideia do que poderia ser. E se fosse algo com poderes fantásticos que o ajudasse a impressionar Rosier? Regulus olhou para os lados e aproximou a coisa dos olhos. Não se parecia com nada que já tivesse visto.

O líquido viscoso, ao ser examinado de perto, apresentava minúsculos grumos gelatinosos no meio, que pareciam pulsar levemente. Era levemente translúcido nos grumos, embora a parte líquida e viscosa fosse opaca e refletisse alternadamente as cores verde, azul e vermelha. Regulus agitou o frasco com cuidado. Imediatamente chegou ao seu nariz um forte cheiro de ferro misturado com enxofre, ao mesmo tempo era adocicado. Regulus sentiu ânsia e rapidamente tampou a porção e colocou dentro da caixa. Olhou para os outros. Os amigos com cara de tédio embalavam e pesavam a gosma sem olhar para os lados. O professor parecia tão entretido no pacote de abacaxi cristalizado que nem ele, nem os garotos pareciam ter percebido a desagradável experiência sensorial de Black. Ao constatar isso, ele se voltou à monotonia do trabalho.

Mas a curiosidade não o abandonava. O que seria aquilo?

— Ami, você realmente não tem ideia do que pode ser isso? – ele sussurrou.

— E o que importa, Reg? Chamar a gosma pelo primeiro nome não vai tornar o trabalho mais agradável... – respondeu mal-humorado.

Aquele não era um bom momento para discutir, sua pergunta pareceu distrair levemente o professor de seu saco de doce. Regulus não respondeu. Voltou ao trabalho e assim que notou a habitual expressão de tédio dos colegas e o professor voltou a olhar apaixonadamente para uma fatia especialmente gorda de abacaxi, ele pegou uma porção da gosma e enfiou em seu bolso.

Não demorou muito para que a coisa molhada começasse a escorrer por sua perna lentamente. Pelo menos não causava urticária, nem dor, nem nada. Aparentemente era inerte. Sem conseguir se concentrar em mais nada, apenas na sensação molhada que gelava sua perna, Regulus deixou escapar um suspiro aliviado quando o professor se deu por satisfeito e os deixou ir para o dormitório.

Os garotos saíram da sala de Slughorn apressados e quando chegaram à Sala comunal da Sonserina, Jack, John e Theodor se jogaram nas poltronas. Regulus, sentindo que a gosma já estava atingindo suas meias, correu para o dormitório se trocar. Abriu a porta com estrépito e se jogou aos pés da cama, onde abriu o malão a procura de algo que servisse para coletar a gosma. Ele tinha certeza que havia um vidro de perfume lá. Algo que Sophie havia lhe dado. Após alguns segundos remexendo em suas roupas em total desespero, encontrou o frasco, pegou sua varinha e apontou para ele:

Tergeo! – o líquido secou. Regulus cheirou o frasco, ainda tinha um cheiro forte de almíscar - Scourgify!

 Ele examinou o frasco contra a luz. Estava limpo. Então esvaziou o bolso dentro do vidro e tirou a roupa. Lançou um feitiço sobre si mesmo para limpar-se. Para o seu alívio, a pele que apresentava uma mancha vermelha com borda verde sumiu. Ele vestiu o pijama e apontou a varinha para suas vestes.

— Scourgify!

O feitiço para limpar não teve efeito sobre seu uniforme. O garoto desesperou-se. Olhou para os lados tentando pensar em algo para fazer, então viu o frasco com a gosma dentro. No mesmo momento ouviu a voz de Slughorn na sala comunal. Ele tinha sido descoberto! Eles não iriam tolerar um segundo roubo! Desesperado, ele sussurrou:

— Kreacher?

Imediatamente o elfo de olhos grandes e orelhas de morcego aparatou em sua frente com um grande sorriso.

— Precisa de algo, meu senhor?

— Sim, rápido, leve minhas vestes e tente tirar essas manchas.

— Isso não será necessário.

O elfo estalou os dedos e a roupa ficou limpa novamente, sem vestígios da gosma.

— Obrigado. Por favor, Kreacher, leve isso com você e guarde em meu quarto. não deixe ninguém saber, certo? – o garoto estendeu o frasco com a gosma para o elfo, que o pegou sem fazer perguntas. – Ah! Espere! Leve este aqui também. – dizendo isso ele se abaixou e procurou em seu malão. Lá estava o que havia restado de pó de flu. – aqui. Pode ir agora. Não comente com ninguém sobre isso. – o elfo fez uma reverência e foi embora, no mesmo momento que a porta do dormitório se abriu.

— Professor Slughorn trouxe um pouco do abacaxi cristalizado e outros doces para a gente. Disse que fizemos um ótimo trabalho. Estamos esperando você na sala comunal.

Falou Amifidel com a boca cheia de doce.

Regulus o seguiu para a sala comunal, onde Slughorn o esperava com um sorriso. Após algum tempo de conversa fiada, Regulus relaxou. Era notório que o professor não havia descoberto seu pequeno furto e que estava lá apenas tentando fazer com que os garotos entendessem a necessidade de não sair comentando a respeito do que fizeram aquela noite. Amifidel estava certo. Devia mesmo ser uma substância proibida ou de origem duvidosa. Interessante.


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