A Breve História de Regulus Black escrita por Mrs Borgin


Capítulo 64
64. O sumiço de Alice


Notas iniciais do capítulo

Início do 3º ano de Regulus em Hogwarts.



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O sumiço de Alice; primavera de 1974

Regulus desceu do trem se sentindo estranho. Tinha feito a viagem à Hogwarts na mesma cabine que Emma Vanity, suas amigas e seu namorado, David Davies – o que significava que ele não tinha tido vez no colo de Emma – o que era uma pena, mas, enfim, era a vida. No fundo ele se sentia feliz em ver Emma namorando, pois ela estava muito feliz e o Davies era atencioso e carinhoso como ela merecia. Ele optou por não viajar com os colegas de quarto ou do clube, uma vez que não tinha conseguido pensar em nada para impressionar Rosier e não queria falar no assunto. Ele havia caminhado algumas vezes pelo corredor do trem. Uma vez encontrou com seu irmão que, supreendentemente, não só não o ignorou como acenou quando o viu. Viu, de passagem, os amigos do clube em uma cabine, Snape com o olhar perdido no horizonte, Avery ao seu lado lendo uma revista e Mulciber ao lado dele, muito entretido com os próprios dedos das mãos. Na frente deles, Theodor Amifidel, Jack Laughton e John Münch, seus companheiros de quarto, conversavam preocupados. Regulus não entrou nem bateu à porta, apenas acenou sem certeza de que o haviam visto. Mas todas as vezes que se levantou e saiu de sua cabine era porque ele sentia-se inquieto. Sabia bem quem ele precisava ver para se acalmar. Alice. Mas sua amiga parecia ter evaporado. Não a encontrou em nenhum lugar do trem. “Mas poderia ser só um desencontro, ela estaria no trem ou teria ido para escola por outros meios, no banquete eles se encontrariam, com certeza”, Regulus tentava se acalmar em pensamento.

Alice não estava no Salão Principal. Ele olhou cuidadosamente para a mesa da Lufa-lufa e não havia sinal dela. Teria se atrasado? Quem sabe chegaria para as aulas no dia seguinte. Assim que receberam a grade de horários do trimestre, Regulus checou as aulas para ver quando Sonserina e Lufa-lufa teriam uma aula em comum. Isto só aconteceria na quinta-feira. Ele suspirou, aquela seria uma longa semana.

— Desanimado com os horários das aulas, Reg? – perguntou Amifidel.

— Ah, não... Bom horário. – ele respondeu, balançando a cabeça – Poções logo cedo amanhã. Muito bom. Estive pensando em uma poção durante o verão e queria que Slughorn me tirasse uma dúvida...

— Alguma coisa sobre aquele assunto? – Amifidel sussurrou.

Regulus balançou a cabeça negativamente. Então mudou de assunto. Terminou a sobremesa e foi para as masmorras da Sonserina, não queria discutir o assunto do clube tão cedo. Pelo menos até descobrir o que fazer para entrar no clube. Como não havia conversado com nenhum deles no trem, acreditava que todos já tivessem ter seu meio de impressionar Rosier e ele não queria passar pela humilhação de admitir que ele não conseguira.

Regulus passou todas as horas vagas, quando não estava tentando um encontro casual com Alice na escola, estava na biblioteca estudando todo o tipo de livro para tentar descobrir algo que pudesse ser útil para ajuda-lo a entrar no clube. Durante as refeições e as aulas, quando algum de seus companheiros de quarto fazia a menor menção de falar sobre o clube, ele mudava de assunto rapidamente, avisando “aqui não”. E assim tentou o quanto pode evitar a conversa sobre o clube com os amigos, até que, quatro dias após o início das aulas, eles estavam todos em suas camas no quarto escuro, esperando o sono chegar quando Amifidel desabafou.

— Não consegui pensar em nada que fosse agradar Rosier.

Para a surpresa de todos, não foi só um, mas um coro com as vozes de Jack, John e Regulus que se ouviu em resposta.

— Eu também não.

— O que vamos fazer? – perguntou Jack, inquieto.

— Podemos amaldiçoar alguém. Sei lá, cortar a perna de um Grifinório... – respondeu John.

— E ser expulso da escola? Você enlouqueceu? – repreendeu Amifidel.

— E ser expulso do clube também, já que Rosier foi bastante claro quando disse que não era pra fazer nada que chamasse muito a atenção dos outros para a gente. – Completou Regulus.

— Bem lembrado, Reg. – apoiou Jack.

— Certo, e saber de tudo isso vai nos ajudar a entrar no clube de que forma? – perguntou John, irritado.

Os outros ficaram em silêncio.

— Vamos encontrar um meio. Agora somos alunos do terceiro ano de Hogwarts! – tentou animar Amifidel. John apenas bufou, Jack adormecera e roncava suavemente.

— Vamos, sim, Ami. Agora durma. Boa noite. – respondeu Regulus, bocejando e virou-se de lado.

Ele respirou aliviado. Pelo menos não era o único que iria ficar de fora do clube por enquanto. E isso seria até bom pois teria mais tempo para treinar quadribol e passear com Alice. Ele estava muito intrigado, eles tinham tido uma aula de Trato das criaturas Mágicas mais cedo naquela tarde com a Lufa-lufa e Alice não estava lá. Estaria acontecendo alguma coisa com ela? Regulus queria perguntar para as amigas dela que cochichavam sem parar pelos cantos do castelo, mas tinha vergonha de se aproximar e também não sabia até que ponto os alunos da Lufa-lufa haviam superado a derrota no jogo de quadribol da última temporada. Havia passado a tarde do dia anterior inteira na biblioteca e, pelo menos, não encontrara nenhuma menção ao seu nome no Profeta Diário dos últimos meses. Remexeu-se mais uma vez sob os lençóis. Inquieto, levantou-se, pegou um pergaminho e sua pena. Caminhou sem fazer barulho até a porta e saiu, fechando a porta às suas costas.

A sala comunal da Sonserina estava deserta. Ele se sentou em uma das muitas confortáveis poltronas, apoiou o pergaminho no apoio de braço e começou a escrever. O lugar mantinha a penumbra esverdeada suficientemente clara para que ele conseguisse enxergar o que escrevia, de modo que não achou necessário acender uma vela ou sua varinha. Com rapidez e elegância, ele escreveu uma breve carta disfarçando a letra para que parecesse o mais feminina possível. Apesar dela ter pedido que ele não enviasse cartas por causa do pai, aquela era uma emergência e ele precisava saber notícias suas. Estendeu a mão para ver o aspecto da carta de longe, então acrescentou algumas florezinhas nos cantos para melhorar o disfarce.

“Querida Alice, notei sua ausência nas aulas neste início de ano. Como não é do meu feitio aborrecer os professores com perguntas que não são pertinentes às aulas, não questionei o fato a eles. Como as meninas da sua Casa tem ciúmes da nossa amizade por eu não ser da Lufa-lufa, não perguntei a elas também. De qualquer forma, espero que esteja tudo bem com você e que se junte à nós em breve. Aqui escola está tudo bem. Aguardo sua resposta ou o seu retorno, o que chegar primeiro. Um grande abraço. R.A.B.”

A carta parecia boa e inocente o suficiente para não levantar suspeitas. Ele a dobrou com cuidado e voltou para o dormitório. Quando olhou para a mesa de cabeceira onde deixaria a carta até o amanhecer, encontrou uma xícara de chá e um bilhete em uma caligrafia lastimável.

“Bem vindo de volta à Hogwarts, senhor Black. Esperamos que a xícara de chá esteja ao seu contento e o ajude a dormir. Atenciosamente, os elfos da cozinha de Hogwarts.”

Ele pegou o chá e bebeu em pequenos goles, deixando a carta sobre a mesa de cabeceira ao lado da xícara vazia. Antes de dormir, rasgou um pedaço de pergaminho – o barulho do papel rasgando fez Amifidel se mexer na cama, mas não o acordou – então ele escreveu rapidamente e deixou dentro da xícara um bilhete de agradecimento aos elfos. Depois deitou-se. Na manhã seguinte ele enviaria a carta, o mais cedo possível. Schwarzie com certeza saberia encontrá-la.

Ele esperou ansioso pela resposta durante dois longos dias, quando finalmente Schwarzie retornou trazendo uma carta. Estavam todos no salão principal, tomando café da manhã, Regulus tinha a boca cheia de bacon com ovos. Soltou o garfo sobre a mesa e apressou-se em abrir a carta. Para sua imensa decepção, era a mesma carta que ele havia enviado, sem nenhum rabisco adicional. Ele olhou para a coruja, que parecia um pouco nervosa. Regulus deu a ela um pouco de gema de ovo, dizendo que não era culpa sua. A coruja levantou voo e saiu pela janela.

“A carta não foi entregue! A carta não foi entregue!!!” ele repetia em pensamento. A carta não fora entregue e isso o desesperou. O garoto deu uma última olhada para a mesa da Lufa-lufa, as amigas de Alice estavam todas lá e conversavam animadas como se nada estivesse acontecendo. E se tivesse acontecido algo terrível com ela e as amigas ainda não soubessem? Angustiado, abandonou o salão principal sem falar com os amigos nem olhar para os lados.

Duas semanas se passaram e Regulus andava feito zumbi pelos corredores de Hogwarts, sem rumo e desatento. Durante os treinos de Quadribol ele voava fazendo movimentos aparentemente desorientados, o que Emma julgou serem uma espécie de treino de equilíbrio e manobras radicais. Na aula de poções estava tão desatento que não havia conseguido terminar uma só poção desde a primeira aula no trimestre, Professor Slughorn chegou mesmo a pensar em escrever para seus pais perguntando o que estava acontecendo. Nas outras aulas não estava sendo diferente, ele não conseguia se concentrar e até mesmo os feitiços mais simples pareciam ser impossíveis de serem executados. Seus amigos desistiram de ajuda-lo, após tentarem muitas vezes descobrir o que estava acontecendo e muitas respostas atravessadas – a mais educada delas sugeriu que Amifidel fosse pentear a barba do diretor e o deixasse em paz.

Ele estava vagando pelos corredores há mais de uma hora naquele fim de tarde, já tinha subido as escadas até o sétimo andar, onde Sir Cadogan o desafiou para um duelo pela milésima vez naquela semana e ele, como sempre, apontou a varinha para o quadro e ameaçou pintar sua armadura de cor-de-rosa se não calasse a boca. Depois desceu as escadas novamente, sem pressa. Até que ele acabou parando novamente no corredor da cozinha que levava para a sala comunal da Lufa-lufa. Era inevitável, ele sabia, por mais que não intencionasse chegar lá, era para lá que seus pés o levavam. Ele pegou uma pena e pergaminho e escreveu outra carta. Quando terminou assoviou alto e sua coruja veio ao seu encontro alguns minutos depois. Ele entregou a carta e disse:

— Encontre Alice para mim desta vez, ok?

A coruja o olhou atrapalhada e levantou voo com a carta no bico.

O que Regulus não sabia é que Alice havia acabado de retornar para a escola e estava naquele exato momento a alguns metros acima dele, no salão principal. A coruja entregou a carta para Alice, que ainda cumprimentava as amigas animadamente enquanto aguardava o jantar.

Reconhecendo a coruja, abriu o pergaminho no mesmo instante e leu:

“Lentamente meu rabisco toma forma e escreve o teu nome repetidas vezes, como fosse eco do meu próprio pensamento. 

Alice.

Alice.

Alice.

Quando tento negar para mim mesmo o quanto gostaria que você estivesse aqui do meu lado, compartilhando um por de sol qualquer, é minha vassoura que descreve em movimento um grande A no céu...

E é o meu corpo que me leva ao corredor de sua sala comunal e me deixa feito bobo a olhar esta galeria de quadros com figuras de comida quando minha fome pode ser facilmente saciada pelo som do seu sorriso.”

O sorriso, neste momento, surgira inevitavelmente em seu rosto. Então ela levantou os olhos e tentou ver Regulus na mesa da Sonserina, mas ele não estava lá. Ela continuou a ler:

“O que eu faço? Pela terceira vez caminhei sem prestar atenção e tropecei no saco de batatas que agora uso para apoiar o pergaminho em que lhe escrevo. Estou começando a pensar em me oferecer para descasca-las... De novo! Tenho certeza de que em algum lugar, no meio deste grande saco de batatas, encontrarei minha sanidade. RAB”

 Alice deixou o salão principal correndo e foi encontra-lo.


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Notas finais do capítulo

Me conte o que você achou!!!