A Breve História de Regulus Black escrita por Mrs Borgin


Capítulo 58
58. Pririlampos


Notas iniciais do capítulo

Este capítulo escrevi ao som daquela música "vou caçar mais de um milhão de pirilampos por aí pra te ver sorrir..."



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Pirilampos

— Mais batatas na manteiga, senhor?

— Ahn? Ah , sim, claro. Por favor.

Em meio a uma infinidade de vapores e aromas, sentado na ponta de uma longa mesa de madeira polida, estava Regulus muito distraído em seus próprios pensamentos, mal conseguindo prestar atenção nas batatas douradas que comia. Mesmo estando atarefados com o preparo do jantar da escola, os elfos da cozinha de Hogwarts, como sempre, haviam sido muito gentis em lhe preparar seu prato favorito, exatamente como ele havia explicado da primeira vez.

Os elfos raramente tinham contato com os alunos de Hogwarts e a grande maioria dos alunos sequer sabia de sua existência, por isso eles se deleitavam quando algum aluno lhes pedia algo diretamente. Em torno de Regulus haviam quatro elfos o observando, em silêncio. Um deles, o mais baixinho e pançudo, estava de tal forma hipnotizado por seus movimentos que abria a boca cada vez que o garoto se preparava para dar mais uma garfada, depois fazia movimentos com sua boca como se estivesse mastigando. Demorou um pouco para que Regulus percebesse o que o elfo fazia. Quando percebeu, virou-se para ele e o encarou franzindo a testa.

— Me desculpe, você quer um pouco? – perguntou o garoto, educadamente, achando graça.

O elfo se assustou e recusou com a cabeça, parecendo assustado. Regulus sorriu.

— Você me lembra o elfo de minha família, o Kreacher. Costumávamos brincar de esconde-esconde em minha casa quando ele tinha a sua idade... – disse Regulus, examinando o elfo, que não aparentava mais do que uns 07 anos. – Você é criança ainda, não é? O que faz aqui na cozinha?

O elfo engoliu em seco. Um outro elfo, de orelhas pontudas e um nariz absurdamente curto para um elfo, lhe deu um chacoalhão e disse:

— Vai, responde. O aluno falou com você!

— Toffe está aqui como aprendiz, senhor. Ainda não preparo as refeições, apenas arrumo a mesa e descasco legumes. Também estou começando a ajudar na limpeza.

— Pensei que elfos-crianças apenas brincassem.

— Toffe já não é mais criança, senhor. Toffe nasceu em Hogwarts e aguardava ansiosamente para ser recrutado para servir, senhor. Agora Toffe tem idade para trabalhar e o diretor aceitou Toffe como aprendiz. Uma grande honra, senhor.

— Sei como é. Kreacher também já não brinca mais comigo e meu irmão, agora ele cuida da limpeza da casa e da cozinha, junto com a mãe dele. Ele está realmente muito feliz em ter novas responsabilidades, mas sinto falta dele. E não é do chá quente que ele levava no meu quarto para mim todas as noites antes de dormir, é da guerra de travesseiro, de suas conversas delirantes sobre o que é magia e as travessuras que fazíamos em casa... – o garoto sorriu... – muito bons tempos... – e suspirou – mas crescer também é bom... – e se perdeu em relatos sobre tudo o que ele observava Kreacher fazer e o quanto ele notava o elfo feliz e orgulhoso em servir à sua família. Depois ficou pensativo e permaneceu calado, enquanto as ideias sobre o novo clube e o sorriso de Alice pipocavam em sua mente. Então Regulus percebeu que já não eram mais apenas quatro elfos em torno dele, mas uns vinte, pelo menos, debruçando-se uns sobre os outros para ouvir ele falar de sua vida com Kreacher.

 – Bem, acho que já tomei muito o tempo de vocês e comi tanto que acho que nem vou jantar hoje! – ele sorriu – obrigado pelas batatas, estavam deliciosas – e, virando-se para o elfo aprendiz – Boa sorte. – então o garoto levantou-se, virou-se e saiu da cozinha, acenando de costas para os elfos – tchau.

Regulus voltou animado para a sala comunal. Alguns amigos jogavam snap explosivo sentados em círculo no centro do grande tapete negro no meio da sala. Assim que ele chegou o convidaram a juntar-se a eles. Muito satisfeito, ele sentou-se ao lado de Jack. E aguardou suas cartas, olhando sorridente para os outros.

Depois de inúmeras partidas loucas e engraçadas, os alunos se dispersaram, muitos deles se dirigiram ao Salão Principal para o jantar, deixando o lugar cheio de solidão e silêncio. Como era de se esperar, Regulus não estava com fome. Ele caminhou para o dormitório do meninos, procurou por um livro e voltou para a sala comunal. Depois de aconchegar -se em uma poltrona, ele passou algum tempo com os olhos fechados, curtindo o som das ondas que lambiam uma janela próxima. Ele podia sentir ondas de alegria correndo seu corpo enquanto se lembrava das últimas horas. A paisagem de Hogwarts, Alice, os elfos, as batatas, seus amigos e suas piadas durante a tarde ... Ele suspirou, abriu o livro e passou horas lendo. Era um livro interessante sobre as aventuras um mago perdido em uma terra desconhecida, de onde era impossível aparatar.

*

Após passar a tarde de domingo com as amigas conversando próximas do lago Negro, Alice voltou ao castelo com a desculpa esfarrapada de que queria organizar seu malão e escrever uma carta para seus pais. Eram ainda 16h, mas ela queria poder ao menos escovar os cabelos antes de se encontrar com Regulus. Estava quase à porta do castelo quando Regulus passou quase esbarrando nela. Ele estava acompanhado de seus colegas de quarto e sequer a cumprimentou, ria debochadamente da imitação que Amifidel fazia de algum professor. Alice subiu as escadarias da entrada e olhou para trás. Ele realmente não fizera nenhuma menção de que a havia notado e isso a deixou preocupada. Teria ele mudado de ideia? Ela franziu a testa, preocupada. Ele não tinha ido jantar na noite anterior, também não o vira no café da manhã ou almoço e agora a ignorara. Chateada, ela enfiou as mãos nos bolsos e seguiu sem rumo pelo corredor, sem descer as escadas para sua sala comunal.

Uma lágrima solitária escorria em sua face quando ela percebeu um movimento no fundo de seu bolso. Ela tateou sobre o objeto que se mexia e reconheceu o rei preto. Imediatamente veio em sua mente a imagem de Regulus lhe entregando o rei, seus olhos negros brilhantes, seus lábios sorrindo e as palavras desajeitadas saindo de sua boca bem desenhada. O coração de Alice bateu depressa e ela saiu correndo pelos corredores. Era óbvio que ele não a cumprimentaria, era isso que tinham combinado e ele era um garoto de palavra.

Em frente ao espelho do dormitório das meninas, ela escovou o cabelo enquanto sorria sem parar. Como havia sido boba em pensar que ele iria de novo começar a ignorá-la. Já não havia mais motivo, como ele mesmo havia dito, ele pegara o pomo. Só não a cumprimentara porque ela havia pedido para manter discrição. Passou seu perfume preferido de violeta selvagem e voltou-se para o espelho. Seus olhos estavam brilhantes e com um leve contorno rosado por causa das lágrimas. Ele notaria? Ela deu um longo suspiro. Então checou o relógio. Eram 16h55! Saiu apressada, não queria se atrasar.

Alice caminhava para a orla da floresta quando encontrou Crouch. Ele se aproximou sorrindo e perguntou:

— Hoje você não está com tantos livros, não é? Também, com um domingo tão bonito como esse, quem iria estudar?

Alice sorri amarelo para ele. Não gostava de ser grosseira, mas não queria se atrasar. Além disso, Bartô ainda lhe dava medo. Ela achava muito estranho o modo como ele a olhava.

—É, quem iria estudar, não? Agora se me dá licença, preciso ir... quero tomar um pouco de sol antes que se ponha e não me parece que ele vai querer se demorar a se pôr somente para me esquentar, não é mesmo? – disse Alice, apressando seu passo em direção à orla da floresta. Para seu desespero, o menino continuava a acompanha-la.

— Algumas pessoas poderiam até mesmo atrasar o sol se fosse por você... enquanto outras dão mais valor a um jogo e um time de quadribol do que a sua amizade...

Pronto, agora Bartô exibia um leve sorriso de vitória no rosto. Mas, na dúvida se seu veneno havia sido bom o suficiente para semear dúvida e rancor na mente de Alice, ele emendou:

— O Black é bem capaz de procura-la agora que venceu o jogo, só para lhe mostrar o quanto ele é superior... – o garoto balançou a cabeça afirmativamente e olhou para ela. E fazendo um julgamento errado da ruga na testa de Alice, Bartô foi tomado por grande euforia. Agora tinha certeza de que Alice nunca mais iria querer falar com Regulus e sua vingança estava terminada. Quem havia mandado Black se colocar em seu caminho? Crouch não suportava o quanto a grande maioria dos alunos da Sonserina admiravam Black. Na visão dele, Regulus não era nem tão bonito quanto as meninas achavam, nem tão inteligente que justificasse tanta atenção dos professores, nem tão formidável quanto os garotos de sua Casa julgavam. Tampouco era o melhor apanhador da escola como estavam dizendo, o jogo contra Lufa-lufa havia sido um golpe de sorte. Apenas isso. Ele sim era digno de mérito: era filho de um homem poderoso, muito respeitável e temido, acumulava com apenas um ano de escola muito mais conhecimento do que todos os alunos juntos. Sabia tudo sobre as artes das trevas, pois sempre teve em sua casa acesso a livros a respeito de magia muito poderosa que os outros sequer poderiam imaginar que existisse. E enquanto seu pai o deixava ler na inocência de que ele um dia se tornaria um grande auror, não podia imaginar que estava dando ao seu filho o conhecimento necessário para que ele se tornasse o braço direito do Lorde das Trevas ... Ah, sim, ele com certeza ia ser o braço direito de Lorde Voldemort e ajudaria a varrer da face da Terra todos os seres indignos de sua grandiosidade, todos aqueles que não tivessem uma gota mágica em seu sangue. Assim o mundo seria ainda melhor. Bartô não conseguiu segurar uma risada de satisfação ao seu pensamento. Então olhou para os lados. Enquanto devaneava, Alice havia sumido. Como já havia dado seu recado, voltou correndo para o castelo. Queria perguntar para Rosier sobre o encontro com o Lorde das Trevas e o monitor parecia estar evitando-o.

*

De trás de uma frondosa árvore, Alice observou Crouch caminhar de volta para o castelo. Soltou um suspiro aliviado quando duas mãos cobriram seus olhos.

— Adivinhe quem é!

Ela apalpou as mãos de Regulus Black. Seu coração estava disparado e seu peito arfava.

— Pelo susto que levei, deve ser um bicho-papão. – a garota brincou, sorrindo e se virando.

— Buuuuuuuuuu! Errou! – então falou com voz de falsete, enquanto mexia as mãos imitando uma boca que se abria e fechava, como um fantoche – sou eu, Babitti, a coelha. – e caiu na gargalhada.

Alice pegou sua mão, fechando-lhe os dedos e disse, rindo:

— Você é um palhaço, Reg!

Ele riu em resposta e saiu caminhando, segurando a mão dela.

— Então você gosta dos contos de Beedle, o bardo? – ela perguntou.

Regulus franziu a testa.

— Nunca pensei se gostava ou não... É do tipo de coisa que a gente incorpora sem pensar, de tanto ouvir... Gosto do Conto dos três irmãos, e você?

— Eu também... Se você tivesse que pedir uma coisa para morte, o que seria, Reg? A varinha de sabugueiro, a capa da invisibilidade ou a pedra da ressurreição?

— Bem, eu acho a pedra um tanto quanto inútil. Existem feitiços para se trazer os mortos de volta, sabia? Mas acho repugnante, porque as pessoas não voltam a ser o que eram, o corpo apodrece...

— Inferi, não é? Meu pai comentou que saiu no jornal que encontraram alguns inferis revirando casas de bruxos... Não se sabe o que foram mandados fazer além de revirar e atacar os donos das casa, porque inferi não fala, não é mesmo?

Regulus evitou entrar no assunto. Além de repugnante, não queria falar sobre Voldemort. Alguma coisa dentro dele lhe dizia que a garota poderia ser uma das que não conseguia compreender o bem que Voldemort estava promovendo.

— Então, eu é que não ia querer uma pessoa querida morta do meu lado... – ele estremeceu – bem, então, eu não ia pedir a pedra. Como existem feitiços que pode-se fazer para ficar invisível, também não ia querer uma capa...

— Ah, eu acho a capa o máximo! Ela ia ter me ajudado muito a sair do castelo sem ter o chato do Crouch no meu pé...

— O que ele queria?

— Falar mal de você, mais nada... Acho que ele é meio que obcecado por você, Reg... Cara esquisito... Bem, se você não ia querer nem a capa, nem a pedra, só resta a varinha... A varinha, Reg?

Regulus deu uma risada nervosa. Na verdade ainda pensava no que Alice dissera a respeito de Crouch. Quanto mais tentava, menos compreendia o que se passava na cabeça do garoto.

— Bem, a princípio, sim... mas acho que não precisaria dela.

— Como assim?

— Já sou bom o suficiente com a minha própria varinha... – ele riu com um sorriso malicioso no rosto.

— Bom o suficiente, é? Então prove! - A garota soltou a mão dele e saiu correndo entre as árvores, escondendo-se. - Me encontre, me surpreenda se puder! – desafiou.

Regulus balançou a cabeça para os lados, sorrindo, e saiu correndo atrás dela com a varinha na mão. Toda vez que se aproximava de Alice, lançava feitiços inofensivos, que nada mais eram do que pequenas faíscas de luz colorida na penumbra do entardecer.


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