A Breve História de Regulus Black escrita por Mrs Borgin


Capítulo 57
57. Na torre de Astronomia




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Na torre de astronomia

Havia um ar de velório na sala comunal da Lufa-lufa aquela tarde quando Alice seguiu pela porta redonda para o dormitório das meninas. Havia aqui e ali pequenos grupos de alunos com a pintura amarela e negra escorrendo do rosto, que se apoiavam mutuamente e cochichavam sem parar, em meio ao som de soluços. A menina não parou para conversar com ninguém. O almoço já tinha sido bastante desagradável com suas melhores amigas a tratando mal, como se ela tivesse culpa por Regulus ser tão bom apanhador. Felizmente o restante de sua Casa não havia feito essa ligação.

Alice sentou-se em sua cama. Não via o porquê de tanta comoção, era apenas um jogo. Ela sabia que o Campeonato das Casas estava perdido e que ficariam em último lugar, mas logo começariam um novo ano letivo e eles iriam começar tudo de novo, tentariam com mais afinco e, quem sabe, o Salão Principal não estaria decorado em ouro e preto no ano seguinte? Era apenas um jogo— ela não parava de repetir a si mesma. Um jogo muito rápido e uma impressionante performance de Regulus. Regulus. Ele não tinha ido almoçar no Salão Principal, deveria estar comemorando junto com os companheiros de Casa, na sala comunal da Sonserina. Ela olhou no relógio, eram 14h. Que horas mesmo ele havia dito que estaria na Torre de Astronomia? A menina procurou no meio de suas roupas a pequena caixa em que guardava os bilhetes dele. Ali estava:

“Agora tenho um tabuleiro completo, mas ainda falta a principal peça do jogo: você. Te espero após o jogo de sábado, na torre de astronomia, independentemente do placar.”

Ela mordeu os lábios. Ele não havia marcado hora exata. Ela poderia estar atrasada e isso a alarmou! Escovou os cabelos negros deixando os cachos caírem sobre os ombros, depois checou seu rosto em um pequeno espelho. Mordeu os lábios para que ficassem mais vermelhos e logo se decepcionou ao ver que a cor empalidecia em poucos instantes. Deu os ombros, não havia nada que pudesse fazer a respeito. Era melhor se apressar, haviam muitos lances de escadas até chegar na torre de astronomia. A garota guardou os bilhetes cuidadosamente e saiu apressada.

*

Enquanto os companheiros de Casa comemoravam a vitória na Sala Comunal, distraídos em fazer contas de quantos pontos deveriam acumular durante o último mês de aula para ter chance de ganhar a Taça das Casas, Regulus havia ido disfarçadamente para seu dormitório. Lançou sobre si o feitiço para se limpar que aprendera com Madame Pomfrey e trocou de roupa. Era com muita satisfação que ouvia a comemoração ruidosa dos amigos, que num instante conseguiram preparar uma festa com direito a cerveja amanteigada e muitas guloseimas. Mas ele não tinha fome de comida. Sua fome era mesmo outra. Queria.... queria jogar xadrez. Pegou o tabuleiro e saiu de fininho, sorrindo para todos como se tivesse, como eles, comemorando a partida. Então correu escadaria acima para chegar na Torre de Astronomia, cheio de expectativa, carregando o tabuleiro de xadrez embaixo do braço.

A torre estava vazia, ela ainda não tinha chegado. Se é que viria. Regulus suspirou e deixou o tabuleiro de xadrez a um canto, no chão. Colocou as mãos no bolso da calça preta e foi até a mureta da torre, onde encostou o corpo para ver a paisagem. As terras de Hogwarts eram ainda mais belas vistas de cima, a floresta proibida pontilhada de árvores floridas aqui e ali, o lago cintilando feito purpurina sob o sol da primavera, o polvo gigante esticando seus tentáculos para fora d’água, fazendo pequenas ondas na superfície, aumentando ainda mais a beleza da cena. Aquilo tudo não era apenas natureza, era magia. Ele procurou no bolso traseiro da calça o caderno de notas que havia ganho dos pais no seu aniversário e começou a rabiscar o cenário que via: uma pequena torre mais a baixo, os muros do jardim, um braço do lago negro ao fundo. O desenho o distraiu. E ele acrescentava alguns detalhes à torre mais baixa quando sentiu no ar o perfume de Alice, não tinha certeza de quanto tempo a aguardava, mas deveria ser bastante, pois o desenho já estava pronto. Ele se virou para recebe-la com um largo sorriso:

— Você veio!

A garota se assustou:

— Você não queria?

— Claro que queria! Já estou esperando aqui faz um bom tempo... você já reparou como a escola é bonita vista daqui de cima?

Alice se aproximou dele e olhou seu desenho.

— Ah, não tô falando dos meus rabiscos... olha por cima do muro que é muito melhor.

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Alice olhou e concordou com ele.

— É mesmo muito bonito... seu desenho também. – Então virou-se para Regulus - Você queria falar comigo?

Regulus se virou para olhar em seus olhos cinzentos. O rosto redondo de Alice era enigmático, ele não conseguia dizer o quanto ela estaria receptiva ao que ele iria dizer:

— Eu preciso me desculpar com você, Alice. Eu tenho sido um idiota nos últimos meses e sinto muito por isso. Sinto muita ao sua falta.

O rosto da garota permanecia sério, ela apenas olhava para ele. O coração de Regulus deu um salto em seu peito e ele continuou:

— Eu sei que não tem desculpa para o modo como venho lhe tratando, logo você que é minha melhor amiga, mas aconteceu o seguinte: logo depois que perdemos o jogo contra a Grifinória, alguém começou um boato de que eu havia deixado Lisa Prewet pegar o pomo para favorecer meu irmão. Como se não bastasse isso, disseram que eu iria fazer o mesmo no jogo de hoje para você ficar feliz... – o garoto evitou falar sobre Crouch.

Alice sorriu.

— Você podia ter feito. Eu ficaria feliz. – disse, levantando uma sobrancelha.

Regulus murchou. Seus ombros desceram um dois centímetros e ele abaixou os olhos.

— Reg, eu estava brincando. Olha pra mim. Eu entendo você.

Ele olhou para ela e ela sorriu novamente.

— Deve ter sido muito difícil para você conviver com estes boatos.

— Foi mais difícil ficar sem conversar com você... – ele respondeu, meio sem jeito e continuou – mas você me entende, né? Quadribol é a minha vida! Eu não podia correr o risco de ser expulso do time, então me afastei de você para o caso da gente perder a partida de hoje...

— Está tudo bem, Reg. Relaxa.... aliás, você foi incrível hoje! Nossa! Nem deu tempo da gente sentar direito para ver o jogo e já havia terminado. Uau!

— Tudo o que eu pensava era que eu queria pegar logo o pomo e acabar com o jogo. Sofri pressão demais estes últimos meses. E quando você me mandou o rei preto de volta, fiquei muito triste. Sinceramente pensei que tinha perdido... perdido sua amizade para sempre.

— Eu pensava que você não queria mais ser meu amigo.... Mas agora passou, né?

— Passou. Vamos jogar? Você demorou muito!

Os dois garotos sentaram-se no chão, o tabuleiro de xadrez entre os dois. Muito sorridentes um para o outro, eles organizaram as peças e começaram a jogar.

— Demorei, é? Eu pensei que ia encontrar você no Salão Principal, mas o único Black lá era seu irmão... Ah, você tinha que ver, ele e o James conseguiram mais uma detenção. Saíram arrastados pelo senhor Filch do Salão principal....

— O que será que foi desta vez? - Perguntou o garoto, interessado e sorrindo por saber que James e Sirius iriam ser punidos por alguma coisa.

— Ah, parece que foi por causa de uma garota... Me contaram que ontem eles fizeram o robe do Bertram, o garoto que comentou a partida de hoje, encolher quando ele ia se declarar para a Florence, aquela garota da Corvinal...  Parece que seu irmão está interessado nela... e hoje durante o jogo eles fizeram a cabeça do garoto dobrar de tamanho. Agora o garoto está na ala hospitalar... veja só, tudo por causa de uma menina...

Regulus sorriu com prazer e perguntou:

— Você tem certeza? Pensei que Sirius...

— Ah, tenho sim. A Mary viu tudo. O que tem Sirius?

— Ele gostava de uma menina que é vizinha dos meus avós, lá em Bramshill. Mas pelo jeito já são águas passadas... – Os olhos de Regulus brilhavam de alegria em pensar que o irmão pudesse ter esquecido Simone Leloush. Talvez os dois voltassem a ser o que eram antes...

— Ah, sei quem é. Suas amigas, as Leloush, não?

Regulus ficou incomodado em ouvir o sobrenome das meninas e respondeu:

— Como você sabe quem são?

— Ah, não são as garotas da Beauxbatons que vieram ver o seu primeiro jogo? Lembro delas. Sirius estava realmente interessado na mais velha... aliás, que meninas bonitas! E os olhos delas, então? Que cores vivas e contrastantes!

— Eu prefiro os seus. – disse Regulus, de sopetão, sem pensar. Alice sorriu e abaixou a cabeça.

— Xeque-mate, Reg!

— Oh, isso não vale! Você me distraiu e aproveitou para ganhar o jogo!

Alice ria ao ver o desapontamento do amigo. Riu tanto que jogou o corpo para trás e deitou-se olhando para o céu.

— A gente podia ficar aqui até anoitecer e aproveitar para ver as estrelas... – ela disse, pensativa.

Regulus permaneceu sentado admirando a felicidade da amiga, seu rosto delicado, os cabelos negros espalhados no chão. Nos olhos dela, o céu azul refletido. Não se cansava de olhá-la e sorria sem parar, então sua barriga roncou alto. Passavam das 15h e ele não havia almoçado.

— Oh! O que foi isso, Reg? O que você escondeu debaixo deste imenso brasão da Sonserina? – perguntou ela, fazendo piada e indicando o desenho na camiseta do amigo.

— Ih, desculpe. Eu não queria vir com a camiseta da Sonserina, mas todas minhas camisetas são da Sonserina... e assim ficava mais fácil disfarçar e sair sem ser notado, sabe como é, truque de camaleão para sumir na paisagem...

— Entendo... – ela sorriu. Alice apoiou-se nos cotovelos para olhar para ele. A barriga do garoto roncou ainda mais alto. – Parece que tem um dragão aí dentro!

— É, acho que tem sim... não almocei... logo após o jogo, me troquei e vim para cá... – ele comentou, abaixando os olhos. Era desconcertante mostrar o quanto ele havia esperado.

Alice levantou-se e começou a guardar o jogo de xadrez. Ele se levantou também e a ajudou.

— Vamos, Reg. Vamos dar um jeito nisso. Os elfos não vão se incomodar em lhe dar algo para comer.

Regulus olhou encantado para a menina:

— Alice, você é encantadora! A melhor amiga do mundo!

Ele estendeu o braço e segurou sua mão, largando em seguida. Então olhou para o horizonte. Então Alice falou, reticente.

— Reg, eu estava pensando... Depois do que você contou sobre o pessoal da sua Sonserina... Como eles te trataram quando pensaram que você tinha traído a Casa... sabe? Eu acho que talvez seja não seja prudente eu ser vista andando com você pelo castelo...

— Bobagem, Alice. Agora está tudo bem. Eu peguei o pomo, lembra?

— Claro que lembro! Então, o pessoal da minha casa não está nada feliz com você... – ela mordeu os lábios e continuou – não vai ser bom para mim ser vista com você.

— Ah, claro! Me desculpe, não pensei... Bem, então a gente pode se ver amanhã, na orla da Floresta, perto da cabana do Rubeos Hagrid... tipo, fim da tarde, perto das 17h... que você acha? Quer dizer, você quer ir?

Alice deu um largo sorriso.

— Quero sim, Reg. Às cinco está ótimo.

Regulus sentiu-se aliviado em saber que ela queria vê-lo de novo.

— Bem, então, melhor a gente ir indo. – ele indicou a saída com a cabeça.

— Vá você na frente, Reg. É você que precisa ir comer... Eu vou ficar aqui mais um pouquinho. Você tem toda razão, a vista aqui é maravilhosa!

— Está bem. Então tchau. – ele disse, acenando com a mão rapidamente e virou-se para a saída da torre. Já estava à porta quando virou-se.

— Alice?

— Oi?

— O rei... o rei, ele é seu. – ele disse, abrindo a gaveta sob o tabuleiro para pegar a peça. Depois se aproximou dela e entregou o pequeno rei preto. Alice sorriu e agradeceu:

— Obrigada, Reg. – então deu um beijo em sua bochecha. O garoto olhou para ela e depois para a porta, muito sem graça, sem saber o que fazer. Então foi embora. Desceu as escadarias correndo, sem sentir o chão sob seus pés. Num ato automático tocou com a varinha a pera na fruteira pintada à óleo e ela começou a rir, foi quando se deu conta de que havia chegado mesmo à cozinha e não caminhado sobre as nuvens como era sua impressão.


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