A Breve História de Regulus Black escrita por Mrs Borgin


Capítulo 50
50. O rei preto




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O rei preto

Mas nos dias seguintes Regulus e Alice mal conseguiram se encontrar. Regulus estava muito atarefado, embora tivesse sido dispensado dos treinos e não tivesse ido ao clube de duelos na quarta-feira à noite. Apesar da fratura ter sido emendada pela poção esquele-cresce, ele ainda sentia dores ao andar e a fratura estava muito instável, de modo que a enfermeira o havia proibido de circular corredores. Além disso, ela liberou Regulus somente para assistir às aulas, tanto as noites quanto as refeições ele era obrigado a fazer na ala hospitalar, para tomar o reforço da poção de emendar ossos. Regulus estava sentindo muito a falta de todos, sobretudo de Alice.

Na sexta-feira à tarde ele encontrou com Alice na aula de Herbologia. Ele ainda usava muletas:

— Reg! Como você está?

— Com dor... e mancando...

— Eu não tenho te visto no salão principal durante as refeições...

— Eu tenho feito minhas refeições na ala hospitalar, também estou dormindo lá. Acho que só mais esta noite.

Alice levou as mãos à boca, temerosa, sujando os lábios com um pouco de terra por causa das luvas sujas:

— Então não vai conseguir jogar amanhã?

Regulus sorriu, pegou um lenço em seu bolso, limpou os lábios dela e respondeu:

— Vou jogar, sim. Posso voar, não preciso apoiar o pé enquanto estou voando... Você não voltou para jogar xadrez, minha rainha está desolada sem o rei dela...

— Eu não sabia que você ainda estava lá, irei esta noite depois do jantar, está bem?

Regulus abriu um largo sorriso e ia responder quando a professora se aproximou e disse:

— Será que os dois podem preparar mais dois vasos com terra e adubo para essas sementes de Umbrella Flower enquanto conversam?

Com um sorriso amarelo no rosto, Regulus pegou um dos potes que a professora lhe entregava e começou a enchê-lo com o a terra adubada. A todo instante ele olhava para Alice, que estava a fazer o mesmo que ele: encher potes ao mesmo tempo que olhava para ele. Quando o olhar dos dois se encontrava, eles imediatamente desviavam, sorrindo disfarçadamente.

— Quer que eu leve seu pote até sua bancada para você, Reg? – perguntou Alice ao perceber que esta seria uma tarefa difícil para ele, por causa das muletas.

— Ele não precisa de ajuda, garota. – respondeu Amifidel, interpondo-se entre os dois e já carregando o vaso de Regulus até a mesa.

Regulus ergueu os ombros e ela sussurrou:

— Até mais tarde, Reg.

Após uma aula interminável de Herbologia, Regulus foi para a ala hospitalar. Seus passos estavam irritantemente lentos: Regulus queria chegar logo para tomar um banho e descansar, sua perna doía tanto que os olhos lacrimejavam sem parar. Madame Pomfrey foi encontra-lo quando ele ainda estava subindo o último degrau da escada para chegar no quinto andar:

— Sr. Black, o senhor demorou! Estamos atrasados para o reforço de seu tratamento. – disse ela, com uma ruga na testa.

— Me desculpe, senhorita. Mas da estufa número dois até aqui é uma longa caminhada! Eu vim o mais rápido que pude, pode apostar.

A enfermeira levantou uma sobrancelha, analisando a sinceridade da resposta dele. Então pegou sua varinha, apontou para o aluno e acenou:

Mobilicorpus!

Regulus sentiu seus pés deixarem o chão e ele foi suavemente colocado na horizontal, como se estivesse deitado em uma confortável maca, então a bruxa apontou a varinha para a porta da ala hospitalar, que se abriu e levou o menino deitado no ar para dentro, desfazendo o feitiço de modo que ele sentasse em uma cadeira próxima do leito que lhe estava reservado.

— Deixe-me olhar esta perna, menino. – disse ela, num tom preocupado, enquanto agachava-se e erguia as calças do garoto – hum, isso ainda não está bom. Vou colocá-lo na cama e vamos recomeçar o tratamento agora mesmo.

— Mas eu estou muito sujo!

— Isto não é problema. – novamente ela acenou a varinha e Regulus sentiu um frio repentino sobre o corpo todo e num piscar de olhos ele estava completamente limpo. Ela acenou a varinha novamente e o colocou deitado na cama.

Regulus olhou para si mesmo, todo limpo: não fosse a sensação ruim que o feitiço causara, ele pensou que seria muito útil para quando a preguiça o impedisse de tomar banho.

Ele estava deitado tomando seu reforço da poção esquele-cresce quando Alice chegou sorridente:

— É aqui que tem uma rainha preta à espera de seu par?

Regulus sorriu em resposta e virou o restante do copo de poção em sua boca. Com a Alice ao seu lado aquilo estava parecendo o mais delicioso suco de abóbora. Ela tirou o pequeno rei preto do bolso, que parecia acordar de um sono profundo. Colocou a peça sobre o tabuleiro e ela acenou com a cabeça cumprimentando seus companheiros de batalha. Depois colocou o tabuleiro apoiado sobre a cama e os dois garotos começaram a jogar, enquanto Alice lhe contava sobre as confusões que sua amiga havia feito durante a aula de poções, explodindo um caldeirão e deixando a sala inteira com um cheiro horrível de podridão. Regulus a olhava encantado com seu entusiasmo, alice era para ele a melhor companhia do mundo. Junto dela ele esquecia da dor, esquecia do gosto ruim da poção e do ressentimento que sentia por seu irmão.

Após ganhar uma partida especialmente violenta, Alice guardou as peças do xadrez de bruxo e despediu-se de Regulus, beijando-o na bochecha mais uma vez. Alice deixava a ala hospitalar pensando que Regulus havia deixado que ela ganhasse o jogo quando encontrou com Bartô mais uma vez. Ela olhou para ele e disse:

— Oi.

Bartô desta vez respondeu e perguntou:

— Oi, posso te acompanhar até seu dormitório?

Alice não sabia o que responder. Não gostava de Crouch e não era a primeira vez que o encontrava espionando ela. Mas ela não gostava de ser indelicada.

— Ahn... Acho que tudo bem.

 Ele sorriu em resposta e os dois começaram a andar.

— Você e Regulus são muito amigos, não são?

— Somo sim. – ela disse sorrindo. Falar sobre Regulus a fazia sentir-se bem. – Ele é muito divertido e atencioso.

— Divertido e atencioso. - Crouch repetiu em voz baixa, como se estivesse estudando o companheiro de casa.

— O que você disse?

— Nada, não. Você é da Lufa-lufa, não é?

Alice estranhou a pergunta, pois isso era óbvio, uma vez que ela ainda vestia o uniforme de sua casa. Ela chacoalhou o brasão de seu uniforme:

— Sim... O que você estava fazendo do lado de fora da ala hospitalar?

— Eu só estava passando por lá quando vi você saindo... como está tarde, me perguntei se você não gostaria de companhia... as meninas costumam ter medo de andar pelos corredores escuros.

— É verdade, mas os corredores ainda não estão escuros. – ela respondeu, apontando para as tochas acesas que iluminavam o caminho. Então uma a uma elas foram apagando.

— Bem, agora estão. – disse o garoto – deve ser 10 horas.

— É. Melhor nos apressarmos. – ela começou a andar mais depressa.

— Não precisa ter medo, estou aqui com você. – disse Bartô, pegando na mão dela. Imediatamente Alice largou a mão dele e disse:

— Não estou com medo, apenas preciso ir ao banheiro.

Então começou a correr, o garoto correndo ao seu lado. Alice não gostava de Bartô, achava ele muito sinistro e não havia acreditado que ele estivesse lá por acaso. Assim que chegou ao corredor da cozinha, disse:

— Estou bem aqui, pode ir. Obrigada por me acompanhar.

— De nada, sempre que quiser.

— Tchau, então.

— Tchau.

Alice esperou que ele desse as costas e saísse e descesse para as masmorras para poder acionar a senha de entrada para sua sala comunal. A sala estava quase vazia, havia apenas um casal de namorados do sexto ano que estavam sentados próximos à lareira lendo algo muito engraçado em uma revista, pois não paravam de rir. Alice os cumprimentou e foi para o seu dormitório.

Quando entrou no quarto encontrou suas amigas dormindo, então procurou não fazer barulho para acordá-las. Ao tirar o uniforme percebeu que havia algo no bolso de sua calça. Era estranho, não lembrava de ter colocado nada lá. Tateou com cuidado pelo lado de fora do bolso e algo se mexeu lá dentro. Ela assustou-se. Tirou as calças rapidamente e a sacudiu. De dentro do bolso da calça caiu uma pequena peça de xadrez. Um rei preto:

— Regulus! – ela exclamou.

Olhou em volta, felizmente seu grito não havia sido capaz de abalar o sono de suas amigas. Então ela abaixou-se, pegou o minúsculo rei e abriu um grande sorriso. Olhava para aquela pequena peça com carinho, se perguntando como Regulus havia feito para colocá-la em seu bolso sem que percebesse, ainda mais quando ela própria havia guardado todo o tabuleiro e as peças. Mas isso não importava. Ela deitou o pequeno rei em seu travesseiro e vestiu o pijama, guardou seu uniforme no pequeno armário ao lado de sua cama e se deitou. Então pegou o reizinho com as duas mãos e sussurrou:

— Eu também adoro você, Regulus Black.

E olhando para a pequena peça ela adormeceu, sorrindo.  Mas naquela noite Alice não teve um sono muito tranquilo.

Ela andava pelos corredores escuros do castelo vestindo seu pijama cor de rosa, descalça. Queria chegar à sua sala comunal, mas os corredores do castelo haviam se transformado em um imenso labirinto de paredes de pedra, que sempre a levavam para caminhos sem saída. Aflita, gritou por ajuda, então se sentou no chão, aguardando que alguém chegasse, mas o som que ouviu não era de passos. Algo rastejava em sua direção, não demorou muito para que ele aparecesse na sua frente: era um gigantesco verme verde. Ela levantou-se e começou a correr o mais rápido que pode. Finalmente avistou o corredor que levava para sua sala comunal, mas o corredor estava dez vezes mais comprido que o normal. Ela podia sentir seu próprio coração batendo forte, assim como a respiração asmática do monstro às suas costas. Ela olhou para trás e tropeçou nas próprias pernas, o monstro preparou-se para dar um bote, ela gritou e, detrás de um saco de batatas apareceu Regulus Black usando uma armadura negra. Ele rapidamente acenou sua varinha e o monstro explodiu. Então Alice acordou assustada. O relógio da escola batia meia noite. Olhou à sua volta. A luz do luar entrava timidamente por sua janela. Tudo estava tranquilo no quarto, as meninas continuavam dormindo, bem como o pequeno rei em seu travesseiro. Ela beijou a pequena peça e a colocou sobre a mesa de cabeceira, virou-se de lado e adormeceu.

Na ala hospitalar, Regulus havia acordado, assustado, o coração batendo rápido. Não se lembrava do sonho, mas sabia que havia sonhado com Alice. Alice. Ele sorriu. Olhou a lua pela janela e imaginou o sorriso de Alice ao encontrar o rei preto em seu bolso, seus olhos cinzentos se arregalando, surpresos. O relógio da torre terminou suas doze badaladas e Madame Pomfrey entrou na enfermaria, trazendo uma poção verde dentro de uma garrafa de bocal alongado e uma lanterna que iluminava seu caminho. Ela admirou-se ao vê-lo acordado:

— O que faz acordado, menino? Pensei que tivesse um jogo amanhã! Deste jeito não vou liberá-lo para jogar, não podemos arriscar mais uma fratura.

— Oh, não, por favor. Eu estava dormindo – ele mentiu – acordei quando ouvi a senhorita se aproximar. Assim que tomar a poção, vou voltar a dormir. Me dá essa delícia aqui! – ele disse, estendendo a mão para a enfermeira que servia um cálice da poção. Ela entregou a ele:

— Beba em um gole só que fica menos desagradável.

Ele virou o líquido na boca. Depois fez uma careta, sacudindo a cabeça para os lados vigorosamente. Não importava o quanto já havia tomado daquela poção, era impossível se acostumar com um sabor tão ruim.

— Essa foi a última dose. – sinalizou a enfermeira, pegando o copinho

— Ufa! Já não aguentava mais. Espero nunca mais precisar... bem, obrigado. Boa noite.

— Boa noite. Ela respondeu e saiu da enfermaria, deixando a enfermaria novamente na penumbra, fracamente iluminada pela luz do luar que entrava pelas janelas altas.

Regulus virou-se de lado apoiando-se nos cotovelos, serviu-se de um copo de água que havia na mesa de cabeceira. Bebeu na esperança de tirar os traços da poção amarga de sua boca, mesmo sabendo que isso não iria funcionar. Então deitou-se novamente, fechou os olhos e mandou um beijo de boa noite, em pensamento, para Alice. Alice é sem dúvida a melhor amiga que alguém poderia desejar— esta foi a última coisa que conscientemente veio à sua mente antes que adormecesse.


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