A Breve História de Regulus Black escrita por Mrs Borgin


Capítulo 47
47. Chá Gelado




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Chá gelado

Na manhã seguinte, Orion, a mulher e os filhos voltaram para Londres. Assim como durante a fatídica tarde em Bramshill, Sirius e Regulus mal conversaram até o final das férias de inverno. Sirius sentia raiva do irmão por chamar madame Leloush de traidora. Não entendia como o irmão podia defender os assassinos do pai de Simone e Sophie. Sentia falta de Simone e nem ao menos lhe era permitido mandar uma coruja a ela. O pai pedira que ele só fizesse isso depois de voltar a Hogwarts, para que Simone recebesse a carta quando estivesse a salvo em Beauxbatons. Seria mais seguro para ela. E para ele. Ele não sabia se o pai falava a verdade, mas na dúvida, era melhor não arriscar colocar a vida de Simone em risco. Afinal, eram poucos dias.

Três noites antes de voltar para escola, Sirius perdeu o sono e começou a andar de uma lado para o outro em seu quarto, segurando a foto de Simone nas mãos. Eram duas e quinze da madrugada. Na foto ela acenava alegremente para ele. Ele mesmo foi quem tirou a foto, no jardim da casa do avô, um dia antes de irem ao cinema. Um dia antes de terem se beijado. Beijou a foto de Simone, depois sentiu-se bobo por ter feito isso. Olhou ao redor como quem checa se havia alguém olhando. Era óbvio que não, ele estava sozinho ali. Olhou por cima do ombro e a porta continuava fechada. Percorreu os olhos pela parede e ficou inquieto: ainda haviam muitos espaços vazios ali. Ele ainda parecia muito com eles. Torceu o nariz e olhou mais uma vez ao redor. Então abriu as gavetas de sua cômoda e tirou de dentro tudo o que era da Grifinória, bem como todas as revistas trouxas que ele havia contrabandeado para dentro de casa.

Estava decidido: não poderia sobrar sequer um espaço livre que pudesse lembra-lo da casa onde estava. Ali era seu refúgio, seu quarto. Ele nada tinha a ver com os Black. Se pudesse, trocaria de sobrenome. Seria Sirius White, ou Sirius Red. Red era melhor, vermelho de raiva, vermelho de paixão, vermelho Grifinória. Este pensamento o animou um pouco e ele começou a colar tudo o que conseguia usando o feitiço que sua mãe havia ensinado. A vingança parecia ainda melhor usando o feitiço dela. Depois arrependeu-se: melhor seria usar uma cola trouxa bem melequenta e fazer muita sujeira na parede. Procurou em suas gavetas, mas o único tubo de cola que ele tinha havia secado. Derrotado em seus planos, largou-se de barriga para cima na cama ao lado da foto de Simone. Pegou a foto e sentiu-se muito angustiado ao ver que na imagem, ao fundo, aparecia o pai dela mexendo na cerca da casa. Ouviu sua barriga roncar.

Desde que deixaram Bramshill ele não se alimentava nem dormia direito, evitava a hora das refeições em família e o pouco dinheiro trouxa que havia sobrado de sua ida ao cinema ele já havia gasto com lanches e revistas, então já não lhe restava nada a fazer senão ficar no quarto em jejum. Mas a fome era muita, então foi até a cozinha tomar um chá.  Começou a mexer nos armários quando Kreacher chegou:

— Mestre Sirius deseja alguma coisa? – perguntou o elfo sonolento, mas com um brilho no olhar de animação pela oportunidade latente de ser útil e servir um de seus mestres.

— Kreacher! Você me assustou!

— Kreacher não tinha a intenção. – respondeu o elfo, fazendo uma reverência.

— Tudo bem. Vou fazer uma xícara de chá de camomila.

Imediatamente o elfo fez sua magia e subitamente surgiu uma chaleira já borbulhante no fogão, Sirius estava pegando uma xícara dentro do armário então ouviu o elfo limpar a garganta. Virou-se e já havia uma xícara sobre a mesa, com um pires e uma colherzinha, bem como algumas bolachas, pão fresco, torradas e três tipos de geleias para passar nelas, além de manteiga.

— Não precisava tudo isso, Kreacher. Eu só queria o chá. – ele disse estarrecido.

O elfo fez menção de guardar tudo, mas Sirius se adiantou:

— Não precisa guardar, já que você colocou na mesa, vou ver se como alguma coisa. – e serviu-se de uma fatia de pão e passava manteiga sobre ele quando resolveu perguntar – o que tem acontecido por aqui, Kreacher? Não tenho visto sua mãe ultimamente...

— Floffy está cuidando da arrumação dos quartos e do restante da casa. Não é de bom tom os mestres virem os elfos cuidando da limpeza. Isto deve ser feito quando eles não estão presentes no aposento. A mãe de Kreacher é muito eficiente em não se mostrar. Kreacher está aprendendo muito, está sim. – ele disse, afirmando com a cabeça.

— Sim, você está. – respondeu Sirius, franzindo a testa.

Então Orion chegou na cozinha. Imediatamente o elfo fez uma reverência:

— Meu mestre deseja alguma coisa?

— Não, Kreacher. Vá se deitar. Vou ficar com meu filho.

Sirius enfiou o restante da torrada na boca e levantou-se, arrastando a cadeira para trás. Orion observou o filho e falou, calmamente:

— Fique, Sirius, por favor.

Sirius se sentou novamente e abaixou a cabeça, as mãos sobre as pernas. Kreacher, que olhava de um Black para o outro, serviu duas xícaras de chá, fez uma reverência e se retirou, silenciosamente. Sirius sequer olhava para o pai. Estava profundamente desiludido, não conseguia compreender as atitudes do pai. Orion puxou conversa:

— Posso me sentar com você, Sirius?

Sirius ergueu os ombros:

— Tanto faz.

Orion puxou uma cadeira e sentou-se de frente para o seu filho, pegou a xícara de chá, aquecendo as mãos no calor da xícara:

— Eu sei que você está chateado comigo por causa da sua namorada, filho. Mas eu não podia deixa-lo falar com ela antes. Como lhe disse, não é seguro. Tenho acompanhado de longe a internação da mãe dela no hospital, infelizmente as notícias não são boas, não houve muito progresso. As meninas já voltaram para a escola e em três dias você estará de volta a Hogwarts e poderá mandar quantas cartas quiser. – o pai sorriu.

— Humpf. – foi a resposta de Sirius. Ele ainda olhava fixo para a xícara fumegante de chá, sem beber ou se mexer.

— Filho, entenda. Não podemos expor nossa família desta forma...

— Covarde. – Sirius murmurou.

— A questão não está entre ser covarde ou não. Muito pelo contrário – respondeu o pai, sem se abalar pelo insulto.

Sirius encarou o pai. Ele tinha raiva no olhar:

— Não é não. Você e o vovô ajudaram os Leloush a esconder o livro e depois apagaram a memória deles. Vocês sabiam o que estava acontecendo e não fizeram nada para ajudar.

Orion arregalou os olhos:

— Como você sabe disso?

— Eu e Regulus ouvimos sua conversa com o vovô e depois com madame Leloush...

Orion arregalou os olhos, assustado:

— Isso não é bom. Vou ter que apagar a memória de vocês também... – ele murmurou, tateando os bolsos a procura da varinha.

— É assim que o senhor resolve os problemas? Apagando nossas memórias? Covarde! – gritou com o pai.

Orion permaneceu impassível. Respirou fundo e disse:

— Eu não tinha como saber que eles iam matar o trouxa.

— Ah, agora ele é o trouxa.— desdenhou o filho.

— Filho, me escute. Eu não tenho problemas com trouxas. Na verdade namorei uma nascida-trouxa antes de casar com sua mãe. Não conte isso a ela. – apressou-se em pedir, serenamente, e após uma breve pausa para preparar uma fatia de pão com geleia de framboesa e dar uma mordida, ele continuou – a questão é que eu realmente não sei até que ponto esta política de segregação dos bruxos deve ser mantida. Viver escondendo-se não é agradável, eu compreendo Lord Voldemort, apoio sua causa. Embora não aprove métodos violentos... Infelizmente ao longo da História o que vemos é que grandes mudanças sempre acabam incitando a violência, é difícil se fazer uma revolução sem lutar. Eu não sei até que ponto eu e seu avô agimos certo ajudando os Leloush. Talvez o livro de registros pudesse conter alguma informação crucial para acelerar as mudanças. Mas seu avô temeu que fosse só uma ferramenta para os mais radicais perseguirem os nascidos-trouxas e tentou evitar um derramamento de sangue. Eu o apoiei. Apaguei a memória dos Leloush para protege-los. Achei que se não soubessem de nada, não haveria motivo para persegui-los. Mas os seguidores de Voldemort foram informados pelos funcionários do Ministério que o livro estaria com os Leloush...

— Você ouviu Bellatrix contar que participou da morte do senhor Leloush e não fez nada. – disse Sirius, exasperado.

— O que você queria que eu fizesse? Brigasse com sua prima por algo que eu nem tenho certeza se era o correto a se fazer? Contasse a ela que seu avô e eu fomos os traidores que ajudaram os Leloush? Você queria estar chorando a minha morte agora?

— Pobre madame Leloush... ela confiou em você – Sirius comentou com raiva.

— Eu a salvei, não salvei? A levei para o Saint Mungo’s, arriscando minha própria pele para isso. Eu não sabia o que iria encontrar quando fui à casa dos Leloush ...

Sirius abaixou os olhos. O pai tinha razão.

— Desculpe, pai... Mas Regulus é um idiota! Ele acha que Bellatrix agiu certo...

— Filho, não fale assim de seu irmão. Escute o que eu estou falando: nós ainda não sabemos se não teria sido melhor se Lord Voldemort tivesse tido acesso àqueles registros. Talvez isso acelerasse o processo da mudança. Queremos esta mudança. Regulus sente-se oprimido por não poder experimentar sua magia livremente, eu também me sinto assim. Mas não concordo com a violência usada contra os Leloush, não era necessária... na verdade, era improdutiva, uma vez que eles realmente já não sabiam de nada. Eu fiz o que fiz para proteger nossa família. Vocês são tudo o que existe de mais importante para mim. Confie em seu pai... sem ressentimentos? – Orion abriu os braços.

Sirius fez “sim” com a cabeça. Levantou-se e foi abraçar o pai. Sentindo o peito aquecido pelo carinho entre pai e filho, os dois tomaram o chá, agora gelado, juntos.


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