A Breve História de Regulus Black escrita por Mrs Borgin


Capítulo 46
46. Marcas Negras




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Marcas Negras

Já fazia quase duas horas que Sirius e Regulus estavam no quarto sem se falar. Ambos ainda vestiam as elegantes roupas pretas em que haviam ido para o cinema há longínquas horas. Próximo à porta havia uma escrivaninha de madeira escura polida, onde Sirius estava escrevendo o que parecia ser uma carta sem fim. Escrevia e, muitas vezes, rasurava com força sobre o papel, quebrando a ponta da pena ou furando o pergaminho. Mas ele não descartava o papel, continuava na mesma folha, emendando outra ao final desta, sem tirar os olhos do papel. Parecia fora de si, curvado sobre o papel, respirando ruidosamente, a mão esquerda a socar de tempos em tempos o tampo da mesa.

Enquanto isso, aparentemente alheio aos ruídos do irmão, Regulus estava sentado à sua cama, as costas encostadas na cabeceira e abraçando as pernas encolhidas, descalço com os dedos dos pés descoloridos de frio. Ele olhava hipnotizado para a janela. A marca negra começava a perder o brilho, mas ainda era um impressionante contraste com o céu negro. Ele não conseguia deixar de pensar em Bellatrix, na acusação que ela fizera contra seu pai. Regulus sabia que o pai havia mentido, ele sabia que o avô havia ajudado a esconder tais livros e que o pai havia apagado a memória dos Leloush para protege-los. Além disso, das três primas Bellatrix sempre fora sua prima favorita: tinha um ótimo senso de humor, ela elegante e inteligente. Narcissa só se preocupava com ela própria e sua beleza, não ligava para ele ou para Sírius a quem chamava de pirralhos e Andromeda era alegre, mas, bem... Andromeda não era mais da família. Ele bufou. Levantou-se e foi até a janela. Lá fora estava tudo calmo, pelo menos no quintal da casa de seus avós. Do outro lado da cerca ainda haviam alguns bruxos do Ministério examinando a casa. “Tolos!”, ele pensou. Não iriam encontrar nada lá. Tudo o que havia para ser encontrado estava no céu: a marca. A bela cobra verde que entrava e saia sem se cansar de dentro da caveira. Os olhos ocos da caveira pareciam olhar para ele, chamando-o. A cada inspiração era como se seu peito se projetasse em direção à marca no céu. “E se Bellatrix estivesse certa? E se mamãe estiver certa?” Ele engoliu em seco. E a curiosidade o cutucou: quem teria conjurado a marca? Bellatrix? Lord Voldemort em pessoa? Ela havia dito que ele estivera ali. Já teria ido embora? Seu coração disparou, um misto de excitação e temor o invadiu. Mais uma vez ele engoliu em seco. Olhou para dentro do quarto. A marca negra havia impresso em sua retina seu contorno em magenta. Ele piscou várias vezes, incerto se realmente queria que a imagem sumisse.

— crash!

Ele se voltou para Sirius que jogava mais uma pena quebrada no chão e recomeçava a escrever compulsivamente. Com certeza ele escrevia para Simone. Regulus sentiu pena do irmão: porque ele tinha que se apaixonar justo pela garota errada? Sirius não tinha culpa, não poderia saber o que madame Leloush fazia... Ou podia, já que a própria mãe havia questionado diversas vezes se era saudável para os meninos manterem amizade com mestiças. Seu pai havia respondido que não via problema algum, mas seu pai poderia estar errado, não é mesmo? De qualquer forma, sentia pena de Sirius. Então se aproximou do irmão, colocou a mão sobre seu ombro. Sirius sacudiu o ombro para que ele tirasse a mão de lá. Regulus tirou. Então olhou para o pergaminho. Estava todo rasurado, furado e manchado de tinha, provavelmente por causa das penas quebradas. A letra de Sirius nunca fora o que se podia chamar de bela caligrafia, mas desta vez mal se conseguia ler. Ainda parado às costas do irmão, Regulus leu algumas palavras:

 “asjdbkdfjhsfgkjdfnlknjlgbfj  kzjfbdikbdflvkdf é odioso. Sinto vergonha de fazer parte desta família. Meu pai foi o único que pareceu se importar, mas não sei até que ponto ele ajudou os Leloush só para livrar a própria cara, James.”

James? JAMES? Então a carta não era para Simone? Regulus sentiu raiva. Era inevitável. James estava roubando-lhe o irmão. Ele bufou.

— Você não sabe que é feio ler a correspondência dos outros, Reg? – disse Sirius, sem se virar. Mas não parecia estar bravo, apenas triste.

— Desculpe, Sir... Fique tranquilo, não consegui ler nada. Sua letra é horrível.

Sirius se virou para encará-lo. Seu rosto estava sujo com rastro de tinta negra misturado às lágrimas que ele havia secado com as costas das mãos. Seus olhos estavam inchados e transbordavam de tristeza.

— Porque você não apaga estes borrões com magia? Aqui na casa do vovô nunca tivemos problemas em usar magia. – perguntou Regulus, apontando para um trecho particularmente grande da carta que estava rasurado.

— Com tantos bruxos do ministério trabalhando na casa das meninas seria muito difícil explicar que não fui eu quem usei... Não quero ser expulso da escola.

— Quando Lord Voldemort ganhar o poder não teremos mais este tipo de preocupação. – O que eu estou dizendo?, se perguntou Regulus, tarde demais.

— O que? – gritou Sirius, esmurrando a mesa e levantando-se, seu rosto transformado de raiva e indignação. – Como ousa falar uma coisa dessas depois de tudo o que aconteceu?

— Sir, não podemos julgar o que aconteceu... – respondeu Regulus, sacudindo os braços semi-flexionados com as palmas das mãos voltadas para cima, como que implorando para o irmão para ser racional.

Sirius avançou sobre Regulus que não se moveu, agarrou nos antebraços do irmão mais novo com força e olhou no fundo de seus olhos:

— Deixa de agir como um idiota, Regulus! Presta atenção no que você está dizendo! O pai das meninas está morto!

— Mas, Sir, e se....

— Me faça um favor, Reg, seu cabeça de pudim. Não me dirija mais a palavra.

Dizendo isso, Sirius soltou os braços do irmão e saiu batendo a porta. Regulus olhou para a porta fechada e bufou. Seus braços doíam onde Sirius o havia apertado, ele esfregou a parte interna dos antebraços para aliviar a dor e sujou os dedos com tinta preta. No braço direito, havia uma marca oval feita pela digital do polegar de Sirius, que lembrava uma caveira. Regulus olhou intensamente para aquela marca, sentindo-se triste e confuso. Então para o pergaminho onde o nome de James parecia se destacar. Deu meia volta e foi até a janela. A marca negra havia se dissipado. No lugar dela, um vazio de morte. Então ele se largou em sua cama e adormeceu, apertando os olhos úmidos.


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