A Breve História de Regulus Black escrita por Mrs Borgin


Capítulo 45
45. Rompimentos




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/745463/chapter/45

Rompimentos

Os quatro garotos riam e conversavam animadamente no carro, na volta para Bramshill, contando para Orion as passagens do filme que eles haviam gostado mais. Sirius, desta vez sentado entre as meninas, segurava a mão de Simone, atento a todos os movimentos e palavras dela. Notar isto encheu seu pai de uma alegria silenciosa que só podia ser notada no bigode que estava com suas pontas levemente erguidas pelo sorriso reprimido no rosto. Regulus voltava na frente, e contava para o pai sobre o cinema:

— ... a tela é enorme, pai. É incrível, como se tivessem feito uma montagem de fotos de bruxos e as mostrassem muito rapidamente, em sequência, formando uma história... e tem som! É muito legal, inacreditável o que os trouxas conseguem fazer sem mágica e ...

Ele parou subitamente de falar. Então perguntou:

— Pai, o que é aquilo?

Uma pergunta retórica, é claro. Ele já havia visto a cobra esverdeada que entrava e saía da imagem de caveira que havia no céu diversas vezes antes, em fotos do Profeta Diário. Mas agora não era foto, era real e estava sobre a casa dos Leloush.

Orion freou o carro bruscamente e mudou de direção. Todos ficaram em silêncio, muito assustados com a atitude do pai. Sirius e as meninas não haviam notado a marca negra no céu. Então ele disse:

— Desçam do carro! – ele esperou que todos descessem do carro e continuou - Vou leva-los para a casa dos meus pais por meio de aparatação. Vou deixá-los no sótão e não quero que saiam de lá até que os vá chamar. Lá é seguro, coloquei proteção mágica. Ninguém pode entrar e vocês não devem sair, entenderam?

As crianças confirmaram com a cabeça.  Assim que todos desceram do carro, Sirius perguntou:

— Mas porque, pai?

Orion apontou com a cabeça para o céu às suas costas. As meninas arregalaram os olhos, assustadas, Sirius abraçou Simone e disse:

— Deve ser uma brincadeira de mau-gosto, não pode estar em cima da casa do vovô.

Regulus apenas sinalizou um ‘não’ com a cabeça, não conseguiu dizer que não era em cima da casa do avô que a marca estava. Então Orion prosseguiu:

— Segurem-se em mim fortemente e fechem os olhos. Os quatro. Agora! – ele falou impacientemente, já que os meninos pareciam querer explicações antes de fazer o que ele falava.

Assustados, os quatro seguraram nos braços fortes do Sr Black conforme ele pedia. Então sentiram seus pés deixando o chão e uma sensação muito estranha e desconfortável em seu estômago. Quando tornaram a abrir os olhos estavam no sótão da casa.

— Não se aproximem da janela e não façam barulho, entenderam?

Eles mais uma vez balançaram a cabeça afirmativamente. Sirius tentou perguntar:

— Pai, mas ...

O pai disse, em voz baixa, muito sério:

— Depois. Fiquem quietos, entenderam? Vou ver o que está acontecendo e quando for seguro, voltarei.

Então Orion desaparatou novamente. Os garotos e garotas sentaram-se no chão empoeirado do sótão vazio, olhando um aos outros com os olhos arregalados, sem conversar. Sirius acariciava a cabeça de Simone, que estava apoiada em seu ombro, ambos sentados de costas para a janela e de frente para a porta, Regulus e Sophie em sua frente, sentados com as pernas cruzadas. Pouco tempo depois os garotos ouviram o carro se aproximando da casa dos vizinhos. Então Sophie levantou-se e foi até a janela e viu novamente a marca: estava bem em cima de sua casa. Ela tampou a boca com as mãos mais uma vez, enquanto seus olhos se enchiam de lágrimas de desespero. Ela apressou-se em direção à irmã e disse:

— Está sobre nossa casa!

Simone segurou as mãos da irmã e disse:

— Pensamento positivo, não deve ser nada. Mamãe nunca ia deixar nada de ruim acontecer, você sabe. Sente-se aqui, fique calma, vamos esperar o pai dos meninos voltar.

Sophie sentou-se ao seu lado, procurando conforto ao lado da irmã mais velha. Mas Simone não estava calma e sabia que a irmã também não ficaria enquanto não soubessem o que estava acontecendo. Ela deitou sua cabeça novamente no colo de Sirius, que a acariciava em silêncio. No meio de toda confusão ele se sentia feliz de poder cuidar de Simone, tirou a varinha do bolso e a segurou firmemente com a mão livre. Se alguém entrasse, ele protegeria sua amada. Em sua frente Regulus olhava para os três, confuso. Ele sabia que a marca negra era a assinatura dos comensais da morte, sabia que eles estavam lutando por uma vida melhor para os bruxos e não conseguia imaginar como um trouxa que cuidava de cavalos e uma bruxa dona-de-casa poderia ser uma ameaça para a comunidade bruxa.

Estavam há meia hora sentados sem se falar quando Regulus pensou que se tinha acontecido algo ruim lá deveria ser com os visitantes que o pai das meninas iria receber. Ele abriu a boca para comentar quando ouviram o pai de Sirius abrir a porta da casa. Sirius beijou Simone na testa e levantou-se, andou na ponta dos pés até a porta e a abriu cuidadosamente para tentar saber o que estava acontecendo. Regulus e as meninas o seguiram e permaneceram logo atrás dele, na soleira da porta. A voz grave do pai ecoava pelos corredores da casa:

— Alguém entrou na casa dos Leloush. Senhor Leloush está morto, madame Leloush eu acabei de levar para o Saint Mungo’s. Está bastante ferida, amarraram os dois com cordas de fogo, há marcas por todo seu corpo, mas acho que ela vai se recuperar – disse Orion, entrando na casa, ao encontrar sua esposa e seus pais sentados em suas poltronas de couro de dragão, tomando chá, aparentemente alheios ao que havia acontecido na casa ao lado.

Walburga colocou sua xícara de chá sobre o pires e olhou pela janela, sem se levantar. Arcturus foi até a janela e Melania deixou cair a xícara de chá que estava em sua mão, derramando o chá ainda quente sobre o tapete marrom. Dois andares acima, os quatro garotos arregalaram os olhos, assustados. Sophie abafou um grito com as mãos e Simone começou a chorar convulsivamente. Walburga perguntou, preocupada:

— A marca, querido... Porquê? Não entendo, porque nossos vizinhos?

— Madame Leloush disse que Comensais da Morte estiveram lá à procura de um livro de registros e ela não faz ideia do que seja. Torturaram seu marido até a morte para que dissesse onde estaria o tal livro, depois ela. Mas ambos não sabiam onde estava. Os seguidores de Voldemort acreditam que este livro seria uma peça fundamental na luta pelos direitos dos bruxos. – Orion procurou o olhar do pai. Arcturus parecia bastante preocupado. – Agora preciso ver as crianças.

— As crianças! Onde estão meus filhos? – gritou Walburga, levando a mão à boca.

— Fique tranquila, querida. – ele respondeu, com um olhar doce para a esposa - Eles estão a salvo. As meninas também. Estão no sótão.

— Tire-as daqui! – gritou Walburga. Orion olhou para ela, confuso.

— Se Madame Leloush está traindo nosso povo, então suas filhas são traidoras também. Leve-as embora!

— Wal, elas são apenas crianças. Não entendem nada ainda. Estão assustadas, não sei se é seguro... – Orion tentou trazer a esposa à razão.

— Tire-as daqui! Tire-as daqui! – gritava Walburga, sem parar.

Arcturos abraçou a nora, contendo-a e olhou para o filho, dizendo:

— É melhor tirá-las daqui, filho. Pode não ser seguro.

— Certo, pai.

E dizendo isso ele subiu as escadas e foi para o sótão. Chegando lá encontrou os garotos sentados no chão próximo à porta aberta. Sirius abraçava Simone que chorava sem parar e Regulus segurava a mão de Sophie com força. Então Sr Black percebeu que eles já estavam a par do ocorrido:

— Meninas, sinto muito. – disse Orion com sua voz estrondosa rouca de emoção. Era muito difícil dar a duas garotas a notícia da morte de seu pai, ainda mais na frente dos próprios filhos. Podia ser ele, ele era pai e ele sabia onde estava o livro. Ele esfregou a mão na testa e acrescentou: - é melhor eu leva-las para verem sua mãe – é mais seguro lá no hospital, pensou.

— E papai, onde está? – perguntou Sophie, erguendo os olhos vermelhos para encarar o homem. Simone era incapaz de dizer uma só palavra, continuava chorando, amparada por Sírius.

— Eu chamei um pessoal do Ministério e eles estão cuidando de seu pai... do corpo dele. Eles organizarão o funeral para vocês. Agora precisamos ir.

 As meninas se levantaram do chão e estavam já estendendo os braços para que o senhor Black as pudesse levar para o hospital quando Sirius gritou, levantando-se:

— Eu vou com elas. – Orion olhou surpreso para ele e pensou um pouco. Sirius amparava Simone em seus braços.

— Está bem. Mas voltará comigo. – respondeu Orion, sério.

Regulus, com os olhos vermelhos e cheios de lágrimas, sentindo-se muito confuso, se despediu das meninas, abraçando-as fortemente.

Então seu pai as abraçou, e instante depois Regulus estava sozinho. Foi até a pequena janela redonda do sótão e olhou para a marca negra no céu. Não sabia o que pensar. O pai das meninas não parecia capaz de fazer mal a uma mosca, mas era trouxa. Mas nem por isso precisava morrer. Ficar ali sozinho lhe dava calafrios. Desceu as escadas e foi ao encontro de sua mãe.

Encontrou sua mãe, a vó e o avô sentados na sala. Dona Walburga estava horrorizada, não pela crueldade dos atos, mas por não ter desconfiado das atitudes dos vizinhos. Regulus sentia-se ainda mais perdido, sem conseguir julgar. Madame Leloush parecia uma boa mulher. Para piorar a situação, escutam-se batidas na porta.

Arcturus foi até a porta empunhando a varinha e a abriu receoso. Era Bellatrix. Ele abaixou a varinha. Bellatrix não estava vestida como de costume, suas roupas estavam sujas de fuligem e seus cabelos desalinhados. Ele a cumprimentou e convidou para entrar.

Bellatrix olhou para a varinha na mão de Arcturus e soltou uma risada breve e debochada, depois entrou e perguntou para todos, sem cumprimentar:

— Vocês tem alguma ideia do paradeiro dos documentos que os seus vizinhos estavam escondendo?

— Como assim? Documentos? – tentou desconversar Arcturus.

— Não se faça de desentendido, titio – apesar de Arcturus não ser propriamente seu tio, nas poucas vezes em que se encontraram Bellatrix o chamava assim – vi Orion entrar na casa e levar Madame Leloush embora. Atitude muito suspeita. – ela disse, levantando as sobrancelhas com o olhar desconfiado.

— Pois Orion foi apenas ver o que estava acontecendo e socorreu os vizinhos. Mesmo criminosos merecem receber assistência em momentos difíceis. Orion é médico, você sabe, é seu dever ajudar – respondeu Arcturus, com a voz firme.

 - Eles estão escondendo documentos importantes que iriam nos ajudar a lutar contra o domínio pró-trouxa! São mais que criminosos! São sabotadores!

Regulus notou que a prima tinha a marca de uma mordida no braço. Ele não perguntou nada, mas ela notou:

— Aquele trouxa imundo morreu mordendo meu braço. Como se isso fosse lhe aliviar a dor...

— Oh, eu não havia visto. Venha cá, querida, vamos colocar um pouco de ditanmo nisso. – disse Melania, pegando o braço de Bellatrix com cuidado. A ferida sangrava.

Neste momento Orion aparatou com Sirius no hall. Surpreso em ver a sobrinha lá, ele cumprimentou, enquanto olhava com curiosidade para seu braço:

— Como vai, Bellatrix?

Arcturus então, se adiantou em explicações, olhando no fundo de seus olhos, para que Orion ficasse a par do que estava acontecendo:

— Senhor Leloush a mordeu pouco antes de morrer.

— O quê? Você matou o pai de Simone? – gritou Sirius, sacando a varinha.

Bellatrix sorriu desdenhosamente, enquanto Orion tomava a varinha do filho e o segurava nos braços:

— Então o trouxa tinha uma filha? - perguntou Bellatrix, interessada.

Sirius sente a raiva crescer dentro de si, soltou-se dos braços do pai e correu em direção à Bellatrix com a intenção de machuca-la de alguma forma. Regulus, que até então assistia a tudo imóvel, se colocou entre o irmão e a prima, segurando-o:

— Não faça isso, Sir! – ele gritou, segurando o irmão pelos ombros e o chacoalhando. - As meninas são ótimas e não podemos culpa-las pelos atos dos pais, mas Madame Leloush era uma traidora...

— Não venha me dizer que você vai defender Bellatrix, dizendo que ela usou métodos civilizados para conseguir o que queria! Você não viu Madame Leloush! – ele gritou em reposta.

— Na verdade, usei. Fui gentil e amável com ela... mas ela não merecia! – falou Bellatrix, sorrindo para o primo, fingindo inocência – a traidora continuou se negando a dar as informações que precisávamos... mas ela ainda vai dar. A não ser que outra pessoa possa fazer isso... O Lord das Trevas viu a sua imagem, titio, muito nítida na mente do trouxa... de vocês dois, na verdade... – ela disse, indicando Orion e Arcturus com a cabeça.

— Não sei do que você está falando. – respondeu Arcturus, sem pestanejar – somos vizinhos, conversamos sobre problemas como a cerca, árvores que precisam ser podadas, e coisas assim. Eu nunca poderia imaginar que eles estivessem escondendo algo. – então olhou para Orion.

— Você deve ter me visto nas lembranças dele porque eu aluguei um cavalo dele recentemente. Damos algumas voltas, posso lhe mostrar o caminho se quiser checar se há algo escondido por lá... Diga ao Lorde das Trevas que posso falar com ele quando quiser e ele entenderá que não temos nada a ver com isso – defendeu-se Orion.

— Óbvio que não temos! Quem poderia imaginar que nossos vizinhos eram traidores? Está certo que não foi uma atitude adequada dela casar-se com um trouxa, mas vemos isso lamentavelmente em tantas famílias, não é mesmo? – Comentou Melania.

Dona Walburga inflamou-se em comentários reprovando as atitudes da vizinha, enquanto Arcturus pedia licença para descansar e Sirius e Regulus subiam para o quarto, sem conversar. Orion chamou Bellatrix para mostrar-lhe o caminho por onde ele havia passado com o pai de Simone e Sophie, onde supostamente poderia ter algo escondido. Os dois saíram porta a fora, o vento gelado batendo em suas bochechas. Orion entregou a Bellatrix uma vassoura e pegou outra para si, assim os dois saíram pelas trilhas de Bramshill. Naturalmente ele a levou a todos os lugares em que não teria a menor chance dela encontrar algo, pois não podia deixar que a sobrinha descobrisse que ele e o pai haviam ajudado os Leloush a esconder o livro de registros. Isso não seria bom para a família.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Breve História de Regulus Black" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.