A Breve História de Regulus Black escrita por Mrs Borgin


Capítulo 36
36. Provocações




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Provocações

Após comerem muitos doces, Regulus e Emma disseram:

— Nós vamos dar uma volta... Até amanhã.

E dizendo isso, deram um jeito de sair da festa sem serem notados ou seguidos. Não demorou muito tempo para Snape começar a fingir uma série de bocejos:

— Lily, estou muito cansado. Se você não se importar, eu gostaria de ir dormir agora.

— Ah, não, Sev. Não tem problema. Apenas me acompanhe até a sala comunal da Grifinória, pois também vou me deitar.

— Claro. – respondeu Severus, oferecendo-lhe o braço para leva-la até a torre da Grifinória, muito satisfeito em saber que Lily não ficaria na festa sem sua companhia. Não fosse pelo fato se que estava preocupado em não se atrasar para o clube, Severus teria tido o maior prazer em caminhar vagarosamente pelos corredores desertos e mal iluminados do castelo, sentindo o calor do toque suave de Lily Evans em seu braço. Estava sendo mesmo muito penoso para ele fingir-se sonolento e não prolongar a conversa com ela, mesmo que fosse sobre as sombras engraçadas que se projetavam pelas janelas no chão dos corredores.

— Bem, aqui estamos. Preciso ir, Lily. – ele bocejou – Boa noite.

— Tem certeza de que vai encontrar o caminho até seu dormitório, Sev? Você parece com tanto sono...

Ele sorriu para ela, em resposta. Então ela lhe desejou boa noite e jogou um beijo. Severus ficou alguns segundos olhando para o retrato da mulher gorda, após a passagem ter se fechado:

— Querido, se você vai passar a noite inteira olhando para mim, pelo menos finja que está realmente me enxergando... Ou então me deixe dormir. – disse a mulher no retrato.

Então ele focou o olhar e disse:

— Não tenho tempo para perder com retratos mal-educados.

Então Snape deu meia volta e saiu correndo pelos corredores escuros, desceu escadas pulando os degraus e por vezes escorregando nos corrimões até chegar na torre do relógio, no quinto andar: estava atrasado para o clube. Para sua surpresa, iluminados pelo luar, lá estavam Regulus e Emma, atrás das ferragens do relógio, olhando para cima:

— Simplesmente não funciona. – disse Regulus, desapontado.

— O que não funciona? – perguntou Severus.

— O alçapão... Não quer mudar de cor. – Respondeu Emma, sem tirar os olhos do alçapão.

Snape olhou para cima, pensativo. Então resolveu experimentar um feitiço:

Homenum revelio!

Instantaneamente o alçapão ficou transparente, revelando que havia alguém sobre ele.

— Deve ser isso: não muda de cor porque tem alguém em cima.... Quem está aí? – Snape perguntou.

Então o alçapão se abriu e alguém desceu a escada. Ao subirem a escada, encontraram Rosier que ofuscava sua visão com a luz da varinha. Ele disse, num tom que deixava mostrar todo seu mau-humor:

— Vocês estão atrasados.

— Ei, que brincadeira foi essa de bloquear a entrada? – perguntou Emma.

— Era apenas um teste. Vocês passaram. Agora vamos. Nox.

— Porque você apagou a luz? – Perguntou Emma. Rosier não se deu o trabalho de responder, deu-lhe as costas e seguiu pelo corredor estreito e escuro até a porta que levava para a escada em caracol. Sem dizer mais nada, os três o seguiram de perto, observando que ele mudara, de última hora o padrão das batidas na porta para um formato de caracol, ao invés do número nove que havia sido previamente combinado. Após descerem as escadas na mais completa escuridão, se esbarrando uns contra os outros, chegaram na sala de duelos. Nenhum deles se  admirou ao ver Crouch lá. Ele examinava os outros com um ar de desprezo e superioridade, como se tudo aquilo o deixasse entediado.

Sem muita demora, Rosier pediu que eles se separassem aos pares e começassem a duelar. Apenas Crouch se recusou a fazer um par e ficou andando entre os outros, observando. Emma estava lutando para se proteger dos ataques contínuos de Severus quando Crouch perguntou:

— É só isso que vocês fazem aqui? Feitiços infantis?

Imediatamente todos pararam, indignados. Rosier perguntou, ofendido:

— E o que, ao seu ver, não seriam feitiços infantis?

— Hum... As maldições imperdoáveis, por exemplo.

— Ah, sim... Podemos tentar, o que você acha? – e apontando a varinha para Crouch, disse – Crucio!

Crouch se contorcia de dor enquanto gargalhava no chão. Todos observavam em silêncio. Após alguns instantes, Crouch se levantou e devolveu o feitiço:

Crucio!

— Ei, vamos parar com isso, garotos! – Disse Emma, em vão, pois Rosier voltou a atacar:

Crucio!

Desta vez, Crouch não caiu no chão, embora se percebesse que ele estivesse sentindo muita dor. Ele olhava desafiadoramente nos olhos de Rosier, enquanto seu corpo tremia para conter a dor. Era possível se perceber que ele sentia prazer naquele duelo particularmente proibido e perigoso, algo que Regulus não conseguia compreender. Crouch passou a língua nos lábios e perguntou:

— Só isso você sabe fazer?

Rosier então repetiu a maldição mais uma vez e então, com a raiva crescendo em sua mente ao ver Crouch resistir bravamente, rindo dele, o monitor gritou:

Avada...

Neste instante Severus e Regulus se jogaram contra ele, derrubando-o no chão. Rosier parecia sair de um transe quando olhou os dois e disse:

— Obrigado.

Então levantou-se do chão, batendo em suas vestes com as mãos para tirar o pó. Olhou para Crouch na intenção de pedir desculpas, mas desistiu, uma vez que Bartô não parecia estar abalado com o ocorrido. Apenas chacoalhava a cabeça e continuava rindo. Então Emma pediu:

— Precisamos conversar. Sentem-se todos, por favor. – ela esperou que se sentassem no chão formando uma roda em torno dela e sentou-se com as pernas cruzadas, mantendo um olhar severo que passava pelos olhos de todos. Com a mesma confiança que mostrava nos treinos de quadribol, falou:

— Meninos, o que aconteceu esta noite aqui passou dos limites. Quando fundamos este clube há dois anos, havíamos combinado que não usaríamos as imperdoáveis e todos concordaram. Inclusive você, Rosier. Lançar a maldição cruciatus em um aluno do primeiro ano? E a madição da Morte?O que estava pensando? – Ela perguntou, indignada – Já basta! Você está fora! – ela gritou, indicando a escada da saída.

— Desculpem-me, não queria realmente fazer isso. Apenas Crouch me tirou do sério... ele me desafiou com as imperdoáveis na mesma semana que o papai dele prendeu meu tio em Azkaban por usar a Imperius para se defender! – Rosier respondeu desesperadamente, esfregando as mãos no rosto.

Tocada por seu desespero, ela abaixou o braço.

— Como assim para se defender? – perguntou Emma.

— Ele usou para que uma bruxa bisbilhoteira, que o acusava de usar magia contra trouxas, não depusesse contra ele no Ministério...

— Seu tio atacou trouxas?

— Bem, uns meninos em Liverpool estavam jogando pedras no meu primo porque o viram fazer magia e, sabe como é, essa gente não tolera nada que não compreende. Odeio trouxas! Meu tio apenas lhe aplicou um corretivo, a cruciatus... A vizinha dele viu e denunciou... Então ele a enfeitiçou para que retirasse a denúncia. Mas o pai do Bartô percebeu e mandou meu tio pra Azkaban. Queria ver se fosse o Bartozinho que tivesse levado as pedradas, o que ele ia dizer...

— Meu pai me repreenderia por usar magia na presença de trouxas, diria que eu os provoquei... E se alguém usasse alguma das imperdoáveis para me defender – como seu tio fez, Rosier – meu pai ia dizer que Maldições Imperdoáveis são imperdoáveis e mandaria para Azkaban quem quer que fosse.

— Mas os trouxas mereceram o castigo! – retrucou Rosier.

— Ok. Vamos esclarecer uma coisa. Prestem atenção porque não vou repetir: meu pai é capaz de mandar a si mesmo para Azkaban se um dia precisar usar uma maldição imperdoável. Se bem que eu acho que nunca perderia a cabeça a esse ponto, só perdem a cabeça pessoas que tem sentimentos. Meu pai é frio como gelo. Ele só sabe seguir regras.

Então fez-se um silêncio mortal. Ninguém ousava olhar para os outros e o único som que se ouvia era a respiração asmática de Bartô Crouch Jr. Então Regulus lembrou-se do comentário que ouvira Rachel para outra garota dias atrás: “tem alguma coisa errada com esse tal de Bartô, eu soube que a mãe e o pai dele eram da nossa casa, porque então ele foi para as masmorras?”. Ele tomou coragem e resolveu perguntar:

— Bartô, não entendo... Seus pais eram da Corvinal, como você veio parar na Sonserina?

Bartô olhou para Regulus e pensou um pouco, não tinha certeza se deveria ser sincero, mas, por outro lado, aquela era sua casa, ser Sonserina era só o começo de sua reposta para seu pai por anos e anos de abandono.

— Eu pedi. – Ele respondeu, abrindo um leve sorriso, enquanto sentia o ar deixando seus pulmões forçosamente.

— Como assim? – perguntou Jack, interessado.

— Antes mesmo da McGonagall colocar o chapéu na minha cabeça, eu já estava pedindo mentalmente: Sonserina, vou para Sonserina.

Novamente se fez silêncio. Ninguém olhava para Crouch diretamente, não sabiam como se sentir em relação a ele. Aquele silêncio ficou desconfortável para Emma, que sentiu uma vontade imensa de sacudir as pernas, o que ela sabia, de nada ia adiantar. Então ela falou:

— Então, já que está aqui, que tal recomeçarmos os duelos? Mas desta vez, por favor, sem quebrar tantas regras... Não queremos ninguém severamente ferido aqui.

— Pois eu acho que deveríamos sim treinar as imperdoáveis. Fora destes portões há uma guerra silenciosa, da qual eu pretendo tomar parte assim que possível, vocês não? - ninguém respondeu de imediato – bem, vejo que estou tratando com uma bando de mariquinhas covardes e hipócritas - e dizendo isso, ele levantou-se e caminhou em direção à escada em espiral.

— Espere. – disse Rosier, levantando-se. Crouch retornou e o encarou, Rosier gesticulou para que ele sentasse, mas Crouch permaneceu em pé. Rosier voltou a falar, andando em torno da roda de alunos no chão, sua capa arrastando no chão empoeirado nervosamente – essa ideia de não praticar as imperdoáveis foi do Steve Laughten. Ele era todo cheio de querer cuidar e controlar. Mas eu concordo com você, Crouch. Há uma vida acontecendo fora dos muros da escola. Frequentemente criticamos o ministério por manter leis sem o menor sentido por séculos, apenas por medo de rever conceitos e mudar a ordem das coisas. Mas esta é a hora de mudar: finalmente temos um bruxo que não sente vergonha de ser bruxo. – e ao notar a expressão de surpresa no rosto dos colegas, parou, e olhando nos olhos de cada um, reafirmou: - digo vergonha sim, porque restringir o uso da magia para dentro de casa é ter vergonha de ser bruxo! E Lord Voldemort está nos mostrando que chegou a nossa vez, é chegada a hora de paramos de nos esconder! – Empolgado, o monitor levantou a voz – Abaixo os trouxas! Viva Lord Voldemort! Ele está aqui por nós! Ele, pessoalmente, garantiu ao meu pai que irá resgatar meu tio de Azkaban! Ninguém pode ser preso por defender o próprio filho! O que vocês fariam? O domínio dos trouxas e pró-trouxas está cada vez maior. É chegada a hora de nos decidirmos quem vamos ser. Eu não vou me esconder! Ergam suas varinhas!

Empolgados com o discurso, os garotos ergueram as varinhas prontamente. Então Emma falou:

— Tudo bem, concordo com Rosier. Mas não podemos esquecer que ainda estamos dentro da escola e aqui temos regras a seguir. Vamos reformular nossas regras: quando, onde e sobre o que vamos poder usar as imperdoáveis? Minha sugestão é que a Imperius possa ser usada aqui no clube. Vai ser divertido. A Cruciatus pode ser usada no clube como último recurso e apenas uma vez sobre a mesma pessoa. Sugiro que não usemos a maldição da morte.

Crouch sorriu desdenhosamente e falou:

— Mas precisamos treinar! Podemos usar animais, insetos, talvez. O que vocês acham?

— Apoiado! – disseram em uníssono os demais colegas, concordando com a cabeça.

— Hum, bem. Acho que por hoje podemos parar por aqui. Amanhã é quinta-feira e todos temos aulas logo cedo e, ahn... bem... Conversaremos mais sobre o assunto e como vamos fazer para usar as imperdoáveis sem que ninguém se machuque, ok? – disse Emma, olhando nos olhos de todos aqueles meninos. Parecia haver uma pequena chama no fundo dos olhos de cada um e ela não estava certa de que isso seria realmente uma boa coisa.

— Então, próximo sábado nos encontramos aqui, certo? – perguntou Rosier.

— Não! Sábado vamos ter a estreia de Black e Greengrass no nosso time, esqueceu? Vamos ganhar o jogo contra a Corvinal! Não vamos, Black? – perguntou Emma, aliviada pela mudança de assunto.

Regulus sorriu:

— Vou fazer a Rachel querer engolir o pomo de raiva! Se bem que ela não vai conseguir, pois ele estará bem preso nas minhas mãos...

— É assim que se fala, Black! – disse Emma, olhando para os punhos cerrados de Black - Podemos fazer um encontro daqui duas semanas, aí eu e Rosier teremos tempo de arranjar tudo que for preciso. O que vocês acham?

Os garotos concordaram. Então Rosier falou:

— Bem, para entrar, o alçapão deve ficar na cor do feitiço estuporante e vocês precisam bater na porta exatamente 13 vezes. Quem perguntar qual a cor do feitiço estuporante está fora. Aqueles que chegarem juntos estarão fora também. Quem for pego esta noite rondando pelo castelo está fora. Este clube não é para bebês. Não quero ouvir perguntas. Estão dispensados.

Sem dizer uma palavra por medo de ser expulso do clube, os garotos deixaram o esconderijo um a um, olhando de esguelha uns para os outros.

Regulus seguia pela penumbra do corredor do quinto andar sentindo o coração bater forte e a respiração fazer seu peito subir e descer com força. A verdade é que a ideia de usar as maldições imperdoáveis tinha deixado todos muito excitados. Isso era bem mais do que ter um clube secreto, era fazer algo contra às leis instituídas pelo Ministério, era como lutar lado a lado com o próprio Lord Voldemort pelo direitos dos bruxos. Regulus sentia que crescera na última meia hora bem mais do que num ano inteiro. Agora ele, com doze anos de idade, julgava-se quase um adulto e poderia fazer o que quisesse. O sentimento de grandeza tomou conta de seu peito, inflando-o de orgulho. Ao passar por uma janela, viu seu rosto refletido no vidro, então parou por um instante para admirar como se visse um novo Black surgir de dentro de si.


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