Clube de duelos

Naquela noite Regulus quase não conseguiu comer seu jantar, tão animado que estava para ir ao clube de duelos. Theodor também estava muito excitado, mal conseguia se conter, olhava para Snape a todo momento durante o jantar, esperando por uma oportunidade de conversar com ele sobre o clube, contar-lhe que ele também iria. Após o jantar eles foram para os dormitórios e fizeram o possível para fingir que estavam indo dormir, pois acharam prudente não comentar com Jack e John sobre o clube, uma vez que não haviam sido convidados. Porém os esforços de Regulus e Theodor não foram eficientes:

— Hei, Jack! Olhe o Ami vai dormir de sapatos! – disse John, puxando as cobertas de Theodor.

— Deve ser para fazer companhia para o Reg, que vestiu o pijama por cima das calças...

Dizendo isso, Jack e John se postaram com os braços cruzados e olhando com cara amarrada aos pés das camas de Regulus e Theodor. Então John disse:

— Se vocês não contarem onde estão indo esta noite nós não vamos deixa-los sair.

Theodor olhou para Regulus levantando os ombros como quem pergunta ‘e agora?’. Regulus falou:

— Eu recebi um convite para um clube de duelos esta noite, nós íamos até lá ver como é.

— E não iam nos contar? – perguntou Jack, indignado.

— Na verdade, hoje não. Eu queria ver como era e pedir permissão para levar vocês... Sabem como é, o Snape fez tanto mistério que tive receio... Mas agora que já sabem, vamos todos. Apressem-se, já são 21:45.

Regulus não sabia dizer se sua explicação havia sido satisfatória ou não, pois os garotos não perguntaram mais nada e logo a excitação que Regulus e Theodor sentiam tomou conta de Jack e John.

Assim que todos estavam vestidos novamente, Regulus falou:

— Temos que ir ao 5º andar, aquele que tem a entrada da torre do relógio, próximo ao corredor da ala hospitalar.

— E o que estamos esperando? Vamos! – Disse Theodor, empolgado.

— Ainda não. Acho que vocês devem lembrar que nós não deveríamos estar fora da cama a esta hora, não? – os outros três acenaram sim com a cabeça - E quatro garotos andando pelos corredores ao mesmo tempo vai chamar muita atenção. Vamos fazer o seguinte: eu saio agora, vocês contam até vinte e Theodor sai também, depois mais vinte e Jack pode sair e por fim John aguarda mais vinte segundos antes de deixar o quarto, andamos todos sem parar até o 5º andar, onde nos encontramos novamente. Certo?

— Certo. – disseram os três ao mesmo tempo.

— Outra coisa, se alguém for pego, nada de contar sobre o clube ou que os outros três também estão pelos corredores. Invente uma dor de barriga qualquer que justifique procurar pela enfermeira. Essa promete ser a primeira de muitas noites de aventuras, vamos cuidar para que ninguém estrague tudo e sejamos expulsos do clube antes mesmo de entrar. Entenderam?

Os três concordaram rapidamente. Regulus aguardou que algum tivesse mais alguma ideia, mas parecia que todos só conseguiam pensar em ir logo ao clube. Então Regulus saiu.

A sala comunal da Sonserina estava escura, mal se conseguia distinguir os móveis para não esbarrar neles. Regulus ganhou os corredores rapidamente, torcendo para que os amigos fizessem conforme combinado e nenhum deles fosse pego.

Infelizmente não havia sobre a masmorra da Sonserina uma escada que levasse diretamente ao corredor do 5º andar, pois ele havia sido construído sobre a parte mais alta do terreno de Hogwarts, então as escadas para acessá-lo começavam no terceiro andar, do lado oposto da escola. Ele andava apressado sem ser notado, porém, ao chegar no terceiro andar avistou o monitor de sua casa, Rosier, que andava apressado na mesma direção, então Regulus aguardou na penumbra alguns instantes, para que o monitor sumisse escada acima. O tempo fora suficiente para que Theodor o alcançasse:

— O que aconteceu, Reg? – Ele sussurrou no ouvido de Regulus, que levou um susto, precisando abafar um grito com suas mãos.

— Ah, é você! Nada não, apenas Rosier. Como não sei se ele está de acordo com o clube, achei melhor esperar. Agora vamos.

Os dois estavam subindo as escadas quando Jack e John os alcançaram, ofegantes.

— Acho que Pirraça nos viu, apressem-se! – falou John, ao passar por eles.

Então os quatro amigos correram escadas acima, chegando rapidamente no 5º andar. Estavam andando quando Severus saiu das sobras detrás de uma armadura:

— Vejo que você convidou seus amigos, Black. – disse Severus, demonstrando surpresa e descontentamento.

Regulus respondeu levantando os ombros, um pouco sem graça. Será que Severus pretendia duelar contra ele? Mas antes que pudesse pensar no assunto, Snape falou:

— Vamos, por aqui. Não façam barulho.

E ele os guiou até o final do corredor, entrando por trás dos pêndulos do relógio. No teto havia um alçapão. Snape pegou sua varinha e lançou um feitiço que deixou o alçapão momentaneamente cor de rosa. Então alguém abriu o alçapão por dentro e desceu uma escada de madeira. Ele se afastou para dar espaço para a escada e disse:

— Vamos.

Severus e os garotos subiram as escadas, chegando ao que deveria ser a parte detrás do mostrador do relógio, a pessoa que havia descido as escadas se esgueirava por um corredor estreito e entrava por uma porta que havia no final deste. Após o último garoto subir, eles ergueram a escada e fecharam o alçapão, com cuidado para não fazer barulho, o que não fazia muito sentido pois a máquina do relógio da torre já fazia barulho suficiente para disfarçar qualquer ruído.

Eles seguiram pelo corredor estreito atrás de Snape, que bateu na porta sete vezes como quem desenhava o número sete na superfície da porta, então ela se abriu para um pequeno átrio, onde havia uma escada em caracol. Regulus espiou escada abaixo, mas nada conseguiu ver, pois além de escuro a escada era realmente muito extensa. Os cinco garotos desceram as escadas que parecia ter cerca de oitenta degraus e era ladeada por paredes de pedra rústica, parecendo ter sido aberta na própria rocha da colina. Ao chegarem no final, o espaço era amplo e bem iluminado. Não havia janelas ali, apenas algumas tochas nas paredes. Lá estavam nove alunos da Sonserina, de todos os anos, entre eles Avery e Mulciber do segundo ano, Emma Vanity do 3º ano, Augustus Rockwood do 4º ano, Gibbon do 5º ano, Jugson e Rosier do 6º ano, Steve Laughalot do 7º ano. Rosier reclamou com Snape:

— Quando o convidei para o clube eu sabia que estava fazendo besteira... Agora você vem aqui e traz estes bebezinhos juntos. Aqui não trocamos fraldas, Snape!

— Eu convidei Black depois que vi ele azarar o imbecil do Prewet. Dê uma chance a ele.

— Está bem, quem não se sair bem hoje está fora. E será severamente punido severamente punido se nos delatar, compreenderam?

Os garotos consentiram com a cabeça, um tanto amedrontados. Emma foi ao encontro deles, sorrindo:

— Muito bom ver vocês por aqui, garotos! Não liguem para o Rosier, hoje ele está de mal-humor. Bem, acho que vocês nãio sabem como funciona nosso clube, não é?

Os garotos sacudiram a cabeça: ‘não’.

— Nós nos encontramos aqui uma vez por semana, ensinamos feitiços para os outros e treinamos nossa agilidade. É muito legal. Hoje vou ajuda-los, treinar um pouquinho vocês antes de começarmos, ok? Black, vem aqui.

Regulus se aproximou dela. Eles já se conheciam do trem, havia até uma certa intimidade entre os dois, já que ele passara horas dormindo no colo dela.

— Bem, garotos, prestem atenção. O que vocês precisam saber é que, primeiro nós damos uma certa distância um do outro, depois...

Regulus completou a frase:

— Depois nos cumprimentamos, e então começamos o duelo: expeliarmus!

A varinha de Emma foi arrancada de sua mão e ia cair no chão, num canto escuro quando Regulus se atirou e a pegou, depois entregou à sua dona, gentilmente.

— Muito bem, Black. Você é mesmo muito bom! – ela disse sorrindo largamente - mas aqui a gente tenta azarar o outro que deve tentar bloquear a azaração, isso antes de tentar desarmar. De qualquer forma, fiquei impressionada. E você foi muito rápido em apanhar minha varinha, vou me lembrar de você quando tivermos uma vaga de apanhador no time...

Jack, John e Theodor olhavam Regulus com um pouco de inveja, por toda aquela atenção que mais uma vez ele recebia de Emma. Sentindo isso, ele disse:

— Emma, eu tive algum treino com meu pai e meu irmão nestas férias, então será que você não poderia ensinar Ami, Jack e John antes da gente tentar duelar? Eles nunca duelaram antes e seria uma pena se Rosier os tirasse do clube.

Ela assentiu, embora claramente estivesse mais interessada em duelar com Regulus. Enquanto Emma ensinava feitiços para seus amigos, Regulus andou pela sala até chegar no canto em que estava Snape e Avery, um jogando feitiços contra o outro. Ele achou aquilo muito instrutivo e sentou-se a um canto para observar melhor.

Na mesma hora em que um lançava o outro bloqueava do outro lado, o que dava a impressão de que nenhum dos dois estava lançando feitiços, apenas gritando e agitando as varinhas. Regulus achou graça disso, pensou que se fossem dois trouxas brincando com gravetos o efeito seria o mesmo e começou a gargalhar. Isto tirou a concentração de Avery, que foi rapidamente guindado de cabeça para baixo pela varinha de Snape. Avery gritou:

— Assim não vale! Black me desconcentrou! Me tire daqui Severus!

Severus ria a valer, não conseguindo pronunciar as palavras necessárias para desfazer o encanto. Então regulus pegou sua varinha e disse:

— Liberacorpus!

Avery caiu de cabeça no chão, Regulus e Snape não conseguiam segurar o riso e explodiram na gargalhada.

— Você vai ver, Black! Ruber oculis!

Imediatamente Regulus sentiu seus olhos incharem e começarem a lacrimejar, coçando muito. Mal podendo enxergar, ele distinguiu Rosier e Emma se aproximarem, assim como Steve. Steve  estava estudando para uma vaga de aprendiz no St Mungus, então sabia o exato encantamento e o livrou da momentânea conjuntivite.

— Avery! Já lhe disse que não deve azarar alguém aqui no clube sem que essa pessoa esteja em posição de duelo! Você está fora do próximo encontro!

— Mas Rosier, ele...

— Não tem mas, eu já lhe avisei. Tudo bem com você, Black?

— Tudo bem. Não precisa punir o Avery...

— Quem decide isso sou eu. Agora, circulando pessoal. Vamos duelar!

Regulus se virou para Severus:

— Qual é mesmo o feitiço para bloquear o outro? Impedimenta? Como faz com a varinha?

Snape postou-se ao lado de Regulus e demonstrou o feitiço.

— Ah, entendi.

Então todos se dividiram em duplas e começaram a duelar. O vencedor de cada duelo duelava com o vencedor do duelo ao lado, até que sobrou somente duas duplas: RosierXSteve, RegulusXSnape. Rosier venceu Steve em um duelo particularmente longo, depois Snape venceu Regulus, que por algum motivo sentiu como se o amigo o impedisse de se defender no último instante, apenas com seu olhar penetrante.

Então Rosier e Snape começaram o duelo e todos os outros se sentaram em uma grande roda para assistir. Emma, naturalmente, sentou-se ao lado de Regulus, apoiando sua cabeça no ombro dele, que sorriu satisfeito. O perfume de Emma era doce e seus cabelos loiros desciam em cascata sobre os braços pálidos de Regulus. Ele começou a fazer cafuné em Emma e foi uma surpresa quando meia hora depois Rosier o chamou:

— Black, o que você acha de me enfrentar agora? Você chegou tão longe na nossa disputa de hoje...

Mas Regulus estava tomado pela preguiça, então respondeu:

— Na próxima, ok? Você vai deixar eu voltar, não é?

— É, devo admitir que Snape estava certo. Vocês podem voltar, mas se Jack e Ami não melhorarem a performance, estão fora.

— Nos encontramos aqui semana que vem. A senha será o número oito e o alçapão abrirá quando ele ficar laranja.

— E como fazemos isso? – perguntou John.

— Aí está, só entra quem descobrir como fazer... Semana que vem não quero ver ninguém chegando aos pares. É muito arriscado com este novo zelador nos rondando. Agora podem ir, esperem até o outro desaparecer na escuridão do corredor para começar a andar e evitem as janelas, hoje tem luar e ninguém pode ser visto.

Os garotos subiram a escada caracol, depois esgueiraram-se pelo corredor estreito, desceram pela escada até os pêndulos do relógio, e então foram saindo, um a um, esgueirando-se pelas sombras do castelo, muito animados.

Emma atrasou seu passo para encontrar com Regulus, deu-lhe a mão e o guiou pelos corredores escurecidos tomados pelo silêncio, exceto por uivos que se ouvia ao longe. Sua mão era macia e conforme ela andava seu perfume ia se soltando no ar. Quase entorpecido, Regulus se surpreendeu quando ao chegar na sala comunal da Sonserina ela largou sua mão, dizendo melodiosamente:

— Boa noite, Black.

— Boa noite, Emma. – ele disse, feliz que estivessem na penumbra e ela não pudesse ver o quanto suas bochechas estavam vermelhas.

Então entrou no seu dormitório com um sorriso no rosto, onde Jack, Theodor e John estavam vestindo os pijamas. Daquele momento em diante ele tinha certeza: Hogwarts era mesmo um paraíso.