A Breve História de Regulus Black escrita por Mrs Borgin


Capítulo 162
162. Uma tarde intensa




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Uma tarde intensa

Regulus classificou os últimos dias de verão como “perfeitos”. Ele conseguira se encontrar com a namorada quase diariamente e eles passeavam pelas ruas de Londres felizes, de mãos dadas, sempre com um sorriso no rosto. A maioria das pessoas sorria para eles em resposta, sem imaginar que isso alimentava os comentários debochosos dos dois. Era um dia claro de verão, o sol havia deixado a timidez de lado e ardia com força. Regulus tinha os cabelos molhados de suor, enquanto Rachel estava, como sempre, impecável.

— Como você consegue estar sempre tão linda?

— Ah, poção anti-suor. Invenção de minha mãe. Eu preferia que fosse um feitiço, mas depois que ela conseguiu neutralizar o cheiro da poção com perfume de alfazema, não me importo de tomar banho com essa poção todos os dias...

Regulus aproximou o nariz ao pescoço da namorada e sussurrou:

— Você está realmente muito cheirosa...

Seu gesto chamou a atenção de uma moça que também passeava no St. James's Park, ela sorriu para os dois.

— Você já viu um sorriso mais torto? Se fosse uma bruxa, já teria resolvido esse problema... – comentou Rachel, ao notar que os olhos de Regulus haviam parado mais que o normal sobre a bela trouxa de vestido azul e longos cabelos negros.

Ele riu alto com comentário dela. Sabia que isso ia diverti-la, talvez tanto quanto ele mesmo se divertia com o fato dela sentir ciúme dele.

— O sorriso torto combinava com o ar de pouca inteligência – respondeu ele, virando-se para olhar a moça mais uma vez, a tempo de apreciar o vento a subir seu vestido.

O ciúme de Rachel sempre o orientava para onde olhar, muitas vezes ele olhava distraído em uma direção sem perceber que havia alguém ali para se notar e Rachel, enciumada, lhe dava beliscões ou debochava com bastante empenho da moça – aquilo sempre o chamava para a realidade em tempo de admirar a beleza alheia que graças à namorada não passava desapercebida. Regulus se sentia feliz, desfilava ao lado da belíssima namorada e, de quebra, ainda deslizava o olhar por curvas e decotes alheios, como se Londres estivesse vestida sob encomenda para ele naquele verão.

— Querida, acho que já podemos ir para o cinema... Daqui até a Shaftesburry Ave vamos gastar no mínimo uns vinte minutos de caminhada, o filme vai começar daqui uma hora e ainda temos que comprar os ingressos...

— Você tem certeza que esse cinema é bem frequentado?

— Claro! Estive lá algumas vezes com meu irmão. Dificilmente entra um trouxa, é meio escondido... quem olha por fora nem diria que é um cinema de qualidade... Você vai gostar. Vamos?

— Vamos! – respondeu, dando um rodopio.

Rachel nunca havia caminhado por Londres daquela maneira. Como a maioria dos bruxos menores, ela era levada de um canto a outro através da rede de flu, assim o que conhecia sobre a cidade era bastante limitado e era difícil esconder sua admiração por alguns locais. Regulus, por sua vez, estava acostumado a passeios de carro com o pai, caminhadas com Sirius, sem falar na rica experiência pelas ruas de Londres durante o período que ficara trabalhando com Perkins. Ele acompanhou o olhar dela:

— É bonito aqui, não é?

— Sim, fico imaginando como seria visto de cima...

— Um dia eu vi um daqueles aviões pequenos sobrevoando aqui perto... Sirius disse que os trouxas contratam voos para ver a cidade de cima.... Ele disse que é romântico.

Ela olhou para o céu de um azul intenso e viu um avião sobrevoando ao longe. Sentiu uma pontada de inveja dos trouxas, que logo foi reprimida por mais um comentário.

— Quem precisa de avião estúpido para ver a cidade do alto? Podemos dar uma volta de vassouras! Muito mais emocionante...

Regulus a puxou para perto de si e deu-lhe um beijo, depois disse:

— Não precisamos de aviões para ver a cidade, mas é difícil e potencialmente perigoso roubar um beijo seu quando estamos montados em vassouras...

Rachel riu.

— É, talvez um avião estúpido tenha sua utilidade... Sabe, Reg, estive pensando... Esses trouxas não são de todo ruins, eles têm alguma utilidade. São limitados, é verdade, mas até que são um pouco úteis...

— Como assim?

— Bem, eles fazem coisas; inventaram os rádios, os carros, aviões, trens... A gente só precisou pegar e aperfeiçoar. Estava pensando que quando o Lord das Trevas estiver no comando, poderíamos ter alguns locais de confinamento de trouxas para que eles trabalhassem para nós... Como galinhas num galinheiro, entende? Não precisaríamos elimina-los completamente do mundo...

— Você tem toda a razão... Difícil vai ser descobrir que tipo de milho eles comem e os fazem cacarejar alegremente...

— Perdão?

Regulus e Rachel já haviam deixado o parque e seguiam pela The Mall, o garoto segurava a mão dela mais firmemente para que não tropeçasse nas escadas que davam acesso à Charing Cross Road.

— Minha avó tem galinhas. Elas comem vários alimentos, mas minha vó disse que milho é o que as faz cantar mais e colocar mais ovos. Se confinarmos os trouxas vamos ter que saber o que os deixa felizes para que trabalhem para nós...

— Vamos ter que aprofundar os Estudos dos Trouxas? Nunca pensei que essa matéria tinha alguma utilidade! – disse ela, olhando com desprezo para um grupo de garotos de cabelos compridos que passava por ela e lhe lançava olhares cobiçosos.

— Acho que sim... Não é engraçado? - respondeu o garoto, lançando um olhar severo sobre os garotos, o que os fez apressar o passo.

— Não... Só faltava essa: ter que estudar sobre os trouxas para podermos cuidar do rebanho...

— Mas é assim com todos animais, querida. O professor Kettleburn já falou sobre isso várias vezes, que o maior erro dos bruxos é querer criar animais querendo só tirar vantagens, sem se preocupar com o bem-estar deles. Com o tempo, todo o rebanho morre. Você não lembra das aulas?

— Ora, Reg. O único que presta atenção àquelas aulas é você, você sabe disso... Aliás, você presta atenção em tudo! – disse ela, em tom de desdém.

— Eu gosto de aprender, não há mal nenhum nisso... Bem, voltando aos trouxas, eles seriam muito mais difíceis de se arrebanhar, pois como os serianos e os centauros, eles são inteligentes...

— Inteligentes, sei! Não me parecem nada inteligentes quando sujam o ar que eles mesmo vão ter que respirar depois, a água que eles vão ter que beber, para depois se darem o trabalho de limpar e cuidar das doenças que eles mesmos criam...

— E nesse ponto não diferem muito de nós, não é mesmo? Também fazemos várias coisas sem planejamento... Somos responsáveis pela extinção de várias espécies... Você não lembra da história do Quadribol, quando ainda se jogava Queerditch nos pântanos e passaram a caçar os pomorins dourados? Eles matavam uma ave por jogo, foi praticamente extinta!

— Reg, essa sua conversa está começando a me aborrecer... Tá parecendo seu irmão defendendo os trouxas... Ou pior, o senhor Perkins!

Ser comparado ao irmão era algo que lhe causava sentimentos bastante antagônicos. Ele tentava não pensar nisso, mas ainda nutria muita admiração pelo irmão mais velho.

— Desculpe... Bem, eu realmente não sei o que iria deixar os trouxas felizes a ponto de quererem trabalhar por nós...

— Sorvete!

— Perdão?

— Sorvete. Vi vários trouxas comendo sorvete muito felizes... E tinha aquela propaganda que vimos outro dia, em que a mulher falava para o marido que faria qualquer coisa para ganhar um sorvete, pois estava com muito calor...

— Ah, eu lembro... Aí ele pediu uma massagem nos pés e ele comprou para ela dúzias de sorvetes! Acho que depois de toda essa caminhada, eu também vou precisar de uma massagem nos pés... – disse ele, maliciosamente.

Rachel largou sua mão, irritada:

— Nem se atreva a me pedir algo assim, Regulus Black! Eu não faria massagem nos seus pés nem que me implorasse!

— Talvez eu fizesse nos seus... – respondeu ele, seus pensamentos voando para a Sala Precisa e um tempo distante, em que tinha feito massagens nos pés de Alice. Aquilo lhe deu um aperto no coração. Ele sacudiu a cabeça para afastar suas lembranças e mentiu para si mesmo que o mal-estar que sentia era fome – Me perdoe, Rachel, eu não pediria isso a você, você não nasceu para servir...

Rachel se incomodou um pouco com o comentário dele, pois havia se esforçado muito durante o acampamento para cumprir o que o pai lhe pedira e se colocar na posição da dama que apoia o guerreiro em batalha. Por outro lado, saber que ele não esperava dela este tipo de atitude, a fazia se sentir bem. Ela empertigou o corpo e disse:

— Que bom que você conhece a namorada que tem... Aliás, acho que eu também ia ficar feliz se tivesse um agora... está muito quente hoje!

— Seu desejo é uma ordem, madame!  - disse, fazendo uma grande reverência e pegando sua mão em seguida - Vou encontrar uma sorveteria!

Os dois caminharam sob o sol escaldante por um bom tempo. Rachel parou por alguns instantes em frente a uma vitrine, onde um televisor colorido estava ligado no jornal local.

“A temperatura tem sido, em média, 3 graus celsius maior que o normal esse mês. O londrino não deve esperar que a temperatura caia mais que 22 graus. Preparem os ventiladores! A boa notícia é que, apesar de estarmos presenciando o agosto mais quente dos últimos 300 anos, as tempestades parecem que vão dar uma boa trégua nos próximos dias. Assim o pessoal de que ainda está tirando a água de dentro de suas casas por conta da tempestade de ontem pode ficar tranquilo. Os cientistas ainda estão estudando o que pode ter causado esse verão tão quente e os redemoinhos de vento...”

— Trouxas burros. Enquanto se mantiverem cegos para nossa existência, não saberão o que causa todos esses eventos... – Comentou Rachel.

— Nem todos são burros. Olhe ali.

Mais adiante havia uma pequena banca de jornais. Num tabloide estava estampada a foto de um homem de olhos arregalados, parado no meio da rua, com os joelhos submersos na água da chuva. Logo acima da foto estava escrito em letras garrafais “Não eram raios comuns, aquilo era magia! Não foi causalidade, foi assassinato! Afirma o morador de Hampstead.”

— Você quer dizer que nem todos são cegos, pois burros todos são...

Regulus sorriu. Adorava a acidez nos comentários de Rachel.

Caminharam por mais alguns quarteirões até encontrar um local que vendia sorvetes já na esquina com a Shaftesbury Ave. O trânsito de carros já estava bem mais intenso, provavelmente porque várias pessoas voltavam para casa. A multidão de trouxas que passava por eles, quando não os divertia, não chegava a incomodar, faziam parte da paisagem, coisas que eram aos olhos dos dois.

A sorveteria estava inacreditavelmente vazia, para um dia de tamanho calor. O lugar tinha as paredes agradavelmente pintadas de verde musgo, com cadeiras de metal douradas em torno de mesinhas de tampo de fórmica branco. Um homem de uniforme branco, impecável, que contava o dinheiro no caixa, enquanto levantou os olhos para os dois e sorriu:

— Em que posso ajudar?

Rachel caminhou até a o balcão de vidro e observou os sorvetes coloridos distribuídos harmoniosamente em latas metálicas, grandes e brilhantes. Ela tocou levemente o vidro gelado e e sorriu. Era agradável.

— O que você deseja, querida?

— Queria um daqueles de chocolate, no palito.

Regulus olhou para o homem e pediu:

— Dois picolés de chocolate, por favor.

Quando o homem falou o valor, Regulus procurou pelo dinheiro trouxa que carregava em seu bolso. Não estava lá. Olhou no outro bolso, havia dois galeões e cinco sicles. Aquilo compraria a sorveteria inteira se o trouxa fosse capaz de ver o valor do dinheiro. Ele olhou para Rachel, que bufou um pouco e arregalou os olhos como quem diz: resolva, o problema é seu, você que me trouxe aqui. Aquilo era muito embaraçoso.

— Um momento, por favor. Senhor, o senhor poderia me deixar o usar o toillete?

O homem olhou desconfiado para Regulus, mas vendo a cara de poucos amigos de Rachel, achou melhor não discutir e indicou o caminho.

Regulus entrou no banheiro apertado e tirou os sapatos. Havia se enganado; ele tinha planejado guardar o dinheiro bruxo nas meias e o trouxa no bolso, mas acabou fazendo o contrário. Feita a troca, ele voltou para junto de Rachel e pagou os dois picolés e saíram. Rachel agradeceu com um longo beijo e continuaram a caminhada para o cinema que agora estava próximo.

O açúcar do sorvete parecia ter inspirado Rachel a voltar ao seu novo passatempo favorito: debochar dos transeuntes. Para Regulus isso significava mais alguns minutos de sossego, já que podia esquecer um pouco de si e olhar para os outros. Porém esquecer de Sirius e de Alice quando eles caminhavam em direção ao cinema que ambos já tinham frequentado com ele era algo difícil. A rua, a fachada das lojas, as árvores e o som dos carros, tudo o fazia lembrar de um tempo que não ia mais voltar.

— Reg? Reg? Está sonhando acordado? Não ouviu o que eu disse?

— Perdão, estava pensando se vai estar passando aquele filme “Tubarão”... Ouvi dizer que é muito bom... O que você estava falando?

— Estava justamente perguntando se você sabia que filme ia passar... Quero que meu debut no cinema seja inesquecível!

Regulus sorriu largamente e a abraçou:

— Vai ser. Olhe: já estamos chegando!

Regulus apressou o passo, guiando a namorada pela porta estreita que dava para o hall do cinema.

— Que sorte! Não tem fila! – disse ele, apressando-se para alcançar a bilheteria. – Dois ingressos, por favor.

— O filme acabou de começar, quer vir na próxima sessão? – perguntou uma voz feminina atrás do guichê. O vidro escuro que cobria a bilheteria não deixava ver o rosto da vendedora.

Regulus checou o relógio: não havia percebido que o tempo passara tão depressa! Realmente estavam atrasados, talvez tivesse sido o tempo que perderam na sorveteria.

— Não, tudo bem. É “Tubarão”, não é?

— Sim... Muito sangue e dentões... A mocinha vai assustar... – comentou a voz enquanto entregava os bilhetes junto com o troco.

Regulus sorriu, embora duvidasse que sangue e dentes de tubarão fossem assustadores para Rachel. Imaginou a namorada em uma praia, um tubarão se aproximando e Rachel. Ao  invés de assustá-la, a bela daria um olhar severo para o tubarão, que nadaria para longe o mais rápido possível. Regulus sorriu.

— Do que você está rindo? Por acaso acha que eu vou sentir medo de um tubarão?

— Não, nem um pouco... – respondeu com sinceridade.

Com os ingressos na mão, ele guiou a namorada até a sala de exibição que ficava no subsolo, lamentando que o guichê onde vendia pipocas já estivesse fechado.

A sala já estava escura, passando trailers de outros filmes, um empregado do cinema os guiou até as poltronas vazias. O cheiro de pipoca preenchia o ar, fazendo roncar a barriga do garoto. Rachel apertava a mão do namorado indicando o quanto estava apreensiva e excitada com a nova experiência, embora tivesse tentado disfarçar seu interesse durante todo o dia, uma vez que mostrar interesse por uma invenção trouxa não lhe parecia correto. Regulus compreendia a reação dela e ele mesmo se sentia desconfortável por demonstrar toda sua empolgação por ir ao cinema.

Os dois sentaram-se lado a lado ao mesmo tempo. Rachel olhou para a tela e depois para o namorado:

— Já começou? É tudo tão rápido... – sussurrou.

— Esse não é o filme, é a propaganda dos outros filmes que estão para estrear. Se nos interessarmos por algum, podemos voltar...

— Entendi... E o filme demora?

— Pssssssiu...

Uma pessoa à esquerda deles pediu silêncio. Regulus sinalizou com a cabeça que o filme não iria demorar, foi quando a luz da tela iluminou o perfil de uma garota sentada mais adiante. Ao lado dela o rosto magro de Frank Longbottom. Seu peito se encheu de raiva. Como Alice ousava ir lá com Frank? Ele fora quem a levou para aquele cinema pela primeira vez, era o “lugar especial” deles, não de Frank. Alice sorria e sua felicidade o machucava. Como ela poderia ser feliz quando não estava ao lado dele? A luz da tela continuava iluminando suas bochechas, seus cílios enormes mexiam-se sem parar enquanto ela ria de algo que Frank lhe falava ao ouvido. O que poderia ser tão engraçado? Ele, Regulus, era engraçado, Frank era apenas um idiota certinho. Regulus bufou ao lembrar-se da primeira vez em que se falaram, a palma de sua mão ainda guardava a sensação de sua pele macia quando a derrubou no chão, sem querer. Ele bufou novamente. Rachel estava prestes a se virar para ver o que chamava a atenção do namorado, quando ele puxou o rosto dela gentilmente para si e lhe deu um beijo na boca. O beijo da namorada ia servir para apagar sentimentos tão desagradáveis.

O filme estava demorando para começar. A plateia começou a ficar inquieta e ruidosa. Alguns assobiavam, ouvia-se aqui e ali um grito adolescente “começa!”. Ao que tudo indicava, havia um problema com a fita. O corajoso empregado do cinema postou-se em frente da tela e pediu silêncio.

— Peço desculpas, houve um problema com a fita, mas já estamos resolvendo isso. Tenham calma, só mais alguns minutos.

Uma imagem começou a aparecer na tela branca, mas não era um tubarão, era um filme antigo dos Beatles que havia sido colocado para distrair a garotada enquanto aguardavam. Aquilo pareceu acalmar os ânimos. Rachel olhava ávida para a tela. Regulus tentava olhar para ela, porém era o rosto de Alice que seus olhos focalizavam.

— É como uma sequência de fotografias bruxas, não? E com som... Será que foi feito por um bruxo?

— Não, o cara que trabalha com o Senhor Perkins no Ministério me mostrou como funciona. É estritamente mecânico, uma grande sequência de fotografias transparentes em que cada uma tem uma pequena mudança de posição, elas passam por um feixe de luz rapidamente, dando a impressão do movimento.

— Não entendi muito bem...

— Depois eu mostro para você...

— Mas e o som? Como eles fazem?

— Não sei... No gramofone tem aquelas microondulações que fazem vibrar a agulha, que depois transmite a perturbação para a concha que amplifica o ruído... Mas a fita parece lisa. Eu realmente não entendo... – respondeu ele, aliviado por ser questionado por algo tão interessante, fazendo sua mente se distanciar de Alice.

— Deve ser magia! Eu sabia que os trouxas não seriam capazes de algo tão sofisticado! – concluiu Rachel, satisfeita.

Regulus sorriu para ela. A silhueta de Alice voltara a lhe incomodar. Ele tentou olhar para a tela. John Lennon descia as escadas de um jato, seguido por Paul McCartney, Ringo Star e George Harrison. Pelo canto do olho ele viu Longbottom levantar-se. Seu corpo se inclinou para frente, como se quisesse levantar-se também. Longbottom passou pela frente da tela e subiu as escadas, aproximando-se de Regulus, que engoliu em seco. Teria o namorado de Alice percebido que ele não parava de olhar para ela? Ele olhou para Rachel que continuava entretida com o documentário sobre os Beatles. Frank sentara-se na fileira acima da deles. Regulus ficou atento, pegou a varinha para o caso de ser atacado.

— Estive com a Ordem hoje cedo.

Regulus empertigou-se. E se num deslize, Frank contasse onde era a sede da Ordem da Fênix? Voldemort ira gostar de saber...  Longbottom continuou a falar num sussurro quase inaudível com alguém que estava à suas costas.

 - Como você disse, o Ministério não encontrou vestígios de magia no lago e todos os moradores confirmam a versão de que foram os trouxas que se rebelaram contra os bruxos... Mas Dumbledore encontrou algo no lago, disse que foi armado...

— E o que vão fazer a respeito? – respondeu uma voz desconhecida.

— Não tem o que fazer... Foi tudo muito bem armado, a cada dia se descobre mais um foco de revolta entre os trouxas, como se de um dia para o outro eles começassem a ver magia em tudo a sua volta... Até naquilo que eles mesmo criam.

— Até mesmo em fenômenos da natureza... Outro dia ouvi de um trouxa no metrô que esse calor e as tempestades não podiam ser naturais, que só podia ser bruxaria...

— De certa forma... Parece que o calor tem a ver com dragões... Os trovões com brigas entre gigantes, os raios com conflitos entre bruxos... E um pouco é por conta do verão mesmo... – explicou Longbottom.

— ... Bem, o filme já vai começar. Obrigado por me colocar a par do que acontece, você sabe, com o meu trabalho no ministério está difícil acompanhar a Ordem... Estive dando algumas escapadas, mas o pessoal começou a desconfiar.

— Não se preocupe, o seu trabalho lá é mais importante. Agora eu vou voltar pro meu lugar. O filme parece ser bobo o suficiente para minha namorada não querer assistir... com o pai dela de olho do jeito que ele fica, se não aproveitarmos agora...

O sujeito com quem Frank conversava riu.

— Anda logo. Não precisa me explicar.

Regulus se corroía de raiva. O que aquele imbecil pensava em fazer com Alice no escuro do cinema? Ela era uma menina de família, ele precisava respeitá-la. Regulus empunhou a varinha.

— Querido, o que está fazendo? – cochichou Rachel – Guarda isso já.

— Ah, desculpe. Força do hábito... – respondeu, sem graça, enquanto guardava a varinha.

O cinema estava lotado. Haviam bruxos e trouxas. Os trouxas, em sua maioria, eram bastante ruidosos, o que ajudou Regulus a distrair a atenção que seus olhos e ouvidos dedicavam ao casal mais à frente.

— Quanto cacarejo! – disse Rachel, em uma parte especialmente tensa do filme em que várias pessoas cochichavam umas com as outras. Regulus riu:

— Além de sorvete, um cinema vai bem para deixar nosso futuro rebanho feliz...

Para surpresa e satisfação de Regulus, Rachel assustou-se em alguns momentos do filme, e ele, muito prontamente aproveitou para abraça-la mais forte. Rachel, inacreditavelmente fragilizada pelo medo, buscava refúgio no peito do namorado; ele, assombrado pelas lembranças e corroído de ciúmes, procurava entorpecer-se no perfume dela, beijando-lhe o pescoço enquanto ousava, pela primeira vez, tocar sua pele na cintura e na barriga, sob a camiseta.


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