A Breve História de Regulus Black escrita por Mrs Borgin


Capítulo 156
156.O Intruso




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O Intruso

Para o alívio de todos, a promessa de serem acordados ao nascer do sol não fora cumprida. Eram 6h30 da manhã, o sol já brilhava vigorosamente, quando um som ensurdecedor dava a impressão de que mil pássaros haviam invadido as barracas. Não foi apenas um, mas todos os adolescentes cobriram suas cabeças com os lençóis, demorando algum tempo para que percebessem que não eram pássaros, mas uma espécie de despertador “campestre”.

— Bom dia! – ecoou pelo acampamento a mesma voz feminina da noite anterior. – O café-da-manhã será servido em meia hora. Esperamos por vocês do lado de fora das barracas, devidamente vestidos e despertos. Notem que lamentavelmente aqui não temos elfos, então não esqueçam de arumar suas camas e guardar seus pertences antes de sair.

O recado terminou com um riso infantiloide abafado.

— É, parece que vamos ter que levantar – reclamou Regulus, sonolento.

— Pássaros, sério? Quem será que teve essa ideia idiota de nos acordar com som de pássaros? – reclamou Severus ainda embaixo dos lençois.

Regulus pensou que aquilo combinava com Perkins, mas resolveu não comentar, ficou apenas observando Mulciber, que se levantou e se trocou rapidamente, jogando seu pijama de qualquer forma dentro de sua mochila. Depois ficou olhando para a cama, com a varinha em punho.

— Sério? Arrumar a cama? Como?

Regulus levantou-se rapidamente e olhou para sua própria cama. Um garotinho de cabelos castanhos e olhos amendoados que dormira na cama ao lado arriscou um palpite:

— Acho que é só puxar o cobertor e alisar as rugas... Pelo menos é isso que minha mãe faz... Ela é trouxa, sabe? Os trouxas são muito bons em organizar as coisas com as próprias mãos...

— E você poderia ter trazido sua mãe trouxa para arrumar nossas camas... seria o ponto alto da vida dela... – murmurou Avery.

Mulciber torceu o nariz, sem saber dizer o que o irritava mais: o garoto ter uma mãe trouxa ou o fato de ter que arrumar a própria cama.

— Como diz meu pai, esta é a prova de que até mesmo uma macieria condenada pode dar bons frutos. – comentou Regulus, numa tentativa fracassada de parecer simpático ao mestiço, porém sua frase se completou em pensamento: “embora saibamos que estes nunca serão os mais vistosos da fruteira.” – Obrigado pela ajuda. Esticar o cobertor e tirar as rugas não deve ser difícil de fazer, se até mesmo os trouxas o fazem...

O garoto deu um sorriso amarelo e esticou sua própria cama, depois dobrou seus pijamas o mais demoradamente que conseguiu, enquanto se deliciava em ver como Regulus e Mulciber sofriam para finalizar a simples tarefa de esticar os lençóis e cobertores sobre a cama.

— Eu poderia fazer isso para vocês, mas aí nunca aprendereriam... Meu pai disse que nesse acampamento, tudo tem seu propósito. Então vejo vocês lá fora – disse o garoto assim que terminou de guardar seu pijama, sorrindo ao virar as costas para os dois. Uma pequena vingança de um mestiço.

Não demorou para que todos os garotos e garotas de rostos sonolentos estivessem do lado de fora e tomassem seus lugares em uma longa mesa, muito semelhante às do salão principal em Hogwarts, fartamente servida. Havia uma espécie de toldo armado sobre a mesa, de modo que o sol, apesar de morno e brilhante, não pudesse lhes incomodar. À cabeceira da mesa sentavam três bruxos adultos: Narcissa, Perkins e, entre os dois, uma bruxa baixinha, de rosto engraçado, um grande laço de veludo no cabelo e um tailleur irritantemente rosa-choque. Ela se levantou e disse:

— Bom dia! Finalmente estou conhecendo o rostinho de vocês. Vejo que tiveram uma ótima noite de sono e estão todos muito animados para se exercitar dentro do novíssimo Programa Acampamento Seguro de Férias para Jovens Bruxos criado com cuidado por uma equipe competente e dedicada – a bruxa riu satisfeita. – Meu nome é Dolores Umbridge, trabalho no Serviço de Regulação do Uso Imprórpio da Magia e fiz questão de vir pessoalmente para garantir o sucesso deste acampamento. Aqui vocês terão permissão para praticar feitiços, desde que supervisionados por meus assistentes, Sra Narcissa Malfoy e Sr Perkins. – Os dois acenaram timidamente, Narcissa sem encarar os adolescentes e Perkins, sorrindo para todos.

Regulus olhou atentamente para a bruxa. Ela lhe causava náuseas. Era fácil para ele perceber o quanto ela gostava de sua posição central e de se colocar hierarquicamente acima dos outros dois, o que lhe dava uma ideia de como agir com ela – uma tola narcisista, facilmente manipulável. Narcissa, por sua vez, parecia entediada e bastante deslocada. Se o tailleur de Umbridge era inadequado para um acampamento, nada se comparava ao vestido longo que sua prima usava, preto com paetês e duas faixas brancas ladeando sua silhueta. Perkins, por sua vez, usava um chapéu de lona cor caqui, no mesmo tom de suas roupas: uma camisa com vários bolsos estufados e uma bermuda ligeiramente larga nas pernas finas.

— Nós vamos começar com uma atividade bastante instrutiva. – Continuou Umbridge – Narcissa vai, junto com vocês, procurar, encontrar, classificar e preparar vegetais comestíveis e ingredientes para poções utilizadas em um kit de sobrevivência no campo. Vocês sabem, bálsamos, antídotos...

— Venenos... – murmurou Narcissa.

Regulus, que olhava para a prima, leu seus lábios e riu. Pelo menos alguma diversão iriam ter, principalmente se fossem testar poções em alguma coisa ou alguém... Ele conhecia Narcissa: sua prima  era toda delicada e protetora, mas ele não gostaria de estar na pele de Lucius se algum dia ela descobrisse que o marido tivesse feito algo que não era de seu agrado... O pobre mal teria tempo de piscar os olhos antes de fechá-los para sempre.

Umbridge parecia querer dar toda a rotina durante o café-da-manhã, então continuou:

— ... Os alunos que se saírem bem nas tarefas receberão uma medalha. Então, ao meio dia iremos almoçar. E vocês terão algum tempo para descansarem após o almoço. Então à tarde Perkins – o bruxo acenou mais uma vez para os garotos, animadíssimo – que trabalha na sessão de Mau uso de Objetos Trouxas, lhes ensinará como fazer um bom uso de alguns objetos, enfeitiçando-os para que se tornem de alguma forma, úteis. Também terão alguns minutinhos comigo para estudar algumas das mais importantes leis bruxas... Ao entardecer teremos um jantar e logo após poderão descansar. Mas antes, preciso que observem algumas regras.

A bruxa acenou a varinha e palavras luminosas foram se desprendendo da ponta de sua varinha e se fixando no ar, como se flutuassem.

— A primeira regra é: devemos manter o respeito em nosso acampamento, então, além de respeitar seus superiores, vocês devem respeitar suas famílias. Em outras palavras, de agora em diante, namoros não são permitidos nesse acampamento. Meninas e meninos devem manter uma distância segura entre si e evitar contato físico de qualquer natureza. A segunda regra diz o seguinte: é terminantemente proibido se ausentar das atividades propostas. Aqueles que se ausentarem serão punidos por mim. A terceira regra diz que não se deve atacar trouxas que eventualmente possam vir para esses lados. O acampamento está protegido, então vocês não devem se preocupar com eles. Enquanto estiverem fora do acampamento, durante as atividades, basta ter uma expressão idiota no rosto, falarem alto, rirem à toa que ninguém nunca irá desconfiar que são bruxos...

— Bah, como se nunca tivéssemos andado entre trouxas antes... – resmungou Richard Broadmoor.

A varinha de Umbridge rodopiou no ar e Richard engasgou, ficando sem fala em seguida.

— Senhor Broadmoor, suponho. Gostaria de lembrar-lhe que você deve respeito aos seus superiores, então, não aceito que me interrompa! – bufou a bruxa, ficando com o rosto tão rosa quanto seu tailleur. Ela sorriu amavelmente para todos, parando seus olhos sobre Regulus, que sorriu para ela. – Por enquanto é só. Bom apetite a todos.

Ela mal havia sentado e todos os adolescentes começaram a comer com entusiasmo. Regulus trocou alguns olhares com a namorada. Ele teria que pensar em alguma coisa para contornar a situação e conseguir se aproximar de Rachel sem ser notado, ou aquele acampamento seria torturante.

***

O sol estava se pondo e Regulus estava colocando seus pijamas. Muitos na barraca já haviam dormido, alguns porque faziam jornada dupla de acampamento de dia e treinamento para servir ao Lorde das Trevas, outros por que tiveram seu sono induzido.

O dia tinha sido bastante exaustivo e, contrariando a todas as expectativas, bastante instrutivo. Não demorou para que Severus e Regulus compreendessem qual era o papel de Narcissa no treino: enquanto orientava os grupos no preparo de remédios, ensinando a identificar musgos e plantas úteis para cobrir ferimentos, ela sutilmente os induzia a colher outros tipos de ervas como alguns extratos que induziam o sono profundo e não eram perceptíveis em uma inspeção para reconhecer poções e feitiços básicos. Regulus sorriu ao lembrar como a prima havia dado a dica do que fazer: “quando vocês encontrarem um musgo de tom azulado, com espículas que parecem flores arroxeadas, tomem cuidado, pois basta uma pequena porção desse musgo socado em um cópo de água para fazer dormir o acampamento inteiro”. Naturalmente o aviso tinha sido suficiente para que ele e Severus guardassem em seus bolsos uma boa porção do tal musgo, que acrescentaram no suco servido durante o jantar. “Que meninos prestativos!” havia dito Umbridge ao notar que os dois haviam se voluntariado tão prontamente para ajudar no preparo do jantar. A tarefa difícil foi fazer alguns colegas perceberem que o suco que eles deviam beber era o da jarra que Severus servia, já que Regulus se encarregara de servir o suco com o ingrediente extra. Ambos sabiam que ele tinha uma capacidade maior para persuadir a todos que bebessem o tal suco. “Não estou com sede”, dissera uma garotinha. Regulus sorrira para ela e perguntara “você tem certeza de que não quer provar esse suco que fiz pensando em você?” Regulus riu silenciosamente ao lembrar da cena. A pobre garota devia estar dormindo como uma pedra aquela hora, já que, embalada por suas doces palavras e seu sorriso, bebera dois copos do suco.

Regulus, aliás, havia passado o dia no seu modo “prestativo” de agir. Sempre ajudando e sorrindo, o que encantou a todos os adultos do acampamento – exceto sua prima, que o conhecia bem e riu quando Umbridge concluiu que ele era educado e respeitador o suficiente para que pudesse conversar a sós com a namorada – “cinco minutinhos não vão fazer mal a ninguém”.

Sob o pretexto de verificar um som que vinha do lado de fora da barraca, o garoto saiu assim que terminara de vestir os pijamas e calçar um par de chinelos. Uma vez fora da barraca, ele olhou para os lados e avistou os cabelos de Rachel brilhando sob o luar intenso. Ela estava próxima à fogueira que Perkins havia conjurado, que ainda queimava como se tivesse sido acessa naquele momento. As labaredas laranjadas lambiam o céu, dançando freneticamente com o vento que vinha das montanhas. Ele caminhou lentamente em direção a namorada, cuja silhueta agora parecia em chamas.

— Você está linda, querida. – disse e a abraçou e beijou até ficarem sem fôlego. Então se afastaram o suficiente para que pudessem olhar um nos olhos do outro, continuando abraçados.

— Senti sua falta... – disse ela, num sussurro.

— É, esse acampamento não se parece nada com as férias dos meus sonhos ao seu lado...

— Umbridge é um horror... e aquele panaca do Perkins? De onde você o conhece?

— Do Ministério... Lembra? Trabalhei lá como punição... Perkins não é de todo mau, um pouco ingênuo, apenas... Eu até gostei da aula de hoje. Esse feitiço expansível é muito útil...

— É, nisso você tem razão. Como foi ontem à noite? Sei que vocês já saíram...

— Foi bom. Nada fenomenal, uma introdução... Lucius, marido de minha prima foi quem nos recepcionou. Não fizemos nada, alguns mini-duelos, depois ganhamos uma marca, aqui no meu antebraço... é, eu sei que não dá pra ver, mas na hora certa vai aparecer uma bússula indicando o caminho a seguir. Como um despertador-bússula... – finalizou a explicação, ao notar a impaciência da namorada. – Achei que você fosse também... tem algumas meninas...

— Meu pai pediu que eu não fosse. Não quer sua garotinha saindo à noite com um bando de garotos no meio do mato, disse que não fica bem... E disse também que se um dia eu quiser ser a mulher de um guerreiro, preciso estudar muito, para manter a casa e tudo mais funcionando perfeitamente para que meu marido possa lutar sem se preocupar com mais nada, só em voltar em segurança para mim... Ele disse que minha mãe é brilhante em tudo o que faz e que é isso que sempre lhe deu tranquilidade para jogar, pois não tinha preocupações. Ele diz que enquanto jogava Quadribol não podia estar pensando se eu e meu irmão estávamos bem cuidados ou se teria jantar quando voltasse, ou perderia o jogo. Eles são como um só, ele e minha mãe, mantém a engrenagem familiar funcionando... Disse que isso seria o mesmo se fosse um Comensal, ou até mesmo o Ministro da Magia. Seja qual for a atividade do homem, se a mulher não der o apoio necessário, não funciona. Você vai precisar ter tranquilidade para lutar... Eu vou cuidar disso para você.

Regulus sorriu, puxou ela com força contra seu corpo e a beijou. Nunca esperava tal resignação da namorada, mas isso o agradava muito. Alguns minutos depois, perguntou:

— Para você, tudo bem? Ficar em casa? Quero dizer, você é brilhante e...

— Então vou ser a melhor dona de casa do mundo... Bem, isso enquanto eu achar que você pode ser um grande Comensal. Seja o melhor, ou terei que ir para a luta eu mesma... e você não iria gostar de me ver descabelada... – ela jogou a cabeça para trás e riu alto.

Nesse momento, ouviu-se um som como se alguma coisa tivesse caído.

— O que foi isso? - perguntou Rachel, enquanto Regulus empunhava sua varinha com uma mão, ao mesmo tempo que puxava a garota para trás de seu corpo, num gesto protetor, olhando para a escuridão de onde viera o som. Nada se movia por lá.

— Acho que foi algum animal... Não podemos esquecer que estamos em um acampamento. Tem animais por aqui... Fique tranquila, eu a protegerei.

O garoto não havia notado, mas Rachel também empunhava a varinha. Ao ouvir o que o namorado falara, ela abaixou a varinha e a guardou discretamente em seu roupão. Não queria que ele pensasse que tinha alguma dúvida sobre sua capacidade de defende-la.

— Não seria melhor irmos para nossas barracas? – questionou a garota.

— Não, seja lá o que for, eu posso resolver. Ninguém me pega desprevenido.

Por um instante, Rachel pensou em roubar-lhe um beijo, somente por provocação, mas resignou-se. Ela precisava que seu guerreiro tivesse convicções e se sentisse capaz de protege-la, então o pegar desprevenido com um beijo estava fora de questão. Aquela não era uma postura fácil para ela, mas Rachel gostava de desafios e controlar a si mesma talvez fosse o maior desafio que havia conhecido até o momento.

Regulus tirou o roupão que cobria seu pijama, esticou no chão e convidou-a para sentar, como se nada tivesse acontecido. Ela aceitou e os dois sentaram e depois deitaram no chão, as mãos entrelaçadas.

— Sabe, fico me perguntando o que vão nos ensinar essa noite. Eu não queria que fossem só treinos, eu não vejo a hora de entrar no combate... Você tem lido o jornal?

— Ah, sim. Como sempre o Profeta não é muito claro em suas revelações, mas parece que um auror foi gravemente ferido na semana passada... Aquele tal de Moody.

— Fiquei sabendo. Parece que ele feriu gravemente o pai de um dos garotos. Ah, se eu estivesse lá... É tão revoltante que eles olhem para a gente e só vejam um bando de crianças!

— Calma, querido. Meu irmão disse que logo estarão em combate, parece que Lucius comentou algo... Ei! O que é isso? – disse a garota, levantando-se – Um rato?

Regulus olhou para os lados e localizou o bichinho bastante próximo de seu roupão. Ele prontamente acenou a varinha e lançou um feitiço no ratinho, que conseguiu escapar por um triz, apenas com alguns pelos chamuscados.

— Vem, querida. Esse não vai mais voltar. Deite aqui, ainda temos muitas estrelas para olhar...

Rachel deitou-se ao lado do namorado, olhando, desconfiada para os lados. Não suportava a ideia de outro rato. Eles viraram um para o outro e permaneceram assim, olhando um nos olhos do outro, beijando-se de quando em quando, sem voltar a conversar sobre treinos ou a guerra, até que a tatuagem começou a queimar sob a pele de Regulus.

Ele mostrou para ela, orgulhoso:

— Hora de ir.

Os dois levantaram-se, ele sacudiu seu roupão e o vestiu rapidamente. Depois a acompanhou até sua barraca. Sentia uma estranha sensação de que estavam sendo vigiados e por isso olhou seguidamente ao redor, sem ver nada além da escuridão. Talvez fosse um animal, ou ainda, Umbridge.

Por um momento, Regulus hesitou sem saber se deveria voltar para a barraca ou seguir a orientação da tatuagem que ardia. O roupão não era, exatamente, algo apropriado para o treinamento, mas o pijama serviria bem, não limitava movimentos e era uma boa camuflagem, já que era azul marinho e mimetizava com a escuridão. Resolveu seguir a seta. Alguns passos para fora do acampamento e viu Severus, que caminhava alguns passos adiante, decidido em direção a uma alta montanha.

Regulus tirou rapidamente o roupão, fez uma espécie de trouxa, o colocou ao lado da trilha em que seguiam e a pressou o passo para encontrar com o amigo.

— Oi...

Severus virou-se para olhar para ele.

— Pensei que você ia ficar para fazer companhia ao Broadmoor. – falou, caminhando de costas para ver Regulus.

— Não, eu a deixei na barraca dela e vim...

— Dela? – Severus ergueu as mãos num sinal de impaciência e virou-se para seguir a trilha olhando por onde andava - Ah, não estou falando de Rachel, mas de Richard.

— Richard? O que houve com ele?

— Não acordou de modo algum. Cheguei a rodopiá-lo no ar... ao que tudo indica, ele bebeu o suco errado. Mas tenho certeza de que lhe servi um copo generoso do suco certo... Guloso, deve ter bebido o de outra pessoa.

Regulus ergueu os ombros. Não se importava que Richard perdesse uma noite de treinamento. Nem sempre se sentia confortável na presença do irmão da namorada. Eles continuaram caminhando por algum tempo sem conversar. Então ouviram um som de pedras, como se alguém caminhasse próximo a eles.

— Você ouviu isso? – sussurrou Regulus.

Severus assentiu com a cabeça e olhou ao redor, como não conseguiam ver nada, os dois apressaram o passo.

Mas algo continuou a persegui-los, fazendo barulhos ora aqui, ora ali. Parecia algo muito pequeno e, de repente, pareciam passos de uma pessoa. Sem perderem a orientação da bússula, os dois começaram a ziguezaguear pelo caminho. O som pareceu cessar. Os dois relaxaram e continuaram pelo caminho por mais cinco minutos. Então ouviram o um som como se alguém escorregasse nas pedras do caminho. Severus virou-se levemente com o dedo indicador sobre a boca, pedindo silêncio a Regulus.

— Deve ser algum animal caçando... – disse para despistar, os olhos varrendo a escuridão a procura da origem do som.

— Provavelmente... Só espero que a caça não seja um de nós – disse Regulus, indicando que iria para a direita, com a varinha em punho, enquanto diminuía o passo e escondia-se nos arbustos da direita, sem fazer barulho.

— Você com certeza não é, deve ter um sabor horrível... – disse Severus com a varinha em riste, caminhando para a esquerda, desviando-se da trilha para esconder-se atrás de um arbusto.

Não demorou muito para que uma pessoa de estatura baixa, encurvada para parecer ainda menor, coberta com uma capa negra aparecesse no caminho, a cabeça movendo-se rapidamente de um lado para outro.

Regulus e Severus lançaram feitiços ao mesmo tempo, desarmando e virando o pequeno bruxo de ponta cabeça, a capa caindo ao chão revelando as feições feias de Peter Petigrew com os cabelos levemente chamuscados.

— Não me machuquem, por favor, não me machuquem... – implorou, enquanto os outros dois se aproximavam dele.

Regulus abaixou-se e pegou a varinha de Petigrew que estava caída no chão.

— Peter? O que você está fazendo aqui? – perguntou Regulus, desconfiado – por acaso meu irmão não pediu que você me vigiasse, pediu?

— Não, claro que não. Nos últimos dias Sirius só falava daquela maldita viagem que ele, James e Remus fariam para o Brasil. Não estava nada interessado no que você ou eu poderíamos fazer por aqui... – o tom de voz do garoto não disfarçava seu ressentimento. – Por favor, me deixem descer daqui. Severus, por favor. Você sabe que nunca ergui minha varinha contra você...

— Nunca ergueu por que é um covarde – respondeu Severus – sempre achou melhor deixar para Potter e Black a missão de me importunar... Diga, o que faz aqui?

— Eu só quero ir com vocês.

— Ir onde? Por acaso você sabe onde vamos? – perguntou Regulus, desconfiado.

— Vocês vão a um treinamento para formar um exército que vai lutar ao lado do Lorde das Trevas.

— Quem disse tamanha bobagem a você? – perguntou Severus.

— Ninguém. Ouvi algumas conversas no castelo antes do fim das aulas... Alguns diziam que eram boatos, mas eu sabia que não eram. Ouvi comentários sobre uma atividade paralela ao acampamento, sobre um treino... E então vocês dois foram ajudar a servir essa noite... Não fariam isso se não tivesse um propósito bem definido... Juntei os fatos, troquei meu suco com o de Richard Broadmoor e aqui estou.

— Você não é tão burro quanto parece, Petigrew - disse Snape enquanto o rodopiava no ar – mas não sei se devemos deixa-lo vivo... Está sabendo de muita coisa...

Petigrew começou a chorar.

— Por favor, por favor... Tudo o que eu quero é servir ao Lorde das Trevas, é aprender as artes das trevas, eu quero, como vocês, ser livre! Quero lutar pelo fim da segregação! Não me matem!

 Severus olhou para Regulus, que sacudiu levemente os ombros. Obviamente não iriam matar Petigrew, estavam apenas assustando-o um pouco.

— Bem, não sei qual seria a serventia futura de alguém como você... – disse Severus – Mas não cabe a mim decidir. Vamos leva-lo ao treinamento. Malfoy decidirá o seu destino.

Sem tomar cuidado algum, Severus sacudiu novamente a varinha, derrubando Peter no chão. Então, com outro aceno de varinha, conjurou uma corda que amarrou os braços do garoto ao corpo, deixando uma ponta solta com a qual Severus começou a puxá-lo pelo caminho. Regulus não comentou nada. Sabia que, embora Peter tivesse falado a verdade a respeito de não participar dos ataques físicos a Severus, ele costumava debochar de Snape e rir de tudo que o James e Sirius faziam contra o Sonserino. Aquilo tudo muito provavelmente ardia dentro de Severus, que merecia sentir o doce sabor da vingança.


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