A Breve História de Regulus Black escrita por Mrs Borgin


Capítulo 154
154. O acampamento




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O acampamento

Um ônibus enfeitiçado, muito semelhante ao Noitibus, conhecido de muitos bruxos em viagem e que diferenciava daquele pela cor – ao invés de roxo, era vinho – havia sido fretado pela escola para pegar os alunos de casa em casa na calada da noite para leva-los ao acampamento.

A noite estava fresca, a lua cheia brilhava majestosa no céu. Já não havia sinal de movimento na rua quando o ônibus chegou ao Largo Grimmauld e parou em frente ao número 12, sem fazer ruído. Regulus desceu as escadas da entrada de sua casa com uma mochila nas costas em grande animação, abanando “adeus” sem olhar para trás – o que para alguns poderia ser tomado como descaso com os pais que o observavam da soleira da porta, mas para o elfo, que espiava através da cortina da janela da sala no primeiro andar, aquilo era um sinal de grande respeito. O garoto já havia sido amassado e desamassado pelos pais várias vezes naquele dia, sua mãe havia derramado lágrimas de prazer, orgulho e preocupação diversas vezes, além de cobri-lo de recomendações que mais caberiam para um garotinho de 7 anos do que para um adolescente de 15, cujos primeiros fios de barba começavam a escurecer o queixo. Mas aquele adeus não era para os pais, mas para o elfo. O garoto havia dito mais cedo naquele dia que, quando acenasse antes de entrar no ônibus, aquele sinal era para ele – o elfo – quem havia preparado um grande pacote com todos os tipos de comidas que ele mais gostava, todas enfeitiçadas para que durassem mais e ocupassem pouco espaço na mochila. O gesto encheu os imensos olhos do elfo, que transbordou em lágrimas. O seu senhor era realmente, um garoto fantástico.

Regulus entrou no ônibus e procurou um lugar para sentar. Rachel já estava lá e ele mal começou a escorregar pelo assento vago ao seu lado quando ouviu uma voz muito grave dizer: meninas de um lado, rapazes do outro. Ele sacudiu os ombros, sorriu maliciosamente e roubou um beijo da namorada, então se sentou em um assento vago do outro lado do corredor. O ônibus partiu rapidamente, e duas piscadas de olhos mais tarde estava parando para pegar o próximo estudante. Amifidel entrou no ônibus acompanhado de duas garotas do primeiro ano que olhavam para tudo com ar de curiosidade e apreensão.

Regulus encolheu as pernas para que o amigo se sentasse à janela e cumprimentou as meninas com um sorriso sedutor. Elas sorriram, mas os sorrisos deixaram seus rostos tão rapidamente quanto chegaram, bastou que vissem Rachel, que ergueu uma sobrancelha, satisfeita. Rachel apreciava tanto o fato de ter um namorado cobiçado quanto o fato das garotas temerem sequer sorrir para o seu namorado quando na sua presença. Regulus sacudiu a cabeça para os lados com um sorriso maroto no rosto, observando a cena, e então virou-se para Amifidel:

— Mal consigo acreditar que finalmente estamos indo para o nosso acampamento!

— Eu fico pensando o que vão nos ensinar lá, como vai ser a rotina...

— É, também fiquei pensando... mas não adianta tentar adivinhar, não é?

Amifidel não respondeu. Olhou para fora da janela e ficou admirando a paisagem que mudava rapidamente diante de seus olhos. Regulus também se calou e ficou olhando para a porta, cumprimentando animado todos que entravam.

O ônibus não tardou a lotar e iniciar a viagem para o norte. A conversa dentro do ônibus não cessava, embora Regulus notasse um certo tom de lamento. Ele levantou-se e foi até o início do corredor. Então falou:

— Pessoal, peço a atenção de todos um momento, por favor. – Ele aguardou alguns instantes até que tivesse 87 pessoas a olhar para ele. – Boa noite. Não tivemos tempo de conversar sobre isso no último dia de competição, ou ainda, não tivemos ânimo de conversar. Mas tem algumas coisas que gostaria de dizer antes que chegássemos no acampamento...

— Então fala logo! – gritou Crouch, do fundo do corredor. Alguns garotos aplaudiram a interrupção.

— Bem, eu não gostaria que chegassem ao acampamento com esse desânimo de quem perdeu...

— Eu não estou vendo aqui ninguém que tenha ganhado a competição... – gritou uma garota da Corvinal.

— Mas nós ganhamos! Ganhamos quando aprendemos a trabalhar todos juntos, quando aprendemos a valorizar uns aos outros... E agora estamos indo viajar juntos!

— E quem queria viajar com os responsáveis por nossa derrota? Por que não vencemos em terceiro lugar, esse é o último lugar! E muitos de vocês são responsáveis por isso! – perguntou um garoto de olhar desafiador, sentado ao lado de Pettigrew.

— Calma lá. Todos aqui se esforçaram muito. Todos nós. Tivemos uma maré de azar, mas não má vontade... Pensem: o que vamos conseguir se ficarmos o tempo todos nos lamentando e apontando o dedo uns para os outros? Alguém vai conseguir mudar o passado? – ele observou muitas cabeças abaixarem e continuou falando em um tom de voz mais brando – Alguém vai se sentir melhor com isso? Óbvio que não! Alguém aqui queria perder?

— Não! – gritou uma garota. O entusiasmo de sua resposta a fez corar. Regulus segurou os lábios para não sorrir.

— Não! – continuou o garoto – Todos nos esforçamos! E agora estamos todos aqui, indo passar férias num acampamento de verão... Com certeza vai ser divertido e vamos aprender muito! Vamos! Coloquem um sorriso nesses rostos!

O discurso de Regulus teve o efeito esperado, como sempre. E ele se deliciou por alguns minutos, assistindo a mudança na expressão facial dos colegas antes de se sentar novamente.

— Por que você fez isso? Quem se importa com o que sente os “outros”? – cochichou Ami em seu ouvido.

— Porque é o que se esperava que eu fizesse. Não sabemos quem está nos observando... Este é um ônibus fretado pela escola, lembra? Melhor eu me manter no personagem... Sem falar que... – ele dá uma olhadela para duas meninas que, sob um pretexto qualquer passavam pelo corredor – sempre tem suas vantagens se manter popular...

— Tem razão... – Amifidel sorriu para as garotas, aproveitando a popularidade do amigo.

A viagem demorou mais pegando aluno por aluno em suas casas do que o trajeto em si. Aos poucos a paisagem na janela foi escurecendo e não demorou muito para que os borrões de luz que eram vistos quando passavam pelas cidades fossem ficando escassos e então sumissem. O ônibus, embora não parecesse estar seguindo por nenhuma estrada conhecida, parecia flutuar, já que também não se ouvia mais o som dos pneus na estrada, somente o ruído do motor e o vento que uivava forte nas janelas, avisando a todos que não era uma boa ideia abri-las. Era perceptível que o relevo estava mudando, já que os alunos sentiam como se estivessem em uma grande montanha-russa e gritavam alto a cada subida e descida, divertindo-se com as súbitas mudanças de direção. Então o ônibus parou subitamente, fazendo com que pequenos objetos dos alunos caíssem no chão.

O motorista, um senhor grisalho de uniforme e quepe na cor do ônibus, levantou-se, esticou o corpo fazendo suas juntas estalarem, pigarreou e anunciou para os alunos que o olhavam com interesse:

— Chegamos. Peguem todos seus pertences e desçam sem afobação. Nada deve ser deixado no ônibus pois voltarei somente para leva-los para casa. – disse com uma voz grave, sem olhar para nenhum aluno em especial e depois desceu do ônibus.

— Vocês têm ideia de onde estamos? – perguntou Jack aos outros.

— Não... – respondeu John.

Regulus, já com sua bagagem em mão, espiou para fora do ônibus. Não se enxergava nada do lado de fora, apenas o motorista que conversava com um homem extremamente alto.

— Pelo sotaque do cara que está falando com o motorista, estamos na Escócia. Bem, se não for Escócia, pelo menos o cara é escocês. – disse Regulus, entre bocejos.

Os alunos desceram do ônibus e olharam a escuridão ao redor. Ficaram todos juntos, os menores ou mais novos esconderam-se atrás dos mais velhos, receosos pela escuridão. Alguns alunos pegaram suas varinhas, precavidos.

— Lumos Solem!— Severus lançou um feitiço iluminando ao redor. Alguns alunos sorriram nervosamente, agradecidos. Mas a luz iluminou poucos metros ao redor do grupo.

O homem alto soltou uma gargalhada trovejante.

— Bem-vindos às Montanhas Munros da Escócia, terra de gigantes e homens destemidos.

Severus imediatamente abaixou a varinha, num repente de arrependimento e vergonha. Não queria que os outros o julgassem um covarde. Alguns alunos mais jovens aproximaram-se dele, aproveitando o pequeno círculo de luz projetado no chão.

— Venham por aqui, em fila. Logo chegaremos ao acampamento.

Os alunos seguiram aquela figura alta espremendo-se uns contra os outros para não se desviarem da fila, sem dizer uma palavra.

Sentiram, então, algo como um véu gelado e escuro passar por seus corpos e então se viram em um vale iluminado, cercado por barracas e pessoas que conversavam animadamente.

— Protego totalum. – comentou Jack, com um ar de quem entendia das coisas.

— Eu sei, - respondeu John, mal-humorado.

Quietos! – ordenou o homem, ferozmente, mas dando uma gargalhada em seguida ao notar os garotos estremecerem.

— Isso não é necessário, Theseus - disse uma voz masculina mais à frente.

Regulus estremeceu. Ele conhecia aquela voz.

— Sejam bem-vindos à Escócia e ao Acampamento de Verão do Loch Cluanie! – falou Perkins animadamente, enquanto Theseus, o homem alto e ruivo que os guiara através do feitiço de proteção, deu um passo atrás. - Aqui vocês terão a oportunidade de conhecer e testar diversas técnicas de encantamento de objetos trouxas muito úteis para a nossa vida em comunidades mistas. – Ouviu-se murmúrios de descontentamento entre os alunos, logo abafado pela animação de Perkins – Além de desfrutar da natureza exuberante desta região, amanhã vocês verão que estamos à sudoeste do Lago Cluanie, onde poderão nadar e pescar, faremos caminhadas pelos montes Munros, onde vocês poderão colher espécimes de plantas e fungos mágicos típicos da região. Vocês também terão a oportunidade de aprender um pouco mais sobre as leis que regem o nosso mundo, faremos discussões noturnas sobre ética ao redor da fogueira... – ele faz uma pausa. Seus olhos brilhavam de excitação. – Bem, teremos mais atividades, mas vou deixar como elemento surpresa... Aqui é um acampamento, como o próprio nome diz, então dormiremos todos em barracas... Os nomes de todos os ocupantes de cada barraca está fixado à porta.... Ah, sim, acho que não preciso mencionar que elas foram enfeitiçadas para não permitir visitas. Agora vocês já podem tomar seus lugares... devem estar cansados da viagem... Uma ceia será servida em 15 minutos, em suas barracas. Depois disso, podem se recolher. Amanhã levantaremos cedo para darmos início às novas aventuras! – os alunos começaram a ir em direção às barracas, sem dar atenção ao que o homem continuava a falar - Aproveitem para ver o belo trabalho que o nosso departamento fez com essas barracas, expandindo-as e mobilhando...

Os garotos rapidamente procuraram por seus nomes às portas das pequenas barracas. Haviam dez barracas de tamanhos e formatos diferentes, dispostas em torno de uma grande fogueira. Regulus e mais alguns garotos encontraram seus nomes em uma barraca quadrada de teto em forma de abóboda. Aos tropeços, mas sem entusiasmo, entraram na barraca. Ninguém parecia impressionado com o fato dela ter sido magicamente ampliada e mobiliada com oito beliches de madeira, dispostos paralelamente às paredes da barraca. Aos pés de cada beliche havia uma prateleira que cada um acomodasse seus pertences. Havia também uma outra sala com uma grande mesa e vinte cadeiras. As camas estavam feitas com lençol branco e aos pés haviam mantas verde escuro.

— Eu não acredito que vamos ter que ficar nesse lixo! – disse Richard Broadmoor, irmão de Rachel, ao colocar sua mochila em um beliche.

— E eu não acredito que vamos ter que aguentar esse imbecil... Qual foi o critério do Ministério para chefe de acampamento? Quanto mais idiota, melhor? – resmungou Mulciber, enquanto empurrava com o corpo um garotinho do primeiro ano que tentava colocar sua mochila no beliche ao lado de Regulus.

Regulus permaneceu calado enquanto colocava suas coisas nas prateleiras. A angústia da dúvida percorria seu peito e lhe causava náuseas. E se não houvesse treinamento paralelo algum? E se tudo aquilo fosse um erro? Ele sabia que não era, mas só iria ter certeza quando tudo começasse. Perkins ainda falava do lado de fora, provavelmente para uma plateia inexistente, visto que todos já deviam estar em suas barracas. “Pelo menos ele não me reconheceu... Imagina o mico que seria se eu tivesse que admitir que conhecia Perkins.”

Aos poucos o estranhamento inicial causado pela situação foi desaparecendo e os garotos começaram a se soltar. Regulus pegou seu travesseiro e estava prestes a jogá-lo contra John quando ouviram uma voz feminina que vinha da sala de jantar:

— A ceia está servida em sua própria barraca. Tomem seus lugares. Esta noite não haverão outras atividades. É recomendado que não se demorem a deitar pois serão acordados ao nascer do sol. Bom apetite e boa noite.

Estranhamente a voz soltou um risinho que não se podia entender se era de satisfação ou deboche. Regulus franziu a testa e colocou o travesseiro de volta na cama. A guerra de travesseiros teria de esperar, já que o estômago roncava de fome. O garoto caminhou até a sala de jantar. Nela haviam vinte pratos servidos com uma refeição leve. Obviamente a voz havia sido magicamente ampliada e reproduzida nas barracas, pois não havia ninguém lá.

— Pessoal, venham – ele chamou, ao sentar.

Amifidel se aproximou e sentou-se ao seu lado, franzindo a testa.

— Parece que não vamos sair essa noite... E pelo discurso de boas vindas, esse acampamento vai ser um tédio!

— Tem razão, Ami... – concordou John – se Black tiver inventado sobre o outro assunto, vai ter que arrumar algo muito interessante para fazermos ou... – Avery estalou os dedos das mãos enquanto se sentava em frente a Regulus – faremos algo interessante com ele.

Regulus não se incomodou em retrucar. Ele tinha certeza do que Slughorn havia dito e sobre o que havia visto em sua mente, mas também sentia um certo temor de que tivesse tirado conclusões erradas ou até mesmo imaginado tudo aquilo. O garoto mexeu na comida de seu prato com um garfo. Havia legumes demais para ser uma refeição saborosa, pensou.

John se juntou a eles, sentou sem dizer nada, depois chegaram os outros e logo a mesa estava lotada de garotos que comiam ruidosamente, entre bocejos e arrotos. A refeição, afinal, era bastante saborosa, com legumes, batatas e peixe cozido. Algum tempo depois, a voz feminina voltou a ecoar na barraca. Alguns se viraram para ver, pois a mulher parecia estar às suas costas. Mas como antes, não havia ninguém lá.

Agora que meus queridos já estão bem alimentadinhos, podem descansar. Durmam bem.

Ela mal terminou de falar e pratos, talheres, copos e tudo mais desapareceu. Jack ficou por alguns segundos parado olhando para a mão vazia em frente a boca aberta. Não havia mais garfo com comida, então ele esfregou a mão no rosto, massageando as bochechas cheias de saliva.

— Sinistro, né? Parecia que ela estava aqui dentro... É como se estivessmos sendo vigiados... – disse.

Os outros balançaram a cabeça afirmativamente enquanto levantavam-se e caminhavam entre bocejos e tropeços até suas camas.

Assim que encostou a cabeça no travesseiro, Regulus adormeceu. Lhe pareceu que mal havia fechado os olhos quando gotas de algo que parecia um líquido muito gelado começaram a cair sobre seu rosto, sem realmente molhar sua pele. Ele acordou e olhou ao redor. Todos os membros do clube da Bella estavam sendo acordados da mesma forma. Seu coração disparou: ali estava a prova de que ele não havia mentido, inventado ou imaginado coisas. Ele olhou para os outros, sentindo-se vitorioso.


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