A Breve História de Regulus Black escrita por Mrs Borgin


Capítulo 152
152. Uma questão de contingência




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Uma questão de Contingência

Ao invés de comemorar a vitória do dia na sala comunal da Sonserina como havia feito no primeiro dia, Regulus reuniu sua equipe em uma sala de aula vazia, no terceiro andar, assim os integrantes das outras casas puderam comemorar com eles. Com a autorização de Slughorn e da professora Sprout, ambos convidados para a festa, os alunos cantaram, dançaram e comeram até as onze horas da noite, quando então limparam o ambiente conforme havia sido combinado com os professores.

Antes mesmo da meia noite, todos já estavam dormindo em suas respectivas camas, sonhando com as próximas vitórias.

No dia seguinte, Regulus acordou num susto. Havia sonhado com Sirius. Demorou alguns instantes para que percebesse que tinha sido somente um sonho e que ele estava em seu dormitório. Ele piscou os olhos para a penumbra do quarto, os outros obviamente dormiam. Virou-se de lado, voltaria a dormir também. Teria um longo dia pela frente e uma equipe animada a qual ele não queria desapontar. Fechou os olhos, mas ao invés da escuridão mansa, as imagens do sonho pularam em sua mente e ele não pode evitar reviver aquilo tudo. Até quando Sirius iria perturbar sua mente?

Ele conseguia ver com clareza, estavam em frente à escola, cada um segurando uma extremidade de uma longa corda escura. Eles a puxavam com força, sem que nenhum cedesse um milímetro sequer, bravamente. Então o chão sob seus pés começou a desmoronar, o mesmo acontecia com Sirius à sua frente, de modo que não demorou muito para que a única coisa que evitasse que fossem engolidos pelo abismo sob seus pés era a corda que estava enroscada na raiz de uma árvore. Regulus tentou puxar seu corpo para cima, escalando a corda.

“Pare de puxar, Reg. Quando você vai entender que mesmo estando em lados opostos, ainda assim seguramos a mesma corda?”

As palavras de Sirius ecoavam em sua cabeça. Ele sabia que naquele exato momento havia acordado e nunca saberia o que o seu “eu do sonho” teria respondido ou feito. Ficou alguns minutos em silêncio, pensando em qual teria sido o desfecho do próprio sonho se tivesse voltado a dormir. A primeira coisa que pensou foi que ele poderia ter soltado a corda, mas ele sabia que isso derrubaria ambos no abismo. Provavelmente iriam encontrar uma solução juntos, ou Sirius iria querer impor uma e ele acabaria aceitando, como fizeram quando estavam em detenção juntos na sala do Filch. De qualquer maneira, aquilo não importava.

Ele checou o relógio, ainda tinha preciosos 50 minutos até a hora de se levantar para o café. Virou-se novamente e fechou os olhos. Um líder precisava ter a mente descansada para conseguir pensar direito. Bocejou uma única vez antes de cair no sono novamente.

Assim que amanheceu e Regulus se levantou, o sonho com Sirius havia ficado para trás. Tudo o que ele conseguia pensar era em tomar café e reunir sua equipe. Não importava qual fosse a tarefa daquele dia, eles iriam vencer, sentia-se confiante. Junto com seus amigos, eles se arrumaram e seguiram para o Salão Principal conversando alto e – muito provavelmente contagiados pelas palavras de Regulus, faziam o improvável: cumprimentavam com alegria os demais membros da equipe que foram encontrando pelo caminho, não importava de qual Casa eles eram.

O Salão Principal estava especialmente iluminado naquela manhã, o teto refletia um céu azul intenso e havia um agradável perfume cítrico no ar. Regulus inspirou profundamente e olhou ao redor como se nunca tivesse estado ali antes: não haviam mais as quatro mesas das Casas, mas três mesas. Uma retangular, bastante longa, outra triangular e outra circular. Ele sabia exatamente qual deveria ocupar.

— Olhem! Colocaram mesas especiais para as equipes! Time da Acromântula, bom dia! Por favor, sentem-se aqui! – chamou Regulus, apressando-se em direção à mesa redonda. Ele sabia que poder olhar os outros nos olhos continuaria sua campanha para maior comprometimento do grupo com as tarefas.

Assim que se sentou, olhou ao redor.  Seus olhos encontraram os olhos azuis do diretor. Da mesa dos professores, Dumbledore o observava e sorria ternamente para ele. Aquilo o deixou levemente irritado e ele não conseguiu devolver o sorriso. Não estava fazendo tudo aquilo para agradar o diretor, mas para vencer os jogos. Ele olhou para os lados novamente. Sua equipe servia-se fartamente com o café e conversavam animadamente.

Mal Regulus havia começado a tomar seu café-da-manhã, Schwartzie entrou voando junto com uma revoada de corujas, trazendo uma carta em um envelope negro escrito em tinta verde brilhante. Ele nem precisou olhar o remetente para saber de quem era a carta: sua mãe.

Ele abriu o envelope:

“Amado filho,

Slughorn meu contou sobre seu excepcional desempenho em liderar sua equipe nos jogos cooperativos da escola. Obviamente seu pai e eu não esperávamos outra coisa de você, pois sabemos o filho que temos. O sangue de um vencedor corre em suas veias. Você é o nosso maior orgulho!

Recebemos a carta de Slughorn ontem à noite, enquanto jantávamos na casa de sua avó Irma. Uma noite muito agradável em companhia de Cissa e Lucius, sempre tão amáveis.

Todos ficaram muito orgulhosos em saber sobre seu desempenho. Seus avós, porém, lamentaram saber que você e seu time acabarão ganhando uma viagem para o exterior bem na época em que eles vão comemorar suas bodas de ouro. Cissa até comentou que neste momento tão particular da vida de nossa família, seria muito melhor se ficasse com o terceiro lugar e fossem para a colônia de férias, visto que ela e Lucius foram convidados a ministrar duas aulas para aqueles que estiverem em terceiro lugar e permanecerem na Grã-Bretanha. Ela disse também que eles adorariam ter você como aluno. Aliás todos vocês, pois pelo que Slughorn contou, são uma equipe promissora. Pense a respeito.

Com amor,

Sua mãe.”

Regulus terminou de ler a carta e engoliu em seco. Ele conhecia sua mãe, sabia que ela nunca pediria para que ele pensasse a respeito sobre tirar o terceiro lugar numa competição quando poderia ser o primeiro. Ou ainda, também conhecia Narcissa, ela definitivamente não era o tipo de pessoa que daria aulas em uma colônia de férias...  A não ser que aquela fosse uma carta falsa, poderia ser uma tentativa de um oponente de tentar fazê-lo desistir da competição. Qualquer aluno mais velho saberia citar os nomes de Lucius e Narcissa... Mas não saberia imitar a caligrafia de sua mãe...

“A não ser que seja uma ideia de Sirius!” ele pensou e então pegou a varinha rapidamente, apontou para a carta, tentando ver se nela tivesse sido usado algum feitiço da falsificação de caligrafia.

— Está limpa... – disse em voz baixa.

— Perdão? – perguntou Rachel, sentada ao seu lado.

— Ah, não é nada, querida. Eu... Bem, leia a carta de minha mãe.

Rachel leu a carta atentamente. Ao final, arregalou os olhos.

— Black, eu não sabia que o diretor de sua Casa se prestaria a enviar uma carta para sua mãe só para comentar o quanto você tem se saído bem. A não ser que ele seja seu parente... ele é?

— Não... e pensei a mesma coisa. Essa carta não faz o menor sentido... A não ser que... eu preciso falar com Slug. – disse Regulus, levantando-se.

— Vou com você.

Rachel fez menção de se levantar também, mas o garoto pediu que ficasse. Ele queria testar algo e sabia que seria mais eficiente se estivessem sozinhos. Ele caminhou até a mesa dos professores, mas não chegou lá, pois Slughorn ao vê-lo se aproximar, levantou-se e foi ao seu encontro.

Ao ver o professor se aproximar, Regulus sentiu seu coração bater forte. Ele sabia que estava prestes a confirmar sua teoria. Sabia que Slug não era inocente nessa trama...

— Bom dia, meu rapaz. Uma bela manhã, não?

— Bom dia, senhor. Senhor, recebi uma carta de minha mãe... – ele disse, olhando profundamente dentro dos olhos miúdos do professor. Slughorn tentou olhar para o lado, mas já era tarde. A  carta de sua mãe era uma grande mentira, como ele suspeitava. Afinal, ainda era dela: ele viu, ao mergulhar em suas lembranças, a porta negra de sua própria casa no Largo Grimmauld, então seus pais à porta e a voz do professor dizendo “eles precisam perder” – ela mandou-lhe um abraço.

— Mande outro, disfarçou Slug, olhando intrigado para o garoto, sem ter certeza se havia tido suas memórias invadidas ou se a culpa por forçar uma equipe promissora perder o estivesse fazendo imaginar coisas.

Regulus retornou ao seu lugar sentindo-se aborrecido. Queria estar feliz e dizer a todos: “viram? Eu disse que esse não era um simples campeonato, que isso tudo era muito suspeito.” Mas ao mesmo tempo estava chateado, pois teria que dar um jeito para que perdessem. E ele não queria perder. Como faria para falar aos outros sem levantar suspeitas? Ele olhou ao redor, os olhos dos outros membros da equipe se iluminavam. Ele podia perceber o quanto os alunos, sobretudo do primeiro e segundo anos, estavam animados com a ideia de vencer. Ele não poderia simplesmente chegar neles e dizer: “hei, não podemos ganhar. Esses não são os planos de Lord Voldemort para nós.” Por mais que ele ficasse feliz em saber que haviam planos, que podiam não ser do próprio Voldemort, mas pelo menos eram de Comensais da Morte – o que significava que eles não tinham sido esquecidos na escola e continuavam fazendo parte da luta – isso não diminuía sua tristeza.

Por algum motivo, naquele dia, Dumbledore se retirou da mesa dos professores mais cedo e saiu. Em seguida, Professor Flitwick subiu em sua cadeira e, junto com o professor Kettleburn, passou as orientações da tarefa do dia. Ambos os professores pareciam bastante animados.

— Bom dia a todos! Essa noite o castelo de Hogwarts e suas terras foram invadidas por pequenos seres mágicos, que foram transformados em pedras, gravetos, livros e outros objetos. A equipe que conseguir capturar o maior número de animais até o final do dia, será a campeã do dia. Para essa tarefa, vocês poderão usar suas varinhas, mas equipes que usarem de cooperação e o menor uso de magia possível terão pontos extras.

— Todos os lugares do castelo e seus arredores deverão ser vasculhados, inclusive as margens do Lago Negro e da Floresta Proibida. – Emendou Kettleburn - Não é permitido adentrar a floresta mais de 5 metros ou no lago quando a água passar de seu umbigo, por questões de segurança não haverá animais além desses limites. Cada equipe receberá uma lista das criaturas válidas na contagem de pontos. Gaiolas e cercados deverão ser construídos sem uso de magia, no entanto, podem ser reforçados com alguns toques de varinha.

— Eu saberei dizer em que grau a magia foi utilizada – explicou Flitwick. - Reúnam seus animais e exponham eles em frente ao castelo. Vocês têm até às 16 horas para isso. Estaremos observando as equipes. Qualquer intercorrência, procurem o professor mais próximo. Qualquer um de nós saberá ajudar. – Os outros professores assentiram com a cabeça – Boa sorte a todos.

O ruído dos alunos arrastando cadeiras e conversando animados foi aumentando gradualmente.

— Atenção, pessoal. – falou Regulus e sua equipe congelou momentaneamente para ouvir suas orientações - Quero que todos coloquem roupas adequadas para banho sob suas roupas, além de carregar consigo luvas de couro de dragão, a varinha e uma bolsa vazia para a coleta dos animais transformados. Estejam de volta o mais breve possível no jardim dos fundos do castelo. Lá dividiremos as tarefas e os pequenos grupos. Podem ir. – disse, tentando disfarçar o desânimo que crescia dentro de si.

Conforme descia as escadas para as masmorras, o conflito crescia dentro de Regulus. Parecia que a cada passo, a cada degrau a sensação mudava dentro de si. Ora ele se sentia excitado por saber que haveria algo planejado para suas férias, provavelmente um treinamento intensivo, ora ele se sentia desanimado por ter que forçar a derrota de sua equipe. “Pobrezinhos, eles estavam tão animados...” pensava, disfarçando para si mesmo o quanto lamentava e o quanto sofria por ser obrigado a tomar essa decisão, então se revoltava, não era justo, depois de tanto esforço. Por que não haviam falado antes que eles deveriam perder? Por acaso achavam que eles não seriam bons o suficiente para vencer e contavam com sua derrota? Como eles esperavam que ele iria incentivar os outros a perder? Ou ainda, como esperavam que ele falasse aos outros que deveriam sabotar a própria equipe? Essa última ideia o alegrou um pouco. Talvez sabotagem fosse algo importante para aprenderem, ao mesmo tempo que deixa-lo liderar por algum tempo também poderia ser uma espécie de treino para o futuro... Talvez ele estivesse sendo treinado para comandar um grupo de Comensais no futuro... Essa ideia o fez sorrir.

— Reg? Reg? Você ouviu o que eu disse? – perguntou Ami ao seu lado.

— Ahn, desculpe, Ami, estava distraído... Estive pensando, você conseguiria ser discreto o suficiente para reunir o pessoal nosso — disse, indicando a parte interna do antebraço para sinalizar que eram os somente os que pertenciam ao grupo da Bella – no nosso dormitório? Tenho algo importante a dizer.

Ami franziu a testa e esfregou o próprio antebraço.

— Claro que posso. Estarão lá. Você recebeu alguma carta? Além da carta de sua mãe?

— Você já vai saber. – respondeu, assentindo com a cabeça.

— Okay. Nos vemos daqui a pouco. – respondeu Ami, dando a volta para procurar os outros. Regulus seguiu o caminho e não demorou para que estivesse no dormitório, trocando-se vagarosamente. Jack e John já estavam lá.

— Você diz para a gente se trocar rápido e fica aí parecendo um verme na lama. O que há, Black?

— Vocês já vão saber...

Mal ele respondeu, a porta do quarto se abriu e Mulciber, Avery e Snape entraram. Depois foram chegando os outros, de modo que o quarto logo se mostrou pequeno demais para tantos garotos. O último a chegar foi Crouch.

— O que você quer, Black? Não vai vir de novo com aquela conversa sobre raposas e gazelas, não é?

— Não, Bartô, fique sossegado. Não é isso. Ahem – pigarreou – bem, sentem-se. Esta manhã recebi uma carta de minha mãe com algumas recomendações para a gente...

— E desde quando sua mãe entende de esportes, Black? – cutucou Crouch.

— Posso terminar? – olhou feio para Bartô –  Então, como ia dizendo, tenho uma boa e uma má notícia: a boa é que o Lord das Trevas tem planos para as nossas férias. – Os garotos se mexeram parecendo animados, outros frustrados. A má é que vamos ter que perder os jogos cooperativos.

— Como assim, perder? – perguntou Jack indignado.

— Perdendo. Não faremos o nosso melhor. E precisamos fazer isso de maneira discreta, sem que os outros percebam ou isso vai chamar a atenção dos professores para a gente. Na carta está claro que o tal acampamento é na verdade o treinamento que tanto queremos. Lucius está por trás disso – ele respondeu dando ênfase na última parte para que os outros acreditassem.

— Mas você tem certeza? – perguntou Amifidel com olhos esbugalhados.

— Tenho.

— Posso ver a carta? – perguntou Severus.

Regulus remexeu nos bolsos e lhe entregou a carta.

— Aqui está.

Severus leu atentamente:

— Aqui não está tão claro... – ele disse erguendo as sobrancelhas.

— Minha avó Irma e meu avô Polux comemoraram bodas de ouro ano passado. Outra dica é que Narcissa nunca iria trabalhar num acampamento de verão, nem para ensinarmos. Confirmei com Slug durante o café da manhã. Ele foi pessoalmente lá em casa dizer para minha mãe que precisávamos deste terceiro lugar.

— E por que ele não fez isso pessoalmente? Por que pediu pra sua mãe mandar essa carta idiota já que iria falar tudo no final? – perguntou Crouch, irritado. Regulus olhou para Snape nos olhos. Ele não podia contar que Slughorn não havia, intencionalmente, falado. Snape compreendeu:

— Talvez Black fizesse todos esses questionamentos para ele, o que poderia levantar suspeita. Eu o vi conversando com Slug hoje, foi muito rápido.

— Sim, só confirmei com ele se precisávamos perder e ele confirmou.

— E por que precisaram envolver sua mãe nisso? Por que a Sra. Lestrange não fez isso como fazia antes? – perguntou Avery.

— Oras, muito provavelmente isso tem a ver com o fato do rosto dela estar estampado no Profeta dessa semana... Estão suspeitando que ela tenha algum envolvimento com os Comensais da Morte. Aquele auror metido disse ter visto ela em combate...

— Se é assim... Então podemos dar um jeito de perder. Que tal se provocássemos uma briga? – perguntou Mulciber socando o próprio punho – estou mesmo querendo amassar alguns ossos...

— Não, nada que chame a atenção. Se brigarmos, os professores vão querer conversar e podem acabar descobrindo algo. Ou ainda, podem nos expulsar dos jogos, aí adeus prêmio – ponderou Regulus.

— E nada de usar varinhas em demasia! – lembrou Severus – Isso também causa expulsão. Melhor mesmo não nos esforçarmos tanto e fazer de conta que era o máximo que conseguiríamos fazer.

— E não se esqueçam de não fazer cara feliz por não conseguirem os pontos necessários para vencermos – lembrou Black.

— Sim, mas vai ser uma pena não poder ir ao Brasil... ouvi falar de magias muito especiais que se aprendem lá – lamentou Amifidel.

— Ou então ir para a África... especialistas em transfiguração, lembram? – disse John.

— Hey! Vocês estão esquecendo com quem vamos passar as férias? Com quem vamos aprender? Não deve existir mágica que ele não saiba usar. Ele é o melhor dos melhores! – lembrou Regulus.

Os outros se calaram. Amifidel enrugou a testa: não havia nenhuma certeza de que Lord Voldemort os ensinaria algo... e Lucius não parecia ser o melhor dos melhores, havia poucos anos que saíra de Hogwarts, ainda estava engatinhando na magia negra... Era melhor não questionar o amigo numa hora dessas. Não seria ele a estragar os planos de Lord Voldemort.

— Então vamos? – perguntou Snape.

Ninguém respondeu com palavras, mas cada um levantou-se da cama em que estava sentado e seguiram porta a fora. Não apareciam exatamente felizes com a novidade, embora estivessem contentes em saber que havia um plano para eles, perder não era algo que os deixasse felizes.

O dia seguiu como se uma maré de azar tivesse tomado conta da equipe. Nada do que faziam parecia dar certo. As gaiolas e cercas que fizeram se rompiam ou eram estranhamente comidas por alguns animais. Além disso, perderam um tempo valioso no lago, à procura de animais transformados e Mulciber conseguiu arrumar uma briga com um sereiano que precisou da intervenção do professor Kettleburn (o que Regulus achou extremamente desnecessário e perigoso). Ele continuava falando palavras de incentivo ao grupo, como parte da encenação que haviam combinado, para evitar que os membros que não faziam parte do clube da Bella percebessem o que estava acontecendo. Ao final do dia, Regulus fingiu um choro de desespero, o que foi prontamente acudido pelas meninas do primeiro ano. Rachel ficou furiosa com isso e brigou com ele na frente da escola inteira. Ao ver a explosão da namorada, Regulus pensou que havia feito muito bem em não lhe contar nada, pois tudo parecia ainda mais real. Será que ela o perdoaria quando soubesse a verdade?

Em poucos minutos a professora McGonagall anunciaria os vencedores da etapa do dia. Por um instante Regulus deixou seus sentimentos se sobreporem à razão e ele sentiu uma ponta de esperança de que alguma equipe tivesse tido um resultado ainda pior que o deles. Mas isso não durou mais do que um instante, pois logo lembrou-se da importância de perder o jogo... e então a dúvida veio à sua mente: e se tivesse interpretado mal a carta de sua mãe? Não, por mais que isso pudesse acontecer, as memórias do velho Slug não deixavam margem para o erro: eles precisavam perder. Regulus abaixou a cabeça, apoiou os cotovelos sobre a mesa e segurou a cabeça apertando com força as mãos contra suas têmporas. Era difícil, mas precisava se resignar ao seu destino: perder para vencer mais tarde, perder para ganhar. Ele iria se tornar um Comensal da Morte, iria servir ao bruxo mais poderoso de todo o mundo e iria ser um herói para seu povo, libertando a todos de anos de segregação. Isso tudo tinha um preço e ele iria se resignar a perder naquele instante.

McGonagall anunciou os resultados. A explosão de alegria que veio da mesa ao lado atraiu seu olhar como um imã. O time de Longbottom e Alice havia vencido. Ele desviou o olhar do abraço entusiasmado que os dois trocaram por conta da vitória e encontrou o olhar furioso de Rachel, que estava sentada do lado oposto da mesa, em sua frente. Por um momento, seu olhar lhe implorou desculpas, então ele se empertigou e levantou-se.

— Pessoal! – ele disse, chamando a atenção de todos à mesa – hoje tivemos um dia difícil, eu sei. Mas eu gostaria de lembrar-lhes duas coisas: a primeira é que são três equipes para três prêmios, ou seja, nós teremos o nosso prêmio de qualquer maneira, não se desesperem. A segunda coisa é que lembrem-se que não é uma derrota que vai abalar nossa equipe. Ontem nós vencemos, provamos a nós mesmos que é possível. Hoje o vento não soprou a nosso favor, mas amanhã é um novo dia e teremos outra chance...

— Só teremos outra chance se ninguém der uma de idiota e resolver arrumar briga com um ser mágico irritadiço... – disse Charlotte, uma amiga de Rachel, olhando enviesado para Mulciber.

— Ou ainda, se algumas meninas souberem escutar quando alguém avisar que broto de Asfodel tem sabor adocicado e por isso não pode servir como cerca... – retrucou Mulciber, mesmo sabendo que a sugestão de usar Asfodel tinha partido de Regulus e ninguém havia comentado sobre o fato de que animais gostavam de comê-lo. Regulus interrompeu o bate-boca antes que este tomasse grande dimensão e alguém começasse a suspeitar da sabotagem:

— Hei! Vamos se acalmar! Lembrem-se que ainda temos algumas provas para vencer e são jogos cooperativos, somente uma equipe unida e em harmonia vai conseguir isso! Se continuarem assim, o terceiro lugar será inevitável.

Todos se calaram.

— Nós fizemos isso ontem. Vamos fazê-lo amanhã. – Então ele fez um gesto que foi copiado por todos os outros: bateu o punho fechado sobre o peito e disse – juntos!

— Juntos! – disseram os outros.

Um a um, todos se levantaram e foram para os respectivos dormitórios descansar. Regulus sentia-se exausto e arrastava os pés para caminhar. Ele não esperou por Rachel, não queria explicar nada a ela naquele momento, pois seria mais fácil contar com a raiva e a genuína frustração dela para desestruturar a equipe. A cada passo que dava, ele rememorava o que havia dito após o jantar. Sabia que aquelas tinham sido as piores frases de incentivo que ele poderia ter dito e que elas não iriam funcionar. Não se força uma equipe a trabalhar junto pelo medo da derrota, mas pela ideia de vitória. E tinha sido exatamente por isso que ele havia falado no terceiro lugar. Sabia que não iam vencer. E eles precisavam disso.


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Notas finais do capítulo

E aí? Ficou tão decepcionado quanto nosso heroi em saber que teria que perder os jogos para "ganhar"?
Me conte seus sentimentos! bjs



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