A Breve História de Regulus Black escrita por Mrs Borgin


Capítulo 144
144. O sentido das coisas




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O sentido das coisas

Regulus sentia-se estranhamente feliz ao lado de Rachel. Havia entre eles uma cumplicidade marota totalmente diferente daquela que ele experimentara com Alice. Rachel era, de alguma forma, uma versão feminina de sua própria pessoa e isso divertia a ambos. Ela completava suas frases, ela apontava para esta ou aquela cena, já prevendo que iriam rir juntos do infortúnio de algum estudante menos popular ou menos habilidoso.

O namoro dos dois pegou a escola de surpresa, como se fosse o acontecimento mais improvável do século. Até mesmo os retratos nas paredes comentavam sobre o assunto e as fofocas mais variadas sobre o que havia unido os dois ecoava por todos os cantos.

Naturalmente havia aqueles que aprovavam a união, aqueles que apostavam que não iria durar (e entre eles, uma turma de meninas que, secretamente, torciam para que isso acontecesse logo) e quem não tinha o menor interesse no assunto, ou apenas, fingia não ter.

Era 10 de maio, sábado à tarde; quatro longos dias haviam se passado desde que Regulus havia completado 15 anos de idade. Rachel havia contrabandeado para dentro da escola um exemplar do livro “As mais terríveis Artes das Trevas” e lhe dado como presente de aniversário. Os dois passavam desde então suas horas vagas folheando juntos o livro e rindo da crueldade das mágicas lá propostas. O restante dosalunos da escola aproveitavam o o tempo livre espalhados em pequenos grupos – ou aos pares – no lado de fora do castelo, sem notar as monstruosidades que se passavam na cabeça daqueles dois. A tarde morna embalava conversas preguiçosas, parecendo que o maior esforço permitido fosse inspirar a miscelânea de perfumes das flores recém abertas que vinha das estufas.

— Em quem você acha que poderíamos testar este “feitiço permanente da máscara do horror”? – perguntou a garota, sorrindo alegremente como se tivesse acabado de ver um arco-iris no rabo de um unicórnio.

Regulus, deitado em seu colo, olhava para a capa do livro sem realmente ouvir os feitiços que ela lia em voz alta, pois estava ocupado contando, secretamente, os minutos que faltavam para o entardecer. Finalmente havia chegado a data mais importante do universo para o garoto: a sua admissão no grupo de treinamento de Bellatrix.

— Regulus Black! Eu fiz uma pergunta! Onde você está com a cabeça? – irritou-se Rachel, erguendo o livro para ver o rosto de seu namorado.

Regulus arregalou os olhos de susto. Ele não havia notado que ela não estava mais lendo. Então sorriu, soprou levemente a cortina de cabelos de Rachel que emolduravam seu rosto e perguntou com suavidade:

— Perdão, Rachel. O que você disse?

— Eu perguntei em quem você acha que poderíamos testar este “feitiço permanente da máscara do horror”...

— Ah, deixe-me ver... Que tal no Petigrew?

— No Petigrew? Peter Petigrew da Grifinória? Claro que não! Obviamente a mãe dele já fez isso quando ele nasceu! O garoto é feio pacas!

Ao dizer isso, Rachel caiu na gargalhada e Regulus a acompanhou, contorcendo-se de tanto rir.

— Mas você não me disse, Black. No que estava pensando? Eu notei que você estava distante... Não era naquela sonsa da Alice, era? – perguntou a garota, fechando o livro com força.

— Rachel, essa insegurança não combina com você... – respondeu ele, melosamente, enquanto erguia a mão para acariciar-lhe o rosto. Rachel segurou sua mão com força. – Não, não era nela que eu pensava. É impossível pensar em qualquer outra pessoa quando estou do seu lado, você sabe.

Rachel segurou um sorriso de satisfação prendendo os lábios, mas não desfez a ruga entre as sobrancelhas.

— Eu pensava na reunião desta noite... Você sabe. Agora é oficial. Não sou apenas um mensageiro mais...

— Eu sei e sinto ainda mais orgulho de você.

Ele espantou-se:

— Não pensei que você sentisse orgulho de mim... Pensei que eu fosse menos do que... como você falava mesmo? Ah, uma barata esmagada na sola do sapato de um trouxa nojento – disse o garoto, num tom provocativo ao mesmo tempo que divertido.

— Você é tão inteligente e ao mesmo tempo tão tosco... É incrível como você nunca notou o quanto eu o achava especial...

— Como assim?

— Bem, quando realmente desprezo alguém, eu não me dou o trabalho de guardar seu nome, nem lhe arrumar apelidos, muito menos tão longos...

Regulus franziu a testa. Então a garota sempre gostou dele de alguma forma... Cada dia compreendia menos o universo feminino.

— Eu sempre te achei bonita.

— Eu sei...

— Uma beleza incômoda, na verdade... Eu odiava achar você linda. Isso me irritava.

Rachel jogou a cabeça para trás, rindo. Regulus riu também. Ele adorava olhar para ela rindo, parecia ainda mais bonita. Seus cabelos loiros agora tingidos pela luz colorida do entardecer pareciam pegar fogo. Regulus suspirou. Era inacreditável como a vida poderia ser boa. Ele fechou os olhos e aconchegou-se no colo da garota. Mas não pode curtir por muito tempo. Uma gritaria vinda do gramado chamou sua atenção.

Ele ergueu o tronco e apoiou-se nos cotovelos de modo que pode acompanhar a cena toda: James Potter lançava faíscas nos pés de Severus, enquanto Sirius e Peter riam, batiam palmas e gritavam: “Dance! Dance!”.

— Por que seu amigo não se defende? – perguntou Rachel, interessada.

— Ele deve estar sem varinha... Ou aguardando um melhor momento. Um bom bruxo não precisa de plateia para provar que é bom. E Severus é muito melhor que James. James Potter sabe disso, por isso o ataca.

Regulus tornou a deitar a cabeça no colo de Rachel e ficou olhando para a namorada. Não precisava ver a cena diretamente, pois Rachel a descrevia em detalhes.

— ... James o virou de ponta cabeça... NOOOOSSA! O QUE É AQUILO? São ceroulas? Que nojo! ... Black, seu irmão vai se partir ao meio de tanto rir... ah, não!

— O que aconteceu? – perguntou ele, sem se dar o trabalho de olhar.

— Lily Evans está uma fera e veio correndo salvar seu amigo. Agora quero ver, James vai sofrer na mão dela...

— Não vai não, James vai baixar a varinha... Ele perde até gol no Quadribol por ela...

— É, você tem razão. Ele abaixou a varinha. – disse Rachel, perdendo o interesse pela cena.

Severus passou por eles bufando e pisando forte no chão, mais rápido que pode, enquanto murmurava “sangue ruim”. Regulus olhou o amigo com o canto do olho, sem conseguir esconder um certo incômodo. Aquela era a primeira vez que presenciava a gang de seu irmão importunar Severus sem sentir a mínima vontade de sair em sua defesa. Em sua lógica repentinamente distorcida, não faria sentido algum ele se levantar e atacar o irmão ou Potter. E isso tinha dois lados: Severus como candidato a Comensal da Morte se sentiria ofendido em receber ajuda... E o fato de Severus ser mestiço começava a lhe incomodar um pouco. Valeria a pena sair em defesa de um mestiço? Obviamente raras pessoas sabiam do status sanguíneo de Severus, mas ele sabia. E isso bastava.

Assim que o tumulto acabou, a multidão se dissipou. Regulus e Rachel não se demoraram para entrar no castelo, pois não demoraria para servirem o jantar.

***

O salão principal estava ruidoso como sempre aquela noite, apenas as velas que pairavam sobre as mesas pareciam tremeluzir um pouco mais do que o normal, como se compartilhassem da ansiedade de Regulus. A lua minguante havia se recolhido mais cedo, de modo que o céu, bem como o teto enfeitiçado do salão, guardavam um negror profundo de uma noite pouco estrelada.

— Ei, não coma tão depressa! – avisou Ami, aos sussurros, deixando escapar algumas migalhas de comida de sua boca. – Você estar pronto não faz o relógio andar mais rápido, muito pelo contrário. Devemos ter calma e agir como sempre fazemos...

Regulus olhou para o amigo. Ele sabia que Ami estava certo, mas não conseguia se controlar. Então ele tentou, o tanto quanto possível, engolir o jantar pausadamente para não chamar a atenção, mas antes que Amifidel tivesse terminado a sua primeira porção de pudim de fígado, ele já estava com o prato vazio, tamborilando com as pontas dos dedos sobre a mesa.

Tão logo terminaram o jantar, os garotos tomaram caminhos diversos pelo castelo, pegando atalhos e se esquivando pelas sombras até finalmente se encontrarem na orla da floresta. Era uma noite fresca e escura, o que poderia até justificar os calafrios e tremedeiras que tomavam conta do corpo de Regulus de tempos em tempos, mas ele sabia que isso seria uma mentira. Ele não tinha medo do escuro, nem mesmo naquele momento em que estavam todos andando quase às cegas, procurando pela árvore marcada para entrarem na floresta, sem acender ao menos uma varinha. Mas de alguma forma o ar escapava-lhe dos pulmões e, quando entrava, não parecia ser o suficiente. Amifidel vinha logo atrás dele e segurava fortemente suas vestes para não se perder. Regulus se recusava a fazer o mesmo, pois em sua frente estava Richard Broadmoor. Por mais difícil que pudesse ser distinguir e seguir a silhueta do batedor da Corvinal no meio daquela escuridão, ainda assim lhe parecia desnecessário e vergonhoso segurar em suas vestes.

Depois intermináveis quinze minutos, eles chegaram no local indicado e rapidamente localizaram a chave de portal. Na verdade, Jack tropeçara nela, facilitando a busca. Uma vassoura de bruxo quebrada e esfiapada começou a brilhar intensamente e dezessete garotos se esforçaram para tocar nela de alguma forma, para então serem transportados pelo constrito vácuo incômodo entre a floresta e seu destino.

O chão sob seus pés era novamente sólido. Regulus olhou ao redor. Com uma satisfação arrogante, ele observou que a maioria dos garotos havia sido arremessada de joelhos ou em uma posição ainda mais desconfortável a uns três metros de distância de onde ele estava, enquanto ele estava em pé. Alguns pareciam bastante atordoados e um garoto loiro havia se contorcia enquanto vomitava a um canto. Regulus não se incomodou com aquilo, virou o rosto para o lado procurando ver onde estavam.

Aquele parecia ser o jardim de uma bela casa de campo. Estavam atrás de um gazebo adornado com trepadeiras com flores brancas de forte odor. Ele sabia que algo diferente estava para acontecer aquela noite, mas não conseguia imaginar o que poderia ser pois tudo lhe era diferente. Os garotos contornaram o gazebo e puderam ver a casa. De uma porta balcão aberta vinha uma luz forte que iluminava o gramado mostrando a extensão entre o gazebo e a casa, como se fosse um caminho a ser percorrido.

Os garotos caminharam silenciosamente em direção à porta aberta até que um homem corpulento apareceu. Sua sombra gigantesca deitou-se fria sobre eles, que pararam repentinamente. O homem sacou a varinha e alguns garotos se agacharam, outros sacaram as varinhas. Regulus permaneceu imóvel, observando o homem, que apontou a varinha para o céu escuro, de onde saiu uma descarga de fagulhas verdes.


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