A Breve História de Regulus Black escrita por Mrs Borgin


Capítulo 143
143. A praia e o mar




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A praia e o mar

— Sua lista aumentou...

— Como assim? – Regulus não se deu o trabalho de tirar os olhos do espelho e virar-se para olhar para Amifidel, que mesmo antes de dizer “bom dia” já estava a falar insanidades. Ele esfregou o indicador sobre o cenho: a varinha de Rachel havia deixado uma pequena marca marrom em sua testa. O atrito fez doer a pequena queimadura, ele franziu a testa e bufou. Aquela garota lhe tirava do sério.

— A festa de ontem...

— O que tem a festa de ontem, Ami? – perguntou Regulus, levemente irritado.

Amifidel sentou-se na cama, bocejou e espreguiçou-se sem pressa, deixando o amigo ainda mais irritado. Ele gesticulou que se apressasse, olhando bravo para o amigo.

— A festa de ontem era para trazer mais alunos para o nosso lado... Slughorn não faz isso abertamente, mas um de seus convidados foi aliciando o pessoal, entre um copo de cerveja amanteigada e outro. No próximo encontro você vai ter o dobro de pessoas para avisar... Se quiser eu ajudo – finalizou Theodor Amifidel, num tom esperançoso.

— Não será preciso, Ami. Dou conta, obrigado.

— Richard Broadmoor se juntou a nós...

— O quê???? Aquele obtuso? Pensei que ter cérebro fosse um dos critérios para o clube... – disse Regulus, começando a andar irritado pelo dormitório ainda escuro, tropeçando nos sapatos dos colegas. Jack e John acordaram. Regulus parou em frente a cama de John.

— O que está acontecendo, Black? – perguntou Jack, entre bocejos.

— Logo agora que estava no melhor dos sonhos! Que horas são? – perguntou John.

— São 6h00... Minha cabeça está doendo um pouco por conta da queda de ontem... – ele respondeu, passando a mão na testa, onde, além da queimadura, havia uma pequena protuberância roxa.

— E por isso tem que acordar todo mundo? Tenha dó, Black! Hoje é domingo... – reclamou John, virando-se na cama e cobrindo a cabeça com o cobertor verde escuro, na esperança de voltar a sonhar.

Regulus vestiu um roupão sobre o pijama e olhou para Amifidel, esperançoso.

— Você vai me desculpar, Reg, mas, quando vi você em pé, pensei que fosse mais tarde... – ele deu um longo bocejo – vou dormir mais um pouco.

— Está certo. Vou caminhar um pouco e logo volto.

O frescor do corredor levou embora o último resquício de sono que ainda havia em seus olhos. As tochas na parede pareciam terem sido acesas há pouco tempo e ele não compreendeu de onde tirara esta conclusão. O corredor deserto o convidava a seguir em frente, embora não tivesse um destino em mente, seus pés pareciam saber para onde ele deveria andar. Ele seguiu corredores, subiu escadas e quando percebeu estava no pátio interno do castelo. E havia alguém próximo da fonte. Estava sentada de costas para ele, mexendo na água. Embora tivesse o cabelo e o rosto cobertos pelo capuz do uniforme da escola, ele podia apostar que era uma garota. Aquilo era muito estranho. O que ela estaria fazendo ali tão cedo enquanto a escola inteira ainda dormia? Teria teria perdido o sono também? Ele resolveu chegar mais perto. Seria bom ter alguém para conversar. O perfume da garota chegou antes as suas narinas, ninguém mais no mundo usava aquele perfume...

— Rachel? O que faz aqui tão cedo?

A garota virou-se rapidamente e o encarou, olhou-o dos pés à cabeça e disse, irritada:

— Esperando por você é que não é...

— Ei, calma. Venho em paz. – disse ele, levantando as mãos para cima.

Ela o examinou por alguns instantes, a cena lhe pareceu ridícula, mas de alguma forma, deliciosa, então ela virou-se de costas para ele antes que fosse traída por um sorriso.

— A água está muito fria? – aquilo escapou de sua boca antes que pudesse perceber. A resposta foi óbvia e imediata.

— Não precisa jogar água e mim! – ele reclamou enquanto dava um passo atrás, embora tivesse achado divertido. Aquilo seria uma coisa que ele teria feito se fosse ela. Ele secou as gotas de água de seu rosto e continuou a olhar para ela.

Como ele não dava sinais de que iria embora, Rachel levantou-se e o encarou.

— Está bem, Black. Pode dizer o que você quer – embora o conteúdo da frase ainda fosse agressivo, sua voz era calma e Rachel sorria.

— Não quero nada, só jogar umas palavras fora – ele respondeu. Rachel se sentou novamente e ele, surpreso, se viu sentando ao lado dela.

— Me desculpe por ontem à noite. Eu não devia ter provocado você – ele disse.

— Ora, pensei que eu tivesse começado... – respondeu ela, encarando-o com os olhos arregalados de incredulidade.

— Eu estava falando sobre quase beijar você.

Rachel olhou-o dentro dos olhos. E suspirou. Então virou-se para frente, como se algo tivesse chamado sua atenção.

— O que você achou da festa de Slughorn ontem? – ela perguntou, subitamente.

Aquela pergunta o tirou de uma espécie de transe, pois ele ainda estava pensando no beijo que iria dar nela na noite anterior. De repente não parecia má ideia tentar novamente.

— Engraçado você perguntar – ele respondeu, franzindo a testa – achei a festa muito estranha, Slug estava... como vou dizer...

— Artificial?

— Exatamente! Artificial! – era espantoso perceber que Rachel, aquela menina detestável, embora linda, tivesse a mesma percepção que ele.

— É, também achei... Mas logo compreendi o que era. Aquele cara do Ministério não estava lá para encontrar novos estagiários entre os alunos do sétimo ano... Richard me contou, todo contente... Agora vai entrar para uma espécie de treinamento para um exército de apoio aos Comensais da Morte... Você também foi convidado, não foi?

Regulus espantou-se ao notar como ela falava sobre o assunto com tanta naturalidade e ficou sem saber o que responder.

— Ou seu irmão vai impedi-lo de fazer parte desta luta? Eu ouvi ele e James Potter falando ontem no corredor...

— O que Sirius disse? – perguntou Regulus, inclinando-se na direção dela bastante interessado.

— Bem, - disse Rachel, virando-se para encarar Regulus – Sirius disse algo que não posso deixar de concordar... Ele disse que os trouxas só enxergam o que querem enxergar, então não há problemas em continuar coexistindo pacificamente. Ele disse que não vê motivos para todo esse ódio, que se os trouxas são inferiores, então que deixe eles serem, não vão nos fazer mal...

— Ah, Sirius e suas bobagens. Parece que ele não lê os jornais. Os trouxas vivem atacando bruxos sem o menor motivo, apenas por perceberem a existência de bruxaria... eu não acho justo a gente ter que viver escondido enquanto eles dominam o mundo. Somos superiores, eles é quem deviam seguir nossas regras e não o contrário! – disse, inflamando-se, a voz um pouco esganiçada, traindo a recente mudança no timbre.

Suas palavras pareceram animar Rachel, cujo rosto se iluminou.

— E então, você também foi convidado?

— Erm... Bem, eu já faço parte desse grupo há algum tempo...

Rachel sorriu.

— E como é?

— Bem, antes nós aprendíamos alguns feitiços e éramos encorajados a vencer os nossos medos, participar de pequenos atos... Mas agora a coisa mudou um pouco.

— E como é agora?

Regulus irritou-se um pouco com a insistência dela. Ele não queria admitir que não fazia parte do treinamento propriamente dito, então olhou para o céu e se calou.

— Oi! Como é agora? – ela perguntou, estalando os dedos na frente do rosto dele, como que para acordá-lo.

— Bem, agora eles dão muito mais valor ao trabalho em grupo, antes era mais uma competição entre os membros... – respondeu, lembrando-se dos comentários de Amifidel.

— Como assim?

— Eu não sei explicar, não vou mais aos encontros. Só poderei ir depois que completar quinze anos daqui um mês...

— Ahn. Que pena, estava curiosa para saber – ela disse desanimadamente, ao invés de fazer algum comentário ardiloso a respeito.

O comportamento dela lhe chamou a atenção e ele olhou para ela, como que duvidasse que era mesmo Rachel que estivesse falando com ele.

Uma revoada de pássaros passou por cima de suas cabeças em grande algazarra. Provavelmente voltando para casa após o longo inverno. Nem Rachel, nem ele desviou o olhar para ver os pássaros. Ela passou a mão na água fria e depois tocou com a ponta dos dedos no hematoma na testa dele. o frescor da água aliviou um pouco a dor que Regulus sentia.

— Eu queria tanto que Richard me deixasse cuidar da minha própria vida... – lamentou.

Regulus sorriu. Era a primeira vez que ele olhava para Rachel e enxergava uma garota em sua totalidade. Ela não era mais a menina bonita e implicante, era uma menina com sentimentos. Ele olhou para o chão, sentindo-se envergonhado por tê-la beijado a força no campo de Quadribol.

— Black?

— Ah, realmente...

— Realmente?

— Sim, seria bom se Richard deixasse você cuidar da própria vida. Embora eu suspeite que isso não iria diminuir a quantidade de hematomas no meu corpo... aliás, acho que até poderia ter mais...

— Mais? Você acha que eu iria dar um soco em você?

— Não, um soco não. Você é boa demais com a varinha para perder tempo dando socos...

Rachel sorriu com o elogio. Após alguns instantes de silêncio tenso, quebrado apenas pelos pássaros que insistiam em querer acordar a todos no castelo, Rachel comentou:

— Acho que professor Slughorn é um covarde por não assumir abertamente o seu apoio Àquele-que-não-deve-ser- nomeado. Ele parecia muito intimidado na presença de alguns comensais ontem à noite. Embora não fossem Comensais conhecidos, era possível perceber que eles eram mesmo Comensais da Morte.

Regulus balançou a cabeça, sorrindo levemente com a mudança súbita de assunto. Estava ficando cada vez mais difícil para ele se concentrar na conversa, pois tudo o que queria era voltar ao ponto em que havia parado na noite anterior. Ele ainda podia sentir um leve formigamento no lugar em que seus lábios tinham tocado os dela.

— Como você sabe que eram Comensais?

— Ora, é sabido que Comensais da Morte têm a marca negra tatuada no antebraço, saiu no Profeta Diário há alguns meses, você não viu? Depois que aquele Auror, o tal Moody, prendeu alguns. Então, dois dos convidados do professor mantinham o antebraço o tempo todo coberto, e o terceiro o tinha enfaixado. Isso só pode significar que tinham a marca e eles a tentavavam esconder.

— Poderia também ser uma tentativa de se passar por Comensais da Morte, pelo respeito que teriam... Veja bem, se eles trabalham para a causa, iriam gostar que as pessoas acreditassem que eles tivessem alguma patente... – as palavras, embora fizessem sentido, saiam de sua boca sem comprometimento nenhum, sem que ele pensasse realmente a respeito. Ele sentia uma necessidade urgente de falar alguma coisa para ocupar sua mente e sua boca com algo que afastasse a vontade de beijá-la.

— Bem pensado, Black. Sabe, você até poderia ser da Corvinal se não fosse tão escorregadio... Quero dizer, eu notei que você não falou nada sobre meu comentário a respeito de Slughorn. Está querendo esconder alguma coisa sobre o diretor de sua casa?

Regulus riu. Ela estava longe de perceber o que realmente lhe passava pela cabeça.

— Não, eu concordo com você. Ele tem algum envolvimento, mas não acho que seja prudente para um professor de Hogwarts declarar sua posição política quando o Diretor da escola é declaradamente contra o movimento.

— Hum... estranho.

— Estranho? Como assim?

— Estranho você concordar comigo.

Regulus sorriu e virou-se para o castelo a fim de evitar olhar para ela. Começava a ter movimento nos corredores. Alguns alunos moviam-se lentamente na direção do Salão Principal. O café ia ser servido em breve. Mas sua tentiva de se distanciar não adiantava nada, enquanto aqueles olhos intensamente azuis estivessem do seu lado e a aquela boca em sua mente. Regulus lembrou-se de quando estava na ilha grega com a família e alguma coisa azul lhe fez pensar em Rachel. A sensação era igualmente perturbadora. Ele pensou na ilha, no mar indo e vindo sobre a areia. Como os dois, naquela conversa matinal, or se aproximavam numa conversa mais pessoal, ora se afastavam comentando sobre política. Mas aquele mar queria parar naquela praia.

— Você sabe que se seu irmão não chegasse ontem eu teria beijado você?

— Como? – a pergunta pegou Rachel desprevenida.

— Desta forma...

Regulus virou-se para ela e se aproximou. Seus lábios tocaram os dela gentilmente. Agora Richard não estava lá. Rachel não recuou, nem apontava uma varinha para ele. Os pássaros voltaram a voar sobre eles fazendo estardalhaço, a água da fonte jorrou com mais força. Ele era o mar e não ia recuar desta vez. Como se uma onda arrasadora o lançasse para frente, ele a envolveu com seus braços e a beijou novamente. Rachel, como a imagem espelhada dele, passou seus braços na costas dele e fechou os olhos.


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