A Breve História de Regulus Black escrita por Mrs Borgin


Capítulo 138
138. O gosto amargo do orgulho




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O gosto amargo do orgulho

 Quando acordou no dia seguinte seu corpo inteiro doía, Regulus sentia-se como se tivesse sido esmagado por um trasgo. Olhou ao redor e percebeu que havia adormecido sem ao menos se trocar. Os outros garotos já estavam acordando também. Ele levantou-se e trocou de camisa e meias, mantendo o resto da roupa sem se preocupar se pudesse estar suja ou amassada. Não olhou-se no espelho como de costume, tampouco deu atenção a Amifidel que insistia em perguntar se ele se sentia bem.

Deixou o dormitório apressado, passou pela sala comunal da Sonserina  e caminhou, tanto quanto pode, sem olhar para os lados, tentando fazer de conta que não ouvia seus próprios pensamentos. A voz de Alice dizendo “sou nascida-trouxa e tenho orgulho da bruxa que me tornei” ecoava em sua cabeça, parecendo querer parti-la em mil pedaços. Aquilo, definitivamente, era demais para ele.

Suas pernas o levaram automaticamente para o Salão Principal, onde ele sentou-se em seu lugar de costume. Aquele era um lugar estratégico em que conseguia ver a mesa da Lufa-lufa, mas aquela manhã ele não queria estar ali. Ele olhou para os lados para ver se havia outro lugar vago, mas a mesa se enchia rapidamente. Derrotado, fechou os olhos antes de olhar para frente.

— Bom dia, Reg! Hoje teremos um treino extra para nos preparmos para o jogo contra a...

Emma havia se sentado em sua frente. Ele abriu os olhos:

— Bom dia, Emma.

Respondeu sem olhar diretamente para ela. Emma continuou a falar, mas sua voz estava distante e ininteligível. Regulus permanecia agora olhando fixamente através da amiga em sua frente, para um lugar que só ele percebia que existia um holofote indicando a ausência de Alice na mesa da Lufa-lufa. Regulus suspirou fundo e sentiu um desconforto muito grande, pois brigavam dentro de si dois sentimentos antagônicos: a ansiedade por querer vê-la e tê-la em seus braços e a vontade de que ela nunca tivesse existido para ele.

O café da manhã parecia feito de cacos de vidro, tudo descia rasgando sua garganta por dentro, nada tinha gosto.

— O que você tem, Reg? – a voz de Ami o tirara de um transe – Você está com uma cara estranha... Aconteceu alguma coisa? É dor de estômago?

Eram perguntas demais. Ami não o deixaria em paz se não respondesse.

— É dor de estômago, sim.

— Melhor você procurar madame Pomfrey.

— Boa ideia. Vejo você mais tarde. Tchau, Emma.

Levantou-se da mesa sentindo-se arrasado, seus sapatos pareciam de chumbo e carregavam em cada um uma tonelada. Ele havia, com muito esforço, deixado o salão principal quando alguém o chamou:

— Black? O que foi? Engoliu um besouro-da-melancolia?

Ele podia aguentar qualquer coisa, menos Rachel. Ele virou-se para ela.

— Por que ... – por um momento não sabia o que dizer. A expressão de vitória no rosto de Rachel fazia ferver o sangue em suas veias. Para piorar a situação, Alice acabava de aparecer no saguão. Sem saber o que fazer ou dizer, aproximou-se abruptamente de Rachel, empurrando-a contra parede com seu próprio corpo. Ele sentiu, triunfante a respiração quente e ofegante de Rachel em seu pescoço, ao mesmo tempo que notava Alice afastar-se depressa. Ele aproximou sua boca à orelha dela o suficiente para tocá-la de leve enquanto cochichou em seu ouvido – por que o interesse?

Rachel ficou paralisada. Regulus ia começar a rir quando uma mão forte apertou seu ombro e o puxou para trás:

— Perdeu a noção do perigo, Black? – Richard Broadmoor, aluno e batedor da Corvinal, dois anos mais velho que sua irmã, Rachel, o ameaçava com o punho fechado.

— Ah, me deixem em paz vocês dois... – disse, virando as costas para os irmãos e seguindo rapidamente para o pátio, que aquela hora devia estar vazio. Aguardaria lá até o início das aulas.

Uma brisa fresca soprava seus cabelos em sua testa. O sol aparecia timidamente entre as nuvens, querendo anunciar a primavera. Um casal de passarinhos passou voando rente por sua cabeça, entretidos que estavam em um voo de acasalamento. Ele olhou com desprezo para eles, sabendo, que se pudesse, também estaria girando e rodando sua amada... Não: Alice não era mais sua amada. Ela o havia enganado e traído, fazendo-o pensar que pudesse ser sangue puro. As palavras ásperas vinham em sua mente, mas não combinavam com o que ele sentia.

Aquilo doía mais do que cair da vassoura, mas ele precisava acabar o namoro, por uma questão de honra.  Mas nada vinha à sua mente no momento. Ele preferiria não encontrar Alice nunca mais a ter que olhar em seus olhos e terminar o namoro. Para aumentar seu desespero, sua primeira aula naquela manhã era nas estufas, com a turma da Lufa-lufa. Ele estava começando a pensar seriamente em matar a aula quando a professora Sprout passou por ele:

— Bom dia, senhor Black, que bom que o encontrei. Você poderia me ajudar a levar estes vasos para a estufa?

A professora acenava a varinha para manter uma centena de vasos de barro flutuando a uns 40 cm do chão, mas parecia que sempre havia algum que queria escapar e acabava descendo até o chão.

— Claro, professora, estou mesmo indo para sua aula, não é mesmo? – ele forçou um sorriso. Posar de bom moço nem sempre era uma tarefa fácil.

— Muito obrigada. Eu levo estes aqui e você carrega o restante. – disse a professora, dividindo os vasos em dois grupos no ar.

— Professora, não seria mais fácil encolhermos os vasos para leva-los?

— Ah, não. Estes vasos são de uma cerâmica especial que não aceita este tipo de feitiço e acaba se partindo. Precisamos leva-los assim mesmo. Eu pediria a Hagrid, mas não o encontrei esta manhã... Me parece que está cuidando de uma infestação de Chizpurfle. Parece que infestaram a sala de Filch e estão acabando com os objetos mágicos apreendidos... – disse a professora, olhando como se perguntasse quando ele pretendia começar a ajuda-la.

Regulus percebeu isso, sacou sua varinha e a acenou imediatamente, fazendo a porção de vasos que deveria carregar se afastarem dos outros. Sprout seguiu em sua frente, cantarolando. Regulus lembrou-se de Kreacher cantando e sorriu, mas seu sorriso se desfez assim que chegaram à estufa de número sete.

Parada próximo da porta estava Alice, conversando com as amigas em voz baixa. Seus olhos estavam inchados e vermelhos, destacando ainda mais o tom cinzento de sua íris. Regulus distraiu-se e abaixou a varinha.

— Cuidado, Black! Esses vasos apesar de sua aparência rude, são muito delicados. – avisou Sprout, acenando a própria varinha para salvar os vasos e evitar que caíssem no chão.

Isso chamou a atenção de Alice, que olhou para ele, desviou o olhar e se calou.

— Queridos estudantes, hoje nós vamos transplantar mudas de Moly ou Molibdênio. Moly é uma planta poderosa com muitas propriedades poderosas: Moly são plantas conhecidas por proteger contra encantos das trevas, e pode ser comida para neutralizá-los. Por favor, note que você pode facilmente reconhecer as plantas Moly pela seus caules maravilhosamente pretos e flores brancas reluzentes. Esta erva é usada especialmente no preparo de poções; mais especificamente na fabricação da poção Wiggenweld. Wiggenweld é uma poção de cura com o poder de despertar uma pessoa sono foi magicamente induzido, como quem Poção do Morto-Vivo. Lá no fundo da estufa, você vai encontrar algumas mudas e potes de cerâmica, e esterco de dragão. Vá em frente e faça o que tem que fazer. Não se esqueça de usar suas luvas de pele de dragão, pois as mudas são bastante delicadas.

Logo se formou uma fila em direção ao local indicado pela professora para pegar as mudas. Regulus notou Alice se encaminhar para a fila, então ele aguardou até que fosse o último aluno a tomar seu lugar na fila também. Mas sua estratégia não funcionou. Alice propositadamente se atrasou em pegar a sua muda para poder conversar com Regulus sem ser notada:

— O que aconteceu ontem? Fiquei esperando por quase uma hora! – ela sussurrou.

— Nada, tive um imprevisto – respondeu ele, secamente.

— E não pode me avisar?

— Parece óbvio que não.

— Não fale comigo deste jeito! – respondeu ela, seus olhos enchendo-se de lágrimas.

— Vamos conversar mais tarde, aqui não é hora nem lugar para isso. – disse ele, sem olhar para ela.

— Depois do almoço, no corujal?

— Estarei lá. – concordou Regulus, dando-lhe as costas.

O restante da aula foi um tormento. Toda vez que seus olhos se cruzavam, Regulus se enchia de culpa. Para em seguida, repreender a si mesmo em pensamento: “ela é apenas uma maldita sangue-ruim, não há porquê me sentir assim”. Em um esforço histérico, ele passou a conversar em voz alta com Amifidel sobre banalidades, como quem tentava abafar os próprios pensamentos. Mas aquilo não surtiu efeito algum.

Enquanto voltavam das estufas, ele disse:

— Ami, não vou almoçar hoje.

— A barriga ainda dói? Pensei que você tivesse ido na ala hospitalar...

— Madame Pomfrey estava ocupada.

— Ahn...

— Vou apenas deitar um pouco. Acho que foi excesso de doces que comi ontem à noite...

— Está bem. Até mais tarde.

— Até.

Desta vez tinha sido fácil se livrar de Ami. Ele foi para a Sala Comunal da Sonserina e jogou-se numa poltrona, olhando para suas mãos que era as únicas partes de seu corpo que se mexiam. Assim que começaram a retornar do almoço os primeiros colegas da Sonserina, ele levantou-se e saiu em direção ao corujal.

Conforme se aproximava, seu coração parecia querer sair pela boca. o lugar estava vazio, exceto pelas corujas e sua sujeira habitual. Alice não devia demorar. Schwartzie o viu e desceu de seu puleiro, esperançosa de algum petisco ou uma correspondência. Mas ele não tinha nada para ela. Estendeu o braço e deixou que pousasse.

Parecia que a coruja havia percebido que aquela não era uma boa hora para fazer reclamações e permaneceu quieta. Regulus permaneceu parado e calado, enquanto tentava, em vão, manter seu pensamento voltado a tudo o que fosse mais concreto e tivesse a sua frente: como o contorno das pedras das paredes do castelo. Mas seus ouvidos permaneciam atentos ao menor ruído que pudesse indicar que ela se aproximava.

Não demorou muito para que ouvisse passos se aproximando e Alice chegasse. Regulus respirou fundo e ordenou que a coruja voasse. Ele permaneceu parado, ainda de costas para Alice, seguindo o vôo da coruja com os olhos. Alice se aproximou, suas mãos tremiam um pouco, assim como sua voz quando ela perguntou:

— O que está acontecendo, Reg? – perguntou, colocando sua mão sobre o braço dele, delicadamente. Regulus não se moveu.

— Nada. Apenas estive pensando... Não nos conhecemos tão bem assim... – ele respondeu, sem encará-la.

— Como assim, Reg? – disse ela, cruzando os braços.

Ele não respondeu, apenas bufou um pouco. Ela continuou:

— O que aconteceu ontem? Porque você me deixou esperando?

— Nada, tive um imprevisto. Já te falei. – disse, irritado.

— Aposto que foi encontrar-se com aquele grupo de pretensos comensais da morte... Frank me falou que um dia isso ia acontecer... – disse ela, irritando-se também.

— Frank?! Agora você trata o chefe dos monitores pelo primeiro nome? Até semana passada ele era Longbottom! – gritou ele.

— Não mude de assunto, Regulus Black!

— Foi um imprevisto, já disse. Nada a ver com o pessoal da Sonserina – ele respondeu rispidamente.

— Então foi com a Rachel? Eu vi você...

Ouvir Alice falando o nome de Rachel encheu Regulus de raiva.

— Você não confia em mim? Isso só mostra que realmente eu tenho razão e não conhecemos tão bem assim um ao outro!

— Regulus Black! Então me diga: o que você não sabe sobre mim? - disse Alice, quase berrando, as mãos na cintura.

— Eu não sei sua descendência!

— O que? Você quer saber se eu sou trouxa? Desde quando isso importa? – Alice respondeu, os olhos enchendo-se de lágrimas, mas nem ela sabia se eram de raiva, tristeza ou indignação.

— Óbvio que isso importa! Para mim isso importa! Eu sou um Black! – respondeu ele, batendo a mão espalmada sobre o peito.

— Pois você nunca saberá, senhor Black! Não quero te ver nunca mais! Me esqueça! – disse chorando e então correu escadaria abaixo, sem olhar para trás.

Regulus permaneceu parado, olhando para o vazio deixado por Alice. Shwartzie voltou e se aprumou em seu braço novamente. Ele falou para ela:

— Foi melhor assim – e cuspiu para o lado. Sua saliva tinha gosto de bile. Ou seria seu orgulho?


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