A Breve História de Regulus Black escrita por Mrs Borgin


Capítulo 135
Trem para Hogwarts, janeiro 1976




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Trem para Hogwarts, janeiro 1976

Estava muito difícil de assimilar tudo o que havia acontecido aquela manhã. Se não fosse pelo pergaminho que fazia volume no bolso de sua calça, com as instruções decodificadas que Bellatrix havia lhe entregado, ele diria que ainda estava no Largo Grimmauld sonhando. Regulus entrou no trem às 10:55, com suas pernas ainda trêmulas, as palavras de Voldemort ainda ecoando em sua cabeça. Ele sabia, contudo, que aquilo ainda não significava que ele era um Comensal da Morte, mas que agora era oficial: ele estava lutando em prol de um mundo melhor para os bruxos.

Ele caminhava pelo corredor do trem à procura dos seus companheiros de Casa e causa. Estava louco para contar as novidades, porém sabia que talvez tivesse que esperar até estarem em segurança na escola, para não correrem o risco de serem ouvidos. Algumas cabines à frente, Regulus os encontrou. A porta da cabine ainda estava aberta.

— Oi, pessoal! – disse, enquanto entrava e se dirigia ao lugar que Amifidel e John providenciavam para ele.

Todos o cumprimentaram brevemente e Regulus se sentou. A conversa já estava animada. Além de seus colegas de série, Emma Vanity e outra garota também estavam lá. Algum tempo depois, Avery chegou, mas não se sentou, ficou em pé, à porta, entrando na conversa, sem cerimônias.

Regulus mal conseguia prestar atenção ao que falavam, pois o volume em seu bolso gritava para que ele contasse logo sobre as novidades, o que, obviamente ele não iria fazer na frente das garotas, elas não eram do “clube de recrutamento”.

— Eu estava em Ashford, em Kent para passar o Natal com minha avó. As coisas estavam meio paradas por lá, então resolvi me divertir um pouco. Minha avó mudou para lá há pouco tempo, o bairro parece mais um labirinto de casas parecidas. As ruas são todas curvas e tem um lago próximo de lá... Bem... Não foi difícil confundir as pessoas para que todas acabassem andando em círculos e invariavelmente aparecessem na beira do lago... Foi muito engraçado! Mais engraçado ainda... quando... quando algumas delas... resolveram tomar banho no lago! – Avery disse, em meio a uma crise de risos.

— Imperio? – perguntou Jack, curioso.

Avery acessou “sim” com a cabeça. E todos começaram a rir.

— Então meu pai chegou e acabou com tudo. Ele disse que não podíamos chamar a atenção do Ministério e que eu estava agindo feito um bobo... Bem, bobo ou não, eu me diverti um bocado!

— E eu me lembrei das tais latas de lixo Regulus contou que cantavam e enfeiticei algumas perto de casa para cantar músicas natalinas de trouxas! Foi muito divertido! – contou John.

— E ninguém o pegou fazendo isso? – preocupou-se Amifidel.

— Nã... o Ministério estava ocupado demais com uma fuga do que com latas de lixo cantando... Elas cantaram a noite inteira, até o feitiço perder a força. Os trouxas da vizinhança acharam que era algum brinquedo movido à pilha que estava dentro das latas. Foi um pouco frustrante quando ouvi minha mãe falar... Somente uma trouxa parece que passou mal, uma viúva que achou que era uma mensagem de seu falecido marido... Bobagem.

Regulus agradeceu em pensamento por não estar mais trabalhando no Ministério. Perkins certamente tinha passado a noite de Natal trabalhando.

— Ora, ora. Enquanto vocês se preocupavam em enfeitiçar latas de lixo e confundir a vizinhança, eu conheci umas cinco ou seis garotas que ficaram de me escrever... Duas estudam na Durmstrang, três na Beauxbatons e uma estuda em Hogwarts... Hum... ela tem um perfume delicioso... me faz perguntar como nunca a vi antes... Ela é simplesmente ...

Como era a garota, exatamente, Regulus não chegou a ficar sabendo, mas isso não lhe importava, logo ele a veria com Jack pelos corredores do castelo.

— Você é que pensa, Jack! As vizinhas da minha avó não são de todo mal ... – disse Avery fazendo gestos obscenos.

Aquilo perturbou Regulus um bocado, que começou a se remexer no banco, sem encontrar a desculpa ideal para sair da cabine a procura de Alice. Ele precisava se certificar de que ninguém a esteve paquerando durante os feriados.

— O que você tem, Regulus? Parece que está sentado em um monte de urtigas! – perguntou Emma.

— Se quer ir ao banheiro, vá logo. Não precisa pedir permissão... – disse Avery.

Regulus sorriu para Avery, levantou-se e saiu, agradecido por não ter tido o trabalho de inventar uma mentira.

No corredor lotado, ele passou por Mulciber aos beijos com Mary MacDonald e se perguntou – até quando o amigo iria continuar com a Imperio sobre ela? Valeria a pena mesmo esses beijos sem paixão? Ele olhou novamente para Mary. Na verdade, ela já não parecia ter mais aquele olhar vazio de antes, que denunciava a Imperio. Parecia, ao contrário, bastante animada. Teria se apaixonado por ele? Ou se acostumado ao seus beijos? Reg sacudiu os ombros, aquilo não era problema seu, ele nunca entenderia as garotas.

Ele continuou andando. Não avistava Alice em lugar algum. Havia outro casal se agarrando mais adiante. Mas com certeza, não era ela... Ou seria? Regulus apressou o passo, o sangue fervendo nas veias. Quando chegou mais perto viu o emblema da Corvinal na saia da garota. Fosse quem fosse que estava semi-escondida pelos fortes braços do monitor da Lufa-lufa, com certeza, não era Alice. Ele suspirou aliviado e voltou a andar sem pressa.

O volume em seu bolso ainda lhe causava comichões na língua. Precisava contar a alguém. Onde estaria Snape? Talvez ele não pudesse contar sobre Voldemort, mas com certeza poderia falar sobre o novo feitiço que Bella o havia ensinado.

Alguns alunos de costas para ele bloqueavam totalmente a passagem pelo corredor. O que estaria acontecendo? A voz de James ressoava se sobrepondo ao murmurinho dos Regulus espichou o pescoço para ver o que acontecia adiante.

— Agora vamos ver se o Ranhoso está usando suas famosas cuecas de inverno... Sim, porque, para aqueles que ainda não sabem, ele usa uma cueca só por estação do ano...

A pequena multidão caiu na gargalhada. Regulus ficou na ponta dos pés e viu James sacudindo a varinha, fazendo surgir dela uma corda que se lançou pelo ar até chegar em Sirius – embora de costas para o irmão, era inconfundível por conta da cabeleira e da gargalhada debochada. Os dois bateram a corda obrigando Severus a pular. Cada vez que ele não pulava, a corda o açoitava. James ria, bem como Peter e Sirius. Com os pulos, a roupa de Severus se erguia levemente, não chegando a mostrar seus joelhos. Regulus, enquanto isso, tentava avançar entre a multidão.

— Ainda não vi as cuecas dele... Você viu, James? Acho que o Ranhoso precisa pular mais alto... Pula, Ranhoso, pula!

Sirius batia a corda agora sem tocar o chão e com maior velocidade. Regulus começou a forçar caminho entre a multidão em direção ao irmão, empurrando os outros com brutalidade, o olhar raivoso fixo na cabeleira negra – se nem da família ele era, não precisava ter tanta consideração...

— O Ranhoso aprendeu a pular muito bem... vamos ter que pensar em outro método... Você está pensando o que eu estou pensando, Black?

Regulus sacou a varinha e procurava um bom ângulo para lançar um feitiço.  Sem saber ao certo o que seria... Uma maldição? Algo que causasse muita dor, com certeza... Regulus fez mentalmente uma lista de feitiços que poderia lançar em Sirius, até que a recomendação de Bellatrix veio à sua lembrança: “não faça nenhuma estupidez para não ser expulso da escola. Agora você não é mais um mero estudante, você é nosso informante.” Matar ou ferir gravemente o irmão estava fora de questão... Os garotos a sua frente se mexiam muito, lhe tirando o ângulo.

— Obviamente, meu caro Potter. Deixe-me fazer as honras...

James recolheu a corda e Sirius empunhou a própria varinha. Ele começou a acená-la quando, às suas costas, Regulus gritou:

Impedimenta!— congelando o irmão por alguns instantes.

Tão logo Sirius congelou e estava prestes a cair para frente, amparado por Peter; Lupin apareceu ao lado de Potter, que olhou para ele e entrou na cabine à sua direita, rindo. A presença do monitor fez a multidão se dispersar. Snape passou por Regulus, sem agradecer ou olhar diretamente para ele.

— Obrigado, Regulus. Nos últimos tempos tem sido difícil segurar estes dois. – disse Lupin, enquanto Peter carregava Sirius para dentro da cabine.

“Difícil quando se ignora o que acontece debaixo do próprio nariz,” reprimiu Regulus em pensamento, embora seu rostou se disfarçasse num sorriso.

Então ele viu um rabo de cavalo bastante conhecido acabara de entrar no vagão de serviço.

— Me alegra saber que este não é um problema que me diz respeito... Até mais, Remus.

Remus entrou na cabine para se juntar aos outros. Regulus notou que Lupin carregava a varinha de Snape consigo e franziu a testa.

Regulus deu alguns passos a frente, entrando no vagão de serviço. Ele estava fechando a porta, checando se ninguém o havia visto entrar, quando algo macio o atingiu no pescoço. E então no rosto, e esmagava-lhe o corpo com entusiasmo contra a porta fechada.

— Alice, meu amor, senti tanto a sua falta...

Disse ele, entre o breve momento entre um beijo e outro.

— Adorei o presente de natal que você enviou para mim, Reg – disse ela, finalmente, assim que havia saciado sua vontade de beijá-lo.

Ele afastou-se um pouco e convidou-a para sentar.

— Você está deslumbrante, Alice.

— São seus olhos, Reg. Eu estou a mesma de sempre.

— Então você é deslumbrante. Como pude me esquecer? – ele riu. Na realidade, Alice esava seu uniforme e o rabo de cavalo que ele já conhecia ia fazer quatro anos. Ele acariciou o contorno do rosto dela. – Preciso saber uma coisa...

— Pergunte.

— O que você pensaria de um garoto que resolve sair voando atrás de uma coruja, à noite?

— Aí depende... Nevava?

— Nevava.

— Bem, acho que ou ele é muito corajoso ou muito tolo...

Regulus riu.

— Não acho que seja o caso... Ou eu estaria na Grifinória!

— Você saiu atrás da sua coruja esses dias?

— Eu queria ter entregue seu presente pessoalmente, mas como não sabia o endereço e tampouco acreditava que seu pai fosse deixar eu aparecer na lareira de sua casa...

— Não Reg. Ele enlouqueceria! Você é muito fofo... EU ia adorar ter encontrado você... Agora entendo porque a coruja demorou para querer me entregar o embrulho. Ela estava esperando você chegar!

— Mas eu não cheguei...

— O que aconteceu?

— Bem, estava frio. Comecei a tremer... Eu caí.

Regulus terminou de contar a história toda para Alice, que ficou bastante impressionada, soltando gritinhos de espanto e admiração durante o relato dele. ao fim do relato, ela o encheu de beijos novamente. Regulus riu, “no fim das contas, ganhei mais beijos por ter caído do que eu pretendia entregando o presente.”

— O que estava acontecendo antes no corredor? Ouvi a voz do seu irmão...

Regulus contou a ela a cena que presenciou.

— Eu não acredito que ele possa fazer isso gratuitamente. Severus pode até ter uma aparência estranha, mas é amigo de Lily. Confio nas escolhas dela.

— A-ham.

— Que foi, Reg?

— Ele é meu amigo também...

— Ah, Reg. Mas você tem uns amigos meio estranhos... Veja o Mulciber, por exemplo. Me disseram que ele lançou a Imperio sobre a Mary...

— O Mulciber? Bobagem! Mais fácil ela ter usado uma poção do amor com ele... – Regulus riu, olhando para a janela do trem para disfarçar a mentira. – Sabe, achei estranho, Lupin estava com a varinha de Severus...

— Ah, começou logo na estação. James e Sirius fizeram algo que Severus não gostou, então eles entraram no trem e Severus lançou uma coisa pela varinha, direto nas costas de James. Parecia uma gelatina marrom. Lupin desarmou Severus e o repreendeu por usar a varinha contra James quando ele estava de costas e não tinha feito nada para provocá-lo. Lupin disse que “não queria mais confusão no trem”. Obviamente James não precisaria ter feito nada específico hoje, depois de anos perturbando Severus por nada... Por que é tão difícil de perceber isso?

— E eu que acreditava que ele era justo... No final das contas, é só mais um grifinório estúpido. Ele devia ter tirado a varinha do meu irmão e de James também... Muito conveniente...  – Regulus esbravejava, gesticulando muito – Que mal tinha um pouco de gosma na roupa? Este tipo de mancha qualquer bruxa adulta saberia tirar... Já vergonha e humiliação não é algo que se resolva com um aceno de varinha... E meus pais ainda lamentam que Sirius tenha ido embora. Foi tarde, na minha opinião – bufou.

— Reg, não fale assim... todos nós cometemos erros.

Regulus olhou para ela sem entender, um tanto desapontado: não tinha sido ela a primeira a falar da injustiça dos grifinórios? Mas não discutiu com Alice, não tinham tempo para aquilo. Era incrível como o tempo voava quando estavam juntos.


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