A Breve História de Regulus Black escrita por Mrs Borgin


Capítulo 132
132. Um presente para Alice




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Um presente para Alice

Era inacreditável, mas o Natal parecia ter chegado mais depressa aquele ano. As coisas tinham acontecido de forma tão tumultuada desde o aniversário de Sirius que ele mal conseguia ordenar suas lembranças em uma sequência cronológica. Regulus estava só, no seu quarto olhando pela janela para a rua deserta. A neve caia vagarosamente, rodopiando sob a luz que vinha das poucas janelas ainda iluminadas no Largo Grimmauld deserto. Ele suspirou, sentindo-se aliviado. Muito diferente do que havia sentido ao chegar em casa há pouco mais de duas horas. Nada tinha sido como ele esperava. Embora ele achasse que tinha sido claro em sua carta que ele seria o único filho a retornar para casa, sua mãe não parecia querer entender isso. Mal ele havia aberto a porta e ela se postou em sua frente, sem deixa-lo passar, as mãos na cintura e a cabeça mexendo para os lados para ver quem vinha atrás dele. Alguns instantes depois ela vomitara uma sequência de perguntas sobre onde e o que estaria fazendo Sirius. Como nada que ele dizia parecia satisfazê-la, ela enfim o tinha deixado passar, enquanto sentenciava que no dia seguinte iriam para a casa da avó Irma e o avô Polux.

Ele conseguia compreender que sua mãe quisesse passar os feriados de Natal com a mãe dela, era natural. Mas conforme ele foi caminhando pelo corredor da casa, ele havia percebido que aquilo tinha a ver com o fato de Sirius não estar ali. De alguma forma ela culpava seu pai e o avô paterno por criarem o filho mais velho “solto demais”; o que teria causado sua rebeldia e fuga de casa. Seu pai não havia gostado nada da ideia e Regulus havia presenciado parte de uma discussão até conseguir refugiar-se em seu quarto.

— Com meu Regulus! não! Isso não vai acontecer, Orion! Eu vou pessoalmente cuidar para que ele não tenha contato com essa gentalha! Você praticamente jogou Sirius nos braços daquelas mestiças!

— Não fale bobagem, Burga! – disse Orion, firmemente, sem gritar. A voz de seu pai parecia muito distante.

— Pois bem, eu me lembro “Não tem problema, Burga”, “é só um namorico à toa”, “deixa o menino se divertir, na hora certa ele vai saber escolher”... Ele escolheu! Ele escolheu cuspir no brasão da família! E foi tudo culpa sua e de seu pai! Mas com Regulus isso não vai acontecer. Ah, não vai! Não vou deixar ele se misturar com trouxas imundos!

Aquilo era torturante. Por que não poderiam ter dito: “filho, que bom que você está aqui! sentimos tanto sua falta!”? Por que não deixavam o assunto Sirius-meu-amado-filho” de lado um pouco? Será que ele se tornara invisível? Regulus olhou para o céu havia algo brilhando por entre as nuvens. Desviou rapidamente o olhar, obviamente seria Sirius – a estrela – se exibindo no hexágono de inverno. Ele bufou. Depois riu de si mesmo: como seria possível ver uma estrela quando ainda nevava? Então olhou para o céu novamente. O brilho perturbador havia sumido.

A casa agora estava silenciosa, de alguma forma seu pai havia acalmado sua mãe e provavelmente estariam se aprontando para o jantar.

Alguém bateu na porta. Ele deixou a janela e respondeu olhando para a porta fechada:

— Entre.

A porta se abriu. Era seu pai.

— Como você está, filho? Tão bom tê-lo aqui... – disse Orion, enquanto fechava a porta cuidadosamente às suas costas.

— Eu estou bem, pai. – Regulus respondeu, tristemente. – Como ela está?

— Mais calma agora. Já havíamos conversado, ela sabia que Sirius não viria. Mas não quis acreditar. Há dias que ela alterna crises de choro e raiva. Mas talvez ela tenha razão, acho que errei com Sirius. Devia ter lhe mostrado que achar utilidade para as coisas que os trouxas produzem não quer dizer que somos iguais a eles. Não nos tornamos abelhas porque gostamos de mel!

— Óbvio que não, pai. – concordou Regulus, voltando a olhar pela janela.

— Eu estava pensando... Será que você não poderia conversar com sua mãe? Passar o Natal com Pollux e Irma nessas condições não vai ser nada agradável. E em Bramshill poderíamos cavalgar, nos distrair um pouco...

Regulus ergueu os ombros.

— Sinceramente, pai, para mim tanto faz ... Se mamãe quer ir ficar com a mãe dela, se isso vai acalmá-la, não vejo porque não devamos fazer a vontade dela.

— Está certo, filho. Bem, vamos jantar?

— Daqui a pouco eu desço, pai. Pode ir.

Regulus observou seu pai sair do quarto pelo reflexo na janela, aguardou que fechasse a porta e tornou a admirar os flocos de neve, que agora rodopiavam mais rapidamente.

Não importava onde iriam passar o natal. Nada mais era como antes. Na casa da avó Irma já não havia mais Bellatrix e suas piadas, Andromeda e suas gargalhadas, Narcissa e seus “não me toques”, já não havia Sirius para lançar feitiços proibidos apenas por diversão... Nada tinha mais graça. As primas agora eram adultas e olhavam para ele como se ainda usasse fraldas.

— Argh! – ele gritou. Será que nada acabaria com seu mau humor? Ele olhou seu reflexo na janela. A expressão de tédio lhe deixou ainda mais aborrecido. O silêncio na casa era ainda pior do que ouvir seus pais discutindo. O silêncio fazia com ele que tivesse que lidar consigo mesmo e isso era algo impossível no momento.

Regulus afastou-se da janela e sentou-se na cama macia. Um perfume de lavanda subiu para suas narinas. Ele sorriu e começou a tirar os sapatos, lentamente. Alice não tinha cheiro de lavanda, mas o perfume dos lençóis o fazia pensar na namorada. Então ele jogou-se na cama com o olhar fixo em um ponto qualquer do teto. Flashes de imagens voltaram à sua memória. O sorriso de Alice na aula de Herbologia quando ele, “acidentalmente”, havia sujado o rosto com adubo apenas para voltar à pia para lavar-se e ficar próximo a bancada onde ela estava. Esta imagem se dissipou e foi trocada pelo mesmo rosto redondo da namorada, que agora estava entre tantos outros no meio de uma multidão de rostos desfocados. Era sempre assim: só ela importava, ele só conseguia ver seu rosto. Linda como sempre. A roupa amarela dela lhe lembrava girassóis.  Um lágrima perturbadora escorria em seu rosto. Seu girassol chorava, mas sorriu ao vê-lo segurando o pomo na mão. Lufa-lufa havia perdido a partida por poucos pontos – o que significava que ainda tinha chances de não terminar em último lugar no campeonato – pelo menos tinha sido isso que ele havia dito a ela para reconforta-la, algumas horas mais tarde, embora para isso, Sonserina precisasse perder o próximo jogo – o que ele iria se esforçar demais para não acontecer.

A saudade doía em seu peito e não havia nem um dia que tinha encontrado ela pela última vez. Ele sabia que seu coração antecipava os dias que ficaria sem ela durante as breves férias de inverno. Instintivamente, sua mão procurou seu peito e ele fechou os olhos. E se... E se ele fizesse uma surpresa para a namorada? Ele sabia que o pai dela não queria vê-lo nem se ele fosse um saco de mil galeões. Mas isso não era um impedimento para um Black, seria? Ele abriu os olhos, decidido e levantou-se de um salto. Em sua cômoda estava guardado o último bilhete que ela lhe entregara no trem. Ele procurou rapidamente entre as roupas recém guardadas e cuidadosamente dobradas por Kreacher. Lá estava. Um pergaminho tingido em cor lavanda.

“Querido Reg, esqueci de lhe contar: meus pais se mudaram para Godric’s Hollow. Estou super animada, meu primeiro Natal em minha nova casa. Ela é amarela, fica em frente à igreja local. Não vejo a hora de decorar meu quarto com as fotos que tiramos em Hogsmeade (obviamente vou usar aquele feitiço da desilusão que lhe falei e então poderei olhar para você o tempo todo e eles nem vão desconfiar! Eu amo tanto você! Muitos beijos. Para sempre sua, Alice M.”

Regulus relia o início da carta, decorando a localização: “Godric’s Hollow, casa amarela em frente à igreja.” Deveria ser fácil de achar, casas amarelas eram bastante incomuns entre bruxos... Entre bruxos... Oh, não! E se...? ele correu os olhos para a assinatura. Era a primeira vez que Alice dava alguma referência ao seu sobrenome. “M”. Do que seria “M”? se fosse aparentada de Mulciber ele saberia. Por outro lado, ele achava muito estranho nunca ter ouvido – ou prestado atenção – ao modo como os professores se referiam a ela. Chamar um aluno pelo primeiro nome era bastante incomum. Certamente eles a chamavam de senhorita “alguma coisa”. Regulus franziu a testa, mas “alguma coisa” não lhe veio à lembrança. Sua mente havia bloqueado aquela informação, ele simplesmente não conseguia lembrar o sobrenome dela. Então ele ergueu os ombros e pensou, com o coração cheio de culpa, como se as paredes da casa pedissem uma explicação “posso namorar uma nascida-trouxa sem ter intenção de casar. Papai fez isso.” Mas no fundo ele sabia que esta não era a intenção de seu coração. Alice, para ele, era para sempre.

Regulus vasculhou suas coisas novamente à procura da caixa com um imenso coração de chocolate que ele havia comprado no trem e, na confusão da estação, não havia podido lhe entregar. Abriu a embalagem, colocou a caixa sobre a cômoda e deixou o chocolate ao lado; então pegou um pergaminho e nele escreveu “Toujour à toi”, depois pegou em seu tabuleiro de xadrez o rei e o pressionou contra o centro do coração de chocolate. Ele pegou o coração na mão, esticando o braço para melhor avaliar a impressão. Não estava bom, então ele pegou a varinha e acenou, aguçando as formas. Alice não teria dúvidas que o presente vinha dele. Regulus sorriu, recolocou o chocolate na embalagem, embrulhou com um pergaminho e amarrou com um barbante. Avaliou o embrulho. Não estava realmente bonito, ele queria dar mais. Caminhou inquieto pelo quarto até que uma ideia lhe veio à mente. Aquilo parecia loucura, mas o sorriso de Alice valia qualquer sacrifício.

Regulus vestiu uma grossa capa de viagem, que rapidamente foi enchendo com o que julgava essencial para a viagem. Então, pegou um mapa do país e uma pena, fez um traçado em linha reta que ia de Londres a Godric’s Hollow e o examinou cuidadosamente. “Pelos meus cálculos, devo seguir a 23 graus sudoeste, durante umas quatro horas de viagem na vassoura”, concluiu, antes de socar o mapa em um bolso vazio. “Eu não posso simplesmente aparecer na sala da casa dela com um presente, não é mesmo? Acabaria morto. Tampouco sei aparatar. Está decidido: vou de vassoura mesmo.” Ele nunca havia passado tantas horas voando, até mesmo a partida mais longa de Quadribol havia durado menos tempo. Mas isso não podia impedi-lo. “Vou acordá-la, entregar o presente, ganhar uns dois ou três beijos e voltar para casa antes do café da manhã. Meus pais nem saberão.” Ele tateou os bolsos para checar se tinha tudo o que precisava.

— Varinha... aqui. Presente... aqui. Mapa... deixa eu ver de novo este mapa.

Regulus pegou o mapa de seu bolso e olhou fixamente para ele. Franziu a testa. De repente já não parecia tão fácil chegar à Godric’s Hollow sozinho em uma vassoura. Ele soltou o mapa sobre a cama e começou a andar de um lado para outro. “Preciso encontrar uma solução... Como entregar o presente sem me perder? Eu sei lançar o feitiço-bússola, mas será suficiente? Bem, posso mandar o presente pela Schwartzie. Ela entregaria com prazer e não se perderia. E Alice iria ficar emocionada... E a coruja ia acabar ganhando os beijos que eram para mim! Ah! Isso não! Por outro lado, a coruja não vai se perder...”

O relógio da sala anunciou as dez horas. Estava ficando tarde. Regulus não havia desistido, conforme o tempo passava, mais ele ansiava por sentir os lábios mornos e adocicados de Alice. Beijos que sua coruja ia, provavelmente, receber por gratidão...

“É isso! Vou seguir a coruja! Mando ela entregar o presente e sigo voando atrás!”

Decidido, ele pegou sua vassoura e saiu do quarto, tomando o cuidado para não bater a porta e subiu as escadas até o sótão, onde sua coruja descansava.

— Querida, tenho uma missão para você! - Sussurrou no ouvido da coruja, que acordou assustada, arregalando os olhos para ele – você vai entregar este presente para Alice, em Godric’s Hollow, casa amarela em frente à igreja. – ele explicou, enquanto amarrava o embrulho às pernas da coruja – mas desta vez você não vai sozinha.

A coruja olhou para o puleiro ao lado, onde a coruja de Walburga fingia dormir.

— Não, não é ela. Eu vou com você. Vou voando atrás de você.

A coruja olhou para ele sem entender. Regulus abriu a janela. O vento frio do inverno lhe arrepiou a nuca. Schwarzie não parecia feliz em sair aquela noite, mas levantou voo e saiu pela janela. O garoto montou a vassoura rapidamente e seguiu logo atrás. Na pressa, a bainha de sua capa enroscou na janela, rasgando levemente o tecido. Ele não ligou e seguiu em frente.

Regulus estava seguindo a coruja há vinte minutos quando as casas abaixo deles começaram a rarear, bem como a iluminação da cidade.

Ele não havia previsto isso, mas seguir uma coruja quase negra em uma noite sem lua não era uma tarefa fácil. Ele xingou-se em pensamento, deveria ter lançado um feitiço sobre a coruja ou sobre o presente, para que reluzisse. Schwarzie seguia seu voo sem olhar para trás. Algumas lufadas de vento a faziam desviar de seu caminho, mas a coruja logo retomava a direção correta.

Com uma hora de voo, Regulus já não sentia mais os dedos das mãos, nem os próprios pés. Ele precisava parar e aquecer-se.

— Schwarzie! – gritou. Mas a coruja não se abalou e continuou determinada seguindo em frente.

Regulus tirou a mão direita da vassoura e a colocou sob a capa, em seu abdome. Contraiu-se por conta da desagradável sensação da mão gelada sobre sua pele. Aquela mão não parecia pertencer a ele, continuava dura e sem vida. Pequenos cristais de gelo derreteram, molhando sua barriga e então sentiu uma dor e um formigamento intenso na mão. Regulus gritou, um misto de dor e contentamento o invadia. Sua mão estava viva. O sangue voltava a correr em suas veias. Ele precisava secar a luva antes de tirar a mão debaixo da capa, ou ela congelaria novamente.

— S- sch- schwaaar-zie! – tentou gritar. Mas a coruja novamente não lhe deu ouvidos.

Como ele pegaria a varinha para secar a mão direita se a esquerda parecia morta e soldada à vassoura? A roupa molhada em seu abdome estava começando a congelar e o frio tomou conta de seu corpo, fazendo-o tremer incontrolavelmente. As casas abaixo começaram a se tornar maiores e maiores. Então ele entendeu que estava perdendo altitude. Não havia mais sinal da coruja na escuridão. Uma última rajada de vento o jogou para o lado, fazendo-o desequilibrar-se. “Esta é, sem dúvida, a maneira mais estúpida para se morrer”. Este foi seu último pensamento antes de bater contra uma árvore, quebrando vários galhos em sua queda.  Ele pegou a varinha e lançou fagulhas coloridas para o ar, então desmaiou.

Regulus tentou abrir os olhos, mas suas pálpebras pareciam pesadas demais para atender seu comando. Seu corpo doía insuportavelmente e por alguns momentos ele não se lembrava de nada. Sentiu uma flanela morna e úmida passar por sua testa gentilmente. Por que sua mãe estava fazendo aquilo?

— Ahnnnnnnnnn... – gemeu.

— Ah, você acordou. Olá, garoto. Não se mexa. – disse a voz gentil de uma moça.

Regulus tentou novamente abrir os olhos. Pela pequena fenda que seus olhos conseguiram abrir, ele avistou um par de olhos muito verdes.

— Lily?

— Não, garoto. Não sou sua Lily. Meu nome é Adelia e esta é minha casa e de meu marido Albert.

— Onde estou? – ele disse, tentando mexer-se na cama macia.

— Você está em Bramley. Meu marido foi buscar ajuda na cidade, você parece ter vários ossos quebrados.

— Mas como?...

— Como você veio parar aqui? estou me perguntando o mesmo. O que você fazia no alto daquela árvore? Caiu de um avião?... Improvável. Nunca ouvi falar de tornados por aqui, se bem que o tempo tem estado bastante esquisito. Você não se lembra?

— Não, não me lembro... – mentiu, no mesmo instante que lembrou o que estava fazendo e onde estava indo. A mão direita parecia estar boa, então tateou para ver se encontrava sua varinha, mas não havia nada em seu corpo além da dor. Ele estava nu sob os cobertores. Sentiu vergonha.

— Onde estão minhas roupas? Minhas coisas?

— Calma! Meu marido tirou suas roupas e limpou você antes de cobrir seus ferimentos. Ele achou melhor não colocar as roupas pois você gemia muito e, no final das contas, com duas pernas quebradas você não iria a lugar algum mesmo, não é?

Então era isso, suas pernas estavam quebradas. Tentou mover a mão esquerda. Ela doía insuportavelmente. Pelo menos isso significava que estava viva, não havia congelado com o frio.

— Eu fiz um chá para você. Quer que eu busque?

— Por favor.

Ele ficou observando Adelia se afastar. Seu vestido de lã esticado revelava uma enorme barriga. Ela não havia mencionado a vassoura, nem a varinha. Isso só poderia significar uma coisa: eram trouxas. E ela tinha um pequeno bebê trouxa dentro de si. Tentou sentir desprezo pela jovem, mas o calor das cobertas não lhe permitia isso.

Ela voltou, sorridente, com uma xícara de chá fumegante.

— Eu trouxe alguns biscoitos e peguei um canudo para que consiga beber.

Ele olhou para o canudo colorido que saía da xícara de chá.

— Obrigado. – ele disse, enquanto ela colocava o chá sobre a cama, de modo que ele pudesse beber, acompanhando cada gole que Regulus dava imitando o ato de engolir com a própria boca, como se ele estivesse tão machucado que fosse incapaz de deglutir sem que alguém lhe mostrasse como fazer. Ao se dar conta que fazia isso, ela pediu licença e saiu, o deixando sozinho no quarto.

Regulus respirou fundo, tentando colocar as ideias no lugar. Não conseguia pensar em uma saída para aquela situação. Pernas quebradas, sem roupa, sem varinha, sem vassoura na casa de trouxas. Se seu pai estivesse lá, saberia o que fazer. Se ao menos pudesse pedir a Kreacher que lhe trouxesse roupas limpas... Isso!

— Kreacher? – sussurrou. Era o bastante para um elfo doméstico.

Com um estalo agudo, Kreacher aparatou em sua frente.

— Me traga roupas, depressa! Traga meu pai!

Kreacher fez uma reverência e saiu. Dez longos minutos depois, alguém batia à porta da frente da casa. Regulus ouviu a mulher atender e depois ela entrou no quarto, acompanhada de Orion.

— Filho! Que bom que o encontrei! Nosso avião aterrissou num campo mais à frente, felizmente ninguém mais se machucou.

— Pai, minhas pernas... E preciso de roupas...

— Eu peguei alguma coisa em sua mala, imaginei que estivesse sujo ou molhado... E trouxe uma maca do avião. Felizmente esta tem rodas, vou poder leva-lo em segurança até o carro. – então virou-se para Adelia – se a senhora puder nos dar licença, eu sou médico, vou refazer as ataduras em meu filho, vesti-lo para depois leva-lo para casa.

— Oh, sim, senhor Orion. Fiquem à vontade. – respondeu Adelia, olhando para a maleta ao lado de Orion que ela não havia notado quando ele entrou e agora vasculhava, tirando para fora ataduras e um estetoscópio. A mulher saiu, fechando a porta atrás de si.

— Filho, que bobagem foi essa de vir atrás do seu irmão? Quando sua mãe entrou no quarto e não o viu, ficou enlouquecida! Felizmente encontrei o mapa. Então percebi que sua vassoura não estava no sótão e deduzi que você havia saído. Mas que loucura! Se você tivesse falado comigo, iríamos juntos até Sirius. Se bem que não acredito que isso o fizesse querer voltar...

— Sirius? – Regulus franziu a testa. Então lembrou. Sirius estava morando com os Potter em Godric’s Hollow. – Eu queria fazer uma surpresa, pai...

— E que bela surpresa, encontrar você todo quebrado na casa de trouxas... Realmente, isso foi algo inesperado. – disse Orion, enquanto apontava a varinha para os ferimentos, estancando o sangue com feitiços.

Tão logo Regulus estava vestido, Orion disse:

— Espere aqui. Vou buscar a maca.

— Mas eu posso andar, pai. Seu feitiço remendou minhas pernas.

— Eu sei... mas ela não sabe. Um pouco de teatro não vai fazer mal algum... – disse e saiu do quarto, voltou em seguida, empurrando uma maca com rodas. Adelia vinha logo atrás.

Orion colocou o filho deitado na maca cuidadosamente. Depois o empurrou para fora do quarto. Os dois agradeceram bastante a mulher pelos cuidados e saíram. Orion havia estacionado o carro em frente da casa. Ele rapidamente abriu a porta traseira e acomodou o filho, dobrando e guardando a maca no porta-malas. Adelia cobriu Regulus com uma manta e se despediu dos dois.

Tão logo deixavam a casa da senhora Adelia, Regulus disse:

— Minha varinha e minha vassoura. Acho que estão em alguma árvore por aqui. Orion parou o carro e apontou a própria varinha em várias direções, lançando o feitiço “accio”. Não demorou muito para que a varinha e a vassoura de Regulus estivessem com eles no carro.

— Pai, porque o senhor simplesmente não apagou a memória dela e usou magia na frente dela? Não ia precisar de tanto teatro...

— Por dois motivos: o primeiro é que o marido dela havia saído à procura de ajuda para você. Deve ter falado com uma porção de gente sobre o que aconteceu. Seria muito difícil encontrar a todos para alterar as memorias...

— E o segundo?

— Porque ela está grávida. Ela poderia não entender porque estava com aquela barriga enorme caso eu exagerasse no feitiço... E, além disso, não se tira a memória de uma mulher grávida...

Regulus olhou para o pai com curiosidade, mas não comentou e nem perguntou nada. O movimento do carro e o cansaço lhe embalaram num sono profundo.


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