A Breve História de Regulus Black escrita por Mrs Borgin


Capítulo 128
128. Duelos de Legilimência




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Duelos de Legilimência

Nos dias que se seguiram, a conversa entre os garotos não poderia ser outra: todos estavam curiosíssimos, levantando hipóteses das mais improváveis para tentar descobrir o que estaria planejando Lord Voldemort e para quê ele precisava daquela garota. Crouch, por sua vez, já havia comentado com todos os que queriam ouvir e os que não demonstraram o menor interesse no assunto, uma história sobre como o Lord das Trevas teria ficado impressionado com sua capacidade em tomar decisões rápidas e acertadas. Na sexta ou sétima vez que Crouch bradava seus feitos na sala comunal, a história já incluía uma luta lado a lado com Voldemort, contra um exército de Aurores.

Neste meio tempo, Muliber havia mudado de expressão facial e não causava mais medo nos colegas de casa. Agora ele mantinha um sorriso constante e amigável no rosto e as fofocas que corriam pelo castelo falavam que isso se devia ao início de seu namoro com Mary MacDonald. A garota, alías, circulava em torno dele e suas bobagens como um satélite, o que ninguém conseguia entender muito bem, pois na última partida de quadribol antes de iniciar o namoro, eles pareciam nutrir um pelo outro um ódio mortal.

Regulus havia deixado Alice próximo da escada que levava às cozinhas e caminhava despreocupadamente em direção à torre de Astronomia, onde encontraria com Severus. O vento uivava, entrando pelas frestas mais improváveis do castelo, anunciando uma tempestade que prometia castigar aqueles que insistissem em ficar do lado de fora do castelo. Estaria Severus a sua espera na escada? Um som alto vindo do primeiro degrau da escada que subia à torre da astronomia indicava que aquela não era uma boa hora para estar lá. Pirraça jogava apagadores e pedaços de giz, fazendo-os pipocar degraus abaixo, num sinal de que sofria de tédio. Regulus recuou. Não gostava de encontrar com Pirraça, não tinha tempo para sua brincadeiras.

— Psiu! Por aqui.

Acenou Severus, um pouco mais à frente, sumindo por uma portinhola. Regulus o seguiu, esgueirou-se pela portinhola e a fechou atrás de si. Eles estavam em uma saleta de teto inclinado pelo telhado, escura e que cheirava a pó. A Regulus, lembrava o sótão da casa de sua avó Irma, exceto pela falta dos objetos que deixavam o cômodo da casa da avó parecendo um depósito de uma loja de artigos das trevas. Regulus ainda se lembrava de quando a prima Bellatrix havia prendido ele e Sirius no sótão. Tinha sido uma divertida tarde de descobertas.

Severus conjurou uma chama dentro de um pequeno pote de metal chamando a atenção de Regulus, de luz tão fraca quanto uma vela de aniversário.

— Que ventania, não?

— Pois é, ainda bem que encontrei este lugar.

— É mesmo. – respondeu Regulus, examinando um pequeno pedaço de pergaminho colocado na parede. Era um convite para um clube de estudos avançados em poções, datado de um século antes. Ele então virou-se para Severus. – Não teríamos como ficar na torre...

— Ainda mais com Pirraça tomando conta das escadas. Como estão as coisas na sala comunal? Ninguém o viu sair, viu?

— Ah, não, não vim de lá... eu estava com Alice.

— Pensei que vocês não fossem mais se encontrar... e que você mentiria para mim se continuasse a encontrar com ela.

— E desde quando consigo esconder meus segredos de você, Severus? Ou, por acaso, não vamos praticar Legilimência esta noite?

Severus riu-se, sentindo orgulho de si mesmo, ao notar que o amigo o reconhecia como um legilimente. Regulus não se importou. Acendeu uma tocha na parede da sala com um aceno de varinha e virou-se para o amigo. A luminosidade da sala dobrou.

— não acho que precisemos ficar na penúmbra, não deve ter muita gente rondando por aí com um tempo desses e à essa hora.

— Você tem razão. Sente-se. – disse Severus, conjurando uma poltrona que ocupou metade da pequena sala, depois conjurou outra para si, em frente à de Regulus.

— Confortável. Eu sei transfigurar um objeto em poltrona, mas conjurar uma do nada, ainda não aprendi, – disse Regulus.

— Professora McGonagall costuma ensinar a fazê-lo no sétimo ano. Eu aprendi com minha mãe, ela é muito boa em criar coisas do nada... Ahn... Bem... Ninguém viu você mesmo, não é?

— Não, ninguém me viu. A única pessoa para fora da Sala Comunal era Mulciber, mas ele estava com a namorada, nem notou eu passar. Aliás, falando nisso... foi a Império, não? A garota parecia ter nojo de Mulciber cada vez que ele se aproximava dela no quadribol e agora fica aos beijos com ele o tempo todo.

Severus riu.

— Acho que sim... e foi com isso que ele conseguiu entrar para o nosso grupo

Regulus riu.

— Acho que valeu o sacrifício, então...

— Ora, Black. Ela nem é tão feia...

— Não, não é... Mas já namorou Sirius, não deve ter nada de bom na cabeça...

— Por enquanto eu acho que Mulciber está mais interessado em beijá-la do que saber o que ela tem na cabeça.

Regulus riu.

— Bem, vamos começar? Eu gostaria de tentar primeiro.

Severus acenou um “sim” com a cabeça.

Legilimens!

Regulus mergulhou seu olhar o mais profundamente que pode nos olhos do amigo, a varinha ainda apontada para ele. Aos poucos a escuridão dos olhos de snape foram dando lugar a uma pequena perturbação na imagem, acompanhada da voz de Lily Evan que choramingava algo incompreensível, e da voz de Severus, pedindo-lhe desculpas: “eu não tinha a intenção, Lily... obviamente que você não é como os outros, você é especial... talvez tenha sido adotada...” Severus, então, cobriu os olhos com as mãos, envergonhado.

— Não era para você ter conseguido. Eu... eu não estava preparado.

— Severus, e todo aquele discurso sobre “precisarmos estar preparados sempre, pois quem quer ler a nossa mente não pedirá licença”?

— Você tem razão... Me desculpe. Legilimens!

Regulus sentiu a magia de Snape, seu olhar, penetrando em seus olhos e fixou sua mente em uma única lembrança, monótona e chocante, que deveria deixar o amigo desconsertado: a imagem da cabeça encolhida de Floffy pendurada no hall de entrada de sua casa. Severus desistiu e abaixou os olhos.

— O que era aquilo?

— A antiga elfo de minha casa. Mamãe, seguindo a tradição dos meus antepassados, lhe concedeu uma morte digna e um local de destaque na galeria dos elfos no hall de nossa casa.

Severus ergueu uma sobrancelha. Regulus sorria.

— Curioso... Sua mãe é sem dúvida uma mulher muito meiga— ironizou.

— Ela é muito ligada às tradições. Acho que é importante, nos faz lembrar quem somos...

— É, sem dúvida... Legilimens!

Novamente o rosto de Floffy foi oferecido para Severus, que tentou ir além e tudo o que encontrou foi a imagem hiperaumentada da roelha de Floffy. Ele abaixou a varinha. Aquilo era muito desconfortável, então Regulus havia aprendido como bloquear?!

— Eu não entendo...

— O que você não entende, Severus? Você está vendo aquilo que eu quero que veja e nada mais. Não vou compartilhar minha memória com você... – Regulus riu maliciosamente, da mesma forma que fazia o irmão que tinha lábios idênticos aos seus. Sem dúvida, uma visão bastante perturbadora para Severus.

Legilimens!— falou Regulus, aproveitando talvez, um momento de vulnerabilidade do amigo, com a varinha apontada para seu cenho.

Desta vez a voz de Lily Evans veio acompanhada de imagem, a garota estava sentada no chão com as pernas cruzadas. Próximo aos joelhos de Lily, Regulus via os joelhos do amigo pela perspectiva dos olhos de Severus.

“Mamãe está muito orgulhosa de mim, Sev. Ela não vê a hora em que eu vou poder fazer magia em casa e ajuda-la com os afazeres domésticos. Ela disse que então terá tempo sobrando para ler e inventar novos enxertos de plantas. Minha mãe adora jardinagem, uma pena que não possa se dedicar mais...”

Severus fechou os olhos e Regulus abaixou a varinha. Severus levantou-se, tinha muita raiva em seu olhar.

— Saia, Black!

Regulus levantou-se e encarou Snape.

— Que bobagem é essa, Snape? Só por que consegui invadir sua mente e você não conseguiu ir além na minha não é motivo para pararmos. Pensei que tínhamos uma parceria aqui.

— Que bom que você falou em parceria, pois não vejo como parceiros debocham um dos outros quando o outro apresenta dificuldades! – gritou Severus.

— Escuta aqui, fiz exatamente o que você fez comigo, me colocou vulnerável e usou Legilimência contra mim. Não é isso que você vive falando? Que ninguém vai avisar antes de invadir sua mente? Eu pensei que isso fosse um treinamento, uma parceria! – gritou Regulus de volta.

— QUEM ESTÁ AÍ?

— A voz aguda de Vespera Sinistra, professora de Astronomia atingiu seus ouvidos como se fosse o grito agourento de uma Banshee e, enquanto Severus fazia as poltronas desaparecerem, Regulus apagou a tocha e a chama azul que Severus havia conjurado. Então os dois mergulharam para as sombras de um canto especialmente empoeirado.

A porta se abriu e a figura esguia da professora entrou lentamente porta adentro.

— Lumus!

Então, bastou uma olhada rápida:

— Meninos, levantem-se. – disse, sombriamente. – Vou leva-los a Slughorn.

— Professora, estávamos apenas estudando.

Vespera não se deu ao trabalho de responder à desculpa de Regulus, apenas olhou-o com severidade e aguardou que os dois levantassem do chão e a seguissem. O caminho até as masmorras era longo. A professora seguia na frente, os dois alunos caminhando atrás, quase sem se olhar, pensando em uma boa desculpa para estarem fora da cama.

Após longos minutos, os três chegaram aos aposentos de Slughorn, que abriu a porta após alguma insistência das batidas de Vespera. O professor usava um roupão verde esmeralda e chinelos de couro de ovelha, bastante quentes.

— Meu caro Horace, estes dois estavam escondidos em uma sala em minha torre, gritando.

— São dois bons alunos, não entendo. – disse Slughorn, olhando para os dois – Explicações?

Regulus abriu a boca, mas foi Severus quem falou:

— Estávamos estudando, senhor. Estou com dificuldades em Astronomia, preocupado com os NOM’s. Black e eu fomos até a torre para uma revisão da matéria. Mas quando chegamos, Pirraça bloqueava a escada, então entramos naquela sala para estudar teoria e esperar que Pirraça fosse embora.

— E Black saberia mais sobre Astronomia do que você, um quintanista?

Severus abaixou a cabeça.

— Infelizmente, senhor.

— Senhor, respiro Astronomia desde que nasci. Minha família é a própria Via-Láctea... Ou se esquece quem somos? Black, senhor. A brincadeira mais popular de nossos natais em família é ver quem consegue identificar o corpo celeste ou constelação que deu origem ao seu nome... Acredite, é mais divertido... Bem, pelo menos nas noites sem tempestades de neve...

— Imagino... E porque não estudaram na Sala Comunal? Sabem que não é permitido caminhar pelo castelo a uma hora dessas.

— Minha culpa, senhor. Eu não queria que os outros me vissem sendo ensinado por um quartoanista.

— Entendo. – Slughorn olhou para Regulus e depois para a professora Vespera. Ele sabia que ela esperava que ele desse uma boa punição nos dois, mas ele não poderia deixar Regulus em detenção, ou ele iria perder os treinos de Quadribol. Como diretor da Sonserina, não poderia correr o risco de perder o jogo. Não quando Grifinória havia ganho a primeira partida e McGonagall havia comentado na sala dos professores que tinha o melhor time. – Bem, não vejo porque aplicar-lhes uma punição muito severa já que estavam apenas estudando, afinal Hogwarts ainda é uma escola. Vamos tirar... bem, dez pontos de cada um e ... – fez uma breve pausa, analisando a expressão de Vespera. – e vamos combinar um horário de estudo para os dois, em lugar privado. Podem vir à minha sala todas as terças-feiras à noite, após o jantar para estudar. Usem minha sala. Têm permissão para isso, desde que voltem para seu dormitório às 22:00.

— Obrigado, senhor. – disseram os meninos, juntos, abaixando a cabeça.

— E senhor Snape, venha à minha sala às quartas-feiras à noite e eu lhe darei algumas dicas extras, será um prazer. Se o senhor tivesse me falado antes, tudo isso poderia ter evitado. – disse Vespera, sorrindo. Parecia satisfeita com a solução de Slughorn e, talvez, até um pouco tocada pelo interesse de Severus em estudar sua matéria mais a fundo.

— Agora podem ir para os seus dormitórios. Boa noite. – disse Slughorn para os garotos. – Vespera, uma xícara de chá?

— Ah, sim, obrigada Horace. Tem uma ventania nos corredores que levam à minha torre, um pouco de chá quente vem a calhar, – disse Vespera, acomodando-se em uma confortável poltrona enquanto observava os garotos saírem. – Boa noite, meninos.

Regulus apontou sua varinha para o corredor escuro à sua frente:

— Lumus!

E os dois garotos começaram a caminhar em silêncio. Quando estavam à porta da Sala Comunal da Sonserina, Severus, num sussurro, parou e perguntou:

— E agora?

— Daremos um jeito. Podemos começar a praticar sem pronunciar as palavras e sem usar a varinha, já que ambos sabemos como saber...

Os dois voltaram a caminhar lentamente, enquanto continuavam a conversar aos sussurros.

— Erm... Você bloqueia melhor que eu.

— Ainda estou treinando, Severus. Minha dica é ter uma imagem coringa na mente, algo como uma página em branco, mas mais atraente que uma página em branco, enigmática, talvez. Para todos os momentos que sentir que alguém tenta compartilhar seus pensamentos, você possa apresentar isso e distrair a pessoa. Como eu fiz com você.

Severus ergueu as sobrancelhas.

— Interessante. É isso que você faz com seu pai?

— Não. Com meu pai e com Dumbledore é mais difícil. Eles conseguem penetrar mais fundo e perceber algo antes que eu possa bloquear... Aí o segredo é misturar a lembrança verdadeira com outras criadas na hora, ou omitir fatos, embaralhar para dar outro sentido. Não sei bem como explicar, fiquei pensando vários dias para conseguir dar esta resposta, pois sabia que você ia perguntar...

Severus sorriu.

— Desculpe por esta noite. Você me lembrou seu irmão, ele me tira do sério.

— Sirius tira qualquer um do sério. Vamos? – perguntou Regulus, tocando a maçaneta da porta da sala Comunal que acabara de se materializar na frente deles.

Regulus parou por um segundo antes com a mão na maçaneta sem abrir. Ele acabara de se dar conta que no dia seguinte seria o aniversário de Sirius e um sentimento inexplicável tomou conta de seu coração.

— Boa noite, Severus. – disse, ao entrar e seguir até a porta do seu dormitório sem olhar para trás ou esperar a resposta do amigo.


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