A Breve História de Regulus Black escrita por Mrs Borgin


Capítulo 127
127. Criando cobras




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/745463/chapter/127

Criando cobras

Ventava em Hogwarts, varrendo todo o tipo de folhas coloridas que as árvores quase desnudas da floresta Proibida puderam derramar. O luar os obrigava a andar pelas sombras, uma vez que desde o início das aulas Filch havia lacrado a antiga passagem secreta que os levava a Hogsmeade em segurança. Regulus pensava que a qualquer momento seriam pegos, pois não era difícil ver um bando de garotos se esgueirando pelas paredes e sombras do castelo. Por que mesmo é que eles tinham que ir todos juntos? Ele vasculhou sua mente por uma resposta, mas não encontrou: ninguém havia lhe explicado coisa alguma. Aquilo era um tanto incômodo. No tempo do clube de duelos, Rosier exigia que não formassem grupos maiores que dois para não chamar atenção. Definitivamente, sair todos juntos não era uma boa ideia.

Aquele era o segundo encontro com os Comensais da Morte desde o início do ano letivo e Regulus sentia o coração bater forte a cada passo. Lucius havia mencionado algo como uma aula prática e todos tinham muitas expectativas a respeito. John vinha logo atrás dele e, a sua frente, Snape e Avery. Algo no bolso de Snape lhe chamou a atenção.

— Duas varinhas? Pra que você está levando duas varinhas, Severus? – Regulus sussurrou, sem conter a curiosidade.

— Shhhhhhh.... – fizeram Avery e John.

— Esta é de Mulciber. Vou lhe fazer um favor... – sussurrou Snape, virando-se de costas para mostrar ao amigo, sem parar de caminhar.

— Shhhhhhhhhh.... – fizeram Avery e John mais uma vez. Snape virou-se para frente, mas antes, olhou por cima do ombro de Regulus para John com cara feia. Não gostava de ser reprimido por um aluno mais novo.

— Agora falta pouco, precisamos apenas caminhar ladeira abaixo próximo a cabana do guarda-caças e logo estaremos no portão principal... – disse Avery.

— E como você supõe que vamos conseguir passar pelo portão? A esta hora está mais do que fechado. – perguntou Regulus, irritado em ter que seguir as orientações de um quintanista. Onde estaria Rockwood?

— Se você estivesse com a gente na sala comunal ontem à noite, saberia o plano todo. – reclamou Crouch.

Regulus não respondeu, ele estava com Alice e esse não era um assunto que ele gostaria de discutir. Avery continuou:

— Rockwood levou esta tarde até a cabana do guarda-caças cinco garrafas de whisky de fogo, e as deu para o idiota, como se fosse um pagamento por aulas particulares sobre criaturas mágicas perigosíssimas, assunto do NIEM. Rockwood deu duro para suportar Hagrid falando sobre dragões a tarde inteira só para conseguir roubar as chaves dos portões.

— Mas vocês ouviram o diretor falar ontem durante o jantar, a segurança do castelo foi reforçada.

— Mas Rockwood ouviu Hagrid comentar que Dumbledore confia tanto nele que colocou um feitiço contra-feitiço em suas chaves, para o caso do gigante ter que ir a Hogsmeade... Muito útil. A essa hora o bobalhão estará dormindo e devolveremos a chave quando voltarmos. Vai dar tudo certo e ninguém vai saber.

Rockwood saiu das sombras detrás da casa de Hagrid e acenou para eles apressarem o passo. Ao chegarem ao portão, ele passou a chave pela abertura e deu duas voltas. O portão se abriu, para o alívio de todos.

— Rápido, vamos! – sussurrou.

Os garotos seguiram pela estrada que levava a Hogsmeade e, após uma grande rocha estranhamente colocada no meio do caminho, eles viraram à esquerda para dentro de um matagal de folhas secas. Caminharam pouco menos de dez passos e encontraram uma caneca enferrujada que começou a brilhar. Ninguém precisou alertá-los, rapidamente todos tocaram a caneca, que era, na verdade, uma chave de portal.

Os garotos foram transportados para o telhado de uma construção, no meio de uma grande cidade trouxa; postados em cada um dos cantos do prédio, um Comensal da Morte encapuzado olhava para eles. Silenciosamente, os mascarados se aproximaram deles.

— Estamos sobre uma escola, logo vocês verão. Queremos que desçam até o chão, sem chamar a atenção de ninguém. Há um grupo de alunos que se reúne embaixo daquela árvore. Queremos que deem uma lição neles, mas lembrem-se: não pode haver confronto direto. Eles não podem saber o que os atacou. – disse Lucius, reconhecível apesar da máscara, por conta de sua inconfundível voz arrastada.

— Qual a nossa motivação, senhor? – perguntou Amifidel. Lucius o olhou com desprezo e não respondeu. Rosier, que estava próximo aos garotos, explicou:

— Nem sempre sabemos o que desencadeou a punição. São ordens que vêm de cima e não questionamos as ordens da Cúpula, dos “marcados”, muito menos de nosso senhor. Apenas executamos.  E além do mais, são trouxas. A existência deles em si já é suficiente para justificar nossos atos, não é?

— Obrigado, garoto. – disse um mascarado alto e forte às costas de Rosier.

— E se ocorrer alguma morte? – perguntou Jack.

— Pode ficar tranquilo que limparemos o terreno para vocês. Agora podem ir! Nós assistiremos daqui.

Os garotos se aproximaram da mureta que escondia o telhado e espiaram. Havia um grupo de uns quinze garotos de mais ou menos a mesma idade deles, conversavam, riam e ouviam música.

— Não me parece certo ataca-los. Não estão fazendo nada. Quem não gosta de sair de casa e se reunir com os amigos? – sussurrou Amifidel.

— Se você vai amarelar, Ami, então pode voltar para casa. Aqui não tem lugar para covardes. Vocês ouviram o que Rosier disse, não precisamos saber o porquê punimos, se nos pediram é porque eles merecem. – respondeu John.

Foi nesse instante que dois garotos se aproximaram, carregando entre eles uma menina, que não parecia estar completamente consciente nem vestida adequadamente. Ainda do alto do telhado, os garotos observaram os garotos trouxas fazerem uma roda e então rodarem a garota entre eles, passando seu corpo inerte de mão em mão.

— Para mim isso basta. Vamos lá! – disse Regulus, nervoso.

— Vamos nos dividir, vocês quatro vão por ali, e nós por aqui. Podemos alternar feitiços de um lado e outro, assim quando os garotos procurarem o que os atingiu, o outro lado ataca, distraindo a atenção.

— Boa ideia, Jack! Vamos? – disse Regulus, excitadamente.

Avery, Snape e Rockwood não pareceram muito satisfeitos por não ter sido eles que tinham tido a ideia, mas como não lhes ocorreu nada melhor, seguiram a sugestão de Jack. Crouch juntou-se a eles.

Regulus, Jack, John e Amifidel deslizaram por um encanamento de escoamento de água de chuva. Regulus, à frente, rolou o corpo no chão, rastejando pela sombra do alto prédio. A conversa continuava alta e animada entre o grupo de trouxas, que agora cantarolava uma espécie de cantiga de roda de horror, enquanto continuava a rodar a menina no centro, que agora parecia mais acordada e tentava se encolher e se esquivar, sem sucesso. Os cabelos encaracolados da garota lembrava os de Alice e isso aumentava sua sede por vingança e punição.

Um baque surdo indicava que Amifidel, o último a descer, já estava ao seu lado. Os garotos esticaram os braços para frente, ainda deitados no chão e iniciaram o ataque. O primeiro a atacar foi Amifidel, com um feitiço do corpo preso. Um garoto alto e magro caiu no chão. Os garotos na olharam para o garoto no chão, sem entender. Então foi a vez do outro lado atacar, Regulus não viu quem havia lançado, mas um segundo garoto curvou-se para frente e caiu.

Demorou algum tempo para que os garotos trouxas percebessem que estavam sob ataque, viravam-se em roda, tentando olhar de onde vinha aquilo que os atingia e por mais arregalados que seus olhos estivessem, nada conseguiam ver através da escuridão. Quando os primeiros tentaram correr, foram estuporados. Feitiços e mais feitiços estuporantes cortaram o ar vindo de todos os lados, até que a única pessoa em pé era a garota, que se encolhia e chorava. Os comensais da morte desceram dos telhados e se postaram ao lado dela. O comensal alto e forte apontou sua varinha para ela e a estuporou também. Neste instante, um Comensal da Morte aparatou diante de todos.

— Onde está a garota? – perguntou, olhando para os lados.

— É meu pai. – sussurrou Avery, orgulhoso.

 - Quem fez isso? – perguntou ao encontrar a garota no chão. Olhou rapidamente para os lados e, ao notar a tentativa do Comensal alto e forte de esconder a varinha que ainda apontava para ela, gritou – Goyle! Você não a matou, matou? Eu disse para o Lord das Trevas para não mandar um bando de incomepetentes para fazer o serviço! E o que fazem estas crianças aqui?

— São meus aprendizes... e – eu p-pensei que... – gaguejou Rosier.

— Rosier, meu caro. Desde quando você tem aprendizes? Você é o aprendiz... Lucius? O que tem a dizer a respeito?

— O Lord das Trevas está ciente de tudo o que fizemos aqui esta noite. Se você quer discutir, podemos... – Lucius puxou a manga das vestes para cima expondo a marca negra tatuada no braço.

— Não será preciso...  – apressou-se em dizer Avery pai. – vamos leva-la. Você, venha comigo. – apontou para Goyle, que raídamente obedeceu.

— Para onde levaram a garota? – perguntou Regulus, curioso, ao se reunir com o restante do grupo.

— Não é da sua conta, garoto. – respondeu Lucius, erguendo o pé para passar pelo corpo de um garoto desmaiado no chão.

— Vocês fizeram um bom trabalho aqui. – disse Rosier.

— Não, não fizeram. – Discordou Lucius – vocês deveriam ter lançado mais maldições, feito eles sofrerem antes de estuporá-los. Fazendo assim, que lição estes trouxas aprenderam? Eles nem sabem que foram punidos, sabem apenas que dois passaram mal antes de todos desmaiarem. Vão pensar que foi efeito tóxico de algum gás ou algo assim. Tsc tsc tsc. Não podemos deixar por assim mesmo.

Lucius pegou a varinha a apontou para o primeiro garoto desacordado.

— Avada Kedavra!

A maldição da morte não parecia nada além de um jato de luz verde que iluminou o rosto de todos. O garoto que estava sob o feitiço do corpo preso arregalou os olhos numa expressão de horror. Regulus virou o rosto para o outro lado.

— Lucius, lembre-se. Não devemos mata-los. Apenas causar pânico. Que utilidade terão se estiverem todos mortos? – disse o quarto Comensal, que Regulus identificou como sendo Rodolphus Lestrange, marido de sua prima Bellatrix. Era estranho ouvir as vozes deles ali quando estava acostumado ouvi-las à mesa de jantar da avó.

Lucius não respondeu. Severus aproximou-se de Lestrange e conversou em voz baixa, depois lhe entregou a varinha de Mulciber. O bruxo a examinou, tocou a ponta da varinha de Mulciber com a própria varinha e então soltou uma gargalhada, devolveu a varinha a Snape e virou-se para a árvore central e num gesto displicente, a explodiu. Depois colocou partes de tocos cobre o garoto morto e algumas brasas sobre os outros, ainda desmaiados no chão.

— Tudo certo. Mulciber tem a autorização. – disse Severus, aproximando-se de Regulus.

— Que bom. – disse Regulus sem prestar muita atenção ao que dizia, pois atrás de Severus, próximo da árvore em chamas, havia pequeno caldeirão, de onde subia uma fumaça fétida. Ele se aproximou para examinar, Severus o seguiu de perto.

— O que você acha que é? – perguntou a Severus, que acenou sua varinha fazendo o líquido remexer levantando um cheiro horrível.

— Para mim isso não passa de meias sujas e ... parecem vísceras de algum animal. Não é uma poção conhecida. – respondeu o amigo, torcendo o nariz.

— Vamos. – Ordenou Rosier, acenando para eles. Os garotos aproximaram-se de Rosier.

— Eram bruxos? – Regulus perguntou para Rosier, num sussurro.

— Óbvio que não. Brincavam com um caldeirão como se fossem.

Regulus olhou para os garotos espalhados no chão. O garoto que Amifidel havia enfeitiçado continuava a olhar assustado para eles.

— Não seria melhor alterar a memória dele? ele ouviu nomes, viu nossos rostos... – perguntou a Rosier. Crouch, que estava próximo, apontou a varinha:

Avada Kedavra!

Lucius virou-se para ele:

— O que você está fazendo, garoto?

— Ele estava acordado, ouviu o nome de vocês, viu os nossos rostos... Fiquei preocupado.

Regulus, ao ouvir isso, revirou os olhos para cima. Mesmo depois de tudo o que haviam passado no Ministério, Crouch continuava sendo Crouch mesmo.

— Bem pensado – disse Lestrange – como se chama?

— Crouch, senhor.

— Crouch, hein? Vou recomendá-lo ao Lord das Trevas.

— Não será preciso.

A voz fria de Lord Voldemort vinha de cima do telhado. Os garotos viraram-se para olhar para ele, mas para sua grande decepção, Lord Voldemort continuava sendo um nome sem rosto, uma figura alta e encapuzada cujo rosto era mantido nas sombras. A voz dele causava calafrios e excitamento em Regulus e seus amigos.

— A garota?

— Foi levada conforme suas ordens, senhor. – respondeu Lucius, chamando a atenção para si. Assim que terminou de falar, os garotos voltaram a olhar para Voldemort, virando seus pescoços como quem assistia uma partida de tênis.

— Muito bem. – respondeu Voldemort pouco antes de aparatar.

O vazio deixado por Voldemort pareceu algo difícil de assimilar, pois os garotos continuaram a olhar para lá sem piscar. Regulus engoliu em seco e olhou para o lado. Rosier também olhava para o alto do telhado.

— Quem era a garota? Era bruxa? – perguntou para o antigo monitor em um sussurro quase inaudível.

— Não. Um aborto nojento. Roubou a varinha do próprio pai e tentava impressionar os garotos. Mas o Lorde das Trevas a queria, tinha algo para ela. – respondeu, erguendo os ombros.

— Por que?

— Não é da sua conta. – respondeu rispidamente Rosier, quando notou que Lucius começava a se interessar na conversa dos dois.

— Eu pensei ter lhe dito que explicações não são necessárias, não? Ou alguém aqui sentiu pena desses trouxas imundos?

— Obvio que não, Sr Malfoy. Eu estava apenas curioso, pois vi o caldeirão...

Lucius olhou para o caldeirão com desprezo, acenou a varinha e o fez sumir.

— Vamos. Sem perguntas. Sem comentários.

Malfoy parecia ter pressa de sair dali. Assim que todos os garotos estavam, mais uma vez, reunidos sobre o telhado, Lucius olhou para o céu. Hesitou por um instante, depois ergueu a varinha para o alto e gritou:

Morsmordre!

 O jato de luz verde, serpenteante, subiu ao céu e se abriu em uma imensa caveira, cuja língua em formato de cobra parecia querer lamber as estrelas.

— Aqui. A chave de portal os deixará no mesmo lugar. – explicou Rosier.

A caneca enferrujada começou a brilhar novamente e todos os garotos correram para tocar nela, no último instante, Amifidel puxou Regulus pelo braço e o levou consigo de volta a Hogsmeade.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Breve História de Regulus Black" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.