A Breve História de Regulus Black escrita por Mrs Borgin


Capítulo 123
123. Cineminha




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/745463/chapter/123

Cineminha

No escuro de seu quarto, Regulus ainda deitado em sua cama, apontava para o teto a varinha imaginária, treinando o gesto tão precioso que o permitia invadir mentes. A noite anterior tinha sido intensa, mesmo que depois de obter êxito ele e Severus não tivessem mais treinado Legilimência. A experiência tinha sido um pouco assustadora e constrangedora. Ainda mais quando ele não podia usar a própria varinha o quê, concluía ele, lhe deixava em desvantagem em relação a Severus.

Mesmo atribuindo um título de nobreza ao amigo para justificar toda sua habilidade, ainda assim era muito constrangedor não conseguir bloquear sua mente e impedir um mestiço de invadi-la. Regulus culpava a varinha (e Sr. Perkins e Sr. Weasley e até mesmo Sirius) por toda sua fragilidade em não conseguir bloquear seus pensamentos. Obviamente iriam tentar de novo em Hogwarts, onde ele certamente levaria a melhor. Se Severus era um príncipe, ele se revelaria rei. O rei da Oclumência e Legilimência. Assim tinha sido nomeado e esse seria seu destino. Ele sabia, nasceu para brilhar.

Levantou-se animado e trocou de roupa, deixando para trás um pequeno rastro de lençóis emaranhados e o pijama largado displicentemente no chão. Kreacher arrumaria aquilo. Não era trabalho para um rei.

Ele caminhou preguiçosa, mas decididamente até o banheiro. A porta estava, obviamente, entreaberta, já que era assim que ele a havia deixado na noite anterior e agora era seu único usuário, já que os pais tinham o seu próprio banheiro. Único usuário do banheiro, único filho, um rei. Poderia ficar no banheiro quanto tempo quisesse que Sirius não estava lá para incomodar. Ele lavou o rosto e as mãos e sorriu para os pelos que formavam um rastro escurecido acima de seus lábios. Não era, ainda, um bigode farto como o do pai, mas certamente um dia seria. Havia um homem no espelho e este homem era ele. Um homem que mais tarde levaria sua garota ao cinema. Como aquele dia havia demorado a chegar! Alice não teria se esquecido, teria? Não, certamente que não. Ela deveria estar tão ansiosa quanto ele por este encontro. A certeza das palavras em seu pensamento não combinavam muito com a aflição em seu peito. E então ele respirou fundo.

Ele havia terminado o banho e passava a toalha nos cabelos, checando novamente a aparência no espelho quando alguém bateu na porta com força.

— Regulus, você está aí?

— Sim, mãe, – ele respondeu, apressando-se em se vestir. Pelo tom de voz, sua mãe estava em pânico. O que teria acontecido? Ele abriu a porta apressadamente.

— Aconteceu alguma coisa, mãe? – ele mal teve tempo de perguntar e sua mãe o abraçava com força.

— Eu fui ao seu quarto e não o encontrei...

— Mãezinha... Que bobagem agora é essa? – perguntou, afagando-lhe os cabelos grisalhos. Walburga ainda usava sua camisola roxa e pantufas. – Mãe, onde você pensou que eu iria? São 9 horas da manhã, é domingo, eu não vou trabalhar hoje...

— Você saiu ontem à tarde e não disse onde ia, voltou horas depois num carro estranho. Então saiu à noite novamente. Você está indo ver seu irmão? Você... Você vai embora com ele?

Regulus se soltou do abraço da mãe e deu um passo para trás.

— Mãe, eu não preciso de Sirius para ter uma vida. Eu tenho minha própria vida! Tenho amigos, sabe? e às vezes também ando sozinho. – respondeu, irritado.

— Você voltou naquele carro de trouxas...

— Mãe! Nós também temos um carro! Eu peguei uma carona com o pessoal do Ministério. Não ando com trouxas, mãe. Eu sou um Black. – Ele olhou para os olhos da mãe que estavam cheios de lágrimas.

— Ah, meu filho! – ela disse, sorrindo levemente e estendeu as mãos pedindo outro abraço. – Me desculpe.

— Está tudo bem, mãe. E hoje vou sair de novo.

— Onde você vai?

— Vou sair com uma garota. E ela é bruxa, mãe.

Walburga afagou-lhe os cabelos e o contorno do rosto, sorrindo. Seu menino estava se tornando um homem, pensou, orgulhosa.

— Vou arrumar o seu café, então. E falar para Kreacher não atrasar o almoço. Não deixe uma bruxa esperando, meu bem.

— Não vou deixar. – respondeu enquanto observava sua mãe se afastar. Ela parecia novamente feliz e ele achou graça. Então voltou para o quarto para terminar de se arrumar. Queria estar perfeito para Alice.

*

Ele havia chegado uma hora mais cedo do que o combinado. Eles iriam se encontrar dentro da sala de cinema, mas de repente, o pânico tomou conta dele: não havia mais só uma única sala naquele lugar, o edifício havia sido expandido e no andar de cima havia uma nova sala. Em qual das duas eles se encontrariam? Ele vagou pelos pôsteres colados na parede, decidindo-se qual dos dois filmes gostaria de assistir: O Jovem Frankenstein ou Monty Python e o Cálice Sagrado?  O primeiro, um filme americano estrelado por Gene Wilder o chamou atenção. Aquele era o mesmo ator do filme anterior, A Fantástica Fábrica de Chocolate, que ele havia adorado. O segundo era um filme inglês que tinha uma estranha apresentação e a frase “Como você nunca viu ou ouviu antes”, que, para ele não fazia o menor sentido. Ambos pareciam interessantes, embora achasse que não conseguiria prestar atenção em nada com Alice ao seu lado.

Ele checou o relógio. Haviam passado apenas 4 minutos. Ele deu meia volta e saiu para a calçada. Shaftesburry não parecia diferente de quando estivera ali com Sirius e as meninas Leloush. Mas ele estava diferente. Ele olhou para a cafeteria e depois para a pequena loja de livros que ficava do outro lado do cinema. Tomaria um café ou folhearia alguns livros de trouxas para passar o tempo? Com certeza o café seria mais fácil e prazeroso de engolir. Ele caminhou e entrou na cafeteria, buscando sentar em uma mesa que permitisse olhar através da vitrine sem ser visto pelas pessoas de fora, assim poderia ver Alice chegar. Ele imagicou a cena: ela chegaria, entraria no cinema e ele a seguiria, sopraria de leve em seu pescoço e ela levaria um susto, que logo se transformaria em um beijo demorado!

O garçom chegou e lhe entregou um cardápio, depois se afastou rapidamente. Regulus então lembrou-se do que seu pai havia dito sobre pagar as contas para as meninas e ficou preocupado: teria ele dinheiro trouxa suficiente para pagar o café, os ingressos, pipocas, e o que mais Alice quisesse? Ele tinha alguns galeões extras no bolso, mas eles de nada valiam ali. Discretamente, tirou a carteira do bolso e checou seu conteúdo por baixo da mesa. Gesto esse que não havia tinha passado desapercebido pelo garçom que se aproximou, desconfiado.

— O senhor já vai pedir? – perguntou de modo insolente.

O sangue de Regulus ferveu em suas veias. Se não estivesse sendo rastreado lançaria uma maldição Império naquele trouxa e ele lhe daria o que quisesse de graça! Depois franziu a testa para o seu próprio pensamento: saberia ele lançar tal maldição?

— Um café, por favor. – disse, polidamente e voltou os olhos para a vitrine.

Alice estava demorando a chegar. Já tinham passado, o quê? Ele olhou no relógio de pulso novamente. Dez minutos?! Depois checou se o relógio estava funcionando, colocando-o no ouvido. Funcionava. Ele descansou a mão sobre a pequena mesa e seus pés começaram a bater levemente no chão. Precisava fazer algo para o tempo passar! Ele olhou ao redor.

Havia uma pequena estante com jornais e revistas próximo de onde estava. Ele levantou-se e pegou um jornal. Na manchete se lia: “Vendaval inesperado destrói uma vila inteira próximo a York” e uma grande foto abaixo mostrava o céu cinzento com uma estranha formação de nuvens que lembrava uma caveira. Regulus sorriu, ele sabia que aquela era a aparência que ficava no céu quando a marca negra estava se extinguindo. O que estariam fazendo os Comensais da Morte lá? Uma certa inquietação tomou conta dele, como se estivesse no lugar errado. Ele olhou em volta, ninguém olhava para ele, nem mesmo o garçom que agora se distraía dando atenção a uma garota loura de risada fácil, bem arrumada e cheirosa. Ela estava de costas para ele e parecia com Simone Leloush, mas quando ela se virou ele notou que em nada lembrava a namorada do irmão. Ele cobriu os olhos com o jornal e voltou a bater os pés.

— Seu café.

— Ah, sim, obrigado.

Regulus deitou o jornal sobre a mesa e bebeu o café, os olhos fixos na calçada do lado de fora. Ele triturava com os dentes os últimos grãos de açúcar que vieram junto com o último gole de café quando ela apareceu na calçada. Regulus paralisou. Alice estava linda, usava os cabelos cacheados soltos, uma bata cor de laranja vibrante com machas brancas circulares e uma calça jeans justa. Ele não conseguiu mover-se, apenas seus olhos a seguiam até que sumiu, provavelmente havia entrado no cinema ao lado.

Sem olhar o que fazia, Regulus enfiou a mão no bolso e depois deixou duas moedas no pires de café, levantou-se e saiu apressado. O garçom aproximou-se da mesa, pegou as moedas e estava prestes a gritar com o garoto que deixava a cafeteria quando desistiu: aquilo deveria valer mais que um café. Colocou as moedas no bolso e olhou para o garoto com curiosidade. Que tipo de pessoa sairia por aí distribuindo estranhas moedas de ouro?

Regulus entrou no pequeno saguão do cinema e, para seu desespero, Alice não estava lá. Para onde teria ido? Na sala do primeiro andar assistir “O jovem Frankenstein” no andar de cima, com aquele ator que ele achara engraçado ou o tal “Monty Python” em exibição no subsolo? O coração de Regulus se apertou, não poderia ir aos dois filmes. E ele nem mesmo havia pago o ingresso dela... então ele se lembrou que havia comentado da sala de cinema ser no subsolo, o que dava uma certa privacidade aos bruxos frequentadores e comprou o ingresso para o Monty Python.

Ele desceu ao subsolo e procurou Alice na sala escurecida. A penumbra não favorecia sua busca, assim como sua ansiedade em vê-la.

— Procurando alguém, garoto charmoso? Tenho um lugar vago ao meu lado.

Seu coração disparou quando ele sentiu a mão de Alice o guiar até um assento no meio da multidão de cadeiras já lotadas.

— Você está muito bonita hoje, Alice. – ele sussurrou assim que se sentou.

— Não sei de onde você está concluindo isso, está escuro aqui. – ela sussurrou em resposta.

— Eu vi você chegar, do lado de fora.

Alice sorriu.

— Olha, já vai começar. – ela apontou a tela.

— Eu não comprei pipoca nem nada... – ele disse, lembrando-se de Simone dando pipocas na boca de Sirius.

— Eu não vim aqui para comer. – ela respondeu, ainda sorrindo.

Regulus pegou a mão dela e segurou com os dedos entrelaçados e olhou para a tela, embora não conseguisse assimilar o que via, pois a sensação de seu dedão acariando o interior da palma da mão dela o deixava cego por conta de uma explosão de sensações que aquele toque possibilitava. Então ele era só sensações e a intensidade com a qual tudo que dizia respeito à Alice chegava aos seus sentidos – seu perfume, seu hálito, a frequência de sua respiração, a temperatura de sua pele – tudo se traduzia numa enorme vontade de beijá-la sem parar. E então ele aproximou gentilmente seu rosto do dela e a beijou. Uma, duas, várias vezes. Até que o filme acabou e então ele se deu conta de todas as gargalhadas que tinham feito fundo sonoro ao seu romance.

— Nunca pensei que uma comédia poderia ser tão romântica... – comentou Alice, suspirando.

— Nem eu – respondeu Regulus, rindo-se das pessoas à sua volta, que olhavam para os dois sem entender da piada particular deles Regulus estufou o peito e passou o braço direito pelas costas da namorada, saindo com ela do cinema. Eles ainda tinham duas horas para aproveitar a companhia um do outro até que o pai dela chegasse.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado do capítulo! Aguardo comentários!
Ah, escrevi que ele foi nomeado por conta da constelação e as estrelas, de onde vem seu nome.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Breve História de Regulus Black" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.