A Breve História de Regulus Black escrita por Mrs Borgin


Capítulo 113
113. Um "sem-varinha"




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Um “Sem varinha”

— Simplesmente não funcionou. – Ele disse, sem olhar para Alice que acabava de chegar ao sétimo andar. Seus olhos ainda fixos na parede de pedra.

— O que não funcionou, Reg?

— A Sala Precisa. A porta não quis se mostrar para mim... Acho que ela percebeu que eu sou um “sem-varinha” e não me reconheceu como aluno digno... – Regulus abaixou a cabeça, sinceramente triste.

— Não diga bobagens, Reg. Quer ver? Se não abriu pra você, não abrirá para mim. – Alice disse, decidida, e começou a caminhar em frente à tapeçaria, o uniforme da Lufa-lufa farfalhando sob seus passos largos. – Eu preciso que a porta que abre para sala da lareira apareça para que eu possa jogar xadrez com meu namorado agora – ela dizia, em voz alta, claramente, embora suplicasse em pensamento para que nada acontecesse. Ela não iria suportar ver o namorado mais triste. A porta não apareceu. – Viu, Reg. Não há nada de errado com você. Vamos procurar outro lugar.

Regulus não se mexeu. Ela pegou em sua mão e olhou em seus olhos. Era impossível para ele olhar aquele rosto redondo e não sorrir. Regulus engoliu em seco para esconder o sorriso e abaixou os olhos, momentaneamente hipnotizado pelo subir e descer do emblema da Lufa-lufa no peito da namorada.

— Vamos, Reg! Você não vai querer perder os minutinhos que temos para ficarmos juntos pensando em bobagens, né? Eu tenho sentido tanto a sua falta! – Alice começou a andar – Sabe, ontem à noite fiquei vendo seu treino lá de cima da torre de Astronomia! Você estava fantástico! – Alice sorriu, enquanto arrastava o namorado pelo corredor escuro do sétimo andar.

Regulus ficou admirando o andar de Alice enquanto se deixava arrastar com o braço estendido à frente. Ela estava a cada dia mais linda, seu andar fazia suas vestes balançarem suavemente para os lados, revelando graciosamente as curvas de seu corpo. Ela estava se tornando uma bruxa linda e poderosa, enquanto nem varinha mais ele tinha! Ele não a merecia!

— Você não pediu de verdade, pediu?

— O quê? – Alice parou de repente, virando-se para olhar o namorado, incrédula.

— Para a Sala Precisa, você não pediu realmente que a porta aparecesse, pediu?

— Reg, deixa de bobagens! Claro que eu pedi! Você mesmo viu... sei lá, deve ter alguém usando a sala.

— Quando tem alguém lá dentro, ela não abre para os outros?

— Não sei, Reg. Acho difícil que duas pessoas peçam de modo idêntico para que ela se materialize sem ter combinado antes. Então ela não iria abrir, não é? A não ser que funcione em dimensões diferentes simultaneamente, como quando usamos transporte mágico... Sei lá. Mas aí o que não entendo é como um mesmo objeto poderia ser transfigurado em coisas diferentes ao mesmo tempo pela ação de bruxos diferentes.

— Isso não é possível, Alice. Vai contra a primeira lei da Transfiguração “um objeto pode assumir somente uma forma de cada vez”. Acho que você tem razão, a sala não apareceria se estivesse sendo usada por outras pessoas. – Ele suspirou, aliviado.

Ela virou-se para a frente e tornou a andar. Regulus apressou o passo para andar do lado dela. A ideia de que a sala poderia estar ocupada o confortou. Mas esta sensação não durou por muito tempo. Mal eles haviam dado cinco passos e ele tropeçou no cadarço desamarrado, tendo se pendurado na mão de Alice para não cair. Regulus sentou-se no chão.

— E agora isso! Maldito cadarço!

— É só amarrar... – ela disse de modo quase maternal, sentando-se na frente dele, no meio do corredor, em frente às escadarias que davam acesso ao sexto andar ou ao quinto, dependendo da vontade da escada.

— Só amarrar?! Você esqueceu que sou um sem-varinha?

Alice olhou para ele e franziu a testa. Ele abaixou os olhos.

— Eu nunca amarrei meus sapatos antes... seria muito mais fácil se tivesse nascido trouxa, agora saberia como fazer... mas não sei nem por onde começar! Minha mãe sempre resolveu isso com magia enquanto éramos pequenos e, assim que fizemos 11 anos, ela ensinou o feitiço... ela dizia que não era certo um bruxo se agachar como um qualquer...

— Sua mãe pode estar errada... Eu não me sinto menos bruxa abaixada para amarrar seu sapato.

Regulus esticou o braço e fez um carinho no rosto da namorada, enquanto observava suas mãos hábeis darem um laço bonito em seu cadarço.

— Me desculpe, Alice. Não quis ofender. Acho que essa coisa de ser um sem-varinha está mexendo muito comigo.

— Deixa disso, Reg! Você não é um “sem varinha”, o que quer que isso signifique. Logo estaremos de férias e isso vai passar... Você terá sua varinha de volta. – Ela sorriu tentando confortá-lo.

— Mas eu não quero que as férias cheguem rápido! Eu não quero ficar sem você! Como vamos nos ver? Nos falar?

Alice não respondeu. Ela estava ficando irritada por vê-lo se colocar nesta situação de incapaz e carente por estar sem varinha. Sentia falta de seu namorado decidido e seguro de si. Mas que tipo de namorada seria ela se não desse a ele todo o apoio que ele precisava?

— Eu temo que não vamos poder nos falar... Ou trocar cartas. Mas daremos um jeito. O nosso amor é maior que isso, Reg! – Alice inclinou o corpo para frente e o beijou apaixonadamente até sentir-se sem fôlego. Então deu um longo suspiro e falou:

— O verão vai passar rápido, Reg.

— Quem você está querendo enganar?

Alice ficou vermelha. Ela sabia que não conseguiriam se falar durante o verão inteiro e seu pai já havia avisado que nem com as amigas ela poderia trocar cartas, pois ele queria evitar que qualquer uma delas enviasse notícias de Regulus usando códigos secretos ou coisa assim. Parecia impossível mentir para o namorado. Ela suspirou novamente e sugeriu:

— Eu vou a Londres por volta do final de julho. É aniversário da minha avó, a gente sempre passa uma semana com ela. Poderíamos nos encontrar... O que você acha?

O sorriso dele se iluminou.

— Olha, tem um cinema na Av. Shaftesbury, é um lugar fantástico! Poderíamos nos encontrar lá. Tipo, dia 23 à tarde, o que você acha?

— Não, eu chego no dia 23, não vou ter como sair...

— Dia 31, que tal?

— Aniversário da aminha avó... e além disso, quero ver você antes! Dia 27?

— Perfeito! Catorze horas? Não importa o filme?

Ela concordou com a cabeça.

— Nem um pouco! – respondeu, rindo.

O relógio da escola ressoou alto, anunciando o início das aulas da tarde. Regulus a beijou e depois ficou sentado na escada, observando ela descer as escadas apressadamente. Ele, ao contrário, não tinha pressa. A aula de Transfiguração já não era um prazer para ele. Sentia-se, de alguma forma, traído pela professora. A ideia de ficar um mês sem varinha o estava perturbando mais do que se poderia supor e haviam passado apenas duas semanas.

Ele entrou na aula sem pedir licença e sentou-se no fundo da sala. McGonagall explicava para a sala como comutar objetos simultaneamente.

— Comutação é um subtipo de transfiguração em que dois objetos tem sua forma, textura e estrutura trocadas entre si. – Ela olhou para Regulus severamente – O senhor Black, que não se importou em chegar no horário em minha aula, poderá mostrar a vocês como comutar um relógio de pulso em um livro e vice-versa.

Regulus engoliu em seco, depois olhou para sua varinha sobre a mesa da professora. Aquele castigo surpresa não chegava a ser tão ruim. Seria um prazer ter a varinha em suas mãos mais uma vez. Ela queria uma comutação? Ela teria.

— Pois não, professora, posso pegar minha varinha?

Ela assentiu e ele caminhou gingando irritantemente até a mesa da professora, enquanto tirava o próprio relógio de pulso.

Ele pegou a varinha, mostrou a todos seu relógio, erguendo-o no alto e depois pegou o livro que estava sobre a mesa da professora, colocando-os lado a lado. Então postou-se atrás da mesa e agitou a varinha apontada para o livro e para o relógio, enquanto murmurava o encantamento. Passar noites em claro, lendo para esquecer de seu castigo tinha suas vantagens.

O feitiço foi muito bem executado e num piscar de olhos o que era livro se tornou relógio e o que era relógio, se tornou livro. Então ele olhou para a professora, erguendo as sobrancelhas provocantemente, como quem perguntava: “está bom assim para você?” A professora pegou o novo livro na mão e folheou. Seus lábios se contorceram um pouco, segurando um sorriso de satisfação ao notar que não era somente a forma externa que fora perfeitamente comutada, mas o conteúdo do livro estava também em perfeitas condições. Regulus pegou o relógio de pulso e checou o horário. Estava funcionando muito bem, exceto por ainda marcar que tinham mais 3 horas de aula pela frente.

— Muito bem, senhor Black. Eu daria 10 pontos para a Sonserina pela perfeita execução do feitiço, mas vou descontar 5 pontos pelo seu atraso. Então, dou 5 pontos para a Sonserina. E espero que não se atrase da próxima vez.

— Sim, senhora. Devo desfazer o feitiço ou fico com o livro-relógio?

McGonagall acenou a varinha e Regulus sentiu o peso do livro em sua mão, devolveu-o para a mesa e pegou o relógio. Obrigado, professora – ele agradeceu e voltou para o seu lugar, deixando, hesitante, a varinha de volta em cima da mesa da professora.

McGonagall desviou o olhar de seu gesto. Mesmo para ela a punição já estava parecendo muito severa. De repente pareceu-lhe injusto que um aluno tão brilhante ficasse sem poder executar feitiços. Ela abriu a boca para dizer-lhe que poderia ficar com a varinha, mas resistiu antes que as palavras deixassem sua boca, dando-lhe um nó na garganta. Seu olhar procurou refúgio na bela paisagem dos campos de Hogwarts. Próximo da cabana onde morava Rubeo Hagrid, o guarda-caças, estava o professor Kettleburn acompanhado de Bartô Crouch Jr. O menino carregava dois grandes baldes que, mesmo olhados de longe, tinham aparência de estarem cheios de algo pesado e de péssimo odor, a julgar pela expressão corporal do garoto. Ela se permitiu um breve sorriso. Bartô merecia o castigo, tinha sido muito deselegante com Alice. Então ela voltou seu olhar para a classe. Ela tomou fôlego e continuou sua aula do ponto que havia parado.


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