A Breve História de Regulus Black escrita por Mrs Borgin


Capítulo 112
112. Arremessos trouxas




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Arremessos trouxas

Já fazia algum tempo que ele caminhava pela escola, pensativo. Àquela altura todos já teriam jantado e voltado para suas salas comunais. Regulus não retornou à sala comunal após a conversa no escritório do diretor, tampouco tinha ido jantar. Sentia fome, mas não queria ver ninguém. Um bruxo sem varinha não era ninguém, era uma sombra. Por que McGonagall tinha que ser tão severa? Mais do que o próprio chefe da Execução das Leis da Magia! A resposta para essa pergunta ele sabia, isso era porque McGonagall não sentia culpa pelo que Crouch Jr havia feito, e, além disso, deveria supor que a detenção com Slughorn não seria castigo suficiente para ele; também poderia estar magoada com o uso que ele fez de seus conhecimentos em Transfiguração... Pensando bem, tinha sido uma ótima execução do feitiço, Crouch parecia mesmo uma barata. Ele sorriu tristemente e seu estômago roncou reclamando a falta de comida. Mas era outro o vazio que mais incomodava naquele momento. Queria ver Alice, mas não achava prudente procura-la – alguém poderia interpretar mal, tudo o que ele queria evitar eram mais fofocas.

Suas pernas bobas o levaram ao corujal. Não tinha sentido nenhum ir até lá. Shwartzie prontamente desceu de seu poleiro e pousou no seu braço, esperançosa, talvez. Mas ele não tinha nem carta nem um pequeno agrado para a coruja. A pobrezinha há tempo não era requisitada. Ele olhou com pena para a coruja que se mantinha equilibrando em um pé só para oferecer a perna para uma carta, mas não havia para quem escrever agora. Acabara de conversar com seus pais.

Ele sorriu ao lembrar da recomendação da mãe de que “deixasse para fazer certas coisas depois do casamento e que cuidasse para não sujar o nome da família por um rabo de saia qualquer.” Era engraçado perceber o que sua mãe temia que ele fizesse. Engraçado agora, que estava sozinho e tudo havia passado. Na hora tinha sido constrangedor. Ele queria ter respondido “e a senhora deixe para falar certas coisas quando estivermos em casa,” mas não falou nada. Ninguém em sã consciência responderia à sua mãe quando ela estava nervosa e gritando daquele jeito. Ninguém, exceto Sirius. Mas ele não era bobo de fazer isso. Sua mãe, que a princípio o havia acolhido, lhe dera uma bronca imensa assim que estavam sozinhos no corredor do primeiro andar. O conteúdo da bronca o intrigava. Talvez fosse o ciúme básico de mãe pelo que ele poderia ter feito entre quatro paredes sozinho com uma menina que a tivesse feito gritar daquele jeito. Essa realmente não era a maneira mais tranquila de ficar sabendo que seu filho caçula estava namorando, se tornando um homem - era um bom motivo para ficar brava, mas porque ela havia usado o termo “qualquer”? Ela havia encontrado os pais de Alice. Seriam mestiços? Ele sabia que esta deveria ter sido sua primeira pergunta quando conheceu a menina, qual era seu status sanguíneo – mas ele não fez e isso o torturava. Porém, não era algo que ele quisesse pensar naquele momento. As palavras de seu pai também não saiam de sua cabeça “tenha juízo. Não use maldições imperdoáveis, não machuque as pessoas e cuide para não despedaçar tantos corações.” O que ele estava dizendo? Ele não havia usado as imperdoáveis, embora fosse uma ótima ideia e Crouch merecesse, mas como poderia se agora nem varinha ele tinha?

— Vi quando você veio para cá.

Seu coração disparou. Estaria alucinando? A voz de Alice estava trêmula. Regulus virou-se para ver a namorada, um sorriso triste brotou em seu rosto. Ela estava linda, como sempre, mas a expressão de tristeza no rosto dela lhe partia o coração. Ele sacudiu o braço para Swartzie sair e a coruja cravou as unhas em sua pele, hesitando.

— Ai! – ele olhou bravo para a coruja e desprendeu suas garras de sua roupa. As unhas do animal haviam feito furos no tecido, mas não havia perfurado a pele. Então ele se voltou para Alice, apressando-se para abraça-la. – Como você está, querida?

— Estou bem... – ela mentiu, apertando o abraço mais do normalmente fazia.

— Eu não disse nada daquilo que andaram falando, me desculpe por não ter protegido você. Eu não devia ter nos trancado naquela sala... – ele disse, passando levemente o nariz nos cabelos dela, alimentando-se de seu perfume. Ouvir a voz, sentir o perfume, o calor e o toque de Alice era tudo o que ele precisava para acalmar seu coração.

— Eu sei, eu sei, Reg. Você não fez nada de errado. Nós não fizemos nada de errado. Não somos os únicos a namorar longe dos olhares dos outros aqui nessa escola. Todos o fazem. Ninguém comenta. Crouch devia estar com o cérebro tomado por titica de dragão para fazer uma coisa dessas.

Regulus sorriu e a beijou na testa. Era muito bom perceber que, finalmente, ela não havia duvidado dele nem por um instante. Aquilo aqueceu seu peito e ele sentiu um carinho tão intenso que parecia doer. Ou seria seu estômago? Sua barriga roncou constrangedoramente, ele ignorou.

— Eles pararam de falar aquelas coisas da gente, não? Pararam de falar de você?

— Alguns sim, outros continuam a me olhar pelo canto dos olhos. Mas isso não importa mais. O que eu faço ou deixo de fazer é problema meu.

O garoto a abraçou mais forte. Alice se afastou um pouco, colocou a mão no bolso e retirou um pedação de bolo de caldeirão embrulhado em um guardanapo. Ela estendeu a mão e entregou a ele. Regulus sentiu seus olhos e sua boca encherem de água. Ele pegou o bolo, passou o braço por cima dos ombros dela e a levou para fora do corujal. Alice tirou, delicadamente, o braço do garoto de cima de seu ombro e parou.

— Ainda temos um problema: meus pais proibiram nosso namoro. Eles acham que... bem... que as coisas estão ficando muito intensas para a minha idade. Meu pai... Bem, ele está em choque. Acho que ele imaginava que nunca fosse namorar... E só não quer sua cabeça numa bandeja porque você me defendeu e ele gostou disso. Mas não quer dizer que ele vá amolecer em sua decisão... Ele disse que não importava se você tem sido ou não um cavalheiro comigo, pois mais cedo ou mais tarde isso poderia mudar... Então eles pediram às garotas que tomassem conta de mim e que contassem tudo a eles, ameaçaram me deixar sem viajar nas férias. Eu pedi a eles que me permitissem conversar com você uma última vez. – disse Alice, indicando três de suas amigas paradas mais adiante, à porta de entrada para o castelo.

— Eu compreendo. – disse o garoto, soltando a namorada. – Me desculpe, Alice, mais uma vez. Não vou mais perturbá-la. – Regulus enfiou o bolo na boca.

— Quem disse que eu quero viajar? – ela riu e o puxou pelo braço, para tirá-lo do campo de visão das amigas. Então o abraçou. – Não vamos poder nos ver tanto, mas sempre há um jeito. – Ela sussurrou apressada. – O que importa é que eu te amo.

— E eu amo você. Fique comigo para sempre, Alice! Vamos fugir do colégio, eu pego duas vassouras e a gente vai pra longe daqui!

— Não, Reg. Não precisamos fugir, além do mais, eu preciso terminar os estudos e você também. Podemos nos encontrar sempre que der, podemos combinar algum sinal, soltar umas fagulhas coloridas... Aí um vai saber que o outro o estará esperando naquela sala bacana do sétimo andar...

— A ideia é ótima, mas impossível. Estou sem varinha. McGonagall vai ficar com ela até o fim do semestre... Acho que eles temem que eu ataque Crouch novamente... E se eu pudesse, faria migalhas dele!

— Não pense nisso, querido. Não vale a pena, qualquer coisa que você fizer e estaremos afastados para sempre! Você sabe, o pai dele...

— Sei bem quem é o pai dele... um pesadelo. Fique tranquila, não vou fazer nada.

Regulus pegou o rosto de Alice carinhosamente, fechou os olhos e a beijou.

— Aliceeeeeeeeee!

Uma das amigas de Alice a chamou ao longe. Regulus segurou as mãos dela, despedindo-se. Os olhos da namorada estavam cheios de lágrimas.

— Fique tranquila, querida, vai dar tudo certo. Daremos um jeito. Logo este pesadelo vai acabar.

Alice sorriu para ele, tristemente, e saiu apressada. Regulus retornou à sala comunal. A esta hora, todos estariam deitados e ele poderia ter alguma paz em frente à lareira.

Ao abrir a porta da sala comunal, ele notou que, para sua surpresa, com exceção de Crouch, todos os outros garotos do então chamado clube de Rosier o aguardavam.

— Precisamos conversar, Black. – disse Gibbon.

Regulus assentiu com a cabeça e se juntou a eles, sentando-se em uma poltrona próximo de Amifidel.

— Estivemos conversando e tivemos que tomar uma decisão um tanto quanto embaraçosa. Devido aos últimos acontecimentos supomos que o diretor e o restante dos professores devam ficar na sua cola até acabar o semestre. Desta forma, para não prejudicar o grupo, decidimos pedir a você que não participe das próximas reuniões até que seja seguro para o grupo a sua volta.

— O quê? - Regulus irritou-se, ele esperava que fossem perguntar se ele estava bem, se tinha sido expulso ou não, mas nunca poderia supor que fossem afastá-lo

— Bem, é isso que você ouviu. De qualquer maneira, ficamos sabendo que você está sem varinha, não teria como participar de nenhum treinamento... Sentimos muito, mas acho que você vai compreender que não podemos colocar em risco o nosso clube... – completou o monitor.

— Tudo bem, eu compreendo. – disse Regulus, abaixando a cabeça. – E Crouch?

— Bem, Crouch... Não temos motivos para deixá-lo de fora, é você quem os professores vão ficar no pé... Crouch continuará no grupo, embora concordamos que para que permaneça, precisa provar sua lealdade... Fique tranquilo, eu o asseguro que Crouch vai aprender a respeitar os seus... e nunca mais vai incomodar você. – comentou Gibbon, passando os olhos pelos demais, que assentiram com a cabeça. Regulus não fazia ideia do que eles estavam planejando, mas saber que seu grupo pensava em punir Crouch de alguma maneira o fazia perceber o quanto eram amigos. Perceber isso tornava a tarefa de se manter fora do clube mais aceitável. Ele olhou para os outros e sorriu tristemente.

— Melhor irmos nos deitar. Não quero nenhum de vocês atrasado nas aulas de amanhã. – disse Gibbon, levantando-se. Os demais imitaram seu gesto.

— Vou mantê-lo informado de tudo... já sabemos que não foi expulso e que vai cumprir uma detenção e um período de trabalhos comunitários no ministério... Crouch contou. – disse Amifidel, espreguiçando-se.

— Ah, claro... eu deveria supor que ele contaria...

— Eu o ensinarei durante as férias de verão tudo o que aprendermos agora. Conte comigo. – disse Severus, dando tapinhas nas costas de Regulus, enquanto caminhavam em direção ao corredor que dava acesso aos dormitórios.

— Obrigado, rapazes. – Ele acenou e entrou no dormitório.

Regulus ficou um bom tempo calado enquanto os garotos se trocavam para dormir, apesar das tentativas de Amifidel, Jack e John em fazê-lo se sentir melhor e também compreender a decisão de Gibbon.

— Fiquem tranquilos, eu entendi. Também acho que o pessoal vai ficar no meu pé, mesmo eu estando... bem, vocês sabem... sem varinha.

Ele abaixou a cabeça e um pensamento engraçado veio à sua mente:

— Bem, talvez achem que eu tenha um olhar poderoso e possa, sei lá, congelar Crouch instantaneamente... tipo assim: estou andando pelo corredor, encontro o Crouch e olho firmemente para ele, fazendo cara de mau. Aí ele congela e cai duro! Há! – Regulus se divertiu encenando o encontro com Crouch, seu olhar assustador e o garoto caindo duro, de lado, os olhos esbugalhados. Os outros três garotos olharam atônitos para ele; Regulus havia se deixado cair sobre a cama de Jack, com uma perna estendida no ar. Amifidel começou a rir.

— Cara, você é um palhaço! – ele disse, um pouco antes de arremessar e acertar o travesseiro nas costas do amigo.

Os quatro garotos brincaram durante algum tempo arremessando travesseiros com as mãos, num gesto muito significativo para Regulus, até que se sentiram exaustos suficiente para dormir e foram, cada um para sua cama.


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