A Breve História de Regulus Black escrita por Mrs Borgin


Capítulo 108
108. Cabelos Floridos




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Cabelos floridos

— E quando nos fecharam naquele buraco escuro? Eu pensei que ia morrer ali! – comentou Amifidel, com os olhos arregalados, embora ninguém pudesse notar, na penumbra do quarto.

— É, foi um pouco assustador. Mas eu sabia que nada de mal nos aconteceria. Eles iriam nos acudir caso alguma coisa saísse errado, não iam?

A pergunta de Jack se mostrou um tanto perturbadora. Os garotos ainda estavam suficientemente assustados para não saber respondê-la.

— Teve um momento que eu pensei em desistir... – comentou John.

— Eu também. – Amifidel fez coro – E você, Reg? Não teve medo ou já dormiu?

Regulus ponderou por alguns segundos se iria ou não responder à risadinha provocante de Amifidel.

— Estou acordado... Acho que não ia acontecer nada de mal se algum de nós desistisse, seria apenas uma grande vergonha... E também acho que eles ficariam meio cismados, achando que poderia ser um traidor... Por exemplo, se Crouch tivesse desistido... Bem, vocês sabem, com o pai que ele tem... Eu tenho certeza que nada de mal iria nos acontecer, bem, fora a maldição Cruciatus, nada mais aconteceu, não é? A tal tarefa de entrar na tumba e procurar uma saída não passou de brincadeira de criança. O que eu gostei mesmo foi o modo como Snape resolveu o enigma... Por um instante eu senti medo e tentei me agachar, apesar de confiar nele... Ele nunca lançaria a maldição da morte em nenhum de nós... Agora, eu queria saber quem foi que pulou atrás de mim e me usou como escudo...

— Foi mal, Reg. Mas eu não sabia que era você. – respondeu John, tateando sob as cobertas até encontrar sua varinha. E se Regulus ficasse com raiva e o atacasse? Talvez essa fosse a hora de testar sua capacidade de fazer um feitiço escudo.

O dormitório foi tomado por um silêncio perturbador à espera da resposta de Regulus. Ele pensou um pouco. Ele havia tentado se abaixar quando sentiu o puxão de John segurando seu corpo. Não fazia sentido cortar relações com o amigo por causa disso, não tinha sido uma ação premeditada e John estava sendo sincero em admitir o erro:

— Tudo bem... Eu acredito em você. Mas da próxima vez, use sua varinha, feitiços costumam ser mais eficazes que pessoas. – Regulus riu – Quando será que vão nos chamar de novo?

Na cama ao lado, Ami soltou um suspiro aliviado. A conversa tinha voltado ao tom amigável. John recolocou a varinha embaixo de seu travesseiro.

— Essa espera é de matar, não é? – respondeu Ami.

— Eles bem que poderiam ter dado uma data... – lamentou-se Jack.

— Acho que não. Não saber de nada os protege, não é mesmo? Se alguém tiver a data, hora e local de um encontro com Comensais da Morte e for, de alguma forma, descoberto, pode acabar contando o que não deve. A segurança deles deve vir em primeiro lugar. Tudo pela nossa causa... – disse John.

— Bem pensado. – Concordou Regulus – Agora, o que vocês acharam daquela passagem por trás do espelho? Eu não conhecia, adorei! O lugar é enorme, daria para fazer umas festinhas lá...

— É, mas teríamos que dar um jeito naquelas aranhas... nenhuma garota iria querer dançar com aranhas caindo em seu cabelo...

— Aranha que nada, aquela coisa enorme e peluda era Phyllida Spore, a antiga diretora da escola que sumiu entre as plantas carnívoras da estufa sete... Todos pensaram que tinha sido engolida, mas eu tenho certeza que os olhos daquela aranha eram os mesmos do quadro da diretora que está na parede do 5º andar. – disse Regulus, animando-se.

O bate-papo seguiu animado até o amanhecer, e as piadas acerca das aranhas e dos próprios medos foram ficando ainda mais absurdas na medida que o sono foi ganhando suas mentes exaustas. Pouco antes das cinco da manhã, quando os primeiros raios de sol começaram a entrar pelas janelas, filtrados pela água esverdeada do lago, Jack soltou um grande bocejo e adormeceu, parando sua piada na metade. Mas ninguém reclamou desta vez, já que todos também dormiam.

Acordar na manhã seguinte foi uma experiência completamente nova. Havia no olhar dos garotos uma cumplicidade nova, um entendimento muito além das palavras e aquilo, de certa forma, foi se disseminando para os outros alunos durante os dias que se seguiram. A mudança mais notória era em Avery e Snape, que reprovavam ou aprovavam com um simples olhar as ações dos outros alunos.

— Reg, posso perguntar uma coisa?

Regulus olhou para o rosto da namorada, que estava com a cabeça apoiada em suas pernas. Já fazia meia hora que os dois estavam à beira do Lago Negro aproveitando o frescor da brisa suave daquela tarde de primavera. Os cabelos de Alice estavam completamente tomados de flores que ele marotamente trazia apontando a varinha e lançando feitiços convocatórios para todo lado.

— Você sabe que você sempre vai poder perguntar o que quiser, querida... Se quer saber se já encontrei uma flor que conseguisse ser tão bonita quanto você, a minha resposta é não... Ao seu lado, todas parecem horrorosas.

— Não é isso, Reg, seu bobo! – Alice riu – eu queria saber o que está acontecendo com seus amigos. Notei que agora o Mulciber anda sempre um passo atrás de Avery e Snape. E quando não está com eles, os está espionando.

— Ah, isso? Bem, não sei ao certo. Por que o interesse?

— Por nada. Tenho observado que eles andam um pouco estranhos de uns tempos para cá, um pouco sinistros. Olham pra gente de um jeito... Ouvi um papo no banheiro das meninas que eles andam mostrando a marca negra tatuada no braço como se fossem Comensais da Morte, um desenho igualzinho ao da foto daquele Comensal que foi preso recentemente, que saiu no Profeta Diário...

— Verdade? – Regulus riu. – Se eles fossem Comensais da Morte iriam ter mais respeito com suas marcas e não iriam sair por aí mostrando para qualquer um... Mas garanto uma coisa – Regulus deu um risinho maroto – eles têm tanta marca negra no braço quanto eu.

Alice não conseguiu disfarçar o olhar que correu à procura do antebraço do garoto, onde, obviamente, não havia marca alguma. Regulus jogou a cabeça para trás, gargalhando:

— Não acredito!

— Não acredita no quê?

— Que você procurou a marca negra no meu braço!

— Não procurei, não!

— Procurou, sim... – ele rapidamente escondeu o braço esquerdo nas costas – mas procurou no braço errado!

Alice rolou por cima dele, para tentar tirar seu braço das costas. Regulus riu alto, então a prendeu em seus braços e a beijou. Depois falou:

— Não tem nada nos meus braços, olhe! Isso tudo é conversa de gente fofoqueira que não tem o que fazer... Mas até que é bom.

— O que é bom?

Os dois se deitaram lado a lado no gramado, de mãos dadas e as pernas dobradas, olhando para o céu.

— Essa fofoca toda ajuda manter a fama da minha casa... que, por sua vez, mantém idiotas longe de nós... Só porque somos Sonserina levamos fama de mau. É engraçado...

— Mas muitos são mesmo maus... Muitos bruxos sinistros vieram de sua Casa.

— Ora, gente má tem em todo lugar. Olha só o Potter, por exemplo...

James Potter passou por eles lançando faíscas nos pés de outro garoto, que pulava, tentando se esquivar. Alice levantou-se apoiando nos cotovelos para olhar.

— Isso é só brincadeira...

— Ah, sim, pergunte ao McGregor se ele está achando graça...

Alice não respondeu. Neste momento, Frank Longbottom e Remus Lupim se aproximaram de James, aparentemente para acabar com a brincadeira de Potter. Assim que a pequena multidão se dispersou, Alice voltou a deitar-se ao lado do namorado.

— Eu estava pensando... O que teria de tão ruim em ser um Comensal da Morte?

— Como assim? – ela perguntou, assustada.

— Eles apenas lutam ao lado de Lord Vold...

— Não diga o nome dele! – gritou Alice, tapando a boca de Regulus com uma mão. Ele tirou a mão dela carinhosamente e perguntou:

— Porque não?

— Você não leu o Profeta de ontem? Uma mulher falou o nome dele e depois caiu morta no chão. Parece que é amaldiçoado.

Ele olhou para a namorada. Aquilo não fazia sentido para ele, mas era o tipo de coisa que não convinha discutir com a namorada. Além do mais, ela poderia estar certa. Depois do ritual sádico dos Comensais, ele não duvidava de mais nada.

— Então, como eu ia dizendo, até onde eu sei eles lutam ao lado dele.

— Fale Você-Sabe-Quem,” – ela disse, afirmando com a cabeça. Regulus ergueu a sobrancelhas. Aquilo era patético.

— Então, lutam ao lado de “Você-Sabe-Quem” pelos direitos dos bruxos.

— Ora, se a questão é lutar pelos direitos dos bruxos, então eles que vão estudar leis e se candidatar à Corte Suprema. Existe um tribunal de bruxos, sabia?

— Claro que eu sei. Mas são todos uns bananas. Só estão interessados em punir os bruxos, não em lhes assegurar os direitos. Você sabe o que fizeram para punir os responsáveis pela tortura e morte daquela garotinha que os pais achavam que estava desaparecida?

— Então encontraram a menina? E ela está morta? – Alice arregalou os olhos, horrorizada.

— É, encontraram. No corpo dela havia marcas de tortura, queimaduras sérias. Saiu no Profeta do início do mês uma notinha mínima.

— E o que fizeram contra os responsáveis?

— Nada. Eram trouxas. Aí eles não fizeram nada.

Alice arregalou os olhos.

— Mas alguém tem que fazer alguma coisa! Ela era tão pequenininha e indefesa! – disse, revoltada.

— É o que estou dizendo...

Alice se virou de lado e olhou nos olhos do namorado, pensativa e confusa. Aquele era um assunto delicado e ele parecia ter razão. À princípio achava que as coisas deveriam ser resolvidas pela lei, mas não contava que a lei poderia ser falha.

— Bem, então o que precisamos é mudar as leis. – ela concluiu, tentando ser razoável.

— E até que isso ocorra, os bandidos ficam impunes?

— Acho tudo isso tão complicado e perigoso, Reg. Não se pode deixar as pessoas saírem por aí punindo os outros sem critério.

— Como assim, sem critério? Eles torturaram e mataram a garotinha!

— E se fosse um acidente, Reg? Digamos que fosse com você, você havia feito um feitiço que deu errado e acabou machucando alguém que passava por perto. Você não ia merecer um julgamento para que se apurassem os fatos antes de ser mandado para Azkaban?

Regulus não respondeu. Estava claro para ele que a meiguice de Alice era a impedia de ver as coisas como ele as via. E isso a tornava ainda mais apaixonante. Ele sorriu para ela e mudou de assunto.

— Eu sinto que posso passar a minha vida inteira conversando com você. Mas não esta noite. Eu tenho treino de Quadribol logo após o jantar. Emma está nos deixando malucos com todos esses treinos, como se a única coisa que importasse fosse o jogo contra a Grifinória. Eu até pedi a ela que me liberasse uma ou duas noites, e ela respondeu que poderia me liberar do jogo também. Mas eu acho que ela estava brincando.’ – ele sacudiu os ombros.

— Reg, vá e pegue aquele pomo para mim. Eu estarei esperando por você depois do treino. Agora vamos, não quero que você se atrase, aí demora para voltar para mim.

Alice e Regulus voltaram para o castelo de mãos dadas. Alice sentia orgulho de seu namorado, que embora tivesse um senso de justiça um tanto quanto distorcido, ainda assim era dono de um grande coração.


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