A Breve História de Regulus Black escrita por Mrs Borgin


Capítulo 105
105. A véspera




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A véspera

Regulus vagou pelo castelo o dia todo, calado, evitando entrar nas salas para assistir aulas e carregando a mochila pesada nas costas como se fosse uma penitência. Ele simplesmente não conseguia entender o que havia ocorrido, apesar de assumir que era culpado por o que quer que fosse.  Mas o que tinha acontecido para ela agir daquele jeito? Não seria a tentativa de legilimência, pois ele tinha certeza de que apenas tinha visto algo muito escuro.

Depois de algumas horas, entorpecido pelas mesmas questões, ele começava a pensar que era simplesmente a escuridão das pupilas dela o que ele havia visto e nada além disso. Ele sabia que não havia dito nada, ele sabia que não havia sequer tocado em um fio de cabelo dela, então nada justificava ela ter saído daquele jeito, batido em sua cara. Mas ao mesmo tempo, ele achava que ela tinha toda a razão de lhe bater... E se ela tivesse invadido sua mente e percebido que ele pensava em Rachel? Cada vez mais derrotado, agora ele já não tinha dúvidas de que nunca seria um legilimente. Na primeira vez tinha sido Sirius, na noite anterior, Alice.

Sem perceber ele estava mais uma vez em frente a tapeçaria dos trasgos dançarinos do sétimo andar. Ele sabia porque suas pernas o guiaram até lá, sabia que de algum modo, refazendo os passos do dia anterior, ele conseguiria as respostas que precisava.

“Eu preciso que a sala se mostre exatamente como na noite passada.” Seu pensamento tinha sido claro para o castelo e a porta se materializou em sua frente. Ele entrou. Estava tudo nos mesmos lugares, exceto pelo fato de que Alice não estava ali e ele sentia como se um dragão lhe tivesse arrancado os braços. A dor era insuportável, mas ele sabia que merecia aquilo. Quem mandou ser tão leviano com a namorada, usando-a daquela forma? Ele se jogou no tapete em frente a lareira e olhou para a porta. Regulus tentou lembrar da cena pela milésima vez naquele dia, que terminava com uma porta entreaberta por onde Alice não voltou. Mas a porta agora estava fechada e talvez fosse para sempre.

Regulus suspirou fundo e desceu as escadas até as masmorras da Sonserina, evitando ora Filch, ora um professor, esgueirando-se por passagens secretas. Quando chegou em seu dormitório, se jogou de bruços em sua cama e dormiu com o rosto afundado no travesseiro. Quem sabe ele teria a agradável sorte de não acordar?

Então ele acordou. A barriga roncava alto, trazendo-lhe um novo sentimento. Alice estava errada. Ele não tinha feito nada de errado, nada que justificasse ela agir daquela forma. Mesmo que ela tivesse invadido seus pensamentos, ainda assim Rachel estava lá apenas por ser insuportável e não por ser a menina mais bonita da escola. Ele explicaria isso a ela, mas antes, precisava jantar. Ele olhou para o relógio. Ainda faltava uma hora para o jantar ser servido, mas ele não aguentava mais ficar deitado e saiu.

Alguns alunos começavam a surgir nos corredores até então desertos, saindo de salas de aulas diversas, provavelmente para ir aos próprios dormitórios se preparar para o jantar. Regulus evitou olhar para eles e subiu as escadas até a biblioteca. Não queria pegar nenhum livro, na verdade, ainda estava com o livro que havia pego na biblioteca na noite passada e não havia sequer folheado, ele apenas tentava, a todo custo, evitar chegar perto da cozinha.

Mas havia colocado os pés no terceiro andar quando ouviu os gritos da madame Pince. Ela parecia furiosa:

— Eu vou descobrir quem foi! Quero este livro sobre minha mesa amanhã!

Então Lily Evans, Mary MacDonald e mais cinco garotas, entre elas Alice e Bethania, irromperam porta a fora, acompanhadas do galante monitor da Grifinória, Frank Longbottom.

— Meninas, vamos. – Dizia ele, conduzindo-as gentilmente para fora – Não vai adiantar nada querer explicar a ela que não foram vocês... Vamos.

Regulus congelou ao ver Alice. Havia pensado nela o dia inteiro e quando menos esperava, ela parecia assim, na sua frente. Alice, como as outras, riam-se a valer quando saíram da biblioteca.

— Alice, será que eu poderia ter um minuto à sós com você?

Alice olhou para ele e seu sorriso se desmanchou imediatamente. Regulus notou a mão de Lily Evans apertando o ombro da menina, como se para encorajá-la. Ela olhou para Lily e pediu licença.

— Me desculpem, podem ir à torre de Astronomia sem mim. Eu não vou demorar.

Então ela se virou para o garoto e disse secamente:

— Vamos.

Os dois caminharam até uma sala de aula vazia e entraram, o silêncio entre eles era como um punhal em seus corações. Alice caminhou até uma janela e Regulus ficou olhando para ela, sem saber o que fazer ao certo.

— Você disse que queria uns minutos comigo, suponho que não era para ficar olhando para minhas costas.

Regulus suspirou.

— Não, não era. – Ele deu alguns passos em sua direção, bastante incerto se poderia ou não fazer isso. – Alice, minha querida. Sinceramente não sei o que eu fiz ontem, mas gostaria de pedir que que me perdoasse.

— Você não sabe o que você fez? Como assim? Reg, você ficou olhando para mim de modo estranho. Você tinha ódio no olhar. Eu fiquei assustada. Você parecia querer me engolir! Aí eu lembrei de umas coisas que andam dizendo por aí...

— Que coisas? – Regulus ficou um pouco irritado, ele odiava fofocas e elas pareciam brotar diariamente entre eles dois.

— Bem, que tem um lobisomem rondando o castelo... Crouch outro dia falou que provavelmente é alguém daqui e que poderia ser qualquer um, um professor, um funcionário, até mesmo um aluno! Ele inclusive insinuou que... bem, que poderia ser você. Na hora eu não dei bola, o garoto adora implicar com você, não é mesmo? Mas ontem, você estava tão estranho de repente... então eu lembrei que nós nunca nos encontramos em noite de lua cheia... Eu fiquei apavorada!

Regulus não conseguiu segurar uma risada. Aquilo era tão absurdo que parecia cômico.

— Minha querida, acho que já nos encontramos em noite de lua cheia, sim.

— Quando? – ela perguntou, arregalando os olhos.

— No momento não consigo lembrar, mas isso não vem ao caso. De qualquer forma, se eu fosse um lobisomem, você estava protegida, primeiro porque não é lua cheia, segundo por que mesmo que fosse, estávamos numa sala sem janelas, nenhum lobisomem se transforma se não for tocado pelo luar, certo? – o garoto se aproximou da namorada e esticou o braço para tocar em seu cabelo, mas desistiu no meio do caminho e fechou a mão e a colocou no bolso da calça. – Alice, minha amada, de uma vez por todas, confie mais em mim. Eu a amo tanto que poderia explodir! Você estava falando da sua viagem, sua voz doce e melodiosa foram me deixando ainda mais apaixonado, tão apaixonado que tive vontade de fundir meu pensamento e meus sonhos aos seus, senti vontade de abraçar você muito forte, de fazer minha alma encontrar com a sua. – Ele suspira – Me perdoe se te assustei, eu nunca havia sentido algo assim antes. Isso não vai mais voltar a acontecer, te dou minha palavra, vou me controlar.

Alice virou-se e pulou em seu pescoço.

— Desculpa, Reg, pelo tapa!

— Eu desculpo. – respondeu. Ele queria dizer o quanto tudo aquilo era desgastante; lembrar-lhe de tudo que ele lutou para estar com ela, mas não conseguiu dizer mais nada. O perfume de seu cabelo lhe roubava as palavras e a razão. Regulus subiu abraçado com Alice até a torre de Astronomia, onde, para sua surpresa, acontecia uma festa provavelmente não autorizada, com a presença de diversos alunos, incluindo Jack e Amifidel. Os dois pareciam um tanto quanto deslocados encostados na mureta de proteção, embora houvesse um quê de satisfação e diversão em seus rostos cada vez que por eles passava uma garota sorridente.

Alice encontrou as amigas e o casal se despediu com um beijo apaixonado, que deixava claro para todas que mais uma vez estavam juntos. Regulus se juntou a Jack e Amifidel e lhes contou sobre o mal-entendido com Alice proporcionado pelo veneno de Crouch, tomando o cuidado para não mencionar nada sobre sua tentativa de legilimência, o tapa na cara ou a sala precisa.

— Ele insinuou que você era um lobisomem? – perguntou Amifidel, estarrecido.

— Foi.

— Eu já sabia disso, na verdade, achei até engraçado.

— E você nem me contou?

— Se eu fosse contar para você todos os absurdos que saem da boca do Crouch a seu respeito, você ia enlouquecer! Acho que ele era tão acostumado a ser o centro das atenções por ser filho de quem é que não consegue se conformar que alguém seja mais popular que ele aqui na escola... Tudo bobagem! E aí, sua namorada? Ela entendeu, não é? Olha lá quem chegou! Crouch Grouchy!

— Entendeu... Quer saber? Vou me divertir um pouco...

Regulus caminhou até Alice, cochichou algo no ouvido dela e os dois se aproximaram de Crouch, que se servia de uma cerveja amanteigada. Alice sacou sua varinha e apontou para o céu:

— Lumos!

Regulus olhou a luz da varinha e começou a uivar.

— Palhaço! – disse Crouch, antes de sair da festa aborrecido.

Regulus caiu na gargalhada. Remus Lupin, que havia presenciado a cena ao lado de Peter Petigrew, franziu a testa.

— Você acredita que o Grouchy andou espalhando que eu sou um lobisomem? – ele comentou em meio às gargalhadas de todos, apontando com o polegar em direção à saída.

— Que idiota! – disseram Peter e Remus ao mesmo tempo, se juntando ao coro.

A festa continuou cada vez mais animada, um garoto de cabelos longos pretos, aluno da Corvinal chamado Robert Smith se juntou a eles com uma guitarra e entoou várias canções até que Filch chegou, por volta da meia noite, mandando todos para seus dormitórios sob fortes ameaças de punições físicas e longas detenções.

Regulus acompanhou Alice até o corredor da cozinha e depois caminhou sem pressa para a Sala Comunal da Sonserina, passando os dedos lentamente sobre os lábios como se quisesse guardar a sensação do beijo de Alice para ter bons sonhos. Ele abriu a porta com cuidado e entrou. Lá estavam Severus, Barty, Ami, Jack, John, Avery, Mulciber Rockwood  e Gibbon.

— Você não vai acreditar, Reg! – disse Ami.

— Rosier! – completou Jack, excitadamente.

— Black, começa amanhã à noite. Sairemos a partir das sete horas da noite, em grupos de dois para não chamar atenção. As saídas serão em ordem alfabética: primeiro Avery e Amifidel, meia hora depois você e Crouch, seguidos por Laughton e Münch às 8 horas; por fim, Snape e Rockwood. Estarei esperando por vocês em uma passagem secreta atrás daquele grande espelho no final do corredor do quarto andar, ala oeste. Para entrar, vocês devem caminhar de costas em direção ao espelho e, ao tocá-lo, dizer a senha, que é “eu sou a minha imagem”. Não vou tolerar atrasos. – Anunciou o Gibbon.

— E eu? – perguntou Mulciber.

Gibbon lhe deu um olhar de desprezo e respondeu:

— Ainda estamos analisando seu caso. Desta vez você está fora. Vejo todos amanhã, então. Não quero mais nenhuma palavra sobre o assunto, não quero Filch ou Slughorn em nosso encontro, entenderam?

Os garotos assentiram com suas cabeças para o monitor, que virou as costas e foi dormir.

Regulus ficou tão feliz que mal percebeu que teria que fazer par com Crouch no dia seguinte, e foi com os amigos para o dormitório em silêncio.

 A inquietação dentro de cada um crescia a cada instante naquela noite e os garotos rolavam em suas camas como se fosse impossível, de repente, encontrar posição para dormir. Cada um deles tinha consciência de que estavam todos acordados, mas nenhum ousou comentar nada, com receio de por tudo a perder. Até que os primeiros raios de sol foram capazes de atravessar as águas do Lago Negro, iniciando, finalmente, um dos dias mais longos de todos os tempos.


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