A Breve História de Regulus Black escrita por Mrs Borgin


Capítulo 102
102. Através das cortinas




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Através das cortinas

Os dias seguintes foram de grandes expectativas para Regulus e seus amigos. Até mesmo Gibbon estava inquieto e aceitava, sem reclamar, passar suas preciosas horas de folga na sala comunal a espera de uma mensagem de Rosier.

Março chegava trazendo uma ventania que parecia querer varrer das terras de Hogwarts todo e qualquer resquício de neve, penteando os recém brotados e verdinhos gramados que se estendiam até o Lago Negro. Regulus estava sentado no meio do gramado olhando sem realmente ver a superfície do lago que se encrespava com o vento. Ele aguardava Alice que parecia ligeiramente atrasada naquele final de tarde, quando ouviu a inconfundível gargalhada de seu irmão. Ele não se deu ao trabalho de se virar, tinha certeza que Sirius estava aborrecendo alguém e não estava com a menor vontade de assistir isso ou interceder por nenhuma de suas vítimas. A não ser que....

 Você vai me pagar, Black! Isso já não tem graça!

A voz de Snape feriu seus ouvidos com uma melodia horrorosa que lhe lembrava a cantora brega Celestina Warbeck. Regulus se virou, derrubando o livro que havia sido esquecido em seu colo há meia hora atrás.

Sirius e James Potter caminhavam ao lado de um infeliz e irritado Severus Snape, que começava a cantar toda vez que abria a boca para falar algo. Os dois grifinórios riam-se até curvar seus corpos, Sirius com sua varinha na mão, fingia reger o canto desajeitado de Severus – com a mesma expressão de prazer que Regulus tinha quando regeu o coro de alunos no Salão Principal cerca de um mês antes – enquanto alguns outros alunos riam da cena. James levantou a varinha e anunciou, entre risos:

— Agora que você já aprendeu a cantar, Ranhoso, poderia completar o show com alguns passos de dança... Tarantallegra!

Aborrecido, Regulus levantou-se, empunhando a varinha apontada para o irmão. Avery e Mulciber se juntaram a ele em questão de segundos, acompanhados de Amifidel, Jack e John. Regulus tentava não olhar para Severus, que agora brigava contra suas próprias pernas, que dançavam freneticamente uma dança impossível de se identificar. Ele passou por Severus e encarou o irmão.

— Vejo que você arrumou uma guarda, Ranhoso. Típico de você, não sabe resolver seus problemas sozinho... – debochou James, sacudindo sua varinha displicentemente.

Cruuuuuuuuuuuuuuucioooooooooooooo!— Severus tentou amaldiçoa-lo, mas a melodia melosa impediu o efeito da maldição.

James Potter olhou para a recém-chegada Lily Evans e se jogou no chão, se contorcendo de tanto rir.

— Faz de novo, Ranhoso! Sua maldição me faz cócegas! – ele disse em tom de deboche.

Regulus virou-se para Severus e apontou a varinha:

Finite Incantatem!

E depois encarou Sirius novamente. Era difícil olhar tão diretamente nos olhos do irmão sem sentir um certo incômodo. Sirius era 10 centímetros mais alto que ele, além de ser seu irmão mais velho. Mas desta vez ele não iria abaixar a cabeça para o primogênito, não iria se intimidar. Ele também era um Black, não era? Ele cruzou os braços e os dois irmãos permaneceram se encarando por alguns minutos sem dizer uma só palavra. Às suas costas, Severus apontava diretamente para o peito de James.

— Parem com isso! – gritou Lily, desesperada. E depois voltou-se para a pequena multidão que rodeava os garotos – o que estão olhando? Saiam daqui!

Regulus ainda ouviu James debochar de Severus que supostamente não seria capaz de resolver seus problemas sem a ajuda de um nanico, sua gangue e uma garota. Mas aquelas palavras pareciam estar cada vez mais distantes, pois ele continuava mergulhado nos olhos negros de Sirius, que já não mantinha em seu rosto o costumeiro sorriso debochado.

E então, sem um planejamento prévio, de repente aconteceu ... Não eram mais as pupilas negras dos olhos de Sirius, era um buraco profundo que rapidamente lhe conectava à imagens que ele demorou para compreender. Regulus estava agora a olhar para si mesmo um pouco mais jovem através das espessas cortinas de sua casa. Lembrou-se daquela cena, ele sabia que estava prestes a se inclinar para pegar uma caixa de música que os fez adormecer. Mas essa memória era diferente, como se ele estivesse olhando de outra perspectiva, através de outros olhos. Em um piscar de olhos, a imagem dele mesmo visto através das cortinas misturou-se com a imagem do ponto de vista de seus olhos quando estava naquela cena originalmente. Ele viu a imagem duplicada de suas mãos, fazendo a caixa de música para tocar; ele ouviu a música e, em seguida, sentiu suas pálpebras fechando no exato momento em que ele percebeu Sirius por trás da cortina, em um movimento exatamente igual ao seu, caindo no chão. De alguma forma, a memória da queda trouxe de volta à realidade. Ele ainda estava na frente de seu irmão à beira do Lago Negro, mas a multidão se dispersou. Sirius estava olhando para ele com os olhos arregalados. Ele queria falar sobre o que tinha acontecido, ele gostaria de perguntar Sirius sobre isso, o que o irmão havia sentido ou percebido. Gostaria de compartilhar sua confusão e emoção com seu irmão; seu amado irmão, que um dia sonhara com o dia em que isso ia acontecer; mas a palavra “irmão” não passava de uma lembrança agora ...

— Você é patético, Sir. – ele não podia dizer mais nada.

— Olhe quem fala! – disse Sirius, rindo.

Regulus conteve o impulso de abraçar o irmão e lhe deu as costas. Ele caminhou alguns passos em direção à beira do lago e se sentou. Sentia-se levemente tonto. Não tinha certeza do que havia acontecido. Teria entrado na mente de Sirius ou o contrário? Teria Sirius invadido sua mente e lhe enviado uma imagem perturbadora? Ele não queria realmente pensar sobre o assunto e ficou bastante agradecido quando Alice chegou, tapando seus olhos gentilmente com suas mãos macias.

— Adivinha quem é?

— Hum... deixa eu tentar adivinhar... – ele disse, tateando as mãos dela carinhosamente. – Está muito difícil... se ao menos eu pudesse sentir o sabor do seu beijo, eu teria certeza de quem você é....

Dizendo isso, ele se virou e a puxou gentilmente em sua direção, fazendo com que ela caísse no seu colo, para, então, beijá-la.

Mas o beijo de Alice não fora suficiente para afastar de sua mente a lembrança da experiência perturbadora. Tudo o que ele mais queria era conversar com Severus, porém duvidava que o amigo estivesse disposto a discutir qualquer coisa a respeito de Sirius no momento.

— Você está tão distraído... E pra variar, não tem tempo para nada...

Regulus assustou-se. Por um instante era como se ela não estivesse ali. Mas ela estava, aquilo era real e ele precisava pensar rápido para dar uma resposta coerente.

— ... É, realmente com esses treinos extras que a Vanity marcou, está difícil fazer qualquer coisa...

— Eu notei que você tem ido muito à biblioteca... Um ano atrás eu poderia apostar que você não gostava tanto assim de estudar... Ou é o problema da lareira? Seu elfo conseguiu consertar a lareira para Severus conversar com a amiga dele, não? – ela finalizou, franzindo ligeiramente a testa.

— Eu acho que sim, mas precisamos aguardar as férias de verão que é quando ela vai ser realmente testada. – Ele respondeu, sorrindo, sem remorsos por mentir para Alice mais uma vez.

— Ah, bem.... então não falta muito agora, já estamos em março, abril, maio, junho... – ela contou nos dedos – em pouco mais de três meses e ele saberá. – Ela sorriu, mas Regulus já não prestava mais atenção no seu sorriso. Era Sirius que ele olhava ao longe, estranhamente sozinho, agitando a varinha para produzir redemoinhos na superfície do lago.

— E como estão os preparativos para o próximo jogo? Você acha que vão conseguir vencer a Grifinória?

Regulus não respondeu.

— Reg? Oi!

— Me desculpe, Alice. O que mesmo você estava falando? – ele olhou para ela, sorrindo atrapalhado.

Alice olhou para a direção na qual Regulus olhava, mas nesse momento, Rachel passava próxima de Sirius, conversando com algumas amigas, de modo que a pequena Lufa-lufa não conseguiu notar Sirius na beira do lago. Ela ficou vermelha e irritada.

— Nada. Já não importa mais... O que tem entre você e a Rachel, afinal?

— O quê??? Do que você está falando? – ele olhou para o lago e viu a inconfundível cabeleira loira de Rachel balançando suavemente com o vento a poucos metros de Sirius. Ele sorriu. Então Alice sentia ciúmes de Rachel. – Alice, meu amor. De uma vez por todas, não há nada entre a Rachel e eu além do fato do mundo ser pequeno demais para nós dois e dela insistir em competir comigo em tudo. Eu não olhava para ela, olhava meu irmão. Pouco antes de você chegar ele e James Potter estavam praticando seu esporte favorito: importunar Severus. Eu tive que interceder, sabe, é vergonhoso ter um irmão que passa a maior parte do tempo fazendo coisas estúpidas, logo todos vão pensar que eu sou como ele!

— Bem, o pessoal não acha que Sirius Black e James Potter fazem coisas estúpidas. Quase todo mundo se diverte com as brincadeiras deles. Mesmo que eu não ache nada louvável, não podemos negar que os dois têm um ótimo senso de humor... sem falar que são muito bonitos... quero dizer, Sirius é quase tão bonito quanto você e James, bem, James só faz aquelas coisas por causa da Lily... Tipo assim, Severus é amigo de Lily – ou era – e não prestava atenção em James, então ele faz de tudo para desmoralizar Severus para que ela não veja graça nele... Eu sei que Severus é seu amigo, mas você tem que admitir que ele não é a pessoa mais popular da escola e não faz questão nenhuma de ser o Mister Simpatia... Ele é todo duro, todo certinho e não parece ligar muito para a higiene pessoal...

Regulus arregalou os olhos. Aquilo não fazia sentido para ele. Pelo menos, nunca tinha sentido cheiro ruim estando perto de Severus.

— Eu quero dizer, olha o cabelo dele! sempre tão engordurado! E as unhas dele? parece que elas não veem tesoura com a frequência necessária!

Regulus, disfarçadamente, checou as próprias unhas e as escondeu fechando as mãos. Para ele estavam satisfatoriamente curtas, mas se Alice não achasse o mesmo?

— Para mim o que importa é que Severus é correto, inteligente e um bom amigo.

— Eu sei, eu sei... Para mim isso também é o mais importante. Mas é que outra noite as meninas estavam falando, antes de dormir, sabe?

Regulus arregalou os olhos, exasperado. Ele não era realmente um fã das amigas de Alice. Ela continuou:

— Elas estavam falando dos garotos, acham Avery um gato, com aqueles olhos enigmáticos, Mulciber elas acham muito interessante, ele é grande, deve ser bom de abraçar – quero dizer, na opinião delas – Alice apressou-se em pontuar – mas também acham que ele assusta um pouco, assim como Crouch, que além de ser muito criança, olha nós todas como se fossemos suculentas porções de pudim de carne...

— Você também? – ele perguntou, franzindo a testa. Teria que fazer algo a respeito. Alice confirmou com a cabeça e continuou.

— Ami elas acham muito sem graça, sem tempero. Jack é engraçadinho, mas não leva o menor jeito com as meninas e John está saindo com a Beth, não está? Ninguém consegue ver o que chamou a atenção dela! Todas elas suspiram por James e Sirius. O Davies, namorado da Vanity também é bonito. O Bertram, o que costumava aborrecer a Irishsong e agora namora ela não é de todo feio, mas anda de modo desengonçado. Ainda mais agora por ela ser muito mais baixa que ele e ele fica andando com os joelhos dobrados para conseguir segurar na cintura dela e não nos peitos... Caras como Remus Lupin e Peter Pettigrew não são nem notados em sua existência, por andarem com Sirius e James, que roubam toda a atenção para eles...

— E eu? O que falam de mim?

Alice sorriu:

— Elas acham que depois de Sirius, você é o garoto mais interessante e charmoso da escola... E que eu preciso me cuidar porque metade das meninas gostaria de estar no meu lugar...

— Que bobagem! Eu nem sou tão bonito assim... Tem outros muito mais interessantes. O Longbottom, por exemplo. Não sei como ele nunca namorou ninguém, ele é todo alto, forte...

— O monitor? Acho que ele não namora ninguém porque vive estudando. Ele foi o aluno mais novo a ser monitor, de tanto que estuda! Me disseram que ele quer ser um auror ou Ministro da Magia, não tem olhos para ninguém, ou quem sabe ele se apaixonou pela foto de Batilda Bagshot estampada no livro de História da Magia... – Alice riu da própria piada e completou com um olhar pensativo – ... as meninas acham que ele nunca beijou antes...

Aquilo, de certa forma, incomodou Regulus:

— Beijar... isso me lembra que eu estou aqui há meia hora pelo menos sem beijar você e não vou ter outra oportunidade porque tenho treino essa noite.

Sem perder mais tempo e ele segurou carinhosamente o rosto dela com as duas mãos e a beijou demoradamente.


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