Já passava da meia noite quando Hermione enfim se esgueirou pelas paredes de Hogwarts em direção a orla da Floresta Proibida, o último toque de recolher acontecera há algum tempo, mas Hermione não pode resistir a se atrasar. Só de imaginar a impaciência de Riddle enquanto a espera por tempos deixava seu sangue correndo mais veloz, a adrenalina semelhante a que ela sentia toda vez que saia com Harry e Rony para perambular à noite no castelo em busca das respostas que eles tanto precisavam.

 Uma fisgada em seu coração a trouxe novamente a realidade, Harry não estava mais entre eles, o menino que sobreviveu ao pior feitiço conhecido apenas com um ano de idade viveu mais dezesseis anos apenas para ser morto pelo mesmo homem que acabara com sua família.

 Ele lutara bravamente, Harry fora o único que incentivara todos os outros a continuar lutando contra Voldemort e seus seguidores, a continuar buscando a liberdade novamente e com isso ele perecera, levando com ele quase toda a esperança.

 Hermione sabia que arriscara muito roubando o vira-tempo e tentando impedir que Voldemort surgisse, porém que outra esperança ela tinha? 

 Não podia viver o resto de seus dias trancada com os outros no Largo Grimmauld com os outros, com medo de sair e ser encontrada, com medo de que, em algum momento, Voldemort os encontraria e então não seriam capazes de fugir, talvez nem lutar.

 Pensar em seus amigos fazia com que lágrimas insistentes enchessem os olhos de Hermione, tantas coisas tinham acontecido com eles ao longo dos anos, aquilo os unira mais do que poderiam imaginar, quando Harry morrera ela sentira que seu coração quase fora arrancado do peito.

 Será que Rony sentia a mesma coisa agora sem notícias dela? Sem saber se sobrevivera a loucura que era viajar no tempo?

 Devia se sentir traído, com certeza, mas Hermione não podia avisá-lo de seus planos. Rony se transformara em um bom homem, era esperto, contudo ainda não estava preparado para as coisas que Hermione sabia que teria que fazer para derrotar Voldemort, para derrotar Tom Riddle.

 Enfim Hermione chegou a orla da Floresta Proibida, o lugar estava silencioso, retirando um ou outro barulho proveniente das criaturas que habitavam os confins da floresta, não havia sinal de Riddle ou qualquer outra pessoa graças a escuridão, mas Hermione sabia que eles estavam ali cercando-a, tentando pegá-la de surpresa.

 Quando as luzes da varinhas finalmente se acenderam Hermione pôde distinguir todos eles e ter a constatação de que estava correta, tinham formado um círculo ao seu redor e ela parecia a pessoa perfeita para um sacrifício parada entre eles.

— Bem-vinda Hermione Thatcher — disse uma voz rouca e profunda de algum lugar, tinha que ser Riddle, ninguém ousaria falar se não fosse ele — Hoje é o dia de sua iniciação.

 Hermione olhou ao redor, todos vestiam capas pretas, muito semelhantes às roupas que os Comensais usavam em sua época, porém não traziam o terror que ela já sentira tantas vezes, afinal não passavam de adolescentes ainda.

 Espere… 

— Iniciação? — perguntou. Não poderia ter escutado corretamente, iniciação naquele lugar não parecia ser uma coisa boa.

— Você tem se demonstrado realmente curiosa em nosso encontros noturnos — retrucou — E tenho te observado, você é incrivelmente talentosa nas aulas, tem o perfil perfeito para fazer parte do meu grupo seleto, se conseguir passar por sua iniciação, é claro.

— Passar?

— O correto seria dizer sobreviver, eu acredito — o sorriso de Tom era quase visível mesmo na escuridão — Caso consiga poderá ser uma dos membros do meu círculo e ter o nosso conhecimento e poder.

 Hermione hesitou, ela sabia o que ele queria dizer com fazer parte do seu círculo e aquele seria um caminho sem volta, mas ela precisava chegar perto o suficiente de Riddle, porque ela não queria apenas matá-lo, queria tirar tudo dele, como ele fez com tantas pessoas e destruir tudo o que ele construiu.

 Mas ela estava pronta para ser um deles?

 Lembrou, então, do que o Chapéu Seletor dissera quando passara por sua segunda seleção, ele não apenas a reconhecera apesar de ser quase impossível, mas também dissera que agora ela era capaz de qualquer coisa para conquistar o que desejava.

 E não era verdade?

 Para entrar em Hogwarts ela usara uma Maldição sem pensar duas vezes quanto a isso, mentira para todos e aos poucos tentava se tornar próxima a Riddle para destruí-lo, ela realmente estava disposta a fazer tudo o que fosse preciso, por isso era uma Sonserina agora.

 E isso era resposta o suficiente para ela.

— Como será a iniciação? — questionou.

— A Floresta Proibida guarda muita criaturas e segredos, e a maioria deles gosta de se manter escondido a menos que alguém, nós, adentramos nas terras que eles acreditam serem suas — comentou ele — Em nossa última reunião tivemos intervenção de algumas dessas criaturas e eu deixei algo para trás. Sua tarefa simplesmente recuperar o que perdi dentro da floresta e voltar, com vida.

— E o que você perdeu? Ou isso é informação demais para mim neste momento? 

— Você saberá o que é assim que o vir, não vejo porque me prolongar com explicações quanto a isso.

 Algo deveria estar errado, segundo as explicações de Riddle, entrar e sair com sabe-se lá o que ele deixou dentro da floresta parecia fácil demais, a iniciação de seus seguidores não poderia ser assim, tão simples.

— E as armadilhas?

— As criaturas da floresta já são perigosas o suficiente — disse outra voz, claramente feminina, Druella.

— Quieta! — grunhiu Riddle.

 Hermione quase sorriu, era bom ver que a garota era colocada em seu lugar, pois Rosier parecia achar que estava muito acima de todos.

— Como disse — falou Riddle — As criaturas já são perigosas o bastante para precisarmos acrescentar algumas de nossas armadilhas.

 Dessa vez, Hermione realmente lutou para segurar o sorriso.

 Quer dizer, então, que Tom Riddle e seus seguidores tinham medo das criaturas que habitavam dentro da Floresta Proibida? Ia ser muito fácil para ela concluir o que eles queriam.

 Quantas vezes tinham entrado naquela floresta durante os anos? Já não tinha medo do que quer que pudesse se esconder entre as árvores.

 — Espero que tenha entendido — disse Riddle — Por que seu tempo está correndo, tic-tac.

 Hermione não tinha dúvidas de que faria o que fosse preciso, mesmo que em troca precisasse dar sua alma.

 Com esse pensamento em mente ela deu meia volta, sem lançar mais nenhum olhar para Tom ou seus aliados, e se dirigiu diretamente para a escuridão que a aguardava.

 Talvez tivesse mais por trás dos planos de Riddle do que ele revelara, ela não poderia saber, talvez ele tivesse esperança de que ela fosse devorada por uma das  criaturas?

 Se fosse isso, ele já podia perdê-las porque ela sairia dali vitoriosa.

 ***

— Realmente será sem armadilhas? — perguntou Druella.

— Não — Tom exclamou observando Hermione desaparecer entre as árvores — Mas a convença disso e então ela abaixa sua guarda e perde. Diga a todos que vamos entrar na floresta, vamos ver como Thatcher se sai tendo que enfrentar nós todos.

— Será um prazer — concordou Druella.

 É claro que seria, Tom sabia bem a inimizade que Rosier mantinha com Thatcher desde o momento em que se encontraram  no Expresso de Hogwarts e sabia também que Druella só não fizera algo pior a Thatcher porque ele continuava a intervir entre elas e nenhum dos integrantes do seu círculo tinha coragem de ir contra uma palavra dele. Mas agora ele simplesmente não via motiva para ficar entre as duas, estava mesmo mais do que na hora de descobrir de que material Thatcher era feita, porque Druella era uma das mais leais a ele e mais feroz do que todos e alguém poderia acabar com quaisquer resquícios da força de Hermione era Rosier e Riddle mal podia esperar para isso.