Percy Jackson podia se considerar, acima de tudo, um homem morto. Depois de se separar de sua tripulação, correu em direção ao bunker, sendo cercado novamente por alguns guardas. 

Ele fazia seu jogo de pés sulista, seu olhar cínico e sua espada erguida, apontada para os cavalheiros. Um deles, vendo que o pirata não atacaria primeiro, avançou apenas para receber uma adaga no olho, que não fora mirada pelo moreno. 

Sem precisar olhar para trás, sabia que Thalia voltou para ajudá-lo. 

— Você precisa parar de acabar com minha diversão. — Ele disse sorrindo, enquanto Thalia recuava para mais perto do amigo, observando outros soldados chegando. Ela colou as costas nas dele e tirou sua espada da bainha. 

Estavam cercados, não era um desafio muito grande, mas nunca descartavam possibilidade de derrota. A respiração descompassada deles eram a única coisa que ouviam, a mente elétrica de Thalia tentava montar uma estratégia, quando ouviu um grito masculino. 

— Luke volte já aqui! — Gritou o dono do sotaque sulista que ela conhecia como Hermes Castellan. Sua mente gritava perigo, Luke não podia vê-la, não aqui e nem agora. — Guardas, parem meu filho. 

— Thalia... — Percy sussurrou, alertando perigo quando ouviu a voz do rei. 

Sim, ela sabia. Ela havia escutado todos os alertas de Percy quando ele soube que ela estava se encontrando com Luke em segredo, no litoral do castelo dele. Ela sabia de todos os riscos, sabia que poderia ser morta ou flagrada a qualquer momento durante aqueles encontros. 

Mas o que a fez parar de visitar Luke foi saber que ele nunca seria dela. Thalia sabia o que a diferença de classes sociais impedia. Ele estava no topo... E ela estava no mar. 

— Eu quero lutar pelos aliados, pai! — Ela escutou a voz que a atormentava todas as noites e não tão longe, viu o loiro se aproximando do tumulto. — E eles não podem me parar se a rainha Atena me autorizou. 

Luke chegou com no mínimo duas dúzias de guardas a mais. Agora Percy e Thalia estavam realmente em desvantagem. Talvez algum sinal de vida da tripulação ajudasse, se Percy não tivesse os ditos para seguir o código, todo homem que fica para trás é deixado para trás. 

Thalia finalmente teve uma ideia. Arriscada mais que a maioria, sem nenhuma garantia de sucesso e que provavelmente os levaria a morte. Mas valia a pena tentar. 

Ela soltou sua espada no chão, escutando o encontro do metal no azulejo real. Ela levantou as mãos, se rendendo. Percy, sem saber o que fazer, virou de frente para a quase irmã e a fitou, enquanto outros quatro guardas o imobilizavam e ele gritava para Thalia. 

— Você ficou maluca? O que pensa que está fazendo? — Percy questionava enquanto o tumulto de guardas diminuiu, visto que a situação já estava controlada. Luke e os oficiais sulistas se aproximaram e quando o príncipe a encarou, com o olhar vidrado nela, ele a reconheceu. 

Ela levantou a cabeça para fitá-lo também. Relembrar o tom absurdo de azul daqueles olhos foi mais acolhedor do que ela esperava, a surpresa no rosto dele era visível, mas ele não reagiu de forma mais chamativa, apenas ordenou os guardas que os prendessem, seguindo qualquer que fosse o plano da morena. 

Dentro do bunker, Hermes se aliviou ao receber a notícia que não houve combate, que os piratas se entregaram e já estavam na cela. Annabeth teve a imensa curiosidade sobre a estratégia que levou Percy e Thalia a se renderem, mas não comentou nada com sua mãe, que radiava em alegria. 

Fora do Castelo, a tripulação escapou com ouro e luto. Eles discutiam se deveriam voltar ou não por Percy, já que o mesmo deu ordens para seguir o código. Eram poucos os homens que se recusavam a voltar para o continente, mas mesmo assim eram as ordens do capitão, então eles decidiram segui-las. 

Na cela, Jackson estava encolhido no chão, depois de muito andar de um lado para o outro, questionando Thalia, que estava na cela ao lado da sua. Ela explicou seu plano e depois da execução de um método que ele não aprovou, só os bastava esperar até que anoitecesse. 

Thalia não conseguia dormir. Não admitiria nunca, que não parava de pensar em Luke e se ele apareceria para lhe livrar da forca. Não lhe chamava atenção em nada fugas e guerras frias, mas foi o que a ocasião lhe obrigou. 

Quando finalmente conseguiu ignorar os roncos baixos de Percy e fechar os olhos para um cochilo, escutou um ruído e se atentou em quem estava adentrando a prisão, torcendo para que fosse o príncipe. 

E era ele, mas não se parecia com um príncipe, de fato. Luke vestia uma calça, botas e camisa. Trazia um fardo de pano e quando parou em frente as grades, ele sussurrou. 

— Está acordada? — Ele tirou um molho de chaves do bolso. 

— Sim. — Thalia saiu das sombras, sendo iluminada pelo fraco brilho da tocha no corredor. 

Ele a fitou por alguns segundos, como que para memorizar a cena em sua cabeça, antes de lembrar que tinham pouco tempo. Ele selecionou a chave e destravou o trinco, com rapidez. 

— Como fez isso? — Ela perguntou surpresa, imaginava que com tantas chaves no molho, ele iria demorar testando uma por uma. 

— Eu sou bom com fechaduras. — Ele empurrou as grades e eles se encaram novamente. Ela andou até ele, e finalmente o abraçou. Como sentia saudades de estar em seus braços. 

— É realmente lindo o reencontro do casal, mas será que as crianças têm como ajudar o velho Percy aqui? — Eles tiveram um sobressalto e fitaram Percy com a cabeça apoiada na palma da mão, que mirava os olhos verdes no casal com puro tédio. 

Luke se aproximou da fechadura e libertou Jackson, que após solto, observou o loiro antes de fechar suas mãos no pescoço dele e o apoiar na parede. 

— Agora me diga, majestade. — Percy disparou com desdém. — Qual seu próximo passo? 

Luke travou o maxilar e fechou a mão em punho, repensando se realmente era preciso deixar o amigo atrevido dela vivo. 

— Pare com essa idiotice, Percy. — Thalia empurrou o pirata e ficou entre os dois. — Ele nos livrou dessa, ok?  

— Se ele fez isso, deve querer algo em troca. — O moreno argumentou. 

— Mas é claro que não... — Ela ia dizer se não fosse interrompida por Luke. 

— Na verdade, eu quero sim. — Thalia o encarou.