Percy Jackson era um homem inquieto, sem sombra de dúvidas. Ansioso como era, não escondia e nem se esforçava para conter a preocupação com Thalia e Annabeth. Luke, que tentava acalmar seu mais novo amigo, tinha uma confiança quase cega em Thalia, que ela conseguiria completar a missão e que teria novamente a morena em seus braços. 

O resto da tripulação seguia as horas silenciosamente atentos, com Neptuno ancorado no cais ilegal de Hefesto, um amigo antigo que extorquia alguns piratas burros com acessórios falsificados, os homens não podiam arriscar serem pegos pelos guardas no cais da coroa e pôr o plano por água abaixo. 

Na casa de Zoe, Thalia mostrava à Annabeth o ouro que planejavam devolver para a capital, contava das conversas que teve com Percy e Luke sobre essa decisão e dos dias que passaram na ilha de Poseidon. Contou sobre Percy, dedurando completamente o irmão de toda a saudade que sentia da loira e o rosto da princesa se iluminou.

O coração dela estava acesso, determinado a voltar o mais rápido possível para sua liberdade, mas antes, precisava devolver o saque, antes que seus pais chegassem e ficasse presa no palácio novamente. A pirata sugeriu que a loira dormisse algumas horas antes do plano feito por Zoe começar a ser executado, mas ela simplesmente não conseguia, ansiosa para ver novamente outro horizonte se não o de sua pequena janela, sentir os ventos bagunçarem seus cabelos e da concreta liberdade invadir seus pulmões. 

Depois de fechar a porta do quarto de hóspedes, Thalia juntou-se com Zoe na sala mais uma vez para repassar o plano, que com o auto resgate de Annabeth, sofreria algumas modificações. 

— Você sabe que não podemos arriscar incluir ela no plano. — Zoe disse antes de ver a pirata, acendendo seu charuto e dando curtas e rápidas tragadas. 

— Sei. — A morena sentou numa poltrona próxima do divã surrado que a ladra sentava. — Se ela não conseguir sair do castelo a tempo, vai ser uma viagem perdida, além do mês de saques que perdemos na ilha, esperando tudo se acalmar para o resgate. 

Thalia passava as mãos nos cabelos, quase se forçando a pensar em algo que fizesse Annabeth ficar ali, mas sabia que não aconteceria. Sem ninguém para vigiá-la ou segurá-la, a loira acabaria fazendo o que acha certo, mas o que mais coloca o plano em risco. 

— Se somente pedirmos que fique aqui, ela não o fara. — Thalia pensou alto.  

— Você pode ir deixá-la no navio. — Sugeriu Zoe. 

— Nós cronometramos todos os movimentos da guarda, Zoe. As rondas e os intervalos, se eu perder tempo indo deixá-la nós iremos perder a oportunidade. 

— As rondas noturnas acabaram de começar, você também não conseguirá ir deixá-la agora... 

A pirata estava quase sentindo que havia falhado, e uma coisa que Thalia Grace detestava era a ideia de falhar em algo, não com todos os planos que ela e Luke tinham para depois do resgate. 

— Você leva ela pro navio. — Ela levantou da poltrona, observando Zoe levantar também. 

— E o ouro? 

— Eu entrego. — Ela assegurou. — Sozinha. 

— Você entrou naquele castelo apenas duas vezes, Thalia. E o plano de chamar minha tia? Seu rosto é conhecido dos quatro cantos desse continente e não conseguirá ser sorrateira o bastante depois do sumiço da princesa. 

Thalia sentou novamente. 

— Eu entrego. — Zoe disse, com a voz seca. 

— Faria isso? 

— Depois que vocês levaram todo o ouro do reino, meus saques estão cada vez menores. — A ladra informou. — Eu posso repor o cofre, enquanto você embarca com a loirinha rebelde. 

— Esse dinheiro veio do tesouro de meu pai, Zoe. Sacrificamos ele para o bem maior de milhares de pessoas... 

— Eu não o roubarei, Thalia. Poseidon já livrou meu pescoço diversas vezes, assim como você mesma. — A pirata enxergava os olhos castanhos sinceros sob a fumaça. — Eu devolverei o ouro, nenhuma moeda a mais ou a menos.  

— Tem minha confiança, Zoe. — Elas recolheram-se para seus quartos, nenhuma delas realmente dormindo, apenas cochilando e aguardando o nascer do sol para a execução do plano. 

Thalia, que não conseguia dormir, observava da janela de seu quarto o mar, tão distante, lembrando-se dos planos que havia feito com Luke, planos tão secretos e íntimo para eles, promessas que até mesmo sentiam vergonha de concretizar em palavras para outras pessoas. 

Grace passou tempo demais no mar, apesar dele sempre ser seu lar, ela tinha expectativas de ancorar em terra firme, de permitir que seu irmão amadurecesse e seguisse seu próprio caminho, assim como ela desejava fazer agora... Juntamente com Luke. 

A morena lembrava-se bem das conversas e confidencias que fez ao loiro, das motivações que ele teve para convidá-la a permanecer junto com ele, em algum lugar. O mês que passaram na ilha de Poseidon, os momentos e a liberdade que tinham ali foram únicos, e a deram motivos para querer manter-se lá, com ele. 

A ilha era autossustentável, com frutas a vontade, uma enseada com muitos peixes, água de coco e todo a reserva de rum, vinho e cerveja que podiam imaginar. Além do elo que a pirata não quebraria com sua família, guardando e protegendo o tesouro de seu pai, sempre a disposição de alguma visita de seu irmão e a segurança da escondida e tranquila ilha. 

— Thalia? — Ela ouviu a voz de Zoe, acordando dos seus devaneios, encarando o horizonte sonolento revelar os primeiros raios de sol. — A guarda noturna terminou, vocês tem 15 minutos até a matinal começar, sejam rápidas. 

A morena chamou Annabeth, que levantou rápido, como se os pés queimassem nas terras que tinha anseio em partir. Ela seguiu Thalia, que a guiava pelas vilelas tortas e desnorteavam a princesa. Antes de sair, a pirata agradeceu discretamente Zoe, e a entregou a devolução do saque, para que a ladra terminasse o serviço. 

Annie só se tocou que não estava no plano de Zoe quando avistou Neptuno, em toda sua grandeza e beleza, ancorado no cais ilegal que era ilocalizável para a guarda real.  

— Thalia...? 

— Confie em mim, o ouro foi devolvido, e você está em casa.