Warrior escrita por Annemyra


Capítulo 2
Capítulo I


Notas iniciais do capítulo

Quem diria que eu conseguiria atualizar tão rápido a fanfic dessa vez? Fiquei surpresa comigo mesma, sério
Aproveitem a leitura!! Aconcheguem-se em algum sofá, poltrona, cama, bebam algo gostoso enquanto leiam, e tenham uma experiência incrível ♥



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Mais uma vez, sua respiração condensou-se pesadamente em frente ao seu rosto, aquecendo-o por apenas um pequenino espaço de tempo, logo deixando seu nariz, seus lábios azulados e totalmente rachados, assim como as bochechas coradas, inteiramente gelados.

Alanis olhou para baixo. Seu cavalo negro caminhava em ritmo lento, com a cabeça cabisbaixa e respiração lenta. Pelo balanço que sentia montada nele, a garota sabia que logo o cavalo atingiria seu ponto máximo de cansaço e sua vida provavelmente se esvairia rápido de seu corpo quando isso acontecesse.

Seu coração apertou novamente dentro de seu peito. Ela tentou mexer seus dedos para acariciar a crina de sua montaria, porém fora em vão; seus dedos, embora estivessem protegidos pela pesada manopla que usava, estavam duros dentro dela, praticamente congelados, conseguindo mexer apenas as pontas deles. Assim, utilizando as pontas dos dedos, acariciou com dificuldade a crina de seu cavalo, que relinchou fracamente e continuou caminhando em ritmo lento por aquela montanha.

Mesmo que usasse uma rija e firme armadura prata — tão reluzente que chegava a se assemelhar ao mais puro ouro branco —, seu corpo inteiro estava sendo tomado pelo frio congelante daquele lugar. Tentou mexer o pescoço para impedir de chegar ao ponto de congelar e grunhiu de dor, amaldiçoando eternamente sua decisão de ter ido parar naquele lugar.

Aquele lugar... Ela deveria saber que passar por aquelas cordilheiras seria mortal, ainda mais à noite e com indícios de que ocorreria uma tempestade de neve. Se ela estivesse sozinha, a garota não ligaria tanto para a situação, pois seria apenas uma baixa.

Porém, Alanis não estava sozinha. E era isso que mais afetava sua cabeça e seu coração naquela hora.

Seguindo em seu encalço, não muito distante dela mesma, havia cerca de vinte cavalos carregando, no mínimo, um homem por montaria, sem contar as carroças com suprimentos, as quais carregavam, além de comida e instrumentos, mais homens. Pelo que ela pôde perceber, todos apresentavam o mesmo semblante cansado e semicongelado, com os lábios levemente azulados, alguns tendendo para um tom doentio de roxo, e as bochechas fortemente coradas.

Novamente mais uma pontada no peito. Ela não deveria ter levado todos eles junto dela para aquele lugar, mesmo que tivesse sido obrigada a fazê-lo. Para Alanis, o que mais importava naquele momento era salvar a vida de todos os homens que a seguiam praticamente sem vida em seus cavalos, como um desfile mórbido para comemorar o dia dos mortos.

A garota arquejou, curvando-se para frente de dor, com algumas lágrimas surgindo em seus olhos. Diziam que dores emocionais não poderiam se manifestar em maneiras físicas, mas ela era a prova viva de que tudo isso era apenas mais uma bela mentira. A dor do coração partido, a dor de desilusão... Todas elas machucavam fisicamente também, mas havia um tipo em particular que era o pior de todos.

A dor do luto. Perder alguém que se ama, que sempre estava ao seu lado acima de tudo, que era seu porto seguro. Como alguém conseguiria seguir em frente com tamanha dor dentro de si?

Uma lágrima escorreu por seu rosto em ritmo lento, a garota ainda curvada em seu cavalo. Havia duas semanas que ela sentia aquele tipo horrível de sofrimento, como se um grande buraco tivesse sido criado dentro de seu peito e ele simplesmente decidisse se abrir ainda mais a cada momento que passava, levando-a a sentir desconfortos físicos, pontadas tão fortes de tristeza que causavam dor no peito, além de outros sofrimentos horríveis...

Não, ele não morreu. Eu vou encontrá-lo, custe o que custar. Eu não posso desistir...

Secando suas lágrimas, sentou-se corretamente na cela do cavalo. Ela não queria que as famílias daqueles homens a seguindo sofressem daquele tipo de dor, porque, talvez, eles fossem a única esperança de uma casa pobre, onde apenas eles conseguiam trazer alguma renda modesta, além de trazer alegria à família

Ela precisava salvá-los.

Afinal, era esse o papel dela como Comandante da Primeira Divisão do exército do reino de Staraya.

Um título honroso era o de Comandante, dado para somente às pessoas mais habilidosas, estratégicas e que possuíam uma sabedoria divina para liderança.

Ou pelo menos era isso que deveria ser seguido. A garota, naquele momento, não sentia que estava sendo muito habilidosa, estratégica ou com espírito de liderança. Muito pelo contrário. Ela sabia que havia falhado terrivelmente com a Primeira Divisão, ao trazer todos os homens que a compunham para aquele lugar apenas para realizar uma missão e pedido que havia sido feito à Divisão, ainda que essa missão tivesse sido designada pelo próprio General em pessoa.

Porém, naquele momento, não importava mais nada além de salvar todos os soldados de sua Divisão, mesmo que isso levasse a missão do General ao fracasso ou até mesmo ao adiamento da realização. Tudo o que ela mais queria naquele momento — e o que ela faria com certeza — era salvar seus soldados.

Precisamos de um lugar seguro para passar a noite... Mas onde?

Com os olhos semicerrados devido ao forte vento que agora batia contra todo seu corpo, esfriando ainda mais seu cabelo encharcado — pois ela não utilizava um elmo como parte da armadura —, Alanis vasculhou o local em que encontravam, à procura de algum sinal de algum canto que poderiam utilizar para montar um breve acampamento, mas que poderia salvar grande parte, senão todos, os seus soldados.

Porém, sua determinação em achar algum lugar se esvaía cada vez mais quando percebia que não havia muito para onde correr e se salvar. À sua esquerda, havia um imenso abismo que levaria todos à morte certa, provavelmente os empalando nos enormes pinheiros característicos daquelas montanhas. Continuar em frente não era opção, pois, embora fosse a trilha que deveriam seguir até chegar em seu destino, provavelmente não haveria nada mais do que mais neve e neve, com alguns rochedos espalhados a esmo pelo terreno. Já à sua direita, havia mais uma floresta composta de fortes e altos pinheiros cobertos de neve, com um certo espaçamento entre cada árvore que possibilitaria a passagem das carroças.

Talvez...? Talvez tenha uma clareira ou algo do tipo dentro da floresta!

Um suspiro de alívio escapou por seus lábios, porém a expressão da garota em seguida de tornou pensativa, com as sobrancelhas franzidas e os lábios também.

Por ser Comandante, ela supostamente deveria conhecer cada canto do pequeno reino em que vivia, Staraya, mas aquela região nunca foi explorada antes justamente pelo fato de ser totalmente deserta e com uma imensa quantidade de lobos e outros acontecimentos terríveis, inclusive deslizamentos provenientes de uma parte mais alta da montanha logo acima deles.

Mas só tinha duas opções: continuar a seguir caminho até a fronteira de Staraya, seu destino final como parte da missão, consequentemente sofrendo diversas baixas até isso — provavelmente ela estaria inclusa nesse meio —, ou montar acampamento numa área de risco, podendo sofrer ou não baixas se houvesse algum deslizamento.

Com uma determinação que não sabia dizer de onde vinha, Alanis se empertigou em seu cavalo, virando-o em direção aos homens que vinham cavalgando logo atrás dela. Ao perceberem seu brusco gesto, todos fixaram seu olhar na Comandante.

— Atenção! — ela gritou em meio ao vento, esperando que pelo menos a maioria fosse capaz de ouvi-la. Seus cabelos ainda encharcados pela neve que não parava de cair grudaram ainda mais em seu rosto com a ventania, mas ela apenas os afastou sem se importar com a mão, o suficiente para que não entrasse cabelo em sua boca. — Eu tenho conhecimento de que essa provavelmente foi a ideia mais estúpida que já tive, mas o meu desejo maior agora é salvá-los, então peço que confiem em mim e sigam o que irei lhes dizer!

A jovem inspirou fortemente, o ar gelado preenchendo seus pulmões por completo, e soltou o ar num suspiro pesado. O ar condensou-se novamente a sua frente, mas dessa vez não mais aquecendo seu rosto.

Ela provavelmente não tinha mais do que mais umas horas até que todos morressem congelados.

Inspirando de novo, ela gritou:

— Iremos montar acampamento nesta floresta ao lado!

Ouviu-se uma onda breve de protestos, mas alguém os calou antes mesmo que a jovem dissesse algo.

— Parem de ser medrosos e ouçam a Comandante que tanto cuida das suas bundas covardes.

Não fora um grito, mas fora dito com uma voz clara e grave, a qual a jovem com certeza reconheceria de longe. Seus olhos procuraram o dono da voz com certa ansiedade, mas ela mal conseguia ver com a neve caindo incessantemente, apenas conseguia distinguir breves formatos de cavalos e a silhueta de poucos homens. Sem perceber, um sorriso havia se formado em seus lábios.

Depois eu lido com ele.

Ouvindo esse comentário, seus soldados apenas se calaram, à espera de ordens de sua Comandante. Um deles avançou para perto dela e lhe entregou uma tocha acesa, para que conseguisse ver o caminho na floresta. Ela agradeceu com um aceno de cabeça e um sorriso discreto, e ergueu a tocha em direção ao céu.

— Vamos! Sejam fortes, guerreiros de Staraya!

Com esse pequeno e significativo incentivo, seus soldados soltaram gritos de bravura e determinação e, com a energia e ânimo renovados por sua confiante e firme Comandante, começaram a tomar rumo para dentro da floresta de pinheiros, com a cavaleira de elegante e pesada armadura de ouro branco guiando seu caminho, espantando todos os males da trilha com sua eterna luz e determinação.

— Vamos, eu sei que vocês conseguem! Apenas mais um pouco e poderemos finalmente descansar!

Essas eram as palavras que sua boca preferia aos berros cada vez que algum soldado aparentava estar abraçando a morte, com os braços já flácidos e os lábios completamente arroxeados. Embora fosse uma ordem para continuar sua tarefa — erguer as tendas onde passariam a noite e, com sorte, salvar a todos —, ela não podia evitar de deixar um certo apelo em seus berros, porque, a cada momento desse, um terror se passava por todo seu corpo, dominando-a completamente e fazendo ela berrar com todas as forças para seu soldado batalhar para viver.

Ela fizera isso tantas vezes durante aquela noite que já sentia sua garganta se contraindo a quase todo momento de tanta dor e agonia. Naquele momento, ela tentava falar algo e sua voz saía completamente rouca, arranhando todo seu pescoço por dentro. Porém, ela não podia parar de realizar sua tarefa.

Com o restante de força que tinha, ela novamente berrou um incentivo para seus soldados e puxou a corda que estava em suas mãos havia tanto tempo. Seu berro foi seguido de diversos grunhidos e até alguns gritos fracos de determinação e, por fim, estava completo o que estavam batalhando tanto para fazer.

A última tenda acabara de ser erguida. Eles finalmente poderiam descansar e se aquecer, finalmente conseguiriam sobreviver!

Alanis soltou um suspiro com uma mistura de alívio e cansaço. Ela não falhara. Ela encontrara um local para acamparem, conseguiu fazer todos trabalhar para erguer as tendas e ninguém falecera no processo. Absolutamente nenhum de seus soldados morrera em suas mãos, nenhum mesmo. A jovem não pôde evitar de sorrir.

Ela salvara a todos!

Com o ânimo restaurado e um sorriso no rosto, ela tomou todo o seu fôlego e gritou novamente:

— Muito bom trabalho, meus companheiros! — o sorriso em seu rosto se alargou ainda mais e a vontade de rir era ainda mais crescente. Estaria ficando louca? Ela não duvidaria se alguém dissesse isso sobre sua pessoa naquele momento. Poderia ser rotulada como louca, ela não ligava, apenas estava feliz em ter salvado todas as vidas com certeza importantes de todos ali. — Por favor, descansem por ora e tratem de se aquecer! Usem a lenha que trouxemos!

Uma onda de suspiros de alívio foi ouvida por todo o local, que abrigara bem uma Divisão com mais de trinta pessoas. Era uma enorme clareira, com alguns ramos de pinheiros baixos suficientemente fortes para prender as cordas de suas tendas, além de servir para prender as rédeas de todos os cavalos. Eles não estavam muito bem protegidos do vento devido ao espaçamento entre as árvores que era considerável. Por isso, decidiram deixar as carroças onde o espaçamento era maior para barrar, pelo menos, grande parte das correntes de ar que os atacavam algumas vezes.

Não era o melhor acampamento de um exército, porém, com os poucos recursos que tinham disponíveis e com a urgência que precisaram fazer tudo aquilo, estava divinamente esplêndido.

Alanis só esperava que as tendas realmente fossem capazes de aquecê-los. Feitas apenas de alguns pedaços de pano — embora este mesmo fosse pesado e resistente —, elas poderiam ficar molhadas rapidamente com a neve que caía, mesmo que, comparado com antes, estivesse em bem menor quantidade.

Por favor, que todos fiquem bem.

Atenta, a jovem olhou ao redor. Havia, ao todo, oito tendas grandes, que comportariam em torno de quatro homens. Embora não fosse do feitio da maioria dos Comandantes das outras divisões, Alanis sempre gostara de cuidar bem de seus soldados, para que eles estivessem em boas condições para uma batalha, então ela requisitou que os mesmos tivessem colchões — mesmo que bem modestos, feitos de feno — para terem onde dormir a não ser o chão.

Não era de se admirar que, com seu status no reino, ela conseguisse facilmente as coisas que precisava para seus homens. Sua garganta fechou com esse pensamento.

Não, eu reneguei essa vida. Não posso utilizar essa influência dessa forma. 

Balançou a cabeça para tentar tirar esse pensamento de dentro dela e caminhou em direção à tenda principal. Adentrou rapidamente, fechando-a logo em seguida. 

A tenda era um pouco maior que as outras, onde seriam abrigados seus oficiais e ela própria. Odiava admitir, mas ela mesma possuía alguns luxos a mais do que outros soldados, mas não naquele momento; como era um acampamento inesperado, o único luxo que dispunha era um colchão mais robusto que os outros e algumas roupas a mais.

Dirigiu-se para a sua cama provisória e sentou-se na mesma. 

Seus outros oficiais já haviam preparado tudo dentro da cabana, inclusive uma fogueira de um tamanho considerável, que aquecia o ambiente rapidamente, relaxando a comandante. Em pouco segundos, ela podia sentir seus dedos ganharem vida novamente aos poucos, mexendo muito mais agora do que apenas as pontas deles, assim como os dedos de seu pé. Não tardou para que todo seu corpo começasse a se aquecer com o simples calor da fogueira, que ainda estava um pouco distante dela.

Um sorriso surgiu em seus lábios. Agora ela poderia relaxar e não se preocupar mais com a possibilidade de algum de seus soldados morrer. Todos eles estavam quentinhos e seguros em suas tendas, provavelmente já saboreando algum dos escassos sacos de comida que trouxeram, conversando entre si, rindo e, talvez, bebendo? Ela não se preocupara em levar cerveja, mas talvez um ou outro soldado tivesse colocado na carroça.

Com ansiedade para se esquentar um pouco mais e conseguir retirar toda aquela sensação gélida de seu corpo, Alanis, ainda sentada, retirou as proteções de seus pés da armadura, libertando finalmente seus dedos, que ela mexeu rapidamente para acordá-los de seu breve torpor. Tentou esticar sua perna para aproximar seu pé da fogueira, mas, conforme ela já esperava, seu pé não alcançou nem um palmo próximo da fogueira.

Comandante de uma divisão inteira, porém carece de estatura. Genial, Alanis, simplesmente genial.

Terminou de retirar toda sua armadura, colocando delicadamente cada peça em cima de seu colchão de feno. Ao colocar a última peça — uma de suas manoplas — no leito, notou que a armadura por completo se encontrava com pequenas gotículas de água em sua superfície que, em contato com a fraca, porém linda, iluminação da fogueira, passava a impressão de que todas as peças emitiam um certo brilho branco, quase ofuscante. Não era à toa que diziam que a lendária armadura da Comandante era feita do mais puro ouro branco, usada para defender com paixão e determinação o reino que ela tanto amava.

Nem eu mesma sei o material disso, vou procurar saber quanto retornarmos à capital.

Ouviu passos próximos da entrada da tenda e, em seguida, parou na entrada da tenda justamente quem ela queria ver.

“Parem de ser medrosos e ouçam a Comandante que tanto cuida das suas bundas covardes.”

Alanis virou-se para a entrada, encarando o homem que havia acabado de entrar, por mais que ainda estivesse ainda parado no mesmo lugar desde que entrara.

Ela não sabia se era por causa do frio ou porque havia bebido demais, mas o rosto do homem a sua frente estava bem enrubescido, principalmente nas bochechas, o que contrastava com seu cabelo ruivo rebelde, alguns fios caindo na frente de seus olhos de um tom de verde parecido com os dos pinheiros que abrigavam a Primeira Divisão.

Seus lábios desenharam um sorriso brincalhão de canto quando seu olhar caiu na Comandante. Mesmo que contra sua vontade, a jovem sorriu de volta.

— Vejo que já se acomodou bastante... Alanis. — ele pronunciou seu nome como se o mesmo dançasse em sua língua, com alegria, diversão e provocado ao mesmo tempo. Caminhou em direção a cama que deveria ser dele, do outro lado da fogueira, e sentou-se, encarando diretamente a Comandante. Seus olhos passearam pelo corpo da jovem. — Devo confessar que encerrar a noite com uma visão dessas é absolutamente o que qualquer homem poderia querer, mesmo que ainda esteja vestida.

Ela olhou para baixo. Mesmo que estivesse vestida, suas vestes brancas eram justas o suficiente para se perceber suas curvas acentuadas na cintura e seios.

— Não se esqueça de que ainda estou com a minha espada em mãos, seu idiota. — Alanis declarou, virando-se para o jovem com realmente a arma desembainhada em mãos. Ele arregalou os olhos, como todo mundo fazia quando via como era bela a arma mortífera que segurava em suas mãos.

Feita especialmente para Alanis, novamente usando a influência de seu status proibido, a lâmina emitia um brilho esverdeado quando iluminada, com a frase "Defendo-te com meu coração" escrita no idioma primitivo de Staraya. A empunhadura era esculpida em prata e enrolada em couro em lugares estratégicos. No centro da empunhadura, era possível distinguir a cabeça de um lobo cinzento com sua boca aberta, prestes a atacar alguém.

Ninguém imaginava que uma jovem com um rostinho tão gentil e belo seria capaz de usar aquela espada tão mortífera.

— Ainda acho que você fez uma péssima escolha ao escolher uma claymore como arma. — o rapaz comentou, franzindo o cenho para a garota. Deixou seu leito e aproximou-se de Alanis a passos lentos, sentando na cama dela, ao lado da armadura desmontada. Com ele sentado à frente dela, eles praticamente ficavam da mesma altura.

Alanis bufou e largou a espada junto de sua armadura, sentando-se no restante de espaço que havia na cama, ao lado do homem. Assim, ela estava praticamente com o corpo colado ao dele, mas a comandante não ligava.

Afinal, ele era justamente seu Tenente, então era normal terem certa intimidade, não era?

— Você luta com duas lanças, Vitya. Você que é o excêntrico da nossa divisão. — a garota rebateu, rindo fracamente. — Afinal, onde estão elas? Perdeu-as de novo?

Ele gargalhou, lembrando-se do episódio que ela mencionara. Certo dia, quando voltava de algum treino, Vitya largara suas duas preciosas lanças — as quais chamava de Moriz e Margosha, por uma ser totalmente negra e a outra, inteiramente branca — em um dos milhares dos depósitos de vassouras na Sede de Treinamento de Recrutas, pois estava absolutamente bêbado devido à cerveja dos recrutas. Depois, quando fora treiná-los no dia seguinte e precisaria de suas armas, não as encontrava em lugar nenhum. A própria Alanis que achara as lanças, quando tinha ido buscar algum pano para limpar o vômito do próprio Vitya, que fizera isso em pleno nervosismo.

— Eu nunca mais tornei a fazer aquilo novamente. — declarou ao terminar de gargalhar. Depois, em uma fração de segundos, seu rosto ficou sombrio. Vitya apoiou os cotovelos em seus joelhos, deixando a cabeça cabisbaixa. Então, murmurou: — Não posso perdê-las, foi um presente dele...

O mundo de Alanis ficou totalmente negro ao perceber de quem o tenente estava falando. Ela sabia que, na frente de sua Divisão, não poderia demonstrar nenhum sinal de fraqueza, além do desejo de levá-los para mais uma vitória e determinação. Porém, sabia que, na frente de Vitya, poderia demonstrar pelo menos uma pequena parte do que sentia naquele momento. Afinal, ele era o único que poderia entendê-la naquele momento.

Angústia seria a palavra certa? Ela não sabia. Havia tanto tempo que um buraco se abrira em seu peito e, a cada segundo que passava, parecia que ele abria cada vez mais, pois ele não estava ao seu lado para fazê-la rir novamente como sempre fazia, ou para lhe oferecer o ombro quando algo dava de errado em seus planos, embora Alanis nunca tenha se permitido chorar na frente dele a não ser por alegria. Até na frente dele ela se fazia de forte, por que não conseguia naquele momento?...

Porque ele não está mais aqui.

Alanis arquejou novamente, sentindo a costumeira pontada no peito quando pensava nele. Não, não, não, ela não podia pensar daquela maneira. Ela iria encontrá-lo.

Custe o que custar, ela iria encontrá-lo.

— Eu vou encontrá-lo. — Alanis disse com determinação, olhando nos olhos de Vitya. Os dois estavam bem próximos, suas respirações se misturavam incessantemente, porém ela não se importava. Sabia que Vitya nunca iria vê-la daquela forma, pois ele sempre deixara claro que, se o tenente tocasse em Alanis, ele seria um homem morto. Ela também não estava interessada mesmo. O rapaz continuou olhando profundamente os olhos dela. — Ele não está morto e eu vou encontrá-lo. Eu não posso aceitar perdê-lo...

O Tenente pegou a mão esquerda de Alanis, que estava apoiada em sua coxa, levando-a para sua bochecha, onde esfregou sua pele contra a pele dos dedos gélidos dela. Alanis enrubesceu com o toque, mas não esperava nada menos de Vitya: um conquistador de primeira.

Porém, não percebera que o mesmo fizera isso para enxugar as lágrimas que agora caíam de seus olhos de pinheiro.

— Estamos juntos nessa busca, minha querida. Vou cumprir a promessa que fiz a ele de te proteger a todo custo quando ele estivesse longe.

Alanis sorriu verdadeiramente, embora triste. Levantou-se pesadamente da cama, colocando a armadura em cima de um pano que provavelmente Vitya havia estendido para ela, justamente para a armadura. Seu sorriso se alargou, porém ele logo sumiu quando ela estremeceu quando um vento gélido entrou pela cabana e bagunçou algumas mechas secas de seu cabelo.

— Frio? — Vitya perguntou, verdadeiramente preocupado. O rapaz levantou-se rapidamente e atravessou toda a cabana, abrindo um baú que Alanis não tinha notado ao lado da cama do Tenente. Ele retirou um cobertor pesado de lá de dentro. Vendo as sobrancelhas arqueadas da garota, ele disse: — Não me olhe desse jeito. Eu sabia que iríamos precisar de um cobertor uma hora ou outra nesse lugar frio, e ele é especial o suficiente para ter um baú só para ele.

Alanis sorriu brevemente, indo até sua cama e deitando-se novamente. Vitya se aproximou e, com carinho, cobriu-a com seu cobertor. Do mesmo jeito que ele fazia, depositou um casto beijo em sua testa, desejou bons sonhos e foi-se deitar. Ela ficou observando o rapaz, não tão mais velho que ela, deitado de costas para ela, começar a relaxar, e finalmente dormir.

Então, tratou de fechar os olhos e tentou adormecer também, mas não conseguiu ter um sono tranquilo. Porque ela sabia que aquele cobertor não pertencia a Vitya apenas pelo cheiro.

Pertencia a ele.

Dormiu chorando, tendo pesadelos terríveis com um jovem loiro de olhos de um azul tão pálido gritando por ajuda e, em seguida, sendo engolido por uma sombra possuidora de uma risada maligna.

Espero que você sirva para algo, pequena Alanis.


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Notas finais do capítulo

Eu sinto que estou um pouco enferrujada em manter mistérios, ainda mais um do tipo que quero fazer, mas vou me esforçar para dar o melhor para essa fic que amo tanto ♥
Espero que tenham gostado! Se vocês tiverem alguma sugestão, reclamação, ou só tiverem vontade de conversar, podem falar comigo ♥



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