Um floco.

Mais outro.

E outro.

Seu nariz estava muito afetado pelo intenso frio do lugar no qual se encontrava. Espirrou logo depois que caiu o enésimo floco de neve em seu nariz, o som alto ressoando até a base da montanha. Ele não se encontrava num ponto tão alto do monte, apenas o suficiente para conseguir atravessar aquela cadeia de cordilheiras, famosas por matar congelado qualquer um que não soubesse como acalmar a natureza.

O ar quente saindo de suas narinas e boca encontrava-se com o frio, enquanto ele tentava inutilmente se esquentar. Deveria continuar andando, não podia parar nem por um instante. O colar esquentando rapidamente em seu peito lhe lembrava disso, fazendo seu coração acelerar e voltar a caminhar na hora.

Ele já não sentia mais seus dedos do pé, embora estivessem cobertos por uma pesada bota de couro. Dedos da mão? Não conseguia usá-los há dias. Nariz doendo toda hora, assim como as orelhas.

Isso deveria significar que estava morrendo?

Ele sentia falta de seu cavalo. Olhou para trás brevemente e, mesmo que estivesse longe demais do local, conseguia lembrar claramente do animal caindo na neve, literalmente já sem vida antes de encontrar o chão, batendo a cabeça forte em uma pedra logo depois. O rapaz não souberam exatamente onde seu precioso cavalo houvera se machucado, mas o sangue saíra em um fluxo calmo, manchando a clara neve e as botas do jovem.

Ele vomitara mais de duas vezes naquele dia.

Mais um floco. Esse foi no topo da cabeça, a qual não fazia mais diferença se usava a touca de sua capa de inverno, pois todas as suas vestes estavam molhadas ou terrivelmente geladas devido à neve. Seus cabelos loiros — outrora curtos — atrapalhavam sua visão, mas ele continuava andando, não era permitido parar.

Seus olhos começaram a pesar. Sentir-se cansado e muito gelado, por dentro e por fora, há dias. Os dentes batiam nervosamente, o único som naquele lugar que quebrava o silêncio mortífero.

Eu tenho que parar um pouco...

O colar protestou sobre seu pensamento, mas o rapaz não ligava mais; ele só precisava dormir um pouco, apenas um pouco, para conseguir atravessar as montanhas e chegar em seu almejado destino. Em sua caminhada, encontrou uma pedra particularmente limpa e sem tantas deformações, e deitou-se nela, suspirando pesadamente. Ele estava gelado, incrivelmente gelado, mas talvez dormir um pouco ajudasse.

Seus olhos azuis-pálido miraram o céu sem emoção, pensando em uma pessoa em particular. Ela provavelmente o procurava em todos os cantos e ele se sentia horrível em preocupá-la 

Eu vou voltar, prometo.

Finalmente, com um sorriso no rosto, seus olhos se fecharam, e a morte o acolheu de bom grado.