Deku escrita por Nymphadora


Capítulo 2
Ser alguém


Notas iniciais do capítulo

postando logo porque senão eu vou esquecer.
esse capítulo ficou com um clima mais "tenso" do que o primeiro porque fui escrevendo e ele só foi fluindo. eu postaria separado por causa disso, mas acabei decidindo postar junto mesmo,

de novo não foi revisado, mas espero muito mesmo que gostem desse capitulo ♥



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Ochako tinha de admitir, não esperava ver Izuku na sua porta quase onze da noite perguntando se poderia entrar pra conversar. Suas olheiras estavam enormes e conseguia ver vários curativos pelo seu corpo. Não aparentavam ser ferimentos graves, mas a fez puxa-lo pra dentro extremamente preocupada. Bakugou, que estava sentado na mesa mexendo no computador, deu um breve oi e logo se levantou para sair dali. Izuku também respondeu com um rápido aceno, não estando muito à vontade para lidar com ele no momento.

— Aconteceu alguma coisa? Tem muito tempo que você não vem me visitar. — disse ansiosa, ficando surpresa por não ter se atropelado com as próprias palavras.

— Não, não, só queria conversar com você um pouco, está tudo bem. — garantiu com um sorriso amarelo, já estando com as bochechas avermelhadas. Ochako ainda não conseguia lidar com o timbre que sua voz tinha de agora. Estava tão acostumada com a sua voz fina, e agora ele estava tão crescido e maduro.

Talvez devesse parar de pensar e falar como se fosse uma mãe.

— Desculpe por ter vindo tão tarde e sem avisar, acabei tendo o tempo em cima da hora. — acrescentou timidamente, mas Ochako não tinha se importado com isso.

Gesticulou com as mãos para que fosse até o sofá e que se sentisse em casa — mesmo que não a visitasse com frequência, não é como se o considerasse um estranho. Para ele ter vindo até a sua casa naquele horário sem marcar antes ou ter no mínimo entrado em contato antes, devia que ser algo importante. Não sabia bem como reagir. Tinha uma certa ideia do que talvez fosse o assunto, mas mesmo assim não sabia o que fazer e nem o que dizer caso pedisse o seu conselho quando terminasse de falar seja lá o que fosse. Mesmo com esse sentimento de que "o seu garotinho estava crescido", era sempre ela quem pedia ajuda de Izuku nas coisas. Por mais que fosse tímido e um pouco desajeitado, sempre tivera o dom das palavras. Sabia bem como acalma-la e acolhe-la, além de sempre lhe ajudar nas matérias e dar apoio antes das provas.

— Aconteceu alguma coisa? — repetiu enquanto se sentava no seu lado, tentando prestar bastante atenção nas suas expressões.

Izuku forçou um baixo riso, provavelmente de nervoso, e balançou a cabeça.

— Tem como o Kacchan nos ouvir aqui? — perguntou receoso. — Não que eu ainda tenha medo ou algo do tipo, só que... Quero conversar com você apenas.

— Ele deve estar no quarto, mas posso ir confirmar se quiser. — se ofereceu já praticamente levantando do sofá, mas Izuku segurou a sua mão e pediu para que continuasse ali. — Deku-kun, você está me assustando.

— Ochako-san, já te contei que nasci sem individualidade várias vezes. — Sim, realmente não era uma história nova. Demorou, mas aos pouquinhos Izuku foi lhe contando sobre como foi a sua infância e sobre o One for All. — Então, eu tenho um dedo mindinho nos pés. Eu sou asiático. Eu sou um homem gay. E eu estou namorando um outro homem que também não tem individualidade e trabalha para a polícia. — foi dizendo bem devagar, como se estivesse se esforçando há muito tempo para conseguir falar aquilo em voz alta.

Ochako não disse nada, apenas esperou que continuasse falando. Mesmo que não conseguisse saber o que pensava, conseguia sentir o peso daquelas palavras. Parecia que estava carregando um peso nos ombros tem muito tempo.

— E mesmo assim, eu sou um símbolo da paz. — riu novamente, como se ele mesmo não soubesse como lidar com aquelas informações. — Acho que eu seria engolido vivo por esse país se não o fosse. Digo, eu seria uma escória da sociedade, não é?

Sentia que aquela visão era muito fria e fechada, mas tinha de concordar que aquilo era verdade. Se não fosse por All Might, seria não só infeliz como também nunca conseguiria ser grande em algum ramo, já que nos dias de hoje tudo gira em torno das individualidades (tenha uma individualidade poderosa e diferente que ganhará toda a atenção do mundo, mas tenha uma individualidade simples e "fraca" que não será tão diferente de um rato que só faz incomodar). Sendo nascido no Japão e filho de japoneses, em questões mundiais com certeza dariam mais atenções para heróis vindos de países como Inglaterra e Estados Unidos. O histórico da Ásia e das Américas nunca foram muito bons de ambas partes, mas ser a nação mais forte já é o suficiente para apagar qualquer mancha. E não precisaria nem falar muito sobre a sua homossexualidade e o seu namorado. Ainda conseguia se lembrar deles sendo amorosos um com o outro por curtos segundos pensando que estavam sozinhos, e então simplesmente quebrando o contato para voltarem pra casa como se fossem bons amigos. Mesmo se namorasse algum herói grande e famoso como ele, ainda seria bastante julgado. Falariam que estaria apenas tentando chamar atenção, e algumas pessoas colocariam sua religião sobre Deku dizendo que estava se tornando um vilão e que iria pro inferno.

— Mas enfim, eu fiquei pensando sobre isso por um tempo, e acho que heróis não devem só derrotar vilões e usar capas. — prosseguiu, deixando Ochako cada vez mais interessada em suas palavras. — Acho que vilões também não são só pessoas que usam a individualidade para matar e roubar.

Percebia que seus olhos percorriam pela sala, como se estivesse tentando usar alguma coisa como apoio. Não tendo muitas alternativas no momento, Ochako colocou a mão nas suas e acariciou a região, dando o seu próprio tempo para organizar as ideias e continuar falando.

— Uma pessoa que passa palavras de amor e uma pessoa que passa palavras de ódio... Acredito que qualquer um pode ser um herói ou um vilão. — prosseguiu, respirando sempre bem fundo. — Está entendendo alguma coisa? Acho que estou me enrolando muito.

Ochako deu um leve sorriso, garantindo que estava conseguindo entender a sua linha de pensamento. Também acreditava nisso; não concordava com a ideia de que um herói era apenas aquele com uma super força ou com um poder elemental. Às vezes estar ali para alguém ou simplesmente dar um abraço apertado podia muito bem gerar um sorriso.

— Quando eu era pequeno, achava que ser um herói era conseguir combater dezenas de inimigos de uma vez e fazer com que as pessoas estivessem em um lugar seguro. — Izuku fez mais uma pausa, abaixando a cabeça para observar as próprias mãos. Seguindo seu olhar, Ochako percebeu que as unhas estavam todas ruídas. — Achava que ser um herói era estar sempre sorrindo e nunca chorar, mas agora um herói é muito mais que isso.

— Do que adianta você se titular um herói se não é uma boa pessoa?

Izuku respondeu um "exato" num tom bem mais baixo, então quando percebeu algumas lágrimas já saíam dos seus olhos. Não era bem um choro, era como se estivesse precisando colocar aquele sentimento pra fora de algum outro jeito. Seu peito subia e descia bem mais devagar, e ele parecia estar se esforçando bastante para se acalmar.

— O All Might sempre sorria para dizer "estou aqui" e que está tudo bem. — disse baixinho, apertando os punhos com um pouco de força. Não o culpava, pensar nele provavelmente sempre seria doloroso para qualquer pessoa que o conheceu. — Eu quero dizer que estou aqui e que está tudo bem, mas uma imagem perfeita não parece dizer isso. Digo, eu admirava muito o All Might, muito mesmo, mas hoje em dia acho que um sorriso forçado não é nenhum tipo de símbolo de paz.

Agora Ochako nem sabia mais o que pensar ou comentar. O jeito que Deku falava daquilo, com tanto sentimento e carinho pelo trabalho de herói, a fazia sentir um certo conforto. Sabia que o amigo era uma pessoa incrível e maravilhosa, e sabia que o símbolo da paz nunca esteve tão certo.

— Eu quero ser eu mesmo. — concluiu, balançando a cabeça como se também estivesse se convencendo daquilo. — Não quero ser um herói perfeito. Quero mostrar que eu tenho um lado, que eu tenho o meu jeito de pensar, e que qualquer criança ou jovem sem individualidade, lgbt, ou que simplesmente se sinta como eu me sentia, tem o meu total apoio e proteção, mesmo que eu não consigo estar presente o tempo todo para ninguém. Eu quero ser mais do que o All Might foi pra mim; eu quero ser aquele herói que eu sempre precisei. Quero ser uma figura política.

Aquele brilho no olhar era o que tinha feito Ochako querer ser próxima dele desde sempre. Izuku sempre parecia ter um jeito de pensar e de ser que era fascinante. Não que fosse melhor que os outros, todo mundo tinha a sua especialidade (algo completamente da individualidade), mas aquele brilho era algo admirável. Torcia para que aquilo nunca fosse embora de si.

— Mas eu estou com medo. — disse por fim. — E não sei se realmente devo fazer isso. As pessoas estão satisfeitas comigo até agora, me expor desse jeito pode ser besteira...

Agora entendia o porquê dele estar ali. Parecia ter certeza do que queria fazer no meio do seu discurso, mas agora percebeu que na verdade ele estava bastante receoso do que aconteceria depois.

— Eu acho que esse tipo de visão realista pode te enganar. — O puxou para um abraço apertado, fazendo um leve carinho na sua nuca. — Nem todo mundo vai gostar de você caso se exponha desse jeito, mas não é como se agradasse todo mundo agora. Também não é como se estivesse sozinho nisso, sempre terá apoio de muitos amigos que também são tão influentes quanto. — garantiu com um sorriso. — O problema do All Might era querer ser um herói perfeito, talvez isso o fizesse parecer tão inalcançável. Você não precisa ser assim.

Izuku prosseguiu em silêncio. Não conseguia ter certeza se estava pensando no que havia falado ou se esperando por mais alguma coisa.

— Deku-kun. — o chamou para que finalmente a olhasse. — Você consegue.

E foi uma das últimas coisas que disse. Izuku não disse mais nada a respeito, apenas se levantou e pediu desculpas pelo horário. Mas antes de ir, pediu pra que ela estivesse por perto no dia seguinte. Não deu nenhum lugar ou horário, mas Ochako tinha um bom pressentimento sobre aquilo. Conseguiria encontrá-lo e daria todo o seu apoio, seja lá qual fosse a sua escolha.


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