Ele quer dançar escrita por Cínthia Zagatto


Capítulo 11
Capítulo 10




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Ninguém estava pronto para esquecer a história do Munchkin, muito menos para conversar sobre ela com Caíque. Dona Lourdes havia ficado encarregada de tomar conta dele e dos gêmeos durante as tardes em que os pais não estavam em casa, já que não achavam justo incomodar sua avó por ele ter brigado na escola às vésperas das férias. A diferença era que os irmãos podiam visitar os primos, e, mesmo se ele não estivesse de castigo, não teria alguém para visitar. Gostava de dona Lourdes, mas preferia centenas de vezes a avó.

Já que vó Dirce não ficara sabendo de sua suspensão, dona Lourdes fora a única que perguntara o significado daquela palavra diretamente para ele. Caíque se fez de desentendido e foi para o computador. Os pais o haviam proibido de assistir à televisão, mas ele tinha um passatempo muito mais interessante desde que descobrira as comunidades de musicais no Orkut. Agora havia aprendido a baixar filmes. O problema era que demoravam demais, então ainda preferia ler os roteiros e imaginar tudo enquanto ouvia as músicas.

Na noite anterior, a mãe de Danilo havia ligado. Ela queria saber o que era um Munchkin e conversar com sua mãe sobre as brigas recorrentes dos dois. Assim como a coordenadora da escola, a mãe não soubera responder. Caíque pegara o telefone de seu quarto e escutara toda a conversa das duas, com a mão na frente da boca para que elas não ouvissem sua respiração. Elas falavam sobre como a amizade deles havia mudado, como Caíque estava distante dos meninos e como Danilo nunca mais o convidara para brincar.

Ele não chamaria as brigas de recorrentes, já que tinham ido para a coordenadoria apenas duas vezes desde que pararam de se falar. Elas viam isso de uma forma diferente, achavam que duas vezes eram tempo demais e discutiam o que poderiam fazer para tentar juntá-los de novo. Caíque queria gritar que nunca voltaria a falar com o filho idiota daquela mulher, mas as mães decidiram que não se intrometeriam antes que ele levasse mais uma bronca, agora por escutar a conversa dos outros.

Não tinha levado bem uma bronca por ofender Danilo e pela suspensão. Os pais apenas entraram em casa e o deixaram para trás no carro, algo que ele já havia visto acontecer, mas só agora entendia que esse era o jeito deles de dizer que estavam bravos. Então ele se trancara no quarto, mas não se colocara de castigo. Em vez disso, fora descobrir novos musicais que poderiam contar a ele outras coisas que nenhuma daquelas pessoas sabia. Tudo seria só dele.

Quando as mães desligaram o telefone e a linha deveria ter ficado muda, Caíque percebeu que a ligação não havia sido encerrada. Ele escutou uma respiração do outro lado e segurou a sua para não dedurar que estava ali. Tinha certeza de que era Danilo, de que ele também havia escutado tudo. Passou algum tempo tentando descobrir se era mesmo e, se sim, se havia sido pego também. Então ouviu o chamado, baixo, gaguejado:

— Caíque?

E isso o fez bater o telefone com toda a força, para que Danilo escutasse o baque e sentisse o quanto não queria conversar com ele.

Seus pais nunca mais tocaram no assunto do Munchkin, e sua avó nunca chegou a ficar sabendo. O maior problema foi que os ingressos para a apresentação de fim de semestre começaram a ser vendidos ainda naquela semana, e Caíque não tinha certeza se conseguiria convencer os pais de comprá-los logo depois de ser suspenso da escola. Levou alguns dias para tomar coragem, mas o pai perguntou durante o jantar em que decidiu arriscar o pedido:

— Você vai tocar alguma coisa?

Caíque pensou rápido, mas desta vez já tinha a resposta ensaiada na ponta da língua:

— Não, a minha turma ainda é muito nova, mas eu conheço uns garotos que vão tocar. Eles são muito bons e sempre ajudam a gente a treinar.

O pai assentiu e lhe deu o dinheiro para que comprasse para toda a família no dia seguinte. Caíque colocou a mão no coração, aliviado, quando ouviu a recepcionista dizer a ele que quase havia ficado sem lugar, mas conseguiu comprar cinco dentre os últimos doze ingressos. O auditório da escola era um lugar pequeno para tantos alunos.

Agora estava sentado lá no fundo dele, depois de assistir a inúmeras apresentações de bandas, danças em grupo, alunos muito dedicados com peças individuais e sua própria turma de canto. Sua classe do balé estava na metade da coreografia, e Caíque ainda tentava se decidir em qual das duas apresentações havia feito mais falta. Uma das meninas, a que sempre olhava para ele mesmo quando ele já não tinha marcação no palco, estava errando todos os passos, e o menino que ganhara o solo em seu lugar nunca havia aprendido a cantar.

Queria estar lá em cima. E que os pais ficassem orgulhosos por ter feito tudo muito melhor.

Sabia não ser a hora.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ter chegado até aqui. :)
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