A verdade sobre Eles escrita por Jhulliaty


Capítulo 8
Capítulo 7 - Falsa Marigold


Notas iniciais do capítulo

Não, não, não, não!



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Kalaziel ouviu passos vazios no quarto de hotel.

O fundo da sua alma queria acreditar que não era nada mais do que barulhos de vizinhos fazendo coisas que humanos faziam, mas ela sabia que não era, não havia vizinhos ali e a Erdia se movimentava rápido, mesmo que silenciosamente.

Deuses, como aquela garota era insistente!

Apesar que a Anjo não podia dizer muito, estava fingindo dormir, pela segunda vez em dois dias, reorganizando pensamentos enquanto fazia o que os humanos chamavam de descansar.

Ela não sabia mais por que não deixou um Anjo perfeito, como Rafael, descer no lugar dela, ao menos não precisaria ficar atrás dessa garota que tentava fugir a todo custo achando que ela era somente um ser louco, ou algo do gênero.

E ela não tinha feito nada além de ficar sentada, isso a irritava.

— Para onde vai? — Erdia parou de andar, e até mesmo de respirar por alguns segundos quando ouviu a voz rouca que saía da Anjo, que estava de olhos fechados — Pensei que íriamos para sua Faculdade somente as 10:00 da manhã.

— Estou... me adiantando? — Erdia apertou a blusa com mais força.

A Anjo suspirou e abriu os olhos.

A garota olhou atentamente para os olhos caramelados e a expressão rígida. Aquele rosto não mudara, já era de manhã e parecia não ter passado um segundo desde que vira o rosto da outra no dia anterior, com a mesma expressão e as mesmas folhas outonais caindo lentamente dentro de seus olhos.

Kalaziel se levantou e estendeu a mão para a garota, que sem entender, virou a cabeça com um rosto em dúvida.

— Soube que humanos possuem aparelhos para se comunicarem, algo como ce... — travou na linguagem nova.

— Celular. — Erdia completou. — O meu está quebrado, a um tempo na verdade.

— Acredito, então, que isso facilite as coisas. — A Anjo fechou a mão enquanto se dirigia para a estante acima do sofá. — Notei que você, ou me teme, ou acha que estou mentindo. Independente do que seja — Kalaziel fechou a mão em algo e a puxou, duas pequenas caixas azuis escuras com detalhes em azul claro, Erdia conhecia aquilo de algum lugar — você quer fugir de mim, e por mais que eu queira deixar você ser livre, não posso — os olhos caramelados focaram em Erdia, que por um segundo viu eles cheios de uma preocupação... diferente — sei o que lhe reserva, mesmo que não acredite em mim, e sei também que irá me desobedecer — ela ajeitou as asas, e Erdia afrouxou a mão — Me deixe ir com você, ou ao menos, leve isso.

A garota pegou uma das caixas quando a Anjo estendeu as duas, e a abriu com o maior cuidado do mundo, deixando cair, sem notar, a blusa de sua mão.

Era o último modelo de celular, usado por grandes empresários que faziam dezenas de coisas ao mesmo tempo, como pesquisas na internet e ligações, além de anotações.

E também era para estudantes que precisavam fazer as mesmas coisas, mas com conteúdo diferente.

Pequeno, prendia na orelha como um brinco grande, aquele em específico dava a volta por toda a orelha, adornado de azul com branco e azul claro, com um botão onde ficaria o fechamento do brinco, e era onde ativava o visor para o celular.

Tudo era controlado pelo olhar, se você era mais experimente, mentalmente.

A Realidade dentro da Tecnologia.

— Como você pagou isso? — os olhos azuis se fixaram nos marrons, e a Anjo deu de ombros. — Se você roubou, você me dirá agora onde foi que –

— Eu comprei, não se preocupe, sei muito bem como funciona o sistema humano, e você viu que paguei por esse quarto, acha que não tenho dinheiro para lhe dar algo assim?

Erdia recuou um pouco, realmente, ela havia pagado pelo quarto que custava mais que sua casa, era obvio que poderia pagar por algo assim se quisesse, provavelmente foi em alguma loja, olhou alguns modelos e viu o que era mais prático e bonito, e acabou comprando.

Afinal, havia dois iguais, que ela viu serem diferentes quando a outra abriu a caixa para o colocar.

Branco com cinza, mais apagado, mas nas orelhas dela ficavam mais a mostra que o normal.

Um estalo fez a cabeça da garota doer. Como tudo aquilo estava acontecendo?

Em que Mundo aquilo era um Anjo?

Uma pergunta melhor era:

Como os humanos erraram tanto na imagem de um Anjo?

— Por que eles nunca viram um. — Erdia tampou a boca, ela tinha pensado em voz alta? — O que criaram é uma imaginação do que seria um ser liberto.

— Um pássaro, então? Faz sentido. — olhou para a Anjo de canto de olho, por que estava receosa? — Todos são iguais a você?

Kalaziel riu e depois deu tapinhas leves na cabeça da garota, que a abaixou um pouco.

— Não, Erdia, somos mais parecidos com o que os humanos pintam, eu que sou... Algo como especial. Seria confuso lhe explicar enquanto não me conhecer como ser, e não como Anjo.

— Te conhecer como... ser?

Kalaziel deu um sorriso confiante para ela, atrevido até, já que a garota pouco tinha contato com estrangeiros e sua cultura não era muito... calorosa.

Como elas eram diferentes.

— Agora que lhe dei isso, você pode continuar a arrumar a mala se quiser.

— Mas você acabou de dizer que –

— Você ia fugir de mim — virou de costas e estendeu as asas enquanto esticava as costas, que estralaram fazendo um barulho alto, mas oco — Agora eu posso saber exatamente onde você está.

— Indecisa...

— “Precisa” seria a palavra melhor.

Erdia mostrou a língua enquanto pegava a blusa do chão, ainda se ajustando ao peso extra do novo aparelho em sua orelha.

Kalaziel parecia o tipo de ser que sempre ficava sozinho, e quando junto aos outros, não transparecia muito algum sinal de vida. Talvez seja porque ela era um Anjo, mas alguma parte da garota queria acreditar que ela era igual a todos eles, humanos.

Erdia nunca fora sozinha, seja por sua beleza natural incomum, ou por ela ser legal, sempre havia alguém perto dela, ou querendo algum assunto, além das garotas que amavam seus cabelos loiros e queriam saber como ela os tinha.

Ela não conhecia a solidão, mesmo com toda sua condição financeira.

A garota de olhos azuis pensava nisso enquanto caminhava ao lado da Anjo, que novamente parecia um Príncipe de cavalo branco ao seu lado, com sua capa branca e sua roupa cinza e preto, a mesma de antes, mas com um adicional de um broche de duas penas que fechavam a capa ao redor do braço dela, escondendo a espada que pendia em sua cintura.

Mesmo que Erdia fosse de uma cultura não muito carinhosa e amorosa, era Kalaziel que parecia distante, fria.

— Kalaziel... — A Anjo olhou de canto para a garota — Onde você nasceu?

Erdia viu o momento que Kalaziel mordeu o lado oposto da visão dela, mas então, como se nada tivesse acontecido, voltou ao normal.

— É uma longa história, Erdia, mas para trazer para o seu mundo — Kalaziel respirou mais profundamente antes de continuar — Fui... criada na Europa quando criança. — Ela deu um leve sorriso — Eram tempos diferentes. Os humanos que me criaram não possuíam filhos, mortos por doenças que ninguém sabia, então quando eu apareci, logo após a morte de um deles, me abraçaram e me aconchegaram como se fosse uma deles, mesmo com as asas e os chifres, mas quando eu cheguei a adolescência, fui levada para um julgamento no Trono, onde Lúcifer e Miguel me condenaram, e onde foi denominado que eu seria um Anjo, e viveria no céu.

— Você era uma menina normal? — o espanto no rosto da outra era nítido.

Mas como resposta, a Anjo riu, sua risada grossa atraiu alguns olhares que fizeram Erdia abaixar a cabeça.

— Não, Erdia — Ela ainda controlava alguma risada — Eu nunca fui uma humana normal, mas eu fui criada por uma mulher normal — A Anjo colocou a mão no topo da cabeça da outra, novamente isso — O tempo não volta, Erdia, você deveria se concentrar em ficar viva antes de querer saber de mim.

Por que ela dizia aquilo?

— Ei, Kalaziel, por que você –

— Chegamos — A Anjo havia cortado a outra, mas o que ela podia fazer? Era lei.

Erdia levantou a cabeça, a faculdade era um local enorme, com um portão que dava para um jardim que estava começando a desmanchar por causa do frio, e um prédio cinza e branco atrás, gigante.

A menina de olhos azuis começou a ir em direção ao prédio quando a Anjo a puxou pelo braço.

— Me solta! — o grito que saiu de Erdia espantou a outra, que fechou a cara.

— Me escute, você pode não querer acreditar em mim, mas aí dentro não é como você espera.

Erdia puxou o braço com força, o que fez a outra soltar.

— Qual o seu problema?! — Ela estava nitidamente brava — É só uma faculdade, Kalaziel, não é nada demais! Você está fazendo alvoroço com isso desde que cheguei, mas não tem nada além do normal do outro lado!

A Anjo levantou a cabeça, mostrando um ar de superioridade, seu rosto sério fez Erdia apertar com força a bolsa que ela havia recusado que a outra carregasse.

— A escolha é sua — parecia um demônio falando dentro de sua cabeça, mesmo que seus lábios tivessem se mexido.

A Anjo estava nitidamente nervosa, enquanto Erdia parecia, no mínimo, aterrorizada. Ambas viraram ao mesmo tempo para direções opostas, Erdia tremendo com uma sensação ruim, que só podia vir daquele... ser, enquanto Kalaziel andava a passos duros para longe, deixando marcas pesadas no chão que começava a ter algum frio.

A garota de olhos azuis abaixou a cabeça enquanto se dirigia para a porta, ela devia estar louca ao confrontar um ser daqueles, independente dele ser Anjo ou Demônio ou... o que quer que fosse, ele não era daqui e ela podia estar em apuros.

Mas... seus pais haviam lhe confiado o futuro, ela não podia dar meia volta só por algo idiota como aquilo, não agora.

Erdia entrou pelo portão que jazia aberto, enquanto sua mente discutia sobre a sensação ruim que ela estava.

Seria muito bom poder ver o verdadeiro sentimento das pessoas naquele momento.

Aliais, seria bom ver o sentimento de todos a todo momento, as pessoas poderiam se entender e compartilhar suas opiniões, talvez não houvessem mais guerras...

Apesar de já terem mostraram que isso não dá realmente certo, e é bom ter opiniões diferentes.

A garota suspirou, o que ela estava pensando a altura do campeonato?

Quando Erdia olhou para frente, já estando no meio do local, sua garganta secou.

Não havia ninguém em absolutamente nenhum lugar, nada estava aberto e tudo parecia ter sido abandonado... de uma forma diferente, arrombado por criminosos, talvez.

Ela deu um passo para trás, depois outro, no terceiro ouviu um estalo vindo da porta.

Se virou, dois homens olhando de forma horrível para ela, segurando um porrete e uma arma.

Aquela faculdade não era conhecida? Por quê...?

Ela apertou a bolsa e correu escada rolante acima.

Então.

Sua respiração arfou.

Então.

Mais alguns degraus.

Aquele ser estava certo.

Ela chegou ao topo, onde deu de cara com alguns homens dormindo, e garotas abusadas bem na frente da escada, além de muito sangue nas paredes.

Erdia correu para a esquerda, onde tinha algumas lojas e um longo corredor com nada.

E era para o nada que ela iria.

Enquanto corria, ouviu mais passos, com certeza que quem estava deitado se levantou para a seguir.

A culpa pesava tanto quanto a bolsa, devia tê-la ouvido.

Ela devia ter ouvido o que aquele ser estava falando.

Ela devia ter ouvido o que Kalaziel tinha falado.

Entrou aos tropeços dentro de uma loja de esquina, onde ainda tinha alguns restos de cadernos, bolsas e canetas, ela se jogou atrás das prateleiras e sentou, se encolhendo como uma criança.

Erdia tentou controlar a respiração uma, duas, três vezes, sua mão na frente da boca para não causar tanto som, mas quando ouviu passos próximos demais sua mente entrou em total pânico.

Se ela ao menos tivesse a ouvido, se ela ao menos pudesse ligar para a Kalaziel agora, ela poderia ter alguma esperanç–

Um dos homens a puxou para cima pelo cabelo, a garota gritou de dor.

— Olha, Chefia, essa garota não é nada mal.

Lágrimas escorriam dos olhos de Erdia enquanto ela se esperneava no ar, tentando tirar a mão que segurava seu cabelo.

Ela se sentia a pessoa mais idiota desse Mundo.

— Olha só, não sabia que existiam coreanas loiras e de olho azul.

Ela não era coreana...

Erdia olhou para os homens, o que a segurava era grande, deveria ter o tamanho de Kalaziel, mas era bem maior fisicamente, careca e fedia a suor e um cheiro forte que ela não reconhecia, enquanto o outro tinha um porte normal, mas carregava uma arma de fogo e parecia ser mais gordo.

Seu momento de lucidez passou quando o gordo deu um tapa na sua cara.

— Ei, sua puta,  olhando o que?

Os olhos dela se encheram de lágrimas novamente, enquanto apertava os dentes com força para não chorar.

Ela seria morta ali como aquelas meninas, ou até pior.

Erdia foi jogada no chão para depois ser arrastada pelo pescoço.

Aquilo... a sufocava...

Ela não queria morrer sem ver seus pais, seus amigos, não queria sair de lá com somente restos enviados para os seus entes.

Ela não queria morrer.
Ela não queria desaparecer.

E antes de notar, foi jogada escada abaixo, com o barulho de risadas no fundo e uma visão nebulosa à sua frente.

— Soltem a minha Erdia!

O grito ecoou longínquo enquanto o som das portas batendo preenchiam o espaço e sangue escorria do peito do homem que antes segurava Erdia.

Eles iriam pagar, todos iriam pagar.

Um outro homem gordo atirou na Anjo que o olhou com olhos furiosos, o sangue escorria de sua barriga sem ela se importar.

— Voc- Você! — ele atirou mais uma vez enquanto sua voz tremia, a bala pegou no pescoço da outra, que simplesmente ignorou — Desgraçado!

Kalaziel empunhou novamente a espada banhada de carmim e sorriu. O homem atirava copiosamente nela agora, gritando para o nada.

A Anjo avançou novamente, cortando a cabeça dele fora.

— Fala demais — a voz grossa fez as meninas vivas se encolherem, tremendo de medo.

Kalaziel olhou na direção delas, mas somente viu mais quatro homens vindo, e outros cinco que desciam as escadas do andar de cima.

Uma risada grossa saiu dela, de longe os homens atiravam nela.

Humanos tolos.

Um deles tentou bater com um cano na cabeça da Anjo, que segurou e enfiou na testa dele.

O morto caiu para trás fazendo o cano e a cabeça tombarem para o lado.

Não deixaria nenhum ser daqueles vivos.

Oito.

Ela caminhou lentamente em direção aos que atiravam na sua frente enquanto limpava o líquido que escorria pelos seus olhos e que estavam a incomodando.

Sangue, mas não doía.

Três deles saíram correndo quando ela chegou na metade do caminho, a Anjo bateu as asas e voou em direção a eles.

Um deles se jogou para o térreo, algo quebrando foi ouvido.

Outro homem gritou enquanto a Anjo cortava o começo da cabeça dele ao meio, deixando o cérebro a mostra.

Mais à frente, dois deles caíram tremendo no chão do lado das garotas que soluçavam achando que já estavam mortas.

Seis e meio.

Kalaziel andava a passos lentos agora que os tiros haviam parado.

— Es... Espera, espera, eu não fiz nada, eles não eram nada meu–

— Eu não — pingava sangue da lâmina daquele ser — lhe perguntei nada — o peito dos dois foi rasgado ao meio enquanto as meninas gritavam horrorizadas por todo o sangue e carne que se espalhava.

Quatro e meio.

As mulheres não saíram correndo enquanto Kalaziel se afastava e levantava voo para ir atrás dos que haviam corrido enquanto ela se distraía com os que atiravam.

Por onde ela passava, um rastro de sangue era deixado, tanto dela, quanto da lâmina.

Ela passou por onde Erdia estava anteriormente escondida e seguida, virou, o vento de suas asas fazia a poeira levantar e o cheiro de podre subir.

Eles já haviam matado muitos.

Kalaziel sempre havia amado suas asas marrom claro, mas naquele momento, ela não as trocaria por nada.

Líquido escorreu pela perna de dois dos três homens à sua frente, enquanto o terceiro se dava um tiro na cabeça.

O grito do demônio se espalhou pelo local todo.

O grito de ódio daquela que havia vindo de cima.

Pousou, os dois caíram de joelhos chorando que nem bebês.

A Anjo apontou a espada para eles.

— Por que faziam isso? — a pergunta em Russo surpreendeu os homens.

— A- A- A — até a voz tremia, inútil. — A gente– — ela cortou a cabeça dele, o outro gritou em horror.

— Responda você, ou será torturado.

— A gente — ele chorava como criança — Seguia ordens, a gente só fazia o que ele mandava, pagava bem, a gente fazia, só isso, só iss-

Os olhos da Anjo eram um furacão no outono enquanto ela cortava várias vezes o homem. 
Um. Ela respirou fundo. E meio.

A Anjo calmamente saiu de lá, no cenário escuro, ela parecia até procurando algo, e não banhada de sangue.

Um e meio.

Ela chegou na escada rolante, as meninas ainda estava lá. Erdia ainda estava desmaiada e o meio que faltava estava se arrastando para a porta.

Kalaziel desceu as escadas lentamente e parou na frente dele, o homem a olhou com ódio.

Ela havia matado todos os outros e estava pingando sangue, o olhar do outro era coerente.

Mas não o suficiente para o deixar vivo depois do que fizeram com Erdia.

A lâmina perfurou o coração do ser sem nenhuma resistência do corpo.

Só não sabia se era do corpo dele, ou dela.

Kalaziel jogou o corpo para longe, que rolou no chão e bateu em uma pilastra.

E pesava. Seu próprio corpo pesava tanto.

Por quê? Anjos, depois de machucados uma vez pelas armas humanas, ficam imunes à sua dor, não fazia o mínimo de sentido.

A Anjo se arrastou até a Erdia que repousava gelada no chão.

Ela havia avisado, da mesma forma que avisou Joana D’arc para não ir contra o Rei, ela avisou, implorou para a ouvir.

Os olhos pesaram enquanto lágrimas se misturavam ao sangue.

Ela havia a perdido mais uma vez, depois de todo sangue e guerra, veio o fogo para Joana D’arc. Para Erdia, o sangue veio depois de muito fogo.

A guerra sempre se manteve igual, sempre se manterá.

Kalaziel deitou do lado da garota. O sangue escorria da cabeça de Erdia manchando o cabelo loiro e ela parecia ter um braço quebrado, além da falta de calor.

Mas no que isso importava agora?

A Anjo tirou o cabelo de onde parecia ser o machucado da outra, deixando o sangue escorrer em paz.

Se ao menos ela estivesse com Hellish, se ao menos ela fosse mais persistente e ficasse ao lado delas até o fim.

Até o fim...

Quando Joana D’arc morreu, Kalaziel, sem poder fazer nada, assistiu aos prantos a jovem ser queimada, a guerreira aceitava tudo aquilo, em silêncio. O fogo, as queimaduras, a morte, aceitava tudo.

Até o destino.

Na época, Kalaziel era Day, um homem de longos cabelos brancos e corpo poderoso, que sempre andava de capa e possuía olhos azuis afiados.

Mesmo que Joana nunca tenha a olhado de outra forma, a Anjo havia se apaixonado por ela no primeiro olhar.

E depois de sua morte, Kalaziel a abraçou para a levar para onde merecia ficar: O Céu.

Mas de cima, as coisas podem ser vistas mais nitidamente. Todo o sangue derramado, todas as lágrimas esquecidas, a mortes, as dores, a tristeza.

E a alma se desesperou antes de chegar no céu, e se jogou em direção a Terra.

Eu posso salvar eles.

Mas tudo o que ela via na época, eram as próprias lágrimas.

Kalaziel acariciou a cabeça da outra.

Era uma maldição? Era seu eterno pecado? Viver por mais 700 anos atrás daquela que a fez sofrer tanto, ambas agora.

Os olhos da Anjo pesaram mais, sua mão parecia ser um tijolo em meio a palha macia em um antigo celeiro.

Então a maldição a acompanharia para todo o sempre.

Até o fim. 


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Notas finais do capítulo

Eu não aceito essa maldição! Não!



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