A verdade sobre Eles escrita por Jhulliaty


Capítulo 6
Capítulo 5- Buracos com a Morte


Notas iniciais do capítulo

Doce e bela morte
Tão travessa você é



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A Morte levantou sua foice e apontou para o pescoço do homem a sua frente.

O local todo cheirava a remédios e talco, e o homem não era mais que uma casca de pele com tubos ligados.

A Morte olhou para as paredes brancas, o chão polido e a cama de alto valor, pelo jeito aquele homem não poderia mais lhe pagar. Ela balançou os dois rabos e jogou fora o resto da maçã que estava comendo.

— Então finalmente chegou sua hora, hein? — ela viu o homem abrir os olhos com muita dificuldade. — Malashar.

O homem mal conseguia falar até a Morte se aproximar e passar os dedos em seus lábios secos.

— Morte.... — ela sorriu para o homem — Me dá só mais algumas horas, eu só quero ver meu filho uma última vez... Por favor...

A Morte tirou do bolso de sua jaqueta um cantil de metal, e o abriu com uma mão só.

— Você comprou cada segundo a mais que eu tinha a lhe oferecer — ela deixou o líquido escorrer pela sua boca, transparente a ponto de ser água, forte demais para ser algo tão puro — Ficou a um preço impagável até mesmo um segundo, não? — girou a foice e tirou de perto do homem, sentando na sua cama — Um segundo ficou o quê? Mais de 10 mil dólares? — a Morte abriu um sorriso sádico para o homem — Você não pode pagar isso, pode?

— Eu... — os olhos da Morte eram de um verde jasmim — ... — o homem que não conseguia nem respirar direito, mesmo com aparelhos, não parecia saber o que fazer — Kissani... Por favor, é meu único filho, eu não o vejo há dias, é só mais esse pedido, por favor, eu lhe imploro.

A Morte olhou para o relógio na parede e quando estava começando a cogitar se devia matar o homem naquele segundo, ouviu a porta da sala se abrindo.

Kissani sorriu, a Morte podia esperar, nem que fosse alguns segundos.

— Você teve sorte, Velho Homem, que eu sou A Morte que você fez o contrato.

A Morte saiu da cama e colocou a foice na sua frente, a lâmina preta com adornos carmesins descendo pelo cabo. Ela não seria vista enquanto aquilo estivesse em sua frente.

Kissani sentou na bancada vazia, onde provavelmente eram colocados os remédios e começou a olhar suas mãos enluvadas que deixavam a ponta de seus dedos a mostra.

— Pai — o filho daquele homem apareceu e deu um beijo na testa do velho — Você parece estar melhor, consegue até manter seus olhos abertos.

O homem sorriu para seu filho.

— Não acha?... — ele parou para respirar, e a Morte riscou a foice, com as suas garras — Logo devo estar curado — ele não precisaria de aparelhos naquele momento.

— Ah, pai, você consegue até falar — o filho abraçou ele e o colocou sentado — Trouxemos o Gustavo também, o senhor quer ver ele?

A Morte olhou para a janela, o dia parecia azul e claro, bem bonito, com pássaros cantando e o vento batendo na cortina branca, ela podia aproveitar um pouco.

— Claro, filho, fale para ele entrar.

Talvez ela pudesse ir ver a mãe depois.

— Vovô! — Se ouviu barulho de algo se jogando. — Você aprendeu de novo a falar, vovô?

Ah, mas ela sempre acabava brigando com a mãe, e ela estava com visitas.

— Eu nunca esqueci, meu querido, como tem ido a escola? Estudado bastante?

Talvez só continuar trabalhando? Mas ela precisava de uma folga, definitivamente queria descansar, e ir para casa com sua esposa lá, estava fora de cogitação.

— Estamos ansiosos para o seu aniversário, Pai.

— Eu sei meu filho, vamos ver se eu saio da cama até lá.

A Morte virou o rosto para o homem na cama, que sorria, mas estava com lágrimas nos olhos, ele sabia que iria morrer assim que o filho saísse do quarto, ou no momento que a conversa acabasse.

O filho sorriu para o velho e se virou para sair, até Malashar pedir para ele esperar e dizer que o amava.

— Eu sei, pai — ele sorriu — Eu também te amo.

A Morte se levantou da bancada e tirou a foice da frente do seu rosto, caminhando até o homem. 

— Mais do que pode pagar.

— Obrigado, Kissani.

A Morte apontou a foice para o pescoço do homem, deixando a ponta bem no pomo de adão.

— Embelezado de luxúria e todos os pecados existentes — ela furou o local, e o homem vacilou entre realidade e escuridão — Alma pútrida e amaldiçoada — A Morte cortou todo o lado direito do pescoço, todo o sangue era puxado pela foice — coligida de pagamento — cortou o lado esquerdo — Que o inferno lhe banhe com o mais forte dos fogos existentes.

O corpo do homem pesou, e a Morte lhe cortou o pescoço fora, sem ele realmente sair do local.

Ah, verdade, ela poderia ir ver Kyrie depois daquilo, fazia tempo que não via sua amiga, menos tempo do que ela esperava, na verdade, mas poderia explicar tudo o que estava para acontecer a partir dali os eventos que iriam vir a seguir.

A alma do homem vagou pelos caminhos da lança e se fixou no vermelho forte dos detalhes, que ficou como se tivesse um pouco de poeira. Ficaria ali até ser mandada, no fim de seu expediente, para o lugar que deveria pertencer.

A Morte suspirou e passou a língua nas presas, estava com fome também, então realmente iria para a casa de Kyrie Eleison.

Kissani saiu do quarto do homem e deixou o sol bater em seu rosto, ainda sentia seu calor, e não queimava que nem os vampiros, estava bem como estava.

A casa de Kyrie Eleison era um lugar sagrado, ironicamente, por conta dela mesma ser poderosa e ter uma arma tão incrível que todo o local acabou por ficar protegido dos seres de onde a Morte vivia: O Inferno.

Respirou fundo enquanto sentia o vento bater no rosto, qualquer pessoa que a visse assim pensaria que era somente mais um dos seres que chamavam de “Bestiais”:

Humanos meio animais, onde suas principais características normalmente eram o rabo e as orelhas dos animais que pertenciam, seres mais poderosos e fortes que humanos, mais ágeis e experientes da Terra, ao menos nela.

Mas Kissani era somente Kissani, uma mulher com cabelos curtos bagunçados e orelhas de gato, ambos marrons, que usava como roupa um colã macacão, onde da cintura pra cima era preto, e o resto era de couro marrom.

A Morte se pôs a andar pelas ruas, segurando nas mãos não mais que um anel preto e carmesim, onde antes era sua foice. O passar fazia sua jaqueta vermelha longa farfalhar e as duas caudas pretas com a ponta branca se moverem como se fossem folhas.

Gata malhada?

Kissani tinha um destino e mentalizava ele enquanto colocava o anel no dedo, não devia estar longe, então não precisaria usar seu atalho.

Mas é claro que sua falta de noção de espaço deveria ser levada em conta, porém ela não se importaria de andar mais um pouco se pudesse ficar fora daquele lugar escuro e quente que era o Inferno, e longe de sua esposa, Lilith.

A mente da gata não era mais que um bando de folhas ao vento: uma bagunça completa, principalmente depois de sua morte, onde virou a própria Morte.

O acordo era simples assim como atravessar o sinal enquanto os carros estavam parados: Ela viraria a Morte, uma segunda morte para ser específica, e agiria como ela, tendo assim, permissão para ficar na Terra, local onde trabalhava.

E isso abria caminho para o seu vício em bebidas alcoólicas e também ficar com sua mãe: Lily Nazuka Ririco.

Tal coisa era, de certa forma, contraditória, Kissani era uma Caçadora de Demônios quando viva, a mais famosa e poderosa existente, enquanto sua mãe era a pessoa mais poderosa do mundo.

Não em quesito magia, afinal, Lily possuía um selo que a proibia de sequer tocar em qualquer coisa que fosse mágica, por culpa de Lilith.

Por sua culpa.

Mas sim, em influência, dinheiro e poder político.

O mundo era governado por uma mulher que detinha a fortuna de um país de classe média sozinha e ainda comandava as principais empresas e gerenciava os maiores negócios.

Sua única não influência, era na política: Lily nunca se candidatara para nenhum cargo público ou se elegeu para nenhuma das câmaras, mas ironicamente, possuía uma cadeira particular na ONU.

Enquanto estivesse lá, era uma das maiores influências, e seu voto valia tanto quanto a dos Estados Unidos da América.

Kissani sorriu ao pensar em como tudo aquilo era engraçado, ela realizara vários feitos, mas mesmo sendo só 20 anos mais nova que sua mãe, ela não havia conseguido metade do que Lily havia.

O Sol iluminou bem seu olho esquerdo, e dava para ver nitidamente, ali, uma cicatriz que corria para a sua orelha.

A gata não possuía orelha humana, então, para diminuir a estranheza perante aos olhos dos outros, seu cabelo cobria, mas sempre deixava as orelhas sensíveis de gato bem a mostra, afinal, precisava ouvir tudo para caso precisasse trabalhar em algum momento.

Não que seu trabalho fosse legal, divertido ou que ela sequer gostasse, mas era necessário, um mal que ela teria que aguentar pelo resto da sua vida.

Kissani parou em baixo de uma ponte e olhou para o céu cinza e gelado do começo do outono, era estranho, ironicamente parecia que o mundo iria ficar em depressão por conta de uma guerra, as pessoas estavam com rostos sérios e andavam encolhidas na rua, mesmo que tivesse sol em algumas partes da cidade.

A gata tirou do bolso de sua jaqueta o cantil e bebeu do líquido, estava perto de acabar, ela teria que arranjar mais.

— Kah... — sussurrou para si mesma — Com certeza aceitaria beber comigo, mas não quero acabar como da última vez — ela balançou a garrafa no ar, segurando pelo bocal — Sem roupa e exaustas, que coisa mais sem sentido...

Esvaziou a garrafa e voltou a andar no mesmo segundo que um metrô parou na estação acima da ponte, ela estava perto da casa de Kyrie.

Kyrie Eleison... A criança que ela viu virar mulher e caçadora, a adolescente que a usou de inspiração e que herdou sua arma.

Kissani deu um suspiro enquanto andava, ela queria ter ensinado mais coisas para a garota, mas seu trabalho era tão... cansativo.

Seu nome real não era Kyrie, isso era mais que óbvio, mas um nome como “ Senhor, tende piedade” é algo muito forte para se ir contra os Demônios. Kissani sabia muito bem disso, havia usado algo parecido na época que trabalhava.

A Bestial mais famosa e poderosa do Mundo, “Eína Tromeró”, o “É terrível” transformado para “Ser Horrível”, nome dado por aqueles que ela matava.

Sempre se perguntou porque todos aqueles nomes eram sempre em grego, mas só chegou à conclusão de ser a língua que os Demônios acham que os Anjos usam, ou algo assim.

O vento frio bateu no peito exposto da gata, a fazendo passar a mão enluvada no local, aquilo era até horrivelmente comparado ao que havia acontecido com ela: Morta por idiotice.

Um sorriso atrevido e triste apareceu em seu rosto. Era a cara dela, podia ter evitado, mas não conseguiu.

Estava em um bar, bebendo as coisas mais fortes que o dinheiro pode comprar, quando ouviu uma gritaria e um homem começar a ameaçar a todos com uma espécie de bomba que ela nunca havia visto, mas uma coisa era clara: Era um demônio se divertindo, os olhos sem pupilas denunciavam isso, e ele não devia ter visto a Caçadora ali.

Kissani, Eína, queria se aproveitar disso, o fato de estar invisível aos outros pelo medo e invisível ao demônio pela concentração no quanto de comida iria conseguir dali.

Ela só não esperava que outro ser imundo daqueles estivesse ali.

A gata colocou as mãos dentro do bolso da jaqueta que estava por cima do macacão enquanto via as pedras no chão se juntando para montar o piso.

Puxada para um canto escuro, foi asfixiada até quase perder a consciência e posteriormente teve algum maldito veneno jogado em seu corpo, o que a matou logo depois de ela matar eles.

Kissani levantou os olhos quando reconheceu o cercado de metal do prédio que Kyrie morava. Ela não sabia se a outra estava fora, ou se realmente devia tocar a campainha e pedir para o porteiro anunciar sua chegada depois de tudo, mas também não queria ir para o Inferno e ficar mofando naquele lugar.

Ela tinha dinheiro, podia ir beber e deixar a outra em paz dela, também podia visitar sua mãe ou...

— Kissani? — Kyrie parou ao lado da gata e tirou o capuz, deixando os longos cabelos brancos com mechas pretas escorrer como água pelos seus ombros. — Você pediu um encontro hoje? Eu não lembro de nada.

A gata avaliou a bolsa com sangue seco e o rosto manchado de sujeira da outra.

— Não posso mais vir ver a minha velha amiga? — ela abriu um sorriso atrevido, é verdade, Kyrie não mudaria.

— Claro que pode, mas ao menos me avise — Kyrie abriu o portão e sinalizou com a cabeça para a outra entrar — Ou você vai acabar ficando aqui fora de novo.

— Ah, vamos lá, você sabe mais do que eu que simplesmente não ligo — o sorriso da gata mudou depois de falar aquilo: Um sorriso gentil e carinhoso — Prefiro estar na rua esperando você do que naquele inferno, Kelly’na.


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Notas finais do capítulo

Mas já foi mais feliz, minha gatinha.

Feliz natal e ano novo.
Kissus



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