A bruxa e o caçador escrita por BlackCat69


Capítulo 3
Final


Notas iniciais do capítulo

Aqui está o final dessa fic que me deu trabalho, mas valeu a pena!



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Noites e noites avançando, não demorou em a amizade entre a bruxa e o caçador dar espaço para um sentimento maior: O amor. 

Na penúltima semana de dezembro, Sunset desanimada aguardava Swirl, pois tinha uma notícia triste para dá-lo.

Agachada na frente do lago mantinha um braço rodeando os joelhos enquanto o outro se erguia pondo a mão na altura da face.  Testemunhava cinco borboletas pequenas rodearem seu dedo indicador apontado pra cima.

—Ahá! –O caçador despontou da mata acusando divertidamente a linda moça. –Trapaceira! 

A bruxa levanta-se e se vira para olhar o loiro andando em sua direção.

—Trapaceira? –Sunset riu graciosamente pondo as mãos na cintura esperando por uma explicação.

As borboletas em lenteza se divergiram no ar.

—Eu peguei você no flagra, é por isso que sempre ganhou nossas competições de apanhar grilos. –Uma das borboletas voou perto de sua cara, tentou tocá-la, porém ela bateu mais veloz as asas fugindo dele. –Tu atrais insetos usando magia.

—Oh isso...–Sunset riu mais. –Desculpe, é minha conexão com a natureza. Faz parte da essência de todo bruxo da floresta, não é algo que possamos interromper.

—Significa que você sempre atrairá insetos? –Perguntou-a curioso, já próximo a dois passos dela podendo sentir o doce aroma de mulher.

—Sim, qualquer espécie viva da floresta, a quantidade que atraio pode aumentar se eu estiver concentrada.

—Qualquer espécie? Incluindo ursos, lobos, cobras grandes? –Interrogou cabreiro.

—Não precisa se preocupar, caso viessem até mim só atacariam se percebessem ameaça. Não sou capaz de concentrar energia o bastante para chamar animais desse porte. Meu pai e primo sim, eles possuem experiência grande pra trazer criaturas desse tamanho até eles, e meu avô que é o mais experiente da família consegue invocar bandos de cada espécie.

—Estou com medo de sua família. –O caçador ria, mas de nervoso.

A bruxa sorriu um tantinho, todavia pensando nos parentes recobrou a notícia triste a dar para Swirl.

—O que foi? Falei algo de errado? –O loiro rapidamente notara o desanimo da bruxa.

Ela negou meneando o rostinho, depois de uma longa expirada, o disse:

—Amanhã irei para casa do meu avô, é muito longe daqui, retornarei dia primeiro de janeiro...–Une as mãos diante o corpo, os redondos prateados volvidos pra baixo. –...minha família quer comemorar a entrada do novo ano pra lá. 

As fantasias do caçador se desmancharam, ele havia planejado várias coisas para fazerem durante a virada do ano. Queria implorar pra ela não ir, no entanto desprovia-se desse direito.  Aqueles dias seriam torturantes para ele que se acostumou assiduamente com as noites dos dois juntos.

—Uma semana é pouco tempohaha...–Rir coçando a nuca evitando expor-se desesperado.

Sunset sabe que ele não age autenticamente. A boca sorria, entretanto os olhos provavam o verdadeiro estado dele.

—Sentirei saudades. –Disse ela sinceramente.

Swirl apagou o forçado sorriso.

—Eu sentirei mais.

—Eu virei na primeira noite que eu retornar, prometo.

—Estarei aqui. –A fitava apaixonado. –O que há?–Se importa ele notando na jovem um leve desamparo.

—Temo não ser a mesma quando retornar, de não ter o mesmo vinculo com você, ver que tudo o que tivemos foi...–O tempo vivido com Swirl parecia um sonho do qual odiaria acordar. Quis explicar sobre a possibilidade de ter a mente alterada, no entanto, era algo complexo e que levaria a noite inteira para fazê-lo entender.

O belo rapaz avançou os dois passos extinguindo o espaço entre eles. 

—Shiii... –Gracioso colocou o dedo indicador na boquinha meiga deixando-a muda. –Me escute, enquanto estivermos distante nossa relação continuará igual, apenas pense nos dias maravilhosos que tivemos. Eu faço isso quando quero me animar, quando estou em casa. E pensarei mais ainda quando você for para a casa do seu avô.  –Segura a face dela com as duas mãos. –Eu te amo...–Vendo a carinha pasmada que causou nela com sua declaração, acredita que exagerou, retraindo-se proposita se afastar, no entanto, rapidamente ela o segurou pelos braços.  

—Swirl...eu também o amo.

O caçador emocionado, decididamente aproxima seu rosto ao dela.  

A bruxa quase se alarma ao entender a pretensão do movimento do caçador, porém as mãos dele que a seguravam carinhosamente, deram a ela a segurança da qual precisava.

Ela confiava nele e ele nela.

Iniciaram um selinho que foi se transformando gradualmente em um beijo. Um beijo moderado, sem pressa, transmitindo as emoções através do afetuoso contato. Os corações sorriram e conversavam a mesma língua de um puro sentimento a dançar em suas vidas.

Calma levitação enlaçou o corpo da bruxa levando o caçador junto, mesmo os dois percebendo que seus pés se afastaram do solo, não interromperam o beijo. As borboletas retornaram, borboletas coloridas e maiores contornaram o casal.

Yeast escondido ao longe, incrédulo no que seus olhos o mostravam, permaneceu paralisado. Assistia seu irmão beijar a estranha enquanto os dois flutuavam tendo a lua cheia ao fundo, as borboletas seguindo um fluxo em espiral ao redor do par.

—“Mano o que está fazendo...”.

Retornou pra casa sendo esperado pelos pais que foram os responsáveis por manda-lo seguir Swirl naquela noite.

 

****

 

—Desembucha Yeast! Viu a moça com a qual seu irmão vem se encontrando?

A mãe perguntava pela terceira vez desde a volta do filho que optava pelo silêncio enquanto custava a assimilar o que viu na floresta.

—Vi...–Respondeu ele enfim, virou o copo de água meio cheio que segurava, molhando a garganta.

—Como ela é? –A mulher insistia enquanto o marido sentava no canto da sala desembaraçando uma rede de pesca.

Yeast permaneceu mais um demorado momento calado torrando a paciência da matriarca. O que o loiro esperou encontrar era seu irmão de namorico com uma moça comum da cidade, no entanto, o que assistiu ultrapassou sua imaginação.

Quando Swirl começou a apresentar mais bom humor, a família aceitou bem a mudança dele acreditando que finalmente o loiro deixara pra lá ter perdido na caçada de aniversário. No entanto, tudo mudou quando foi questionado para onde saía todas as noites para retornar tarde. O jovem somente os respondeu que se encontrava com alguém. A mãe cobrava o filho para conhecer essa pessoa, mas Swirl lhe negava sempre argumento não ser o momento certo. Os parentes a essa altura deduziam que era uma mulher. O pai se orgulhava da ideia de seu filho estar aflorando como homem, contudo começou a achar que a moça era uma péssima influencia, uma vez que desde que o filho passou a ir vê-la, mudou o costume de caça, trazendo apenas um animal em cada caçada dizendo ser o bastante.

Até chegar o dia que finalmente os pais pedissem para Yeast seguir escondido o irmão. Precisavam tirar satisfações com a moça a ser cortejada por Swirl. 

—Por que faz essa cara Yeast? –O pai cansou de desembaraçar a rede de pesca e fitou o loiro que encaixara os dedos na frente da boca.

—O que descobri foi algo muito grave...–Inicia o jovem de ar pesado. –Meu irmão está enfeitiçado por uma bruxa.

Um silêncio distendido se deu e ainda que o casal tenha assimilado a informação, tiveram que questioná-lo, ao mesmo tempo perguntam-no:

—Quê?

—Eu vi Swirl flutuar com ela, sobre um lago que reluzia de modo estranho. –A inquietude de Yeast evidenciava-se.

—E-ele não estava se encontrando com uma moça da cidade? Pensei que ele estivesse apaixonado para sair todas as noites... –A mãe passa as mãos pelas laterais do rosto, os dedos trêmulos. –E-eu não aprovaria os encontros amorosos, mas pelo menos isso o fazia esquecer a caçada de aniversário...céus! Eu não imaginava que era uma bruxa, oh meu Deus! Meu filho enfeitiçado....

—Não acredite nele mulher! –O pai gritou e apontou para Yeast: –O que diz filho! Não quero esse tipo de brincadeira nunca mais tá me ouvindo? Sabe o que fazem com as pessoas que ousam falar de bruxas? Se brincar por aí dizendo que seu irmão se encontra com uma bruxa, sabe o que farão com ele? Sab...

—PAI! –Yeast o interrompe se levantando e batendo fortemente com as duas palmas na superfície lisa da mesa. O copo vazio caiu e rolou pela madeira, teria caído no chão se a mulher não tivesse se apressado e o pegado com as duas mãos.

—Ele não mente querido. –A mãe joga sua observância no filho. Pôs o copo de volta no lugar e aperta as mãos em forma de oração. –Eu o conheço, sei quando diz a verdade. 

O pai precisou de um tempo para refletir, dedicando a analisar as feições de Yeast e chegar na conclusão de que tudo o que ele disse foi sério. Tendo dor de cabeça, foi logo elaborando o que fazer. 

—Eu sei o que faremos...

 

****

 

A habitação modesta do avô de Sunset situava-se próximo ao pé da primeira montanha a dividir grande parte da floresta, a casa azul cinzenta era composta por madeiras em horizontal, o teto de cada cômodo formava um triangulo e no meio deles tornava-se possível avistar a chaminé de tijolos.

A bruxa adorava o cheiro de torta de maçã frequente no lar do idoso bruxo, cheiro de infância.

Foram dias felizes perto do seu avô. Teve ela esplêndidos sonhos durante as noites, alguns pareciam reais ao grau de sentir seu corpo envolto por magia. E neles o jovem caçador esteve presente. O anseio de se reencontrarem aumentava a cada dia da semana junto com a tristeza de ter que partir da casa do avô a quem demorou tanto para rever depois dos acontecimentos em Salém.

Acontecia o último jantar em família da semana, o clima de paz jazia como nos dias anteriores. Nessa noite de despedida, durante a conversa à mesa, Screw falou mais de seu trabalho, lotado em duvida se deveria ocupar sua posição de médico em uma cidade maior, porquanto recebera grande proposta. Em contrapartida aceitar se mudar, implicaria em se distanciar da natureza, nada recomendável para um bruxo da floresta.

—Você falou de sua profissão todos esses dias Screw, será cegado pelos negócios. –O tio que se orgulhava de ter um sobrinho bem resolvido, começava a achar que o jovem bruxo exagerava na carreira. –Muito sucesso lhe renderá atenção exacerbada, e atenção é o que devemos evitar ao máximo para manter nossas verdadeiras identidades.

—Há uma bruxa solteira no sul da floresta, ela é de uma família que cultiva os mais belos campos floridos da região, uma boa pretendente para você Screw. –O avô trouxera ideias. –Acho que formariam um belo casal, um tempo para namorar o fará descansar de tanto trabalho…

Screw se alarmou, tenta reverter à situação:

—Não é necessário! E-eu descansei bastante nessa semana. Pensando bem, acho que descansarei por mais alguns dias...

—Eu gostei da ideia. –O tio de Screw assentia pousando a mão no queixo. –Agendarei um encontro, me passe às informações dela mais tarde pai, marcaremos uma reunião com a família da pretendente. 

Pai e filho concordavam enquanto Screw amarrara a cara.

Sunset abafou a risada com a mão.

—Flower, como anda seu aprendizado do livro de feitiços que lhe dei?

A menina antes alheia à conversa dos adultos se empanturrava de sobremesa, ao ouvir o avô terminou de engolir para respondê-lo:

—Estou no nono capítulo, quando eu usar magia pela primeira vez já serei uma bruxa poderosa! –Levantou o punho cerrado e olhos chamejantes.

Flower sentia a magia em seu corpo, porém não conseguia libertá-la. Escutava sempre que só conseguiria quando se tornasse mocinha. Por isso desejava crescer depressa. Até lá se contentaria em preparar poções mágicas feitas a partir de elementos mágicos. Magia fraca que não durava mais que dois minutos.

 –Tenho que comer mais pra crescer logo!

—É a minha netinha, determinada como condiz nos genes de nossa família. –O avô fala orgulhoso.

No término do jantar Sunset insistiu para lavar a louça e foi ajudada pelo pai, Flower depois de mãos e boca lavada arrastou o primo ao quarto ansiando que o jovem bruxo fizesse magia pra ela. Screw e Sunset se reversavam cada noite para exibirem magia pra pequena bruxa, a última noite da estada da família na casa do avô, caiu na vez do primo.

 

****

 

O idoso bruxo fez chá para filho e neta. Na sala de visitas, ele sentava na cadeira sem pernas suspensa por duas cordas amarradas nos braços do assento.  Sunset e o pai dela acomodaram em cadeiras acobertadas por lençóis posicionados de frente ao mais velho.

Os três permaneceram silenciosos tomando chá e quando terminaram o idoso bruxo inclinou o tronco pra frente estendendo seu braço, abrindo seus dedos na direção da jovem. Plácido pediu:

—Deixe-me examiná-la, querida Sunset. 

Finalmente chegara o momento, pensara a bruxa. O progenitor dela colheu o conjunto de chá e o levou para a cozinha deixando os dois sozinhos.

Sunset se põe diante seu avô quem a analisa de cima a baixo. Tocou na mão dela virando-a pra cima e trilhou o indicador pelo fino pulso, traça o caminho da veia que se destacava um pouco na cor azul esverdeada.

Ele fechou os olhos podendo ouvir os batimentos cardíacos, o compasso da respiração. Mede a temperatura. Usando a magia capta a energia a exalar do corpo juvenil, se conectando a alma identifica os danos, as feridas que cicatrizavam...tudo de ruim se cobria por um véu novo de luz.

Esperança.

No seio da jovem germinava esperança.

No demorado silêncio de avaliação Sunset é tomada pelo nervosismo e sabe que seu avô percebe, porém ela se concentra e pensa em Swirl e toda a segurança que ele lhe transmitiu na noite de despedida. Todo o seu ser é tomado pelas boas vibrações que o jovem caçador lhe traz por meio das lembranças.

—Que bela sensação minha neta. –O avô terminou falando harmonioso: –Você está saudável, confesso desconfiei que tivesse fingindo a semana inteira para eu não ter que apagar partes de sua memória...até esperei que seu primo lhe fizesse alguma magia para dar-lhe boa aparência.

Sunset sorriu sem graça, pois Screw chegara a sugerir tal ideia.

—Eu pude conferir minuciosamente o bom sentimento que fortifica sua essência. As saudades que sentiu de mim, o amor que engrandeceu, a paz encontrada...são tantos sentimentos fortes.

Por um momento a bruxa se sente péssima, de fato sentira saudades do avô, porém o que ele descrevia mais se relacionava a Swirl.

—Parou de pensar no ocorrido em Salém? 

—Sim avô...estou conseguindo superar.

—Mas não esquecer.

—Esquecer é impossível.

—Está pronta para conviver em sociedade novamente?

—Me sinto preparada.

Sunset terminando de respondê-lo percebe que o idoso pretende se levantar, e prontamente ela o ajuda. O bruxo anda até a prateleira da parede ao lado da porta e de um pote prateado tira um cordão roxo roseado. Ao trazê-lo pra perto da neta, o estende na altura dos perolados esféricos dela.

—Nesse cordão reside a alma de sua avó.

A revelação assusta Sunset que pisca frenética.

—Ham? –É só o que ela consegue pronunciar enquanto pasma digere a informação.

—Sua avó não me amava, infelizmente. Mas tivemos uma boa relação, pedi permissão para tê-la depois que morresse. Quando uso esse cordão eu sinto a companhia dela. –Sorrir. –É um segredo, não conte para Screw e Flower. 

—Me-meu pai sabe?

—Não, a mãe dele pediu-me para não contá-lo, pois ela disse que a cabeça dele era dura demais para entender. Ela não se importava por qual caminho sua alma percorresse contanto que no fim parasse na correnteza das almas.  –Um brilho representando a nostalgia se manifestando no velho, fez os prateados redondos dele marejarem. –Sua avó era uma mulher incrível.

—Ela confiava plenamente em você, mesmo sem amor. –A jovem fala impressionada que pudesse existir um elo desse tipo. –Eu não cheguei a conhecê-la. –Fala observando a pedra do cordão a conservar um sereno fulgor. Assim como Screw e Flower, conhecia a avó somente através de histórias.

O avô sorria, pois a admiração da neta o lembrava da esposa quando mais nova e como ela encarava diversas situações inusitadas.

—Depois que eu partir desse mundo, meu desejo é que você liberte a alma dela do cordão e jogue-a na correnteza das almas. Não é necessário magia para libertá-la, apenas parta a pedra do cordão ao meio.

—Vô…

—Me prometa. –Ele colocou o cordão no próprio pescoço e apertou as mãos de Sunset. –Você é quem mais me lembra de sua avó, e eu desejo que seja feito por ti.

—Por que não faz isso vô?

—Eu quero ficar com o cordão até eu morrer.

Ele apertou as mãos da jovem bruxa que suspirou.

—Sim vô...eu farei. –Seria uma grande honra. E naquele presente via o quão poderoso seu avô era. Ele não só conseguia trabalhar com mentes, mas também com almas.

 

****

 

Na noite do reencontro Sunset não se continha de anseio. Sorria diante o lago pensando no que diria primeiro para Swirl sobre o que melhor lhe aconteceu enquanto estivera na casa do avô. Tantas emoções a compartilhar!

Apeteceu contá-lo que as noites foram as melhores por sonhar com ele.

Seu corpo atraía mais borboletas que o comum, elas lhe seguiram durante todo o percurso desde que saíra de casa.

Refletidamente apaixonada, breve foi despertada pelo notar de alguém.

—Swirl! –Sorriu vendo o loiro surgir por entre árvores.

—Oi! –Ele ergueu a mão se apressando até ela.

A bruxa o abraçou e as mãos dele devagar foram parar nas costas femininas.

—Algum problema? –Sunset o achou hesitante.

—É que estou nervoso...tenho uma surpresa para você e não sei se gostará. –Sorrir sem jeito, parecendo envergonhado.

—Uma surpresa? É claro que gostarei. –A bruxa falou carinhosa segurando a mão dele. Acredita que foi só impressão achá-lo um pouco diferente. Talvez pensasse no beijo com o qual eles se despediram, bastante intenso.

Corando, ela sente a pele esquentar só de supor que ele queira beijá-la daquele modo outra vez, mas estaria sendo impedido pela timidez.

—Que bom! –O caçador pode sorrir abertamente. –Peço que feche os olhos.

A bruxa assentiu e abaixou as pálpebras, senti-o se afastar.   Preparava seus lábios acreditando que logo provariam do sabor do genuíno beijo, infelizmente o contato esperado não viera, e demorado tempo à fez erguer as camadas de cílios.

Mal teve tempo de visualizar o que havia a sua frente, sentiu dor pelo seu corpo, pois jogaram sobre si uma rede farpada fazendo-a cair no chão. Enquanto gritava distinguiu vários pés rodearem-na, pessoas haviam saído da escuridão da floresta e agora eram iluminadas por tochas e o luar. Eram os habitantes da cidade mais próxima, na qual Screw atuava como médico.

—Swirl?! –Levanta a cabeça enxergando o caçador loiro a olhá-la de longe, severo ele lhe transmitia toda a frigidez do mundo. –SWIRL!

Nada ele fez, o nojo que o próprio lançava sobre ela esmagava o coração da bruxa, uma dor que deveria ser uma amostra do tão falado e temido inferno dos humanos.

—É verdade, os olhos dela são da cor do servo do diabo!

—É como os olhos dos outros da família, são todos bruxos!

Falavam várias pessoas ao mesmo tempo.  Algumas comemoravam por terem finalmente capturado a jovem que definiam como criatura demoníaca.

—Não acredito que o nosso melhor médico é um bruxo, parente disso aí.

—Pena que ele fugiu.

—O acharemos logo, temos o tio e a prima dele, é um grande ganho.

As conversas continuavam amedrontando a bruxa.

—O que fizeram com minha família?! –Sunset questionou-os aflita. Os olhos ardendo e as lágrimas a despontarem ligeiras. Sente o gosto de sangue nos lábios, três linhas dele escorriam verticalmente sua face.

—Não finja que tem sentimentos, bruxa!  –Um homem apontou na cara dela. –O agouro que sua existência traz as nossas vidas terminará. Você será a primeira!

Dominada pelo temor de perder seus parentes, rasgou sua garganta em um grito brutal, seu som alto atraiu um bando de cervos, os quadrupedes jogaram-se contra os cidadãos que a rodeavam.

Os gritos de pânico e a correria se instalaram na multidão que foi de dispersando pela floresta, sons de tiros foram-se audíveis repetidas vezes.

O loiro tentou manter a visão focada na bruxa, porém foi impossível se concentrar nela, precisou fugir dos tiros desenfreados e dos animais a chifrarem e derrubaram todos que se colocavam em seus caminhos.

—NÃO DEIXEM A BRUXA FUGIR! –Grita o caçador correndo e completamente ignorado pelos desesperados cidadãos. Ouve o som de ossos quebrando, desviou-se de corpos derrubados a sua frente, flagrou pessoas serem pisoteadas tanto pelos quadrupedes quanto por outras pessoas.

Dois homens se queimaram com as próprias tochas e espalharam as chamas em quem se esbarravam neles.

Pele queimada.

Pele furada.

Sessão de mortes acontecia.

Sunset teve a rede tirada de si por um dos animais que encaixou a ponta do chifre no material e o puxou para o alto. Ao se levantar a bruxa reconheceu o cervo que possuía chifres brancos e olhos diferentes da espécie. Ele não demorou ao seu lado, saltou pela confusão que acontecia escapando por pouco dos tiros que continuavam.

Sem perder tempo, a bruxa fugiu passando por corpos de cervos e humanos espalhados pelo solo, todos abluídos em sangue.

 

****

 

Sunset não se exigiu de tempo para lamentar pelos cervos mortos e agradecer aos que viveram. Fugiu para casa, porém de longe se ajoelhou ao vê-la toda incendiada.

—NÃÃAOo!

Desacreditada que a noite se transformava em um pesadelo maior em pouco tempo. A história de Salém se repetiria. Todo o sofrimento se alimentaria de si, só que maior. Mil facadas, mil enforcamentos, mil tiros....nenhuma descrição competente seria adequada em traduzir sua dor.  Seu coração imerge em um infindo martírio.

—Swirl...–Murmurante, brotar o nome do caçador é dolente.

Entregara seu coração a um humano, eis o que aconteceu. Não seria forte o suficiente para carregar essa culpa, desmerecia entrar na correnteza das almas depois que morresse. –Sou indigna...

Tapou as orelhas, a garganta doía.

Como tudo o que viveu com ele foi uma inverdade? A noção de que fora traída por ele não cabia na sua cabeça de uma só vez, precisaria de quase uma eternidade para aceitar, e só de rever a cena dele fitando-a gélido dava-lhe ânsia de vômito.

—“Será essa a maior arma dos humanos? Iludir?” –Sabiam fingir perfeitamente.

O piado do corvo a arrancou de sua lamentação. Era o mensageiro da família.

Pegou o bilhete preso na fina pata e o desenrolou.

 “Estou com Flower, fugimos para casa do nosso avô, se estiver lendo isso venha imediatamente.”

Reconhece a letra do primo.

Por uns instantes se aliviou, entretanto logo pensara no pai. Acredita que ele se entregara por livre e espontânea vontade, assim como a mãe dela quando foram perseguidos há muito tempo em outra cidade. Sunset tinha oito anos, demorou quatro anos para entender que a mãe se ofereceu como isca para distrair a multidão enfurecida, a mãe tinha consciência que teria o triste destino de ser queimada na fogueira. Mas foi um sacrifico que valeu a pena, o pai da jovem bruxa dizia. E no instante presente ele fazia o mesmo, a vez dele de se sacrificar, objetivando distrair a multidão dando tempo de a família fugir, se mudar para outro lugar, um bem longe. 

—“Ele não usará magia”. –Nunca usar magia para o mau, os bruxos da floresta seguiam fervorosamente. –“Ele também não a usará para fugir já que pretenderá sugar a atenção do povo até o fim...”. –Os humanos adoravam assistir os corpos de bruxos queimarem, levaria um tempo significativo para seus parentes se distanciarem mais.

Entretanto, Sunset não se dispunha a aceitar perder alguém que amava pelo erro que cometeu. Reergueu-se e séria cravou suas duas luas no céu da noite, e gritou:

—Levitate et levitis me levitated!!!

Flutuou bem alto e concentrou energia, um bando de corvos, incluindo o seu mensageiro bateram asas em sua direção. Ela foi coberta por uma nuvem negra deles, esperou que todos os pássaros negros da floresta a envolvesse, engolida por uma nuvem negra e gigantesca, rumou para a cidade.

 

****

 

O bruxo amarrado em um tronco rodeado por lenha prestes a ser queimada, assistido por quase todos os cidadãos, desprovia-se de pânico, tristeza, desesperança, medo, e qualquer outra emoção a se ter sabendo que a morte se aproxima. Seus traços envelhecidos carregam a pura indiferença. Destemia o futuro, visto como sabia o que o aguardava além da vida na Terra.

Um homem baixo e robusto, segurando uma tocha pronta para atear fogo no acusado, discursava vigorosamente ao público o qual lançava pesado olhar ao bruxo julgando-o da pior forma.

—O sobrinho dele é o médico mais famoso da nossa cidade, quem nos garante que o dito cujo não usou magia em todos os pacientes que atendeu? Vários de nós estão propensos a morrer por bruxaria!

Os cidadãos arremessam fúria aos gritos, os adultos erguiam suas tochas e armas, loucos para verem a justiça sendo feita.

—Eu fui atendida por Screw, Santo Cristo, e se eu estiver enfeitiçada? –Uma mulher chorosa exclama.

—Meu filho também!–Outra informa expondo-se na mesma condição desenfreada de temor.

—Se matarmos os bruxos, a praga deles se exterminará junto!

—Mate-o logo!

O homem robusto levantou o braço fazendo sinal com a mão para a multidão silenciar-se, e quando a mudez do povo obteve-se, o baixinho girou os pés gorduchos parando de frente ao bruxo. Apontando a tocha pra ele, fez sua raivosa interrogação:

—Você Greatsun! Terá a cara de pau em desmentir? Ao menos retirará a maldição de sua família da cidade?

—Não existe maldição. Eu nunca usei magia em alguém, nem ninguém de minha família, somos bruxos da floresta e zelamos pelo bem de todos. –As pessoas vaiaram-no, e risadas se ressaltaram entre as vozes. Como esperado. Entretanto Greatsun jazia ordeiro, confortando-se ao considerar que sua família se distanciava a cada minuto, estando mais segura.

—Um bruxo do bem? Não nos faça de palhaços!

—Mentiroso! Bruxos são traiçoeiros.

A falta de expressividade de Greatsun contribuía para acharem que ele mentia, nem sentimentos ele possuía, pois sua natureza o impedia, os humanos acreditavam desse jeito.

—Joguem suas tochas! –O homem robusto foi o primeiro a lançar fogo na lenha.

Os habitantes foram se aproximando formando várias filas e depositando na fogueira suas contribuições para engrandecer as chamas.

—Todos reflitam! Eu teria usado minha magia para fugir, porém estou provando que não levantarei um dedo contra vocês nem mesmo antes da morte. –Greatsun dizia em alto volume sentindo o terrível calor. –Todos que conheceram Screw! Todos que foram ajudados por ele! É o verdadeiro Screw. A única coisa que ocultamos é a nossa natureza, por que somos vistos de modo errado! Mas por bastante tempo vivemos entre vocês sem fazê-los mal algum!

—Calado bruxo! Não pode usar magia sem movimentar as mãos! E é por isso que não fugistes. As amarramos imediatamente quando chegamos até você, tem sorte de não termos as cortado fora primeiro como fazem em outras cidades antes de morrer na fogueira! NÃO ENGANA NINGUÉM! –O homem robusto vociferava saturado de ódio. –Não fizeram mal algum? Tudo que dá de errado na cidade é culpa de vocês bruxos. Por isso eu digo: Queime! Queime! QUEIME, QUEIME, QUEIME!

A população repetiu as palavras assistindo o desenvolver do fogaréu o qual não demorou em alcançar a pele de Greatsun quem desceu as pálpebras...mantendo a os lábios cerrados...o fogo o cobriu por completo.

Colossal nuvem negra tapara o luar, corvos formaram imenso furacão no céu produzindo espantosa rajada de vento a qual apagou a fogueira e arrastou pra longe as pessoas mais próximas.  

Pássaros pretos caíram em toda a cidade, os piares deles em conjunto tornavam-se ensurdecedor.

Diversos tiros deram a partida.

Os primeiros corvos que identificaram perigo atacaram com seus bicos e patas afiadas os homens a segurarem armas.

Nova multidão desesperada se espalhou, as pessoas correram para suas casas objetivando trancarem-se nelas.

Balançavam-se tochas violentamente na tentativa de queimarem o máximo de aves possíveis.

—Bruxaria! Há mais uma bruxa por perto! –Berrou o homem robusto fugindo, pulou em um barril e se encolheu nele, puxando a tampa redonda para tapar a boca do recipiente amadeirado. Passou a observar o acontecimento por um pequeno buraco. Assistiu um corvo bicar e depois arrancar o olho de um rapaz que caiu. –A arma dele... –O objeto que o rapaz carregava caiu a seis metros do barril, ficou tentado a ir lá pegá-la, no entanto, havia muitos corvos por perto. –“Droga...”. –Nos bolsos da vítima deveria ter cartuchos para recarregar o mosquete.

—Pai! –Sunset flutuando em meio aos pássaros negros, pairou diante seu progenitor e teve a alma despedaçada ao vê-lo com a pele escurecida, as roupas carbonizadas, os cabelos quase faltantes na careca marcada recentemente por terríveis queimaduras.

Greatsun ignorando o próprio estado impressionava-se com a invocação da filha. Os rastros de sangue no vestido e pele da jovem, ao serem-lhe notáveis, o feriu no coração.

—Fugir...–A voz dele saiu só na primeira sílaba, todavia ela entendeu o que ele disse.

—Eu não conseguiria fazer isso pai. Não morra como a mamãe, por favor. –Tentaria levá-lo mesmo que a força. –A culpa foi minha, eu confiei meu coração a um humano e ele espalhou sobre nós.... tenho que compensar a besteira que fiz...venha comigo por favor...

—Sunset...–Greatsun se penalizou. –“Me perdoe querida, falhei com nossa filha, eu deveria ter sido um pai mais vigilante”. –Tudo o que fez para consolar a jovem bruxa depois dos acontecimentos em Salém, foi proibir que ela falasse no assunto. Quanto menos falasse, melhor. Assim ele quis acreditar...Mas...Sunset deveria ter desabafado, exposto o que se passava em sua mente, opinando o que deveria ser feito...ela continha milhares de coisas para dizê-lo, não obstante, ele recusou a ouvi-la.

Sunset precisava conversar com alguém, e a primeira pessoa que se dispôs a escutá-la foi um humano...infelizmente um péssimo humano. 

—Vem pai! –A bruxa o puxava ao alto, querendo que ele voasse com ela.  

Bang!

Um tiro atravessou a boca de Greatsun.

O mundo para a jovem bruxa congelou.

—PAI!!! –Devagar seu corpo abaixou, repousou os pés no chão. –Não...

BANG!

O próximo foi no peito dele.

Sunset gritou outra vez, mas agora procurando de onde viera o tiro. Acompanhou um grupo de corvos a voar na direção de uma casa a vinte e três metros para a esquerda, a bruxa distinguiu uma cabeleira loira atrás da janela, e o cano do mosquete passando por um buraco da vidraçaria. 

—Conseguiu atirar na bruxa? –O pai perguntou ao filho. O primeiro disparo havia sido do mais velho que já recarregava seu mosquete.

—Não, ainda tem muitos corvos rodeando ela. Creio que também estejam envoltos por magia que os deixam mais resistentes, pois os tiros não os atravessam, morrem com a bala cravada. –Disparou novos tiros vendo seus alvos caírem, as aves despencavam duras no chão.  

A bruxa caminha ameaçadoramente em direção da casa, sabendo a quem a cabelereira loira pertencia.

—Ela vem para cá. –O pai repôs o cano da arma em um buraco da vidraçaria e se esforçou em mirar na bruxa, no entanto, persistentes corvos estavam incessáveis na frente dela. Eles serviam como escudo.

—Eu só preciso de uma brecha.  –Disse o loiro despejando a pólvora de um novo cartucho pra recarregar o mosquete. Cessou o procedimento quando uma voz lá fora raiou:

—PAREM!

Pai e filho se atentaram, pois reconheciam a voz.

Swirl chegou ofegante na cidade, se deparando com o caos a ocorrer ali. Estivera inconsciente nas últimas horas. Tendo acordado amarrado em casa, e a última coisa que conseguira lembrar foi que se arrumava para o tão esperado reencontro com Sunset.

Depois de a mãe explicar a situação, ele implorou para ela soltá-lo, declarou tudo o que sentia por Sunset, narrou como ela era, o modo que ela vivia, disse que nunca foi envolto por bruxaria e sim por amor, unicamente amor que interligava-o a bela jovem, e ainda ultimou que sem a sua amada, não voltaria a viver normalmente. Sua mãe sabia quando dizia a verdade, ela o conhecia...observando-o, a matriarca não achou possível que existisse bruxaria em seu menino. 

Por isso ela o libertou e pediu desculpas. Swirl a abraçou forte, e depois partira. Agora estava ali...vendo a mulher por quem se apaixonou perdidamente, ser envolta de emoções conturbadas. Ao avançar na direção dela, notou o homem queimado na fogueira.

A respiração do bruxo estava anômala. Possivelmente viveria, porém não com a mesma força de antes. Para um bruxo ser morto tem que ser reduzido a cinzas. 

—Sunset! Perdoa-me! Fui descuidado. –Não temeu os corvos, pois sem intenção de atacar, os pássaros permitiram que chegasse perto da bruxa.

—Swirl? –A jovem pasma, vendo-o ali, recebeu um esclarecimento na mente, entendendo a confusão. –E-eu sinto muito...desconfiei de ti, depois de tudo...–Sabia que o caçador tinha um irmão, ele se esquecera de mencionar que eram gêmeos. –Eu desconfiei de ti Swirl, me perdoa, me perdoa...eu notei que ele agiu de modo diferente, porém ainda sim acreditei que fosse você...–Se ajoelhou colocando as mãos no rosto, chorando. Era muita coisa para aturar, chegava ao seu limite. –Eu não aguento mais...sinto muito pai, sinto muito Screw e Flower...avô, não conseguirei cumprir o que me pediu...

Os corvos se afastavam da bruxa...a atração deles por ela diminuía conforme  a mesma se desconcentrava por estar fragilizada emocionalmente, eles foram se acumulando sobre os telhados deixando as ruas da cidade limpa.

O caçador sofria por ver sua amada daquele jeito.

—ESCUTEM TODOS VOCÊS! –Swirl se voltou para os cidadãos recolhidos em suas moradias, assistiam através das janelas. Nas ruas alguns desmaiados. –Eu conheço Sunset há quase dois meses! Eu a amo! Não estou enfeitiçado, eu tive a chance de mata-la quando a vi pela primeira vez, a observei escondido e quando fui notado, ela não me atacou. Poderia ter feito, mas não fez!

Yeast e o pai dividiam a atenção entre Swirl e a bruxa a chorar sem controle.

—É a vida dos bruxos se mudarem de cidade quando são perseguidos, vivem entre nós escondendo o que são para poderem sobreviver! Ela veio salvar aquele homem ali, que acho ser o pai dela! –Apontava para o bruxo sem olhá-lo. –Vocês os culpam por qualquer doença, por qualquer má colheita, por qualquer enchente...talvez seja tudo isso castigo de Deus por fazerem o mau a todos que não sejam como vocês!  

Bang

A jovem bruxa olhou pra baixo e viu o sangue surgir no seu peito.

—Sunset... –O caçador balbuciou.

O homem robusto de cabeça e braços pra fora do barril, recarregava o mosquete se preparando para mais um tiro, aproveitando que escassos corvos voavam perto da bruxa, obtivera a abertura que necessitava para atingi-la.

—SUNSET! –Swirl repetiu se abaixando ao lado dela, incrédulo. Pousando uma das mãos nas costas femininas, sujando-se com o sangue.

BANG!

O loiro dessa vez foi o alvo.

—SWIRL! –O pai gritou.

Yeast pálido sentiu instantaneamente o arrependimento por ter colaborado para a tragédia diante seus olhos.

—É tarde demais pra ele, está enfeitiçado pela bruxa! –O homem robusto justificou seu tiro para quem estivesse testemunhando de suas casas.

—Swirl...–A jovem sussurrante viu o sangue no corpo de Swirl.

Ele sorriu-lhe triste, existia nesse gesto simples um mudo pedido de desculpa por não protegê-la, breve deitou a cabeça no colo dela que o rodeou com os braços.

Greatsun não mais abria os olhos, entretanto escutara tudo o que o caçador falara. Tomou o domínio dos corvos para si, usou suas energias restantes para concentrar os pássaros no céu formando a imensa nuvem negra a qual mergulhou sobre Swirl e Sunset.

Os dois tão unidos...

—Amo você...

—Também te amo...

A massa de corvos cobriu completamente os dois e levaram-nos pelo céu da noite de lua cheia.

—Vamos caçá-los, estão feridos! Não irão pra longe! –O robusto homem saiu do barril levando uma queda feia, mas não se importando com isso, se recompôs segurando a arma e caminhando ao centro da cidade.

—NÃO! –Yeast despontou da casa, seguido pelo pai se deteve atraindo a atenção dos cidadãos que saíam de seus lares. –Vocês não ouviram nada do que o meu irmão falou? Eu cometi um erro amarrando-o e armando o plano para prender a bruxa! –Chorava de raiva, odiando a si mesmo.

—Tivemos demais por hoje. –O pai também interveio. –Olhe o que causamos, várias vidas perdidas, pessoas prejudicadas fisicamente...os bruxos fugiram, não retornarão mais. –Largou sua arma sentindo-se enojado pelo que fizera. –Alguém aqui que conviveu com o médico da família, poderia dizer que está realmente enfeitiçado, amaldiçoado? A cidade sempre foi um lugar hospitaleiro e muito feliz, por isso resolvi trazer minha família pra perto desse ambiente harmonioso, mesmo com os problemas comuns de qualquer cidade, a energia positiva que emana daqui prevalecia.

Yeast esfregou os olhos com os pulsos, perdendo o controle de suas emoções, derramando as linhas de lágrimas.

—Estão acobertando o rapaz, são parentes deles por isso estão se tornando cumplices!

—CALADO! –Yeast vociferou. –As mortes aconteceram por que nos tornamos uma ameaça a eles...se o pai da bruxa quisesse, teria nos matado, nem teria dado tempo para as mãos dele serem amarradas. Eu soube que em outras cidades as condenações na fogueira por bruxaria estão acabando. Comunidades por aí estão notando que eles não são uma ameaça como a maior parte da sociedade prega.

—Não deem ouvidos a ele! –O robusto já o mirava, no entanto recebeu uma apunhalada na cabeça por trás.

—Por hoje chega...estou cansado...–Foi um senhor que já não suportava aquela noite, ele só queria dormir e esquecer o pesadelo acontecido.  –Screw salvou minha família, curou meus filhos e netos quando pensei que os perderia, eu vi o esforço que ele fez para deixá-los vivos. 

Era um senhor conhecido por todos, respeitado por todos. A opinião dele exerceu grande impacto.

Pessoas com experiências semelhantes a dele, tinham uma grande gratidão por Screw.

 

****Halloween****

 

—As pessoas da cidade naquela noite decidiram parar a caça as bruxas, quando o pânico passou e puderam pensar com calma, todos os habitantes que conheceram Screw ampararam dúvidas se ele realmente era um ser maléfico, a verdade é que o bruxo médico fez muita falta na cidade. Mesmo carregando divergência de opiniões a respeito de bruxos, o povo sofreu suas perdas e retornou a rotina nos dias que vieram. A noite de lua cheia, marcada por mortes, ódio e talvez perdão, não foi comentada por mais ninguém.

Boruto encostou a parte posterior de seu tronco no encosto da cadeira, e conservou sorriso satisfatório por concluir a história e observar cada expressão super interessada nas suas palavras.  Colocou o tornozelo esquerdo sobre o joelho direito e parou seus azuis esféricos na garota de roxos cabelos.

Os brilhantes olhos de Sumire indiciava a admiração dela.

Iwabee inclinado pra frente de traseiro quase saindo da cadeira, impulsionou o loiro a continuar:

—E?!

—E? –Boruto repetiu desentendido o que irritou o colega.

—O que aconteceu com a bruxa e o caçador? –Sarada deixara a prancheta cair no chão, penetrante olhar atirava ao Uzumaki. Tão interessada e impaciente se tornou uma versão feminina de Iwabee. –A família dele? A família dela? Para onde os corvos levaram-nos?  

Os outros da roda apeteciam igualmente pelas respostas.

Boruto sacudiu os ombros em sinal de que desconhecia a informação que Sarada buscava.  

—O que posso afirmar é que a história deles foi um cometimento para várias comunidades não praticarem mais punições por bruxaria.

—Só pode ser brincadeira. –Iwabee descontente jogou seu corpo pra trás, se equilibrando no assento.

—É uma história inventada, ele só juntou com um fato histórico, nada mais. Vocês podem inventar o final. –Shikadai se espreguiçou antes de levantar. –Está tarde galera, eu vou indo. Boa noite a todos vocês.

—Boa noite.

Corresponderam eles exceto Iwabee quem logo perguntou à morena:

—Não vai decidir quem ganhou?

Sarada lidava com o fato de não saber o final do conto que começou belo, mas terminou de maneira trágica, lembrando Romeu e Julieta. Suspirando, exigiu:

—Votação! –Se curvou pra pegar a prancheta.  

—O Uzumaki. –Shikadai escolheu cruzando a porta.

Chocho e Denki se levantavam e votaram no loiro também, despediram-se caminhando juntos pra fora da sala.

Iwabee enfurecido cruzou os braços, olhando para Sumire, praguejou.

—Já vi quem vai vencer, eu vô nessa. –Se retirou do espaço estudantil a bufadas e passos pesados.

—TODOS AQUI AMANHÃ NÃO SE ESQUEÇAM!

Sarada gritou espantando Sumire e causando um leve riso no Uzumaki.

—Parabéns, o prêmio é dois ingressos para a maratona de filmes temáticos de Halloween no maior cinema da nossa cidade. –Sarada entregou na mão do loiro. –Você vem Sumire?  –Pegou o celular da mesa do professor e esperou paciente pela resposta da amiga.

—E-eu... –Ela se levantava.

—Eu a acompanho até em casa, sei que moramos perto. –Boruto se ofereceu.

—Tudo bem para você Sumire? –Sarada a fitou achando-a insegura.

De fato a garota de cabelos roxos sentira-se vulnerável, porém ao observar profundamente o loiro, assentiu sorrindo sutilmente.

—Sim, está tudo bem. Até amanhã Sarada-chan.

A morena ajeitou os óculos e afirmou com a cabeça, conhecia o jeito de ambos, a relação dos dois se distanciava de amigos, porém desacredita que o Uzumaki seja uma ameaça à garota. Como representante de classe Sarada era a mais observadora. E acrescentando o fato de uma garota precavida como Sumire responder seguramente, se tornou o bastante para a morena abandonar a sala sem receio de estar permitindo os dois de ficarem sozinhos.

Boruto foi o primeiro a se manifestar se alçando felicitado em ter recebido a confiança de Sumire.

—Os ingressos são para a sexta que vem, gostaria de ir comigo? –Confiante convidou-a.

Ela espera um pouquinho para ver se verdadeiramente está sendo convidada.  Risonho o loiro justificou seu convite:

—Me dou bem com meus colegas, mas eu não me tornei amigo de ninguém ainda, e estive interessado em conhecê-la. –De grande sorriso passa a mão atrás da cabeça.

—Por que eu? O que viu em mim? –Sumire começa a mexer nas tranças do cabelo.

Abaixando o braço, os azuis do Uzumaki se avivaram como nunca.

—No meu primeiro dia na cidade de Konoha, fui visitar meu avô no hospital Godaime, passei na ala infantil e vi um palhacinho animar as crianças que carregavam deformações por queimaduras.

Sumire apertou suas tranças roxeadas, seu rosto apanha o tom escarlate, pois conhecia essa história.  

—Esperei a visita do palhacinho terminar, interessei-me em contratá-lo para entreter no aniversário de minha irmã. Mas quando fui atrás dele, o sujeitinho desengonçado ia ao banheiro e resolvi segui-lo, porém tive a inusitada surpresa ao vê-lo entrar no banheiro feminino. Fiquei um tempão do lado de fora, até ver uma garota sair com uma enorme bolsa.

—Vo-você estava longe? Eu não me lembro de tê-lo visto. –De olhar caído e inquieto, Sumire sabe que sua face está fora de sua cor natural.

—Haha eu estava do outro lado do corredor, quase na saída dele, mas você estava ocupada conversando no celular, quando passou por mim, eu observei sua bolsa que estava fechada só pela metade e pude reconhecer o material de palhaço. Fiquei impressionado sabe, uma pena minha irmã ter me encontrado insistindo para eu leva-la pra tomar sorvete. Perdi-te de vista, fiquei desanimado...até chegar no meu novo colégio e ter a novidade maravilhosa em tê-la como colega de classe.

—Vo-você não tentou conversar comigo desde aquele dia... –Ela enrola a ponta de uma trança no dedo indicador.

—Passei a observá-la, percebi que você não menciona o que faz fora de sala, quando dei por mim já não sabia como chegar em ti... –“E passei a gostar de você” Boruto queria completar, mas apesar de toda sua personalidade comunicativa, cultivava em seu coração uma porção tímida. –...se estiver achando estranho, entenderei se recusar.

—E-eu aceito! Obrigada por guardar meu segredo...eu  quero conhecê-lo melhor. –Sumire se apressou largando as tranças e se curvando com as mãos unidas.  

—Yeas! Dattebasa! –Boruto comemorou e gestualmente parecia uma criança de seis anos muito feliz. Quando a viu rir de seu comportamento, de um segundo pro outro ficou sério, o que fez Sumire achar mais graça. Se recompondo ele afundou a mão no bolso da calça pegando seu aparelho celular para conferir o horário. –Vou me encontrar com minha família daqui a quinze minutos, gostaria de conhecê-los?

—Sua família? –Sumire dilata as pálpebras.

—Sim, vamos jantar no Ichiraku, é um lugar muito bom e não é longe daqui. –Quebrou a distância entre os dois e ofereceu o braço direito pra ela, cavalheiro.

—Eu não trouxe dinheiro, e não quero chegar assim de surpresa...

—Relaxa, é por minha conta. –Vendo-a em grande hesitação, achou melhor não forçar a barra, havia conseguido convidá-la para o cinema e isso já fez a noite no colégio valer cada segundo. –Se precisar ir pra casa, não se sinta na obrigação de aceitar por educação.

Casa...

Não tinha ninguém esperando por ela no que deveria chamar de lar. Sumire sentia uma vibração tão boa pelo Uzumaki, que o sorriu na mesma linha de confiança, e rodeou o braço dele.

—Eu vou com você.

Boruto felizardo sabia que finalmente conseguiria dormir tranquilo depois de tantas noites mal dormidas por falhar em não se aproximar de Sumire. Costumava ele imaginar como chegaria nela, como os dois se divertiriam juntos, como os dois dialogariam...naquela noite o que almejava se tornaria real.

O Halloween dali por diante seria considerada uma época especial pra ele.

 

****Halloween****

 

Mais tarde.

—Naruto? –A bela mulher adentrou o quarto de casal, havia terminado sua ligação de trabalho e sentou na cama, retirando as sapatilhas chamou mais alto: –Querido?

—Oi amor! –Na porta do banheiro ele apareceu recuando um passo pra trás, inclinando a cabeça dando seu olhar carismático para a esposa. Vestido só de calça e com a boca cheia de pasta, aguardou a mulher falar.

—O que achou da companhia de nosso filho? –O indaga chutando com os calcanhares os calçados pra baixo da cama.

Tiveram grande noite divertida no Ichiraku.

O loiro sorridente voltou pra dentro do banheiro, no intervalo entre lavar a escova de dente e a boca, respondeu:

—Lembra muito você!

—Verdade?

—Sim, é por isso que ele gosta dela, puxou a mim no gosto de garotas.

A esposa riu.  

—Ciúmes Hinata? –Naruto surge novamente no marco da porta.

—Um pouquinho. –Confessou ela que era doida pelo seu meninão. –Mas a felicidade por vê-lo diferente hoje me foi maior, ele está tão alegre, pensei que ficaria desanimado por muito mais tempo depois da nossa mudança. –Boruto sentia falta do antigo lar e dos amigos.

—Mulher você é demais.

O loiro elogiou cruzando o quarto caminhando sedutoramente até ela que risonha foi logo virando as costas pra ele. O Uzumaki não precisou ser orientado por palavras, sabia o que tinha de ser feito. Devagar afastou as madeixas azuladas e longas, segurando-as, a outra mão dele tratou de abaixar o zíper do vestido colado que ao escorregar mostrou a melhor parte para o marido: O vislumbro da pele alvorada e lisa.

O Uzumaki não deixou de passar as pontas dos dedos pela coluna, sabendo que arrepiava a mulher de sua vida.

Mesmo com os anos de casados, não perdiam a explosão daquele amor intenso até mesmo nos pequenos atos. Virou-a lentamente para si, e beijou-a. Desfrutou do incansável sabor do lábio feminino até satisfazer-se com a falta de ar que causou em ambos.

—Estarei esperando.

Naruto avisou caminhando para o outro lado da cama, se desfazendo da calça, logo arrumando o seu lado do colchão.

Hinata sorriu ansiosa para degustar daquele corpo ardente. Desatou o sutiã e lançou a peça na direção do homem que aparou no ar.

—Para poder distraí-lo enquanto eu estiver no banheiro.

O maridão sorriu safado e pressionou a delicada peça no nariz, perdendo a vista dos seios grandes de mamilos claros no momento que sua esposa se virou desfilando as formas curvilíneas para o banho.

Enquanto Hinata se banhava, pensava na agenda da próxima semana.

Visitaria o primo Neji para o aniversário do filho dele de dois anos, levaria os filhos para verem Hanabi quem não podia se levantar da cama por estar se recuperando depois de um acidente de carro, sorte ela ter um excelente médico na família. O dia mais importante seria no sábado quando viajaria para o EUA visitar o bosque onde foi à floresta na qual sua antepassada morou no século XVII.

Não deixaria de visitar o lugar um ano sequer desde quando descobriu o segredo histórico de sua família.

Quando chegou o momento do avô bruxo analisar o interior da neta, ele já conhecia o que habitava na cabeça  e coração dela. Pois nos dias que Sunset dormiu na casa dele, durante as noites ele conjurou magia para invadir os sonhos dela, e estudou a mente da mesma, conhecendo o amor dela pelo caçador e analisando os dias da memória da jovem, os quais ela compartilhou com o loiro. Swirl trouxe para Sunset o gosto pela vida, salvou-a do sofrimento no qual ela se afundou após os julgamentos em Salém. Reconhecendo a pureza do sentimento que os interligava, o idoso bruxo decidiu usar sua magia para interligar as almas dos dois, o propósito é que elas fossem atraídas não importa onde, quando ou como.  Sendo assim, as almas seriam reencarnadas, a bruxa e o caçador estariam destinados a se encontrarem.

Uma bailarina famosa e um pescador de cidade pequena. Vidas distantes, se encontraram uma vez na infância, e se reencontraram velhinhos e viveram juntos os anos que restaram pra eles, os melhores anos, diga-se de passagem.

Um nazista e uma judia...suicídio, tiraram suas vidas depois de namorarem escondido por dois anos e meio.

Um domador de leões do circo e uma pilota de avião, tiveram poucos encontros, porém foram suficientes para se amarem, viveram separadamente por tantos anos, sem filhos, cada um com sua carreira agitada, mas sempre lembrando um do outro nos melhores momentos. 

Em nenhuma das ocasiões tiveram lembranças de suas vidas passadas, possuíam aparência totalmente diferente de Sunset e Swirl a cada reencarnação...Com exceção da vida que estão levando na atualidade. No século XXI a alma de cada um retornou para a linhagem de suas respectivas famílias do século XVII.

Foi um festejo para Screw e Flower, hoje de nomes mudados para Neji e Hanabi de sobrenome Hyuuga. Os dois esperaram tanto por esse dia, foi o primo quem se responsabilizou em contar para Hinata, mostrou a ela uma carta deixada pelo idoso bruxo, e ainda que a Hyuuga não tivesse as lembranças de Sunset...conseguia ter a mesma sensação que a bruxa.

Terminado o banho não se preocupou em vestir-se, chegando à cama se enrolou no lençol se aconchegando no corpo do loiro.

—Não fechou a janela. –Comentou com a boca raspando o peito dele.

—A lua está linda hoje, gosto quando ela reflete em seus olhos.

A cor perolada não era considerada bizarra nessa época moderna.

Eles se beijaram e apertaram as mãos de um modo que os fizeram sentirem-se num Déjà vu. Naruto também sabia do segredo da família e também conseguira parte do histórico dos seus parentes antigos, conseguindo complementar o conto "A bruxa e o caçador" o qual narrou para os seus filhos. 

—Eu te amo...

Murmuraram juntos e se beijaram sem pressa, se amaram sem pressa, pois teriam a eternidade para desfrutarem desse esplendoroso sentimento.

 

 


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Notas finais do capítulo

Obrigada aos leitores que acompanharam, beijos!



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