Um Horizonte Maior escrita por André Tornado


Capítulo 6
Reunião decisiva


Notas iniciais do capítulo

“Centenas de comandantes rebeldes encontravam-se reunidos no salão de guerra do gigantesco cruzador estelar, esperando as ordens do Alto Comando.”
In O Regresso de Jedi, KAHN, James, Publicações Europa-América



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A sala operacional da Base Um, que servira de base de operações durante a Batalha de Yavin, foi o sítio escolhido para a reunião do Alto Comando que iria analisar as comunicações recebidas pela Millenium Falcon e onde se iria decidir qual as ações imediatas a desenvolver para debelar essa ameaça que poderia colocar em causa os objetivos estratégicos da Aliança.

A atmosfera escura da sala mantinha-se, com painéis transparentes iluminados por traços verdes, vermelhos e azuis que riscavam a sua superfície em elipses, computadores ligados a zunir, luzes intermitentes, calor. Em redor do amplo transmissor oval situado no centro reuniam-se os convocados para aquela conferência que se desejava breve e conclusiva.

A placa de dados estava a ser analisada por Del Goren e pela Jenna Shmura, num canto da sala. Não se escutava o que continha, pois os dois técnicos de comunicações usavam auscultadores e trabalhavam no código afincadamente para entregarem a resposta que lhes era exigida em tempo útil e antes do fim da reunião. Ainda bem que o general Dodonna não pedira que a mensagem fosse transmitida na sala, considerou Luke, pois o seu som cadenciado e surdo haveria de estilhaçar a boa disposição com que ali entrara.

Estava mais relaxado, muito atento, a sentir-se inteiramente disponível para o que quer que se decidisse no fim daquele encontro extraordinário do Alto Comando. Quando chegara ao hangar, ao lado de Han Solo, fora recebido por um abraço de Chewbacca. Rira-se, agradado com aquela demonstração de afeto por parte do gigantesco wookie. Minutos depois juntaram-se-lhes Threepio e Artoo, o que acabara por transformar o tempo de espera num agradável encontro entre amigos a bordo da Millenium Falcon.

Luke olhou em volta. Aguardava-se que o general Dodonna desse início à reunião. A princesa Leia estava entre o general Dodonna e o general Willard, que parecia contrariado ou irritado, de braços cruzados e a olhar fixamente para o canto onde o Goren e a Shmura trabalhavam. Han postava-se junto a Luke e a Wedge Antilles, que também tinha sido convocado. Não havia mais ninguém. Pelos vistos, o comandante Hudsol não fora chamado ou não lhe fora possível comparecer. Havia um androide protocolar prateado que iria secretariar a reunião e outros dois androides operacionais que habitualmente controlavam os computadores da sala, que preveniam eventuais avarias ou mau funcionamento de circuitos.

Os momentos prévios de silêncio e de observação ganharam peso no ar parado.

A sala tornou-se pequena e sombria.

O general Dodonna pigarreou, cobrindo a boca com um punho e começou a falar, uma pequena nota introdutória para explicar o motivo da reunião e o seu carácter urgente. Mencionou as comunicações recebidas pela Millenium Falcon, a hipótese formulada pelo corelliano Han Solo, a informação recebida em primeira mão pela princesa de Alderaan, a escolha dos presentes. Luke começou a perceber a irritação do general Willard e também passou a espreitar amiúde o canto onde se operava na transmissão codificada. Desejava-se mais pragmatismo e o general Dodonna estava claramente a empatar, para obter resultados concretos que lhe permitisse prosseguir com a reunião, sob a premissa de que Han Solo estava certo.

Luke não tinha dúvidas de que Han estava coberto de razão. Só faltavam as provas. Que iriam surgir em breve, acreditava também. Por que motivo gostavam de elaborar demasiado sobre questões simples? Havia que agir, não que reagir. A única opção possível seria a evacuação do Templo de Massassi e de todo o pessoal formalmente alistado na Aliança, que trabalhava naquela base. Era, na verdade, a opção mais plausível a tomar após a destruição da Estrela da Morte. Mas poderiam existir outras opções, como uma ofensiva surpresa contra o Império. Murmurou entre dentes:

— Vamos lá... Não podemos desperdiçar esta oportunidade...

Não compreendia a razão de a decisão ser tão difícil. Já não devia estar tomada mesmo antes da festa que acontecera para celebrar a vitória rebelde? Ou talvez houvesse a necessidade de que tudo ficasse registado, para que houvesse argumentos políticos, e mais tarde judiciais, quando a guerra terminasse. A legitimidade das ações conferia vantagens no jogo do poder. Ele não queria saber de nada disso, ele queria ajudar a vencer a guerra, para começar. O que se seguiria nos tempos de paz... com os sobreviventes... logo se veria.

Encontrara Wedge no caminho para a sala, que lhe tinha perguntado se sabia o que se passava.

— Mais ou menos – respondera. – Parece que o Império começa a descobrir que a Estrela da Morte já não existe.

— Levaram tempo, os sacanas! Tempo demais, se queres que eu te diga. Não é normal o Império ser assim... tão desleixado.

— Provavelmente devem confiar demasiado em si próprios.

— O Império controla a galáxia. Alguma coisa não funcionou, neste caso. Perderam a sua magnífica estação espacial, uma das suas armas mais potentes...

— A Aliança pode ter andado a sabotar comunicações imperiais.

— É possível...

— Finalmente vai acontecer alguma coisa para o nosso lado.

— Serão os planos de evacuação?

— Não sei, Wedge. Provavelmente, ainda não. Acho que primeiro vão enviar uma missão para neutralizar a ameaça que foi encontrada, para continuarmos a ter tempo para uma evacuação ordenada. A Leia... Quero dizer, a princesa Leia não quer precipitações quando abandonarmos Yavin Quatro.

Estremeceu ao perceber que Shmura estava de pé, atrás de Del Goren que entregava a placa ao general Dodonna, que, por sua vez, agradeceu o gesto aos técnicos de comunicação. A recordação do encontro com Wedge distraíra-o por alguns segundos e a situação da sala mudara. A mensagem tinha sido descodificada. A Jenna Shmura sabia, de facto, de códigos imperiais secretos. Aquele deveria ter sido dos mais difíceis com que se tinha deparado, ao longo da sua carreira, sem dúvida, tomando em consideração o expediente utilizado pelo Império para disfarçar o sinal captado pela Falcon.

Trocaram um breve olhar e Luke sentiu-se a corar. A mulher reparara na sua presença e fixara-o, dando-lhe mais importância que aos demais. A sensação foi estranha e quase sufocante. Ele olhou para Leia que aguardava pelo seguimento da reunião, agora com o código quebrado, na sua habitual pose de serena competência.

A voz sonante do general Dodonna arrancou-o às suas divagações.

— Minhas senhoras, meus senhores, tenho a anunciar que as suposições do capitão Solo estão corretas. O destacamento imperial de Dantooine está a tentar contactar a Estrela da Morte de uma forma secreta, utilizando uma baixa frequência e camuflando o sinal.

O corelliano, de braços cruzados, fez um sorriso torto. Luke leu ironia e não satisfação na expressão do amigo. Pareceu-lhe que lhe apetecia mais disparatar com o general e dizer-lhe, sem rodeios, que avançasse com o plano de ação, pois tinha mais que fazer, não gostava de ser um alvo fácil e que já estava mais do que na altura de começar a desenhar-se a estratégia de abandono de Yavin Quatro. Era uma excelente perspetiva, concordou Luke. Ele também estava farto de não ter nada de relevante para se ocupar.

— Temos essa evidência – prosseguiu o general Dodonna – nas comunicações captadas pela Millenium Falcon e que se revelaram absolutamente verdadeiras. São, de facto, provenientes do Império Galáctico. Agradeço, pessoalmente e em nome da Aliança, ao Del Goren e à Jenna Shmura que descodificaram a mensagem com a rapidez que lhes era exigida.

Um ligeiro aceno indicou o cumprimento, devolvido pelos dois técnicos. Ela tornou a olhar Luke de esguelha. Ele passou o peso de uma perna para a outra, desviando os olhos, mas desta vez não se fixou em Leia mas no mudo androide protocolar prateado. Bastante diferente de Threepio!

— Minhas senhoras, meus senhores... Não há qualquer dúvida. O Império desconhece ainda o destino da Estrela da Morte. Julga que continua em perseguição da base secreta da Aliança, que a descobriu no sistema de Yavin, que analisa prováveis informações díspares sobre a nossa localização precisa, que está a estender uma armadilha elaborada para desferir o golpe fatal. A cortina de fumo que temos lançado secretamente desde a Base Um tem funcionado, as nossas comunicações falsas... E mais uma vez agradeço publicamente ao Del Goren e à sua equipa... têm sido fundamentais para todo o tempo que, nesta altura, contabilizamos a nosso favor. Tempo esse que nos tem permitido pensar em muitos aspetos da nossa organização, em melhoramentos e em estratégias futuras. Mas não vos irei maçar com esses detalhes que, nesta reunião, são completamente descartáveis.

Pela ligeira crispação da testa de Leia, Luke percebeu que ela não estava ao corrente daquela operação secreta destinada a confundir o Império.

Dodonna assentou as mãos grandes no rebordo do transmissor oval do centro da sala e a sua voz tornou-se mais grave:

— No entanto, embora considero que a Aliança tenha feito um excelente trabalho nos últimos dias, o destacamento imperial de Dantooine está prestes a descobrir a verdade, se não obtiver retorno da sua transmissão secreta, que, segundo o Del Goren, tem uma validade e irá expirar no fim de um ciclo de mil análises de vetor.

A verdade iria sempre ser descoberta”, pensou Luke disfarçando um suspiro. Reparou que Leia também começava a ficar ansiosa.

— General Willard, chegou a altura de colocar em prática o plano de evacuação.

— Concordo, general Dodonna. O nosso tempo, mesmo aquele conquistado nos últimos dias, precioso sem dúvida e que nos foi bastante útil, terminou. Estamos no momento que antecipámos desde que definimos a estratégia do ataque à Estrela da Morte. Era uma consequência programada. Não fomos apanhados desprevenidos, longe disso, tentámos manter a nossa posição até ao limite imposto pela própria situação. De facto, o nosso tempo terminou. Abandonamos Yavin Quatro e iremos procurar uma nova base secreta para que a Aliança continue a fazer frente ao Império.

O general Dodonna assentiu com um breve aceno da cabeça.

— Julgo que teremos um problema, em relação ao destino...

— Correto, general Willard. As possibilidades que se nos apresentam não são muito animadoras, mas acredito que iremos conseguir novos aliados em breve que nos irão ajudar na escolha de uma nova base, num local razoável. Preferivelmente, secreto. Para assegurar a nossa sobrevivência, a liberdade de movimentos e o lançamento de missões para continuar a destruir o Império.

— Proponho uma missão a Dantooine – afirmou Leia perentória.

Caiu o silêncio. Um momento necessário para que a declaração assentasse entre os presentes. Os dois generais olharam em simultâneo para a princesa tentando ocultar o seu espanto. Não estavam à espera daquilo.

Luke sorriu. Ele achava que era o que devia ser feito, naquelas circunstâncias. Evacuar, sim. No entanto precisavam igualmente de demonstrar o poder efetivo da Aliança, ainda que estivesse muito debilitado depois das perdas de naves e de homens na batalha, e de se afirmar que a destruição da Estrela da Morte não fora um acaso. Agradava-lhe principalmente o facto de pensar da mesma maneira do que Leia. Tinham isso em comum e ele sentiu-se inspirado.

— Assim é que se fala, miúda – murmurou Han orgulhoso.

— A proposta parece-me razoável, Alteza – começou o general Willard por dizer. – Mas será oportuna, quando vamos começar a fazer os preparativos de evacuação?

A princesa explicou:

— As comunicações imperiais que foram captadas pela Millenium Falcon não me surpreendem, general. É natural que o Império, que controla a galáxia e que esmaga os sistemas planetários debaixo do seu estandarte de terror, opressão e intimidação, empreenda a busca pela Estrela da Morte, essa estação espacial mortífera que tão bem servia e representava os interesses do Imperador Palpatine. Também não me surpreendo e considero muito acertada a decisão de se desencadear os procedimentos para a evacuação da Aliança de Yavin Quatro. Já o devíamos ter feito desde o primeiro dia após a batalha. Mas também é minha firme convicção de que a Aliança deve agir a estes novos acontecimentos. Proponho uma missão a Dantooine com o objetivo de desmantelar essa base imperial, neutralizar o sinal que identificámos e conseguir deste modo ganhar um pouco mais de tempo, tão precioso e que nos será bastante útil, no meio do nosso plano de evacuação.

— Uma missão a Dantooine, Alteza – contrapôs o general Dodonna – será perigosa e utilizará meios que muito provavelmente serão necessários mais tarde, para proteção e estabelecimento da nova base da Aliança.

— Percebo o seu ponto de vista, general – argumentou Leia irredutível. – Mas como afirmei, a Aliança precisa de agir. Não é aceitável que, entretanto, a busca do sinal se esgote, como nos informou o Del Goren, e que Dantooine lance o alerta para a capital imperial. Como resultado, teremos a frota inimiga em Yavin Quatro, a atacar-nos com um enorme poder de fogo, antes de terminarmos a nossa evacuação. É verdade, os nossos meios estão muito reduzidos, precisamos de mais caças, de mais pilotos, de novas naves de transporte, de abastecimentos. Como poderemos combater o Império se este nos cair em cima no momento vulnerável que significará o abandono da Base Um?

— Ela tem razão, general Dodonna – concordou o general Willard com um suspiro. – Precisamos que o Império não nos incomode enquanto saímos de Yavin Quatro. Se os meios são poucos para um eventual assalto a Dantooine, serão igualmente poucos para uma defesa eficaz da nossa saída deste sistema.

— O que propõe, Alteza, é a destruição da base imperial em Dantooine.

— Correto, general Dodonna. Compreendo a sua relutância, dadas as nossas limitações. Acredito, todavia, que seremos bem-sucedidos e que conseguiremos vantagens a curto prazo que nos serão preciosas para o plano de evacuação. É crucial manter Coruscant na ignorância em relação à Estrela da Morte. O máximo de tempo que conseguirmos.

— Apresento-me como voluntário para a missão! – anunciou Luke.

Novo silêncio. Ao contrário do que ele esperava, Leia não recebeu aquele anúncio com um sorriso rasgado e os olhos brilhantes, vaidosa por ele se apresentar como o primeiro defensor da sua proposta. Quem lhe sorriu, discretamente, foi Jenna. A reação das duas mulheres baralhou-o.

— Skywalker, tem consciência de que os riscos dessa missão serão elevados e que os resultados serão incertos? Não temos dados suficientes para preparar um plano conveniente de ataque a Dantooine, não atualmente quando perdemos o contacto com esse sistema, quando não temos qualquer aliado credível na área.

— Sim, general Willard. Tenho plena consciência dos riscos desta missão.

Era mentira, nem conseguia imaginar de uma forma coerente e sistemática os perigos a que se estava a expor, mas ele não iria desistir em face da exposição da verdade e dos potenciais problemas de um ataque às cegas a uma base imperial num planeta remoto. A Leia precisava de apoios naquela reunião.

— Agradecemos a sua disponibilidade.

— Bem, general Willard, julgo que não temos argumentos que possam contrariar o plano veemente da princesa Leia Organa – disse o general Dodonna parecendo resignado. – Pois precisamos desesperadamente de manter o Império longe de nós, ainda mais no momento delicado que se avizinha. Não desejo percalços durante a evacuação. Está aprovada a missão a Dantooine. Quero a proposta formulada pelos canais oficiais, Alteza.

— Claro, general. Assim farei – concordou Leia.

O general Willard encarou Luke.

— Ficará a comandar a missão no terreno, Skywalker. Terá de nos apresentar a sua equipa e as necessidades de equipamento. Tem três horas-padrão para me entregar um primeiro relatório para ratificação formal do Alto Comando. Embora já conte com essa ratificação tácita, nesta reunião.

— Sim, senhor. Compreendido, senhor.

— A equipa do Skywalker conta com outro voluntário. Vou com ele para Dantooine – anunciou Han.

Luke disse-lhe:

— Obrigado, amigo.

— E claro que o Chewbacca me vai acompanhar. Já tens dois na tua equipa, miúdo. Mais a Millenium Falcon.

— Irei requisitar o Artoo e o Threepio. Vamos precisar de androides.

— Perfeito, Skywalker – anuiu o general Willard.

— Também me apresento como voluntário, general – disse Wedge, por sua vez. – Acompanharei o Skywalker e o capitão Solo.

— Ótimo, Antilles! A sua experiência, como antigo militar do Império, será fundamental para o sucesso desta missão. Iremos fazer uso dos seus conhecimentos específicos. Skywalker, aconselho-o a trabalhar diretamente com o Antilles na definição da estratégia para o assalto a Dantooine.

— Sim, senhor.

Luke apanhou um cochicho breve da Jenna, que se inclinava para o Del Goren.

— A Aliança ainda dispõe, nas suas bases de dados, dos planos da sua antiga base de Dantooine – interveio Leia. – Será um princípio para começarmos a trabalhar na missão. O destacamento imperial que foi enviado para o sistema deve ter aproveitado as instalações anteriores e não deve ter feito grandes alterações na disposição das defesas e dos aquartelamentos. Sabemos exatamente quais os pontos sensíveis, onde se encontra o comando, quantas naves e veículos diversos deverão estacionar-se nos hangares. Podemos fazer também uma estimativa com base nos dados recolhidos sobre a Estrela da Morte, visto que o destacamento partiu daí.

— Princesa, é nomeada como chefe principal de missão – disse o general Dodonna. – Ficará a coordená-la desde a Base Um. Será a ligação entre o Alto Comando da Aliança e a equipa tática do Skywalker.

— Sim, general.

— Esperamos também o seu relatório dentro de três horas-padrão, com o plano de ataque. No geral e em pormenor, com todas as informações que lhe seja possível recolher nas nossas bases de dados sobre Dantooine.

— Compreendido, general.

Luke notou que Leia escondeu o seu desagrado. Teria preferido acompanhá-los, envolver-se pessoalmente na luta, destruir mais um dos bastiões do Império. À princesa agradavam as vitórias da Aliança, por cada uma era um punhal enterrado no orgulho do Imperador, era menos um estandarte de terror, opressão e intimidação cravado num sistema da galáxia. E agradava-lhe mais ainda estar na linha da frente, a combater com os próprios punhos, sem receio e preocupações pela sua própria segurança. Apesar de pertencer à realeza galáctica, Leia Organa era sem dúvida alguma uma guerreira.

— General Willard, peço a palavra – pediu Del Goren.

— Tem a palavra, Goren.

— Quero apresentar a Jenna Shmura como voluntária para a missão a Dantooine. A pedido da própria.

— Explique-se.

Por breves segundos, Luke teve a impressão de que a temperatura da sala tinha aumentado drasticamente. O calor que sentiu não era normal... Ela espreitava-o com um interesse dúbio, mantendo um meio sorriso que também era ilegível. Ele susteve a respiração, enquanto escutava as explicação do Goren.

— A Jenna Shmura é perita em códigos secretos imperiais. Pertencem-lhe os créditos da descodificação da mensagem que nos chegou de Dantooine. Ela será bastante útil para uma invasão a qualquer destacamento imperial. Não haverá código que ela não consiga quebrar, permitindo o acesso a qualquer parte de uma base imperial, por mais secreto e reservado que seja. Para além de, devido ao seu percurso pessoal, se encontrar apta para combater. Antes de se juntar à Aliança tinha recebido treino paramilitar e sabe usar uma arma.

— Apresenta-se como voluntária, Shmura? – perguntou o general Willard.

— Sim, general. Sou voluntária para a missão a Dantooine.

Aquele encontro terminou após as despedidas formais. Os generais saíram, foram seguidos pelo androide protocolar prateado, depois por Del Goren e pela Jenna Shmura que não tornou a olhar para Luke e pareceu até que o ignorou ostensivamente durante a saída, ainda que tenha passado a reunião inteira a lançar-lhe olhares e a tentar provocá-lo sem que se percebesse quais as suas verdadeiras intenções. Wedge disse-lhe que iria esperar por ele do lado de fora da sala, precisavam de começar a compilar o relatório que lhes tinha sido exigido e achava que três horas-padrão eram demasiado escassas para a complexidade da tarefa. Luke disse-lhe que já iria ter com ele, que não se preocupasse que haveriam de fazer esse tal relatório e que o tempo que lhes tinha sido dado seria mais do que suficiente. Leia aproximou-se.

— Luke, obrigada por te teres apresentado como voluntário.

Ele encolheu os ombros. Tinha-o feito por causa dela.

— Sei que compreendes as implicações desta missão... Afirmaste-o na reunião, ao Willard. Mas deixo-te o meu aviso. Vai ser perigoso.

— Vou ter o Han comigo – tranquilizou-a ele.

— Não tenhas medo, Alteza – sossegou o contrabandista, mas num tom que sugeria que falava sem realmente sentir o que dizia. – Vou ter o miúdo sempre debaixo de olho.

— A missão vai correr bem, Leia.

— Claro que vai correr bem! Se depender dos meus estudos e análises do que sabemos sobre as instalações militares de Dantooine que a Aliança utilizou, não vão acontecer falhas. Bem, também tenho um relatório para apresentar. E dentro do mesmo prazo que tu e o Wedge. Temos de ir trabalhar.

— Mais burocracia! – exclamou Luke revirando os olhos.

— Não gostas, é compreensível, mas por vezes é necessária. Não quero surpresas. Esta missão tem a obrigação de ser um sucesso e seremos nós que vamos garantir isso. Com os nossos relatórios, com a burocracia.

— Mesmo com todas as preparações e relatórios, irão existir sempre surpresas – adiantou Han. – No terreno as coisas nem sempre são como imaginamos.

— Eu sei! – exclamou Leia irritada. – Mas posso tentar prevenir essas surpresas!

— Calma, princesa – pediu Han mostrando as mãos. – Não vamos os três sozinhos para a Orla Exterior, a bordo da Millenium Falcon, com o Chewie e os androides. Teremos outros homens a acompanhar-nos, gente para operar no terreno ao nosso lado. Armas e munições suficientes, explosivos. É para arrasar com a base imperial, certo?

Leia disse entredentes:

— Esqueceste-te da Shmura...

— Oh! Isso... serão ciúmes, princesa?

Leia levantou os braços soltando um breve rugido que se assemelhou a um desabafo de frustração de um wookie. Saiu da sala, dizendo alto:

— Se precisarem de mim, estarei na sala da inteligência, a consultar as bases de dados. Mantenho o meu intercomunicador ligado.

Os passos dela, pesados e largos, perderam-se no corredor. Luke respirou fundo. Han deu-lhe uma cotovelada.

— Acho que são ciúmes...

— Não há motivo para isso – explicou Luke incomodado.

— Está aborrecida. Queria vir connosco.

— Eu também a queria connosco. Leia é um bom elemento para qualquer equipa de assalto.

— Tens razão, miúdo. Mas se calhar a princesa será mais útil na retaguarda e essa Shmura vai ser essencial para quebrar as barreiras que vamos encontrar na base e que não vão ser poucas, nem simples. Pareceu-me estar bastante à vontade com os códigos imperiais. E se souber mesmo usar uma arma, como disse o Goren, é perfeita. Acho que me vou apaixonar.

Luke deixou descair os ombros. Abanou ligeiramente a cabeça, sem saber se deveria responder ou não àquela afirmação descabida do contrabandista. Estavam a preparar uma missão delicada e Han insistia no seu sentido de humor ácido.

— Vemo-nos mais tarde.

— Ei... Luke?

— Sim?

— Tens um cargueiro corelliano à tua disposição para servir de disfarce. Uma excelente maneira de entrares em qualquer sistema da Orla Exterior é anunciares que carregas uma carga legal e que foges de contrabandistas que te querem roubar a mercadoria. O Império adora meter-se no mundo dos negócios para poder mostrar a sua justiça e tirar os seus proventos.

Luke sorriu.

— Excelente ideia, Han! Excelente ideia.


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Notas finais do capítulo

Luke Skywalker e Han Solo vão entrar novamente em ação, desta feita numa missão a Dantooine.
Uma missão bastante arriscada, mas é fundamental proteger a Aliança e os rebeldes, para que a luta contra o Império continue.
E tivemos a apresentação da Jenna Shmura - o que acharam dela?
De resto, todos os os outros personagens deste capítulo pertencem ao universo Star Wars - o Del Goren, os generais Dodonna e Willard, Wedge Antilles.

Próximo capítulo:
Fantasmas.