Um Horizonte Maior escrita por André Tornado


Capítulo 5
Comunicações alarmantes


Notas iniciais do capítulo

“Um sinal de chamada retiniu nas instalações, vindo da imensa mesa de painéis (…).”
In O Império Contra-Ataca, GLUT, Donald F., Publicações Europa-América



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Luke Skywalker estava a descansar na camarata quando recebeu a visita de Threepio e de Artoo. Dormitava sobre a sua cama, mãos atrás da cabeça, olhos sonolentos fixados no teto, entediado até à medula.

Tinham-se passado nove dias depois da festa de arromba que celebrara a destruição da Estrela da Morte e naquele tempo que passara nada foi reportado de anormal. Se no início o descanso soubera muitíssimo bem, ao fim do terceiro dia a falta de afazeres de monta, para quem tinha vivido antes momentos imparáveis de correria e de euforia, começou a parecer uma refinada tortura. Até chegou a desejar estar novamente na quinta de humidade do seu tio Owen, em Tatooine.

Estivera na maioria das vezes nos hangares, a verificar os caças, a preencher relatórios com reparações necessárias e outras análises técnicas que o aborreciam, embora ele realizasse as tarefas de que era incumbido sempre com empenho e com aquele entusiasmo próprio dos novatos. Nesse entretanto vira Han e Chewie que tinham aproveitado a pausa para procederem a reparações na Millenium Falcon. O cargueiro era problemático e continuava a parecer-lhe um pedaço de sucata, embora lhe devesse a vida, literalmente. O corelliano e o wookie, pelo menos, pareciam ocupados e divertidos com as avarias que encontravam, pelo simples facto de estarem a trabalhar em benefício próprio, sem a exigência de outrem que por vezes era incompreendida porque julgada redundante e até desnecessária. Não lhes ofereceu a sua ajuda, achava que estava a interferir num momento que pertencia apenas a Han, a Chewie e à Millenium Falcon. Tinha os seus afazeres com a frota rebelde e pareceu-lhe cobarde arranjar uma desculpa para se escapar destes.

Houve uma ocasião, contudo, que fora mais entusiasmante do que as tarefas monótonas que lhe incumbiam. Ele e Wedge Antilles tinham saído com os respetivos X-Wing numa viagem de reconhecimento por Yavin Quatro. Sobrevoar a floresta, descobrir lagos imensos entre as manchas verdes, fazer manobras arriscadas a rasar as águas, afinar a pontaria para destruir blocos graníticos que antecediam uma imensa pedreira de onde se tinha retirado a matéria-prima para construir os templos que se espalhavam pela paisagem, libertara-o da tensão e encheram-no de vaidade. Voar estava-lhe no sangue, ele necessitava de velocidade tanto quanto precisava de ar para os pulmões, sentiu-se vivo a pilotar o caça, esqueceu todos os instantes mais aborrecidos de pertencer à Aliança Rebelde. Os olhos azuis brilhavam-lhe quando regressou ao hangar e conferenciou com Antilles sobre a incursão pela lua. Toda a maravilha esmoreceu, todavia, quando foi ordenado aos dois pilotos que preenchessem um relatório sobre o seu voo. A burocracia sepultou os instantes de excitação e Luke voltou a remeter-se ao seu papel de rebelde obediente.

Nesses dias nunca mais se tinha cruzado com a Nyra, nem tornara a ver as irmãs Shmura. Considerava que era o melhor, pois não sabia muito bem como encarar a primeira à luz do dia depois do que tinha acontecido na noite da festa, nem como enfrentar as segundas ao saber das suas origens e dos seus segredos. O quarteto de mulheres, no entanto, estava longe das suas preocupações e não servia para o distrair daquela inação. Simplesmente, não pensava nelas com a frequência suficiente para que se pudesse afirmar que elas estavam no seu círculo de conjeturas. Continuava, isso sim, a pensar amiúde em Leia e de como nunca mais conseguira estar a sós com a princesa mais do que cinco minutos-padrão, que proporcionassem uma conversa agradável, um sorriso dela, um sorriso dele.

A porta da camarata abriu-se e entraram Threepio e Artoo, o primeiro no seu típico caminhar rígido, o segundo a deslizar suavemente sobre os seus rolamentos. Luke levantou-se da cama, esfregou os olhos sonolentos. Mal ele sabia que tudo iria mudar, abruptamente, que o tédio iria terminar em breve como secretamente desejara e que seria o par de androides que carregava a notícia que iria lançá-lo outra vez em momentos de correria e euforia.

— Bom dia, menino Luke! – cumprimentou Threepio com um entusiasmo polido. – Como se encontra hoje?

Artoo apitava enquanto se aproximava.

— Estou bem, Threepio. Com pouca coisa para fazer... Olá, Artoo!

— Oh, nós não temos parado um instante. Não é assim, Artoo? Temos sido bastante requisitados nas reuniões do Alto Comando da Aliança. Um androide protocolar revela-se necessário quando menos se espera. Para além de ser especializado em relações diplomáticas e conversações difíceis, a minha programação que inclui mais de seis milhões de formas de comunicação é utilizada sobremaneira para decifração de códigos e encriptação de mensagens.

— Fico muito contente por estarem a utilizar as tuas capacidades únicas, Threepio.

— Estão a ser lançadas comunicações sensíveis diariamente para sistemas que teoricamente poderão ser novos aliados da Rebelião. Tudo deve ser realizado no mais absoluto secretismo e com extremas cautelas para não tropeçarmos em informadores imperiais. É um trabalho moroso, difícil, complexo... O Alto Comando da Aliança mede todos os passos que dá, para evitar um tropeção que pode sair caro aos eventuais futuros aliados.

— Têm sido feitos novos recrutamentos, nestes dias?

— Os recrutamentos de pessoal aparecem depois, menino Luke. Primeiro temos de encetar negociações com os governos de cada sistema ou, o que é mais normal pois a Aliança atua na sombra e em segredo, conseguir chegar à fala com grupos organizados de combatentes de guerrilha, que sabotam as ações do Império localmente. Nesse processo delicado, precisam na maioria das vezes de um intérprete e é então que eu apareço.

— Oh... Nunca julguei que existissem tantas criaturas descontentes pela galáxia com dialetos estranhos que estejam dispostas a lutar pela Aliança. Normalmente, são grupos de bandidos?

— Julgo que o Alto Comando faz previamente uma caracterização desses grupos, menino Luke, e descarta aqueles que estão fora-da-lei, para os padrões imperiais e para os padrões da Aliança. De qualquer modo, existe uma diretiva que permite recrutar aliados com reputação duvidosa, desde que provem a sua lealdade à causa rebelde... Não é muito ortodoxo, mas estamos em guerra e importa que os nossos números sejam superiores aos do inimigo. Temos de garantir uma vitória do nosso partido.

— Hum...

— O Artoo também tem estado muito ocupado, a fazer ligações diretas e constantes aos computadores da Base Um. É necessário intervir ativamente nos circuitos, preparar alternativas para a sobrecarga de rotinas muito utilizadas, antecipar eventuais penetrações inimigas na base de dados. O meu companheiro metálico tem sido muito requisitado. Até eu me espanto, por vezes, com as suas capacidades e os seus recursos inesgotáveis.

Artoo silvou indignado.

— É verdade! És uma lata cheia de surpresas. Nunca julguei que fosses capaz de te comprometer com alguma tarefa do princípio ao fim. Sempre foste tão... cabeça no ar! Se posso afirmar algo semelhante, quando não possuis uma cabeça... como eu.

Luke pousou uma mão na cúpula de Artoo que continuava a silvar em franca indignação. Sorriu com a afirmação de Threepio.

— É verdade! – exclamou o androide protocolar em resposta aos silvos constantes de Artoo. – Sempre foste independente, convencido de que sabias tudo, a meteres-te em sarilhos, a inventar situações embaraçosas. Um cabeça no ar! A melhor definição que inventei para ti!

Depois de um apito agudo, o pequeno astromec calou-se.

— Eu sei que tenho razão – sentenciou Threepio presunçoso, voltando costas ao amigo metálico. – E tu devias admitir que tenho razão. Para de protestar.

— Talvez me devesse converter num androide para ter mais ação... – suspirou Luke, dando voz a um pensamento repentino.

— O que disse?

— Nada, Threepio. Fico contente por vocês, por estarem a ser úteis à Aliança. Vocês são dois androides muito especiais e tenho muito orgulho por se terem cruzado no meu caminho. Se não vos encontrasse... – Abriu os braços. – Não estaria aqui, hoje, a combater o Império.

— O menino Luke também é muito útil à Aliança. É um dos seus melhores pilotos e um herói.

— Um piloto que está agarrado ao chão não é de muito serviço a ninguém.

— Irão acontecer outras batalhas. Embora eu prefira que a guerra se resolva com soluções menos agressivas. Mas será inevitável... acontecerem mais combates. Os meus circuitos ficam arrepiados só de pensar que alguma coisa de mal possa acontecer-lhe, menino Luke.

— Obrigado pela tua preocupação, Threepio. Mas se eu for lutar ficarei exposto ao perigo. Como todos os meus companheiros que lutarem ao meu lado. Não quero... um tratamento especial por ser um herói... – Emendou bruscamente: – Por ter recebido aquela medalha.

— Perdoe-me se fui ofensivo. Não quis insinuar que merecia um tratamento diferente. Sei que o menino Luke é muito corajoso e que está comprometido com a causa rebelde.

Artoo soltou um pio suave. Luke apercebeu-se de que tinha os ombros tensos. Tentou relaxar, ensaiou um sorriso.

— Calma, Threepio, não me ofendeste. Eu é que tenho andado... um pouco frustrado por ter tão pouco que fazer. Prefiro combater a ter de compilar relatórios de danos em caças estacionados no hangar. Por isso fui um pouco brusco. Eu é que peço que me desculpes. Não devo descarregar em ti... os meus problemas.

O androide protocolar fez um movimento que indicava uma alteração de atitude, um novo rumo para aquela conversa. Como se ficasse mais empertigado, mais atento, mais prestável – se isso fosse possível, dada a sua natureza eminentemente prestativa.

— Oh, mas isso vai mudar, menino Luke.

— O que queres dizer?

— É por isso que o Artoo e eu estamos aqui. Para lhe deixar uma mensagem do capitão Solo. Uma mensagem que lhe vai dar muito trabalho no futuro, acredite. Não sei se vai gostar, mas será diferente do que tem acontecido até aqui, seguramente. Muito diferente de compilar relatórios de dados em caças estacionados no hangar, sem dúvida.

— Alguma reparação estranha na Millenium Falcon? – brincou Luke a imaginar a complicação com que se teriam deparado Han e Chewie, tão impossível de resolver, tão estranha e intrincada, que eles se tinham resolvido a pedir a sua ajuda.

— Tem que ver com a Millenium Falcon, menino Luke, mas não se trata de qualquer reparação ao cargueiro corelliano.

— Então... o que é?

— Aparentemente, quando o capitão Solo e o Chewbacca procediam à desmontagem do sistema de transmissão rádio da Millenium Falcon, para conseguirem resolver um problema de interferências com o hiperpropulsor... Não me pergunte por que razão as comunicações interferem com a velocidade da luz, é um mistério que não me dignei a resolver, mas sabemos todos muito bem que a Millenium Falcon é cheia de impossibilidades... Bem, o capitão Solo ligou alguns fios ao acaso e conseguiu, pressionando alguns interruptores no painel de comunicação, para realizar uns testes simples, julgamos nós, não sabemos bem os detalhes, sintonizar uma frequência incomum que não é utilizada há eras incontáveis para qualquer tipo de comunicação. Estava a ser transmitido um código, numa sequência repetitiva. Chewbacca foi chamar o Artoo que se ligou ao computador do cargueiro e juntamente com o capitão Solo descobriram... comunicações alarmantes.

Luke estremeceu.

— O que queres dizer... com comunicações alarmantes?

Artoo apitou.

— A mensagem que temos de lhe entregar, menino Luke, é essa, no essencial. O sistema de comunicações da Millenium Falcon descobriu comunicações alarmantes codificadas. O capitão Solo foi procurar pela princesa para lhe contar essa descoberta e pediu-me que o avisasse.

— É uma descoberta recente? – indagou Luke alarmado. – Han foi falar com a Leia e pediu-te para me avisares?

— Sim, menino Luke. O capitão Solo deve estar, neste momento, a encontrar-se com Sua Alteza.

Agarrou no casaco amarelo e, enquanto o vestia, perguntou ao androide:

— Onde está a princesa?

— Sua Alteza deve estar neste momento na sala de reuniões táticas. O capitão Solo solicitou-lhe pelo intercomunicador pessoal que se encontrassem nesse lugar e ela concordou. Percebeu que a situação poderá ser grave e interrompeu o que estava a fazer. Creio que iria encontrar-se com o general Dodonna.

— Obrigado, Threepio!

Luke saiu esbaforido da camarata. Queria apanhar a conversa desde o início e, por isso, correu pelos corredores do Templo de Massassi como se tivesse um rancor no seu encalço. O coração batia-lhe acelerado e o sangue corria-lhe quente pelo corpo todo,  numa exaltação febril. As palavras de Threepio marcavam a cadência dos seus passos de corrida, dizia-lhe o androide que tudo iria mudar, que lhe iria dar trabalho, que lhe seria exigido um labor diferente do que compilar relatórios. Ser um piloto, combater, arriscar-se em prol da Aliança.

Sim, isso era o que ele mais desejava! Não se importava com os perigos, com as incertezas. Não se importava com as perdas e com os obstáculos. Não se tinha alistado na Aliança para viver uma vida confortável. Sabia o que arriscava e não se acanhava perante a enormidade dos desafios. Queria ser mais, queria provar mais, queria experimentar mais.

Aquilo só podia significar uma coisa: o Império começava a agir. Naqueles dias achara estranho não ter existido ainda a ordem de evacuação de Yavin Quatro. As rotinas mantinham-se, subsistia no ambiente da base rebelde uma calmaria que não era forçada, nem artificial. Não soara nenhum alarme, os acontecimentos sucediam-se com naturalidade, sem a tensão própria de um grupo que estaria a ser acossado por forças estranhas. Um dia, a tempestade regressaria. Um dia, o Império despertava e voltava a perseguir o quartel-general secreto da Aliança, obrigando-os a escolher um novo esconderijo. Pois esse dia tinha chegado.

Depois de ter atravessado os corredores necessários, sem se ter cruzado com ninguém, felizmente, não queria ter de dar explicações para a sua pressa quando tinha pouco para explicar, Luke alcançou o painel que destrancava a porta da sala de reuniões táticas. Carregou no botão e a porta deslizou para cima. Apresentou-se-lhe o compartimento que frequentara, juntamente com os demais pilotos rebeldes, para receberem as instruções para o ataque à Estrela da Morte. Os planos que a princesa de Alderaan tinha inserido em Artoo, que ele protegera desde que se cruzara com o astromec em Tatooine, estavam a ser exibidos num monitor, enquanto o general Jan Dodonna explicava as ações que iriam ser tomadas. A comoção tomara conta dos pilotos quando descobriram que o seu alvo era minúsculo num gigantesco planeta metálico de mais de cem quilómetros de diâmetro.

Junto ao painel de computadores onde figurava o monitor, agora apagado e negro, Han Solo entregava uma placa de dados a Leia Organa. Tinham, os dois, expressões preocupadas nos rostos crispados. Ao aproximar-se, ouviu-a a dizer:

— Tens a certeza de que é isso que está aqui?

E ele respondeu-lhe:

— Absoluta!

— Han... Leia. Vim assim que recebi a mensagem que enviaram pelo Threepio – disse Luke tentando conciliar a respiração. Estava ofegante e cansado. – Cheguei tarde?

— Ainda bem que vieste, miúdo – disse o contrabandista colocando as mãos na cintura. – Queria que ouvisses o que tenho para dizer à princesa. E não, não chegas tarde. Acabámos de chegar aqui também.

— É grave? – quis Luke saber, ansioso.

— Podes crer que é grave, miúdo. As notícias que esperamos desde que rebentámos com a obra magnífica do Império, mas que nunca quisemos efetivamente receber.

— O Threepio contou-me o que descobriram...

Leia ligou o painel. O célebre monitor acendeu-se, surgindo o símbolo estilizado da Aliança. Ela enfiou a placa de dados no computador, escolheu alguns botões e surgiu, pelos altifalantes do sistema de som da sala, um barulho que, numa primeira análise, fazia lembrar simples ruído cósmico, num registo grave e quase inaudível, pontilhado por apitos intermitentes aparentemente sem uma ordem matemática. Mas, se a gravação continuasse a tocar, voltando ao ponto de início, colando o fim ao começo, percebia-se que havia uma repetição e que os apitos inseridos encontravam-se nas mesmas posições da passagem anterior. Tinham sido inseridos propositadamente.

— E dizes que esta é uma comunicação Imperial? – perguntou Leia apontando para o monitor, embora o som não surgisse daí. Talvez apontasse de forma genérica para o painel, mas o dedo dela estava quase encostado ao vidro.

— Sem dúvida alguma, Alteza – respondeu Han. – Conheço alguns estratagemas do Império e aquilo que estamos a ouvir é um código destinado a receber uma resposta precisa a um pedido também exato. Estão a conduzir uma busca através das ondas rádio, varrendo o espaço em vários vetores, regressando ao vetor inicial quando completam um ciclo de varredura. Por isso, o padrão na mensagem. Repara como é igual ao fim de quinze passagens.

— Disseste que foi a Millenium Falcon que intercetou por acaso esta comunicação, numa frequência baixa que passa despercebida por não ser utilizada por ninguém. Pode ser apenas interferência. Ou uma brincadeira.

— Não é interferência, nem uma brincadeira. O Império anda a fazer uma revista ao espaço, mais precisamente ao sistema de Yavin – insistiu Han calmamente. Dada a aparente gravidade da situação, ele estava a portar-se muito bem, considerou Luke, sem se exaltar ou expor o seu ponto de vista de uma forma brusca e desagradável, como era seu hábito. Ele olhava ora de um para o outro, humedeceu os lábios estava mais nervoso do que os seus dois amigos.

— Está a procurar a base rebelde?

Mas a pergunta de Luke ficou sem resposta, pois Leia queria completar o seu próprio raciocínio.

— O que te leva a pensar isso? Não conseguiste decifrar o código, apenas sabes que se trata de uma comunicação de busca e identificação.

— Não preciso de decifrar o código, basta fazer uso da minha massa cinzenta. – O corelliano apontou para a têmpora direita. – Identifiquei a origem e o destino da transmissão, Alteza. O destino é Yavin, a origem é Dantooine.

Leia empalideceu. Han percebeu que ela tinha finalmente compreendido o quão alarmantes eram aquelas comunicações que se escutavam naquela sala como um pulsar de um coração distante.

— Dantooine... – murmurou ela convocando memórias dolorosas, azedas, frias. – A Aliança teve uma base em Dantooine, mas abandonou-a quando não conseguimos manter o pagamento ao senhor local e a chantagem se tornou incomportável. Mais cedo ou mais tarde seríamos entregues ao Império, por isso havia que decidir deixar o planeta. Fugimos para Yavin... Perante a ameaça do governador Grand Moff Tarkin de fazer explodir Alderaan, o meu planeta natal, menti-lhes e nomeei Dantooine como a localização da nossa base secreta. No final, a minha suposta colaboração de nada serviu, pois Alderaan foi destruído pelo Império. O Tarkin disse que Dantooine estava demasiado longe para uma demonstração eficaz... O plano sempre foi explodir connosco.

— O Império foi verificar essa informação que lhes deste, princesa.

— Efetivamente! – exclamou ela com as cores a regressar ao rosto. – E quando descobriram que eu lhes tinha fornecido uma pista falsa, ordenaram a minha execução. Estava na Estrela da Morte.

— Pelos vistos, o destacamento imperial manteve-se nos escombros da antiga base rebelde, em Dantooine. Até hoje. Estão a fazer uma transmissão desde esse sistema para Yavin e só pode significar que pretendem contacto com a Estrela da Morte.

— O quê?! Não é possível! – exclamou Luke agitado. – Ainda não sabem que a Aliança explodiu com a Estrela da Morte?

Han sorriu.

— Aparentemente, não. É a única explicação que encontro para esta comunicação insistente, codificada e repetitiva. Os imperiais que estão em Dantooine foram despachados da Estrela da Morte e não da capital imperial. A estação espacial deveria de gozar de um estatuto especial de independência e usava de competências próprias para tomar as suas próprias decisões, sem ter de pedir autorização superior. Por outro lado, Darth Vader estava na Estrela da Morte... Eram os olhos do Imperador no sítio, assegurava-se de que mesmo com todas as liberdades concedidas cumpriam-se as diretivas gerais do Império... Os imperiais em Dantooine devem ter deixado de receber o sinal da Estrela da Morte, mas sabe-se lá porquê, julgam que se trata de um qualquer logro para enganar a Aliança. Algo parecido... Para se assegurarem, no entanto, de que não se verifica nada de anormal, começaram a enviar esta comunicação para receber uma resposta da Estrela da Morte.

Leia escutava com uma mão no queixo, pensativa.

— Talvez tenhas razão. Talvez estejamos ainda seguros e com a possibilidade de podermos escolher a nossa próxima base de operações sem demasiadas interferências do Império, escapando-lhes novamente, para outro sistema onde não nos podem encontrar.

— E quando Dantooine não receber a resposta da Estrela da Morte? – perguntou Luke preocupado. – O que vai acontecer?

— O nosso tempo acaba, miúdo.

— A Aliança não tem estado a procurar uma nova base? Mais cedo ou mais tarde, O Império descobre que a Estrela da Morte foi destruída.

— A Aliança tem estado atenta, Luke – explicou Leia. – Esperava-se que a Rebelião ganhasse projeção e mais visibilidade depois da vitória da Batalha de Yavin, mas não está a ser fácil conseguir aliados importantes.

— Estás a falar de política – observou Han cético. – Não podemos falar de política quando o Imperador dissolveu recentemente o Senado e governa sem oposição. Ninguém vai querer apoiar a Rebelião politicamente quando esta não passa de um grupo de foragidos, embora com uma grande vitória para apresentar no currículo. Com uma grande vitória... secreta! É um grande dilema, Alteza! Se anunciarem que destruíram a Estrela da Morte, têm o Império a cair-lhes no colo sem hipótese de fuga. Se não anunciarem que destruíram a Estrela da Morte, então não há grande vitória para servir de argumento... político.

Leia encarou Han. Luke susteve a respiração. Ela ficara zangada com aquela observação. Mordeu os lábios que ficaram brancos, mas deve ter reconhecido que a razão estava do lado do contrabandista, que fizera uma das suas usuais e certeiras análises práticas. Desligou o painel com um gesto rígido, retirou a placa e anunciou, para evitar uma discussão inútil:

— Precisamos de convocar imediatamente uma reunião com o Alto Comando, mostrar-lhes esta transmissão, descodificá-la para não haver dúvidas de que se trata daquilo que julgamos ser, Dantooine a procurar pela Estrela da Morte. Devemos agir imediatamente para evitarmos ser desalojados de Yavin Quatro sem um plano de evacuação decente, viável e coerente. Não quero que a Aliança saia daqui no meio de um ataque imperial. Baixas de equipamento, mortes desnecessárias, o caos.

— Concordo, Alteza.

— Sim, eu também concordo – anuiu Luke acenando com a cabeça.

— Creio que o Del Goren tem na sua equipa alguém que conhece códigos imperiais secretos. Vou dizer ao general Dodonna para que esse técnico seja também convocado, assim teremos a confirmação da veracidade da mensagem. Eu acredito naquilo que me contaste, Han, mas sabes que haverá a desconfiança habitual dos generais que precisam de tomar decisões.

— Claro...

— A Jenna Shmura! – exclamou Luke.

Han e Leia olharam para ele, ao mesmo tempo.

— Sim... Acho que é esse o nome do técnico – concordou a princesa com uma sobrancelha carregada. Respirou fundo. – Bem, estejam atentos aos vossos intercomunicadores. A reunião deverá ser marcada dentro de uma hora-padrão.

Leia encaminhou-se para a porta, mas antes de sair da sala, olhou por cima do ombro e acrescentou:

— Obrigado, Han. Salvaste a Aliança, mais uma vez... Com a Millenium Falcon.

O corelliano encolheu os ombros. Respondeu sem alegria, embora ela já não o tivesse escutado por estar a afastar-se apressada pelo corredor sombrio:

— Sempre um prazer, princesa.

Luke retirou o seu intercomunicador do bolso do casaco, verificou se estava ligado e a funcionar. Voltou a guardá-lo no mesmo bolso. Pensou em regressar para a camarata mas não lhe estava a apetecer esperar pela convocatória para a reunião do Alto Comando estirado na cama, agora em estado de alerta, o tédio definitivamente enterrado.

— Agora só temos de aguardar, não é?

— Sim, miúdo. Só temos de aguardar...

— O que vais fazer?

— Volto para a Falcon. Queres vir comigo?

Aceitou a companhia e foi com Han Solo para o hangar. Sempre seria melhor o cargueiro corelliano do que a camarata, pensou a tentar acalmar-se. Aquela hora-padrão iria demorar a passar. Mal aguentava a expetativa, a curiosidade, ver a Jenna Shmura a mostrar os seus dotes de descodificadora. Estranhou aquele pensamento e inspirou pronunciadamente para se concentrar no que era realmente importante.

A Aliança iria entrar em ação, outra vez. Isso é que era importante.


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Notas finais do capítulo

Os desejos de Luke Skywalker foram atendidos: o descanso terminou, recomeça a adrenalina da guerra contra o Império Galáctico.
Gosto de escrever aquele par de androides. É realmente preciso muita paciência para aturar Threepio e mais as suas pequenas implicâncias com Artoo, mas Luke tem essa paciência. E são sempre esses dois os portadores de notícias importantes.

Próximo capítulo:
Reunião decisiva.