Um Horizonte Maior escrita por André Tornado


Capítulo 32
O aprendiz e o mestre


Notas iniciais do capítulo

“Vader ajoelhou-se diante do Imperador Galáctico, que passou a mão por cima do seu obediente servo.”
In O Império Contra-Ataca, GLUT, Donald F., Publicações Europa-América



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O capacete de durasteel foi novamente aplicado sobre o seu crânio calvo pejado de cicatrizes. Retirava-o de vez em quando para aliviar a pele macerada que exigia respirar, fora da liga metálica da máscara apertada.

Novamente o seu maldito corpo perecível a pedir demasiado. Odiava-se por ser fisicamente quebradiço e dependente, mas recuperava a empáfia quando os cientistas lhe garantiam atualizações do seu fato mecânico que lhe aligeiravam os padecimentos descartáveis derivados desse corpo mutilado. Quase que o asseguravam de uma imortalidade programada e possível, confiando que desse modo podia seguir adiante com os seus planos de ordenamento galáctico sem constrangimentos despiciendos. Embora ele soubesse que essa eternidade, de facto, não existia.

Darth Vader abandonou a sua sala particular de meditação.

Ajoelhou-se servilmente na plataforma negra circular que permitia a transmissão holográfica, obedecendo ao alerta que o avisara, na cápsula isoladora que usava para exercitar a mente sempre turbulenta, inesgotável, imparável, de que o Imperador, seu senhor absoluto e dono das suas vontades, por mais desvairadas e ambiciosas que fossem, queria falar-lhe.

Antecipava uma conversa longa, orientadora, dissecadora dos momentos presentes, que incluíam as suas reclusões em meditação, os exercícios militares e os recentes ataques inimigos. E que invariavelmente incluiria o piloto rebelde que ele buscava incessantemente através dos trilhos insondáveis da galáxia.

Não era um tema confortável para ele. Despertava na sua alma negra uma ambição inédita, um potente instinto assassino. Ódio tão escaldante como a lava de Mustafar. Uma captura que tinha absolutamente de realizar, só assim se permitiria descansar e preocupar-se com outras questões. Focava-se nesse objetivo raivosamente, nada mais importava, nada mais merecia a sua atenção. Primeiro Luke Skywalker, depois a Aliança para a Restauração da República. Capturando um elemento, enfraqueceria o conjunto. Era uma estratégia genial.

A caça ao piloto rebelde excitava-o. O Imperador conhecia essa sua fraqueza, as suas variações de humor, a imperiosa necessidade de meditar para orientar as suas prioridades, não esmorecer a sua concentração. Só se tinha sentido transtornado dessa forma tão radical quando, no início do Império Galáctico, caçara e abatera os Jedi.

O prazer fora físico e autêntico. Permitia-se saborear cada gota do sofrimento que provocava, preenchendo com as vidas que retirava de forma atroz, os pedaços mortos do seu corpo disfarçado na armadura mecânica. O seu sangue fervia e arrefecia.

Ele apreciava o acrescento de poder, pressentia a mudança que não tinha retorno. Sabia que podia alcançar a eternidade, essa promessa vã dos cientistas trementes de medo, apoiado na Força tenebrosa, com o sacrifício dos seus opositores.

E o Imperador também tinha esse conhecimento.

Ajoelhado, proferiu:

— Qual é o vosso comando, meu mestre?

Uma saudação que representava toda a sua obediência e absoluta lealdade.

Diante da plataforma, que reproduzia a sua imagem subjugada no palácio em Coruscant, Vader viu surgir a figura velada de Palpatine sentado no seu trono, rosto onde somente se vislumbrava a boca descaída e rodeada de pregas enrugadas de carne, numa segunda plataforma que transmitia o holograma azulado.

— Meu amigo, estou muito agradado com as notícias que me foram transmitidas sobre a Esquadra da Morte. A sua imponência começa a ser propagandeada como invencível pelos sistemas da galáxia e agrada-me o terror que infunde entre os nossos aliados. As últimas vitórias foram importantes para a definição desse estatuto.

— Trabalhamos arduamente para manter o poderio naval do Império, meu mestre.

— Sem dúvida, meu amigo. Agora que ficámos privados dessa maravilha da engenharia bélica que era a Estrela da Morte, uma perda que ainda hoje me irrita, horrorizado com a ousadia daquela escória miserável que ousou desferir tal golpe, temos de demonstrar que essa perda não foi tão profunda como julgam e que podemos varrê-los da galáxia definitivamente.

— Sim, meu mestre. Os relatórios mais recentes indicam que a Aliança encontra-se desprovida de uma frota organizada que se possa enfrentar à frota imperial. Seriam facilmente eliminados apenas pela Esquadra da Morte.

Vader esticou levemente o pescoço para poder olhar o holograma, pousando a sua atenção na bainha da túnica longa sob o manto que cobria Palpatine por completo, deixando à mostra apenas os dedos esqueléticos e a boca torcida. O aprendiz, vergado na sua humildade e obediência, não ousava encarar o seu mestre.

— Tive conhecimento desse relatório sobre o estado atual e deplorável da Aliança – confirmou o Imperador desdenhoso. – Acho abusivo que se classifique o conjunto escasso de vasos desses renegados como uma frota. Não existem naves ofensivas de grande porte que continuam a ser negociadas com o clã dos Mon Calamari, traidores que estão protegidos pelos grandes investidores que financiam o nosso esforço de guerra que não posso afrontar para não criar uma desnecessária crise financeira. O que me conforta é saber que os Mon Calamari, apesar de se declararem aliados da Aliança, não se comprometem para além do simples apoio político se existirem perdas económicas. Para piorar, esse grupo patético de lutadores da liberdade realizaram recentemente um negócio ridículo para adquirir naves que são inúteis em combate no espaço e os seus caças que se encontram operacionais carecem de reparações profundas, com peças que não lhes estão a ser entregues por termos os fornecedores controlados e ameaçados.

— Sim, meu mestre. A Aliança enfraquece, de dia para dia.

— No entanto, ainda subsiste, mesmo fraca e depauperada, constituindo um ultraje à minha posição de governador supremo da galáxia. No entanto, sem uma frota digna desse nome, liderando uma nave espetacular como a Executor, não foste capaz de descobrir onde se escondem esses malditos rebeldes que conspiram para me derrubar deste trono.

A repreensão foi feita numa rispidez inesperada. Vader apertou o punho.

— É verdade, meu senhor – concordou submisso.

A boca de Palpatine arrepanhou-se num trejeito.

— Não aceito a aparente dificuldade, lorde Vader. Quero essa escória eliminada de uma vez por todas. Já não suporto ter notícias de que, em algum lugar completamente desconhecido e inédito desta galáxia, existiu um assalto e uma pequena vitória dessa guerrilha abjeta que se ri nas minhas costas por ter cumprido os seus tristes objetivos. Reforçam-se com pouco, nutrem o seu ideal com migalhas, equipam-se com sucata e alimentam-se de restos, mas isso só os fortalece em vez de os desmoralizar. Julgam-se superiores por sobreviverem no limite da impossibilidade, quando eu, rodeado de luxo, de tecnologia e de poder, mostro-me tão incapaz em capturá-los. Inadmissível!

— Precisamos que se reagrupem num único lugar, precisamos de montar uma armadilha. Meu mestre.

O holograma azul pensou por um bocado.

— Evidentemente, lorde Vader. A Aliança precisa de ser apanhada, principalmente os seus líderes, num único e decisivo ataque. A batalha que aconteceu em D’Qar não serviu esse propósito, pois o Alto Comando rebelde foi alertado do nosso ataque e fugiu, deixando para trás poucas naves cujas tripulações se voluntariaram para o sacrifício no confronto sangrento liderado pelo star destroyer Merciless.

— O traidor já foi identificado e punido, meu mestre.

— Atuaste rapidamente para estancar a fuga de informação, lorde Vader. Foste implacável e foi do meu agrado.

— Estamos presentemente a providenciar para evitar novas situações semelhantes.

— Nunca estão isentas de acontecer, mas, da próxima vez… E espero que não exista uma próxima vez… quero o traidor apanhado em flagrante para conseguirmos atacar a base da Aliança com o Alto Comando aí residente. Ora mencionamos o ponto fulcral, lorde Vader. A base da Aliança. Como afirmaste, precisamos que os revoltosos se reagrupem num único lugar. Em suma, que encontrem uma nova base onde estacionem para que possamos decapitar, de uma vez por todas, esse monstro que ameaça a estabilidade do Império.

Vader contou:

— Após a fuga de D’Qar, a nossa inteligência descobriu que os rebeldes foram espalhados em pequenos grupos, para evitar a sua concentração e, em consequência, a sua dizimação num único ataque. Soubemos também que Carlist Rieekan de Alderaan tornou-se recentemente um dos líderes militares dos rebeldes, o que poderá significar alguma dificuldade futura, devido à sua genialidade no campo estratégico.

— Que não reconhecemos e deploramos, lorde Vader – comentou Palpatine fazendo um gesto de desdém com a mão pálida. – Já temos novidades do general que liderava a defesa rebelde em D’Qar?

— Foi capturado em Kirit-Valut, meu mestre. Neste momento, o general Jan Dodonna encontra-se numa prisão do Império e à vossa disposição.

— Ótimo! Ótimo! Já lhe aplicaram… algum tratamento especial?

Um eufemismo que utilizavam recorrentemente e que significava tortura de prisioneiros importantes.

— Não, meu mestre. Aguardamos as vossas instruções.

— Hum… Muito bem. Irei estabelecer uma conversação bastante desagradável com esse general. Não espero que ele me revele mais do que já sabemos, mas poderá servir de engodo para capturarmos outros líderes incautos da Rebelião. Não abandonam os que ficam para trás, insistem no seu resgate. Não será para evitar a revelação de segredos, nem para camuflar estratégias futuras. Sabem compartimentar as decisões superiores de maneira a escamotear os seus passos. Trata-se de um expediente ligado à lealdade. Patético!

— Sim, meu mestre.

— Disseste Kirit-Valut? Despacha a Stinger e a Hurricane para esse sistema. Dois star destroyers serão suficientes para receber os rebeldes. O grupo que destacarão para resgatar o Dodonna será mínimo. Quero-os todos apanhados, sem a preocupação de fazer prisioneiros. Atirar a matar. O general poderá ser importante para nós, os outros nem pensar.

— Sim, meu mestre. A tua ordem será cumprida.

Palpatine estalou a língua.

— Agora, lorde Vader, vou fazer-te um pedido pessoal.

Um arrepio arrefeceu-o. Vader baixou o queixo e a bainha do manto de Palpatine sumiu-se do campo de visão da sua máscara negra.

— Aguardo as vossas instruções, meu mestre.

— Sei que não nutres grande apreço pelo almirante Kendal Ozzel, mas vais mantê-lo na liderança da Esquadra da Morte. Ele tem as suas qualidades e considero que estas serão mais do que suficientes nos próximos tempos, em que a perseguição à escória rebelde se fará sistema por sistema, sufocando aliados ou possíveis aliados, cortando linhas de abastecimento e criando zonas protegidas militarmente que impedirão os vários grupos espalhados de se contactarem entre si. Se a Aliança se quer dividir, mantemo-los divididos! Acabarão por fenecer por si, isolados uns dos outros, desmoralizados e derrotados. Ozzel é perito em táticas mais tradicionalistas, como pudeste observar no exercício militar em Silexa. Precisamos da sua intuição conservadora, lorde Vader. Ele provará a sua utilidade e pretendo que seja condecorado pelo ataque vitorioso em D’Qar que nos permitiu capturar o Dodonna.

Vader acenou, aceitando a instrução.

— Sim, meu mestre.

— Paciência, meu amigo. Percebo que pretendes o melhor para o Império…

— Esse é o meu objetivo, meu mestre. Não tenho outro. Tudo o que faço é para a vossa glória.

Palpatine sorriu satisfeito.

— Iremos encontrá-los e destruí-los. Nada restará desta absurda sublevação. Alderaan, a nascente desta luta apoiada no ideal político da Antiga República, já não existe. Os apoios políticos começam a escassear, os antigos senadores são cobardes e estão amedrontados com a repressão que foi ordenada por mim. As vozes mais audazes são silenciadas, os meus espiões identificam todos os dias centros de recrutamento para a Aliança. Tudo se encaminha, meu amigo. Tudo se encaminha.

— Nunca duvidei da nossa vitória.

— Nem eu…

O ambiente mudou subtilmente. Palpatine inclinou-se para diante e grasnou:

— Existe um distúrbio na Força. Muito ténue, mas existe…

— Também o senti, meu mestre – concordou Vader levantando a máscara e olhando diretamente para o Imperador, pela primeira vez desde o início do colóquio. A questão era de ulterior importância e o debate anunciava-se tenso. As suas meditações prolongadas ligavam-se ao que Palpatine mencionava. Ele também sentia a tensão nos meandros etéreos galácticos, a emergência que se insinuava como um líquido pastoso que se colava aos pedaços vazios.

— Não o consegui identificar com clareza e esse facto intrigou-me – prosseguiu Palpatine na sua voz enrouquecida. – Não acredito que se trate de uma proteção movida pelo lado luminoso da Força, já que não resta qualquer cavaleiro Jedi nesta galáxia, após a morte de Obi-Wan Kenobi, que a pudesse erguer para disfarçar as movimentações de alguém poderoso na luz enquanto se prepara para nos combater. Então convenci-me de que se trata, possivelmente, de experimentações de uma mente curiosa e talvez dotada, mas que sem a orientação correta se perderá e fenecerá. Uma dessas criaturas sensíveis à Força, sem sonhar o que poderá significar… um Jedi! – cuspiu a última palavra.

Vader não retrucou. Sabia que havia um seguimento, que Palpatine estava a expor uma ideia e que apreciaria o seu silêncio concordante até ao final da tese. Mas que esperaria também uma opinião, uma solução.

— Ou talvez não, lorde Vader.

E esperava uma confirmação. Nada se lhe podia ocultar e Darth Vader, certamente, não tinha segredos escondidos de Palpatine.

— Poderá ser o piloto rebelde que buscamos, meu mestre.

Uma risada mesquinha. Vader sustentou o olhar velado do holograma. Nada receava porque nada ocultava. Nada temia porque tudo recebia como dádivas de conhecimento, castigos e graças.

— Sei que conheces a sua identidade, consigo lê-lo na tua alma, lorde Vader.

— Pretendia fazer-vos uma surpresa.

— Oh, tens tomado decisões bastante estranhas relacionadas com a captura do piloto rebelde. Da próxima vez, meu amigo, contrata os caçadores de recompensas e não uses intermediários.

— Reconheço que Jeiz Becka foi um erro, meu mestre – admitiu Vader com ligeireza.

— Acredito que se o convocasses, o mandaloriano viria ter contigo e podias encomendar-lhe diretamente a caça ao piloto rebelde. O melhor caçador de recompensas da galáxia, não foi o que te contaram?

Também Palpatine se mostrava mais relaxado.

— Confirmo a informação, meu mestre. E o mandaloriano também a confirmou quando me apresentou a cabeça do criminoso Jeiz Becka, que apanhou desprevenido numa jogatina reles de sabacc. Fez-me a cortesia de me dar conhecimento da decapitação num holograma… algo irónico mas que foi, curiosamente, edificante… pois sabia que eu mantinha uma ligação comercial com Becka. Lamentava ter chegado primeiro do que eu, pedia que não me ofendesse e colocava-se à disposição de me compensar pelos eventuais incómodos que me causara, informando que assassinara o criminoso a mando do irmão, com quem Becka mantinha um diferendo muito grave. Nem me dignei a responder a Boba Fett.

— Quer isso dizer que a tua ligação comercial com o mundo do crime de Jeiz Becka foi devidamente terminada?

— Devidamente terminada, meu mestre. O Império saiu a ganhar desta… decisão estranha que tomei, felizmente. O empório de Becka foi destruído, a pequena organização mantida pelo irmão é insignificante e está sob jurisdição imperial.

— Um resultado muito satisfatório, lorde Vader. E quanto ao piloto rebelde, consideras que o conseguirás apanhar com o auxílio de caçadores de recompensas?

— Aprendi essa lição. Não o conseguirei fazer diretamente.

— Hum… Muito bem, meu amigo. Muito bem.

— O piloto rebelde apoia-se… na Força, meu mestre. Vós o sentistes. Fê-lo quando destruiu a Estrela da Morte, continua a fazê-lo para se ir evadindo dos perigos que a minha perseguição lhe atira para cima dos ombros. Sem acerto e sem coerência, contudo. É inexperiente, é jovem, é impetuoso. Não se concentra e não é capaz de, sem orientação, servir-se dos seus poderes de modo a que constitua uma ameaça. É uma presa fácil.

— Mas esquiva.

— Conseguirei capturá-lo. Apontarei os esforços da Esquadra da Morte para encontrar o grupo rebelde que esconde esse piloto. Não me permitirei procurar outros grupos da Aliança.

— Admiro o teu fanatismo.

— Obrigado, meu mestre.

— Despacha sondas pela galáxia, fá-las analisar os cantos mais inóspitos dos sistemas menos conhecidos. O piloto rebelde vai esconder-se num lugar inacessível, onde os seus infelizes amigos também se esconderão, em covas escavadas, como animais.

— Uma nova base?

— Um lugar. Um lugar em que nada vejo por haver… demasiada luz. Muito branco… É doloroso e humilhante.

— É indigno de vós, meu mestre.

Palpatine suspirou fingindo-se desolado, comprazido com a preocupação do seu aprendiz. Recostou-se no trono, a boca descaída movimentou-se num desprezo típico:

— Preciso, todavia, de relacionar o distúrbio na Força com esse piloto rebelde, para que não me restem dúvidas de que não existem outros riscos ocultos. Sinto em ti a efervescência da ambição. Igualmente o germe nocivo do desassossego.

A prédica aguardada, resultado de tantos momentos de reclusão na sua câmara particular – o esconderijo criterioso, mas nunca evasivo, que lhe permitia existir sem a presença de Palpatine. Não renegava o mestre, longe estava de desejar escapar-se da influência magnífica desse senhor supremo dos Sith que o tinha conduzido até ao glorioso Mal que o norteava. Por vezes necessitava de silêncio, sem aquele rosnar constante, o arranhar, a violação. Um simples anseio que tinha as suas consequências. Tornavam Palpatine desconfiado e possessivo, tudo o que ele iria apontar e dissecar seria bastante útil na sua edificação enquanto agente do lado sombrio.

Palpatine completou, sopesando as palavras na língua.

— Tens estado… inquieto, meu aprendiz.

— A meditação fortalece-me, faz-me ver o caminho desanuviado depois de este ter sido perturbado com neblinas inquinadas.

— Muitos dias de meditação. Muitos dias longe do meu alcance.

— Preciso de dominar todas as forças, todos os cenários.

— Eu sou o teu mestre.

— Sinto-me honrado por continuares a apoiar-me, meu senhor.

Vader acalmou o espírito. Fechou os olhos e descontraiu completamente todos os seus músculos. Pressentiu a intrusão de Palpatine no seu interior, escavando, sondando, à procura da disformidade que era necessário extirpar.

— Ah… A sombra de Anakin…

Vader afirmou em tom severo:

— Ele está morto, meu mestre. Definitivamente.

— Os teus atos passados não te devem assombrar, nem manietar, lorde Vader.

— A morte de Anakin Skywalker nunca me incomodou. O fim da existência desse cavaleiro Jedi é o símbolo da minha passagem para o princípio do caminho tenebroso e irrevogável que percorro sem arrependimentos ou dúvidas. Não existe um fantasma, desse Jedi ou qualquer outro.

— No entanto… eu sinto as tuas dúvidas. – Palpatine balançou a cabeça. – É curioso como a tua fé absoluta é atacada pela incerteza tímida. A meditação faz-te mais forte, admito. Mas tudo se esvai num vácuo estranho perante um pequeno estímulo. Ainda não se encontra bem definido, o agente que provoca a reação porque se dissimula na Força fraca, a que se alimenta da luz… Talvez… Talvez…

Percebeu onde o mestre queria chegar e declarou:

— Kenobi era o último Jedi que vivia, meu mestre. Com o fim de Kenobi, a luz vai extinguir-se para sempre.

— Existe o distúrbio na Força. Existe o piloto rebelde. Um possível descendente de Anakin Skywalker… Recordo-me dessa possibilidade terrível.

A ocultação da verdade fê-lo rígido. Vader manteve a dissimulação sob a capa opaca da calma quando afirmou:

— Se o piloto rebelde for um Skywalker, será convertido ao verdadeiro poder. Ao lado negro.

— Muito bem! Muito bem! – O entusiasmo esvaiu-se rapidamente e a voz de Palpatine ficou sombria. – Mas a luz ainda tremula nas funduras, lutando para conseguir manter-se acesa. Kenobi morreu, mas existe outro… Sinto-o, meu aprendiz. Sinto-o e amarga-me as entranhas.

— Tentarei identificar essa anomalia que tanto te aflige, meu mestre.

Palpatine espevitou-se e negou, energicamente:

— Não, não! Foca-te na procura do piloto rebelde e nos demais líderes da Rebelião. Eu tratarei da luz… Só a mim compete identificá-la e apagá-la.

— Sim, meu mestre.

— A tua missão é morosa e árdua. Começou há tanto tempo, ainda continua e vai continuar por longos e gloriosos anos. Apoia-te no lado sombrio da Força. Conduzir-te-á à conquista final e à glória dos vencedores, os ungidos e os imortais.

— Sim, meu mestre.

— Não existe verdade maior do que a minha.

— Sim, meu mestre.

A transmissão foi dada por terminada. O holograma do Imperador Palpatine rindo-se, sentado no seu trono no palácio imperial de Coruscant, desfez-se e Darth Vader encontrou-se sozinho.

Ergueu-se devagar e abandonou a plataforma do sistema de comunicação.

A sua mente estava abençoadamente vazia. Não restaram preocupações, questões, objeções, tentações após a lição do seu mestre. Havia uma paz gelada na sua alma que se transmitia a todo o seu corpo perecível através da circulação sanguínea, que perpassava toda a sua armadura através do sistema elétrico.

Uma respiração completa. Ruidosa. Inspiração. Expiração.

— Luke Skywalker… Serás meu. Juntar-te-ás a mim, na minha verdade, no meu caminho… Ou morrerás.


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Notas finais do capítulo

Esta nota vai ser longa, fica o aviso.
Então temos aqui um encontro entre Palpatine e Vader, com muitas informações. A primeira é de que Becka foi apanhado, pelo caçador de recompensas Boba Fett, e convenientemente decapitado, para agrado do lorde negro. A segunda é que o general Dodonna foi feito prisioneiro pelo Império Galáctico e o Imperador espera o seu resgate pelos rebeldes, para apanhar mais um grupo dessa escória maldita. A outra, muito importante, é que os dois senhores do Mal, que usam o lado negro da Força, conseguem perceber a existência longínqua de um ser que usa o lado luminoso da Força. Conseguem dizer-me quem é?

Agora vem a parte mais longa desta nota.
O propósito desta história seria escrever os eventos que supostamente aconteceram entre o episódio IV e o episódio V. Ou seja, o que tinha acontecido nos três anos que separam esses dois acontecimentos na galáxia. E um dos pontos fulcrais seria a procura pelo piloto rebelde que explodiu com a Estrela da Morte.
Agora, no episódio V, quando Vader entra em contacto pela primeira vez com o Imperador Palpatine - a primeira vez que vemos o Imperador, também - existe um diálogo... que foi alterado quando George Lucas decidiu aplicar a cosmética aos filmes antigos, por causa das prequelas.
Deste modo, a alteração esse diálogo dificultou grandemente a composição desta história - mas espero ter acertado no ponto.
Vou deixar-vos aqui esse diálogo, a versão anterior e a versão mais moderna, para perceberem por vocês. DV será Darth Vader e P será Palpatine. Deixo-vos em inglês e em português (tradução minha).

Original

DV – What is thy biding, my master?
P – There is a great disturbance in the Force.
DV – I have felt it.
P – We have a new enemy. Luke Skywalker.
DV – Yes, my master.
P – He could destroy us.
DV – He’s just a boy. Obi-Wan can no longer help him.
P – The Force is strong with him. The son of Skywalker must not become a Jedi.
DV – If he could be turned… He would become a powerful ally.
P – Yes… Yes… He would be a great asset… Can it be done?
DV – He will join us… or die, master.

DV – Qual é o vosso comando, meu mestre?
P – Existe uma grande perturbação na Força.
DV – Eu senti.
P – Temos um novo inimigo. Luke Skywalker.
DV – Sim, meu mestre.
P – Ele pode destruir-nos.
DV – É apenas um rapaz. Obi-Wan já não o pode ajudar.
P – A Força nele é muito forte. O filho de Skywalker não pode tornar-se um Jedi.
DV – Se ele puder ser convertido… Ele pode tornar-se num aliado poderoso.
P – Sim… Sim… Ele seria de grande valia… Pode ser feito?
DV – Ele junta-se a nós… ou morre, mestre.

Versão atual

DV – What is thy biding, my master?
P – There is a great disturbance in the Force.
DV – I have felt it.
P – We have a new enemy. The young rebel who destroyed the Death Star. I have no doubt… this boy is the offspring of Anakin Skywalker.
DV – How is that possible?
P – Search your feelings, lord Vader… you will know it to be true. He could destroy us.
DV – He’s just a boy. Obi-Wan can no longer help him.
P – The Force is strong with him. The son of Skywalker must not become a Jedi.
DV – If he could be turned… He would become a powerful ally.
P – Yes… He would be a great asset… Can it be done?
DV – He will join us… or die, master.

DV – Qual é o vosso comando, meu mestre?
P – Existe uma grande perturbação na Força.
DV – Eu senti.
P – Temos um novo inimigo. O jovem rebelde que destruiu a Estrela da Morte. Não tenho dúvidas… Este rapaz é filho de Anakin Skywalker.
DV – Como isso é possível?
P – Procura nos teus sentimentos, lorde Vader… descobrirás que é verdade. Ele pode destruir-nos.
DV – É apenas um rapaz. Obi-Wan já não o pode ajudar.
P – A Força nele é muito forte. O filho de Skywalker não pode tornar-se um Jedi.
DV – Se ele puder ser convertido… Ele pode tornar-se num aliado poderoso.
P – Sim… Ele seria de grande valia… Pode ser feito?
DV – Ele junta-se a nós… ou morre, mestre.



Próximo capítulo:
Resgate.