Um Horizonte Maior escrita por André Tornado


Capítulo 23
Opções discutíveis


Notas iniciais do capítulo

“Desconfortavelmente conscientes de que quanto mais tempo estivessem ali parados no mesmo lugar mais rapidamente atrairiam a atenção de alguém, que viria pôr inúmeras questões, Luke procurou freneticamente a rota a seguir.”
In A Guerra das Estrelas, LUCAS, George, Publicações Europa-América



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Os recrutamentos para a Aliança estavam a correr bem e todos os dias apareciam novos rebeldes nos corredores da nave principal que servia agora como quartel-general enquanto não se tivesse um refúgio num qualquer sistema que o Império não alcançasse.

Wedge Antilles liderava essa missão delicada que implicava uma certa discrição, sensibilidade e conhecimento, qualidades que eram naturais no piloto, o que fazia dele alguém mais do que ideal para a tarefa secreta e muito perigosa. As suas saídas eram preparadas minuciosamente e tinha ordens estritas para nunca se demorar mais do que algumas horas no planeta apontado como alvo, onde teria eventualmente existido um contacto com algum descontente que pretendia alistar-se à Rebelião. Todas as informações eram conferidas antes de Antilles se deslocar ao sítio, que podia ser uma cidade tecnologicamente avançada, uma floresta por desbravar, um rochedo árido ou uma colónia miserável. Era importante identificar as possíveis armadilhas do Império e havia algumas entre as comunicações verdadeiras, outras camufladas em pedidos que teoricamente se revelavam como sinceros. Antilles, recentemente, tivera de se escapar de uma emboscada preparada por stormtroopers e chegara a ficar ferido. Esses percalços, contudo, não diminuíam o seu empenho. Pelo contrário, faziam-no mais concentrado no objetivo de conseguir novos rebeldes. Devia perceber alguma afinidade para com a condição desesperada de alguém que pretendia escapar-se de uma vida conformada, já que ele próprio era um desertor imperial. Podia-se estar rodeado de tudo e não ter nada.

Leia chegava ao hangar principal da Home One com a felicidade a encher-lhe o peito. Tinham-na informado pelo intercomunicador e ela mal acreditara nessa excelente notícia. Nunca julgara que seria possível ou sequer impossível. Nunca o desejara, nem sequer o pensara para afastar alguma melancolia de uma noite mais solitária. Era uma mulher pragmática e ocupada com o presente. O passado não podia ser revivido e o futuro estava a ser construído com a sua contribuição.

O velho transportador, do tempo da Antiga República, chiava e soltava vapor de diversas fissuras após aquela viagem esforçada para reunir mais um grupo de descontentes que desejavam combater pela Aliança. Antilles fora o piloto e o agente encarregado da extração, como usualmente. Era cumprimentado com um aperto de mão pelo homem de ombros largos e cabelo grisalho, o elemento mais importante do grupo. Pelo menos o que tinha um nome sonante e uma reputação bem conhecida do Alto Comando. Fora esse personagem que motivara aquela missão extraordinária, já que Antilles tinha saído havia pouco tempo da enfermaria, onde recuperava da tal cilada montada pelo Império. O rosto do piloto exibia fadiga e realização, mas a palidez, as olheiras roxas e as pálpebras descaídas indicavam que sentiria mais da primeira do que da segunda.

Era uma visão invulgar, quase irreal. Leia fechou e abriu os olhos embaciados, para limpá-los das lágrimas provocadas por uma tão grande emoção. Quando o homem soltou a mão de Antilles chamou-o pelo seu título e pelo seu nome.

— General Carlist Rieekan!

O homem voltou-se e mostrou-lhe um esfuziante sorriso.

— Princesa Leia Organa.

Abraçaram-se.

Ela voltou a emocionar-se. No casaco surrado do general ela sentiu o perfume húmido da chuva do seu planeta natal, dos botões das flores que despertavam a seguir à estação mais fria, dos doces que se comiam nos festivais. Era uma fantasia, claro estava, ela tinha plena consciência que aquele casaco trazia agarrado o cheiro do último buraco onde o general se tinha escondido, escapando, etapa a etapa, da opressão maligna de um Império que o queria alistar ou julgar como traidor de guerra, caso recusasse a primeira hipótese. Um cheiro pouco agradável que o seu cérebro se recusou a identificar e a classificar.

Quando se separaram, ele manteve-a próximo de si, segurando-a pelos braços, mirando-a com uma admiração sentida. O reencontro funcionava para os dois, os sentimentos estavam a ser partilhados, entranhados, embrulhados na alma de cada um com a mesma intensidade.

— Minha querida. Nunca julguei que fosse possível voltar a ver-te.

— Nem eu, general.

— Como estás? Quando me contaram que tinhas sido capturada por Darth Vader, sabia que em breve receberia a notícia da tua execução… O Império não iria perder a oportunidade de te usar como símbolo para oprimir aqueles que ainda acreditavam na causa rebelde. Acreditei que jamais te veria.

— E quando vi a nossa casa explodir diante dos meus olhos, transformar-se em poeira espacial de um segundo-padrão para o outro, milhões de vidas inocentes ceifadas por capricho e por orgulho, pensei em ti e em todos os nossos amigos que tinha acabado de perder. Foi… um momento terrível. A angústia dessa visão ainda me acompanha. Em vez de me deprimir, porém, torna-me mais determinada.

Eram os dois oriundos de Alderaan, o planeta mártir que servira, inocente e relutantemente, para a demonstração do poder destrutivo da Estrela da Morte. Com um único disparo da estação bélica, o mundo pacífico das chuvas, das flores e dos festivais tinha deixado de existir, transformara-se em frios detritos rochosos a vogar pela imensidão de um firmamento indiferente.

Fora, de facto, um momento angustiante para a princesa que vira de um modo definitivo e abrupto o fim do seu planeta, a destruição do seu lar, a erradicação de uma cultura, o desaparecimento da família e amigos. Quando, a seguir, tinha sido informada de que fora sentenciada à pena capital, não se importou de morrer. Era membro de um Senado que acabava de ser dissolvido, tinham tido a delicadeza irónica de lho anunciar, era nativa de um planeta que acabava de explodir. Era um alívio poder deixar a vida quando as perdas se tinham, subitamente, acumulado.

No entanto, houvera alguém que quisera salvá-la e ela acabara por não desistir. Porque a luta continuava, porque havia que honrar, mais do que vingar, os mortos, porque iriam existir dias como aquele, num hangar de uma nave gigantesca, em que haveria de rever os amigos julgados perdidos.

O general disse-lhe:

— O teu pai, Bail Organa, grande e inesquecível amigo, que guardarei sempre no meu coração, teria orgulho em ti, Leia.

— Eu sei, Carlist. Muito obrigada pelas tuas palavras gentis.

O casaco surrado do general possuía também o perfume do aconchego paterno, do pai que ficara para sempre perdido com a destruição do planeta. O pai, Bail, e a mãe, Breha. A sua mãe adotiva, a amorosa, a piedosa, a régia mãe adotiva que a amparou nos seus braços em todas as quedas, que a aconchegou em todos os voos. Leia empurrou essa lembrança para as profundezas, para que não caísse numa situação impossível de controlar e ela não desejava que aquela ocasião fosse triste, nostálgica, piegas. Tinha mais motivos para celebrar do que para lamentar e ela considerava-se uma pessoa otimista, que via sempre o lado positivo de qualquer questão.

O general não era o único que tinha sobrevivido, para além dela própria, à explosão de Alderaan. O grupo resgatado por Antilles, o piloto aguardava polidamente junto à nave, eram todos alderaanianos, que se tinham mantido escondidos até que conseguissem enviar a mensagem crucial que os levaria a serem resgatados pela Aliança. O Império desejava capturar todos os alderaanianos que conseguisse, pois esse planeta fora dos primeiros a apoiar a Rebelião. Não fora em vão que tivesse sido o primeiro alvo da Estrela da Morte. Servira como exemplo portentoso para exibir o seu poder esmagador à princesa e também servira de ulterior castigo a um mundo que se orgulhava do seu carácter revoltoso.

Leia reparou no abatimento de Antilles. Enfiou o seu braço no do general e arrastou-o consigo para tirá-lo do hangar, para que o piloto pudesse, por fim, retirar-se. O grupo em que o general estivera integrado estava a ser conduzido para um lugar mais agradável da nave, onde poderiam refrescar-se, trocar de roupa, alimentar-se, relaxar ou até dormir, tudo o que Wedge Antilles e Carlist Rieekan também estariam a precisar.

Caminhavam juntos e ela observou, polida:

— Deves estar cansado.

— Um pouco, admito. No entanto não cheguei aqui para descansar. Aguardam-me numa reunião. Depois, só depois, irei aproveitar a vossa maravilhosa hospitalidade.

— Ah, uma reunião?! – admirou-se a princesa. – Que indelicadeza!

— Calma, Leia – riu-se o general, dando-lhe uma palmadinha amigável na mão cujo braço se enlaçava no seu. – Fui eu que pedi para assistir. Ninguém me impôs ou está a obrigar-me ao que quer que seja. De resto, só irei como ouvinte, não irei intervir. Não seria muito apropriado, considerando que acabei de chegar… Poderia ofender algumas personalidades mais suscetíveis que também estarão presentes e não quero causar uma má impressão, de qualquer maneira.

— Assistir a essa reunião não vai criar esses mal-entendidos que tentas evitar?

— Menores do que se fizer ouvir a minha voz. Tu também estarás presente e conto contigo para me apoiares no meu silêncio, cara senadora.

— Vais estar presente numa reunião classificada como altamente secreta – desvendou ela, algo admirada. – Confiam bastante em ti.

— O general Dodonna confia.

— A bênção de Dodonna… Compreendido. Sabes que a reunião vai começar daqui a alguns minutos-padrão.

— Assim será, minha querida. Então chego praticamente em cima da hora…

— Conheces o assunto principal da agenda?

— A nova base da Aliança.

— Correto – corroborou Leia, impressionada porque Rieekan conhecia tantos pormenores sensíveis e era apenas um recém-chegado. Teria Antilles levado consigo um relatório pormenorizado das últimas ações rebeldes para que o general o pudesse ler durante a viagem até à Home One? Mas era tão arriscado misturar os dois assuntos, a extração de pessoal de um lugar hostil e carregar segredos de Estado… Teria havido essa brecha infantil de segurança, que denotava um certo desespero e leviandade? Quis acreditar que não, mas iria esclarecer esse assunto para saber o que se estava a passar e ela detestava não estar por dentro da organização rebelde.

Entraram num elevador que os levaria ao convés superior, onde se situava a sala onde iria decorrer o encontro do Alto Comando. Continuavam de braço dado. O general disse:

— Julgo que os sistemas que estão em cima da mesa não são muito agradáveis. As escolhas são péssimas, qualquer uma delas.

— Julgas acertadamente, general. Os apoios à Aliança têm crescido após a destruição da Estrela da Morte, mas em termos de quantidade, não em termos de qualidade. Parece que o nosso feito estrondoso, que celebrámos com tanto entusiasmo e otimismo no Templo de Massassi em Yavin Quatro, tem reunido adeptos junto de grupos paramilitares e outras campanhas clandestinas, pequenos exércitos locais que querem afastar o Império dos seus planetas por questões económicas e não políticas, em vez de ter encontrado apoios nos sistemas que realmente poderiam contribuir para um desequilíbrio sério na guerra. Os mundos do Núcleo, por exemplo, continuam a professar a sua lealdade a Palpatine. O que empurra a Aliança para um esconderijo ainda mais longínquo e secreto, afastado dos centros de poder, reduzida à mesma clandestinidade dos seus novos apoiantes que não nos podem garantir um santuário num sistema tolerável. Não têm essa capacidade.

Rieekan assentiu, pensativo. Leia prosseguiu:

— Por outro lado, somos poucos. Infelizmente, essa é a realidade. Somos poucos para lutar contra tanto! E aqui entras tu, meu amigo e caro general. Percebo porque te querem na reunião que terá agora início… A Aliança precisa urgentemente de novos estrategas, pelo que não se vão decerto importar com a tua presença, mesmo aqueles mais sensíveis a questões de estatuto, hierarquia, contenção e segurança. E nem seria necessário o aval do Dodonna. Há dias tivemos connosco a presença de Mon Mothma. A senadora foi de uma postura irrepreensível, como nos tem habituado, alguém que foi fundamental na fundação desta revolta e que continua a ser imprescindível, mas tem pouco para oferecer no campo da ação, que é onde precisamos de manter os nossos trunfos. É uma aliada com contactos importantes nos mundos do Núcleo, mas não consegue definir uma parceria sólida que nos permita estacionar num lugar estável. Somos acossados e perseguidos como criminosos. O Império só reconhece a força das armas e é batalhando contra o seu poderio, de igual para igual, que nos poderemos afirmar. De outro modo, continuaremos tão clandestinos como os nossos novos… aliados.

— Por outras palavras, vencendo a guerra.

— Nem mais. As guerras não se vencem somente com momentos heroicos e brilhantes, como foi a nossa bem-sucedida campanha contra a Estrela da Morte. Vencem-se também e principalmente com paciência, inteligência, astúcia. Por isso é importante que nos refugiemos algures, num sítio que nos proporcione o sossego necessário para pensarmos melhor na nossa estratégia.

— Não estejas tão pessimista, Leia. Mesmo o pior rochedo desta galáxia terá esse sossego que almejas para a Aliança. Esta causa está mais viva do que nunca!

Ela sorriu ao general.

Aproximavam-se da sala onde iria decorrer a reunião. Viam já as suas portas escancaradas, androides protocolares que iriam assistir e auxiliar nos trabalhos, o general Dodonna, outros oficiais, a mais nova das irmãs Shmura que se chamava Lenna que era agora assistente de Hudsol. Leia e Rieekan separaram-se, soltando o braço um do outro. Havia que manter um certo decoro. Os olhares imbuídos de uma curiosidade benigna começavam a voltar-se para o general de Alderaan. Dodonna reparou nele e rasgou um sorriso de simpatia, orgulho e acolhimento. Abriu os braços, noutro gesto de boas-vindas.

— General! Sempre conseguiste chegar a tempo. É uma honra contar com a tua presença.

Uma unidade 3PO cinzenta abordou Leia, postando-se inesperadamente na sua frente. Ela parou, distanciando-se do general que avançou para cumprimentar Dodonna com um abraço fraterno. Aquela abordagem fora desagradável e ela ficou irritada com o androide, mas antes de poder reprovar aquela atitude indelicada, este falou num tom de aflição programada:

— Princesa, tem uma mensagem urgente na sala de comunicações.

A irritação cresceu com aquele aviso.

— O quê?

O androide repetiu, julgando que ela não o tinha entendido:

— Princesa, tem uma mensagem urgente na sala de comunicações.

Leia respirou fundo. Decidiu não se incomodar com aquela interrupção que a deixara indignada e corada. Avaliou como descartável, iria necessitar dos seus atributos combativos noutro lado onde seriam bem mais úteis. Contornou o androide e respondeu:

— Essa mensagem pode esperar, não creio que seja tão urgente como a reunião a que devo assistir… agora!

Deu apenas dois passos.

— A mensagem vem de Ostyu, princesa! – exclamou o androide.

E parou. Voltou-se para a unidade 3PO, que se mexia inquieto por espasmos mecânicos do torso, rodando o pescoço de um lado para o outro como se estivesse a experimentar esse mecanismo.

— Ostyu?

— Sim, princesa.

Ela ficara interessada, mas continuava a considerar um disparate que existisse alguma transmissão desse sistema e que lhe fosse dirigida. As indicações eram para existir silêncio rádio até à conclusão do negócio, o risco de a Home One ser localizada pelo inimigo existia e era enorme.

— Uma mensagem… ou uma comunicação?

— Uma mensagem – esclareceu o androide.

— Como sabem que é legítima?

— O código de encriptação é usado apenas pela Aliança. E a mensagem já foi classificada como autêntica. Siga-me, por favor, princesa.

Leia foi com a unidade 3PO até uma saleta naquele piso, usada como terminal para a difusão, emissão e receção de mensagens internas, entre as naves da frota rebelde e, ocasionalmente, provenientes do exterior. Existiam várias salas semelhantes em todos os pisos da nave, formando um aparelho eficiente de comunicações, supervisionado por um sistema inteligente ligado diretamente ao computador central, mantido operacional por uma estrutura que Del Goren, o oficial responsável, continuava a liderar e a orientar. A princesa não teve de se afastar demasiado da sala onde iria ocorrer a reunião.

Não aceitou a cadeira que o androide lhe indicava e pediu, brusca e irónica, a famosa mensagem urgente. Ela sabia que era importante, de Ostyu só poderia significar isso, mas não iria confessá-lo ao idiota do androide que continuava inquieto. Pelo menos Threepio já se tinha habituado aos humores variáveis dos humanos e ela já se tinha habituado a Threepio com a sua intransigência, embora este gostasse de resmungar como era impossível lidar com tanta irracionalidade.

Sobre o painel redondo surgiu um holograma azulado, a representação reduzida de dois vultos, estando um deles à frente e o segundo mais recuado. A imagem tremeu até que se focou numa luminosidade fosca, derivada dos filtros aplicados.

O secretismo e a importância ficaram logo ali estabelecidos.

Reconheceu os vultos, cruzou os braços, mordeu o lábio inferior, em expetativa.

Luke começou a falar:

— “Não teríamos arriscado enviar esta mensagem se não fosse mesmo importante, princesa. Nada de nomes… Não os estamos a usar aqui. Entre nós temos códigos… Tentaremos ser breves, para evitar que sejamos intercetados. Mas o nosso pequeno amigo tomou todas as precauções. O negócio foi um sucesso, iremos assinar o contrato. Estamos à espera que nos chamem. Contudo, estamos preocupados… Algumas condições foram alteradas e não confiamos totalmente no chefe do processo. Não nos está a enganar, as naves existem para serem vendidas, não é isso… Nos relatórios prévios não foi mencionado o nome de Jeiz Becka…”

Atrás dele, Han que se mostrava apreensivo, revirou os olhos.

— “Sei que disse nada de nomes, mas este é importante. É a razão desta mensagem. Princesa, precisamos que fiquem de sobreaviso em relação a este Jeiz Becka. Parece que é o dono das naves e é ele que está a dirigir a venda. Muito estranho quando conhecemos a reputação pouco recomendável de Becka. Não se liga ao inimigo, pelo menos não diretamente, mas poderá estar agora ligado e tudo isto acaba por ser uma armadilha muito bem elaborada. Não se incomodem connosco, saberemos defender-nos. Só queríamos que soubessem da existência do Becka para poderem agir se alguma coisa correr mal. Os habitantes de Ostyu são… simpáticos, mas não nos vão defender em caso de conflito. Aliás, acho que nem sabem como pegar numa arma.”

O holograma desvaneceu-se com um zumbido.

A saleta era escura e Leia sentiu o seu coração escurecer.

Reteve o nome de Becka. Era-lhe completamente estranho. Voltou-se para a unidade 3PO e ordenou-lhe que reunisse toda a informação que conseguisse sobre esse tal de Jeiz Becka, adiantando que esse relatório seria confidencial. Só para os olhos dela e do general Dodonna.

Nas palavras de Luke, Becka tinha uma reputação duvidosa, ou seja, era alguém que se movimentaria no mundo do crime e que Han conheceria, pelo menos de nome. Podia até estar ligado ao tal bandido de Tatooine que perseguia o corelliano pela galáxia e essa seria a melhor das hipóteses, pois não seria alguém potencialmente perigoso para uma organização sólida como a Aliança. Talvez perseguisse apenas o corelliano, com o expediente dos caçadores de recompensas, como acontecera em Ord Mantell.

Se Han não avançara para falar na mensagem, colocando Luke na qualidade de orador, significava que não queria influenciar o que ela pudesse descobrir sobre Jeiz Becka e aquilo que o ligava àquele negócio secreto com os rebeldes.

Posto de outro modo, se eles se sabiam defender como tinham afirmado e ela sabia que era verdade, o perigo do envio daquela mensagem num momento sensível e em território estrangeiro significava que identificar a razão de Becka ter aparecido naquele processo era crucial para deslindar outro mistério, esse sim, ligado diretamente à defesa da Aliança. O Império estava a interferir e jogava nos bastidores para alcançá-los através de brechas inesperadas.

Esses pensamentos preocupantes acompanharam Leia até à sala onde a reunião, presidida pelo general Dodonna, já tinha começado. Ao chegar atrasada, todos os olhos dos presentes cravaram-se nela, seguindo-a até que ela ocupou o seu lugar na mesa. Cumprimentou o general e pediu desculpas por aquela interrupção, informando que tinha recebido uma mensagem urgente. Dodonna quis saber do que se tratava e ela contou:

— De Ostyu.

— Problemas?

— Os tenentes Mathyas, o comandante Skywalker e o capitão Solo saberão responder a qualquer situação imprevista, general – respondeu a princesa esforçando-se por soar mais calma do que se sentia. – O que foi reportado são problemas… estruturais. Já pedi mais informação sobre a matéria e, brevemente, conto apresentar-lhe um reporte detalhado, general.

— Muito bem. Se o assunto está a ser tratado, não nos precisamos de preocupar, correto?

— Correto, general.

Encontrou o olhar de Carlist Rieekan posto nela. Acenou-lhe disfarçadamente com a cabeça mas foi-lhe impossível aligeirar a tensão que lhe contraía o rosto. O alderaaniano também lhe pareceu mais abatido, escondido nas sombras de uma fila de assentos recuados.

Após uma introdução breve, em que o general Dodonna expôs os motivos daquela reunião, apresentou, num monitor largo colocado atrás de si, as opções que se encontravam em cima da mesa para discussão entre os presentes.

Ninguém se manifestou, aberta ou disfarçadamente. O silêncio era geral e tumular. Os sistemas que tinham sobrado após uma triagem efetuada pelo Alto Comando a partir da lista exígua que era, de algum modo, do conhecimento geral, ou pelo menos do conhecimento de todos os que atendiam àquela reunião, e que se exibiam no monitor eram desencorajadores.

Hoth, Sullust e Khert. Gelo e lava.

A imagem de Luke, ingénuo e idealista, invadiu a mente de Leia que se permitiu descontrair, encostando-se na cadeira. Não havia muito por onde se escolher. Morrer de frio ou morrer de calor. E Luke preferia claramente definhar gelado do que subsistir encalorado, porque sempre tinha vivido num deserto… Era um princípio de argumento? Seria um argumento, sequer?

À frente da designação de cada sistema estava uma representação gráfica do mundo principal e habitável, que poderia acolher a nova base, e imagens conseguidas pelas sondas exploradoras que tinham sido enviadas numa exploração inicial e sumária.

O general Dodonna levantou-se, aclarou a garganta e começou a apresentar cada um dos sistemas, indicando as suas características principais guiando-se pelos dados que o monitor passou a apresentar quando foi destacado o primeiro dos sistemas, por ação do general que controlava a informação disponibilizada no monitor.

Leia olhou novamente para Rieekan que seguia interessado a apresentação de Dodonna, com o queixo assente numa mão e dois dedos sobre a boca. Conheceria certamente, de reputação, cada um daqueles três mundos.

Hoth estava permanentemente coberto por neve e gelo, era desabitado devido às suas temperaturas extremas. Colocava-se um problema de abastecimentos, que teriam de ser todos importados.

Sullust tinha uma região de grandes lagos, mas a sua crusta fendida onde corriam rios de magma elevava a sua temperatura média a um nível insuportável, para além de cair sob a jurisdição do Império por causa das suas minas de cobalto e de albergar uma larga população fixa.

Khert era coberto por um oceano de rocha fundida, com apenas um continente mínimo montanhoso no seu polo norte onde o calor era menos intenso. Não possuía qualquer fauna ou flora e apresentava o mesmo defeito que Hoth em relação aos abastecimentos.

Distraída, Leia só conseguia pensar em Luke e em Han em Ostyu, acompanhados do wookie e dos androides. Não conhecia bem os irmãos Mathyas e por isso não conseguia sentir por eles a mesma empatia, apesar de todos partilharem da mesma situação imprevisível. Começou a sentir uma ligeira ansiedade em relação ao nome misterioso que se tinha imiscuído naquele negócio.

No fim da exposição lacónica do general Dodonna, em que este se limitou a apresentar os dados sobre os três sistemas, sem utilizar adjetivos ou interjeições que influenciassem a sua audiência, seguiu-se uma discussão entre os presentes em que Leia não quis participar. Os trabalhos desenrolaram-se com normalidade, sem exaltações ou confrontações. Os sistemas sob escrutínio não permitiam discursos especialmente eloquentes ou tomadas de posição exacerbadas.

Quando foi interpelada por Dodonna para apresentar o seu voto, na fase final daquela conferência, recordando-se ainda de Luke enquanto limpava peças que usaria no seu X-Wing, a princesa Leia Organa olhou o general nos olhos e disse com convicção:

— Hoth.


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Notas finais do capítulo

Foi apresentado um novo personagem, o general Carlist Rieekan. Esse general será o comandante supremo da Base Echo em Hoth. E por falar no planeta gelado, foi feita uma primeira votação para decidir onde será a nova base da Aliança - e nós sabemos onde irá ser.
Entrementes estes acontecimentos, Luke e Han estão desconfiados do negócio das naves T47 que está a decorrer em Ostyu com o aparecimento de Becka na equação. Mas confiemos em Skywalker e em Solo, assim como Leia Organa confia!

Próximo capítulo:
As pequenas desilusões.