Um Horizonte Maior escrita por André Tornado


Capítulo 16
O criminoso


Notas iniciais do capítulo

“Viam que o Senhor de Negro havia reunido um conjunto particularmente bizarro de caçadores de riquezas (…).”
In O Império Contra-Ataca, GLUT, Donald F., Publicações Europa-América



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Por vezes, o ofício da liderança implicava uma negociação. Cedências em determinadas questões que não eram consideradas fundamentais para o sucesso global da estratégia definida. Uma espécie de concessão momentânea, mas que nunca chegava a ser uma desistência cabal de valores e de responsabilidades. Nem todos percebiam os objetivos daquelas feridas abertas na reputação e na postura, surgiam as inevitáveis críticas, o pasmo, a repulsa. E era então que se distinguiam os que eram inteligentes e leais, dos que eram apenas ambiciosos e néscios. Com o plano cumprido, as feridas cicatrizavam, as cicatrizes apagavam-se. E depois de tudo devidamente eliminado dos registos oficiais, os assuntos prosseguiriam como antes, o poder absoluto reforçado, glória aos eternos vencedores, a reputação e a postura intactas.

Ele sabia muito bem o que estava a fazer quando convocara à sua presença aquela personagem asquerosa, vaidosa, volúvel e cínica. Gente daquela sorte era facilmente manipulável e subornável, bastava apelar ao seu senso de competitividade, à sua ambição desmedida, à sua carência de adoração e de aceitação. Sabia muito bem e nunca se permitiria perder o controlo. Seria como um jogo, uma competição em que a derrota não era uma opção ou consequência. Ele venceria sempre, de qualquer maneira, se fosse preciso alterar as regras para não perder, fá-lo-ia.

Desprezava o homem com a mesma animosidade do que aqueles que o criticavam, mas conseguia suportá-lo, aceitá-lo dentro de um determinado padrão. Via no outro uma coisa, um objeto que seria descartado de pronto logo que se tornasse inútil e que não se prestasse ao jogo.

O verme sentava-se numa poltrona e estendia as botas sujas sobre a mesa próxima, fumando um charuto cigarra pestilento.

— Então… Julgas que a oferta de um almirante com uma excelente reputação e uma carreira militar impecável será suficiente para selar um eventual acordo entre nós.

Não existiu uma pergunta, uma dúvida a necessitar de uma confirmação efetiva. Fez a declaração com aquela sobranceria que caracterizava os da sua laia. O meio sorriso, os olhos semicerrados, a postura descontraída, a confiança que não derivava da arma que lhe tinha sido confiscada à entrada daquela reunião, sinais de que estava à vontade naquele mundo dos negócios, das contrapartidas, do regateio de preços, dos favores. Dos perigos, as mentiras e as verdades.

Chupou o charuto, expeliu uma nuvem de fumo para o ar, a cabeça pousada no encosto da poltrona, o olhar perdido no teto da sala escura composto por vigas metálicas. Fingia que pensava, que analisava a oferta que, pela declaração inicial, não era inteiramente satisfatória.

Havia que reconhecer a sua cortesia atrapalhada, a tentativa para não ser bruto. Escutara a proposta sem protestar ou fazer perguntas indevidas com dúvidas imbecis. Era evidente que também considerava a vida um jogo, era óbvio que não classificava nenhum momento como afortunado, a sorte era construída com as suas próprias mãos. Mascarava as suas inseguranças e defeitos como um prestidigitador envelhecido camuflava os dedos mais lentos com sorrisos para a audiência aborrecida.

Ainda a verificar as vigas que se cruzavam num rendilhado geométrico prateado disse:

— Queres um caçador de recompensas.

— O melhor que tens na tua folha de pagamentos, Becka.

O bandido sentou-se direito, de repente, retirando as botas sujas de cima da mesa. Pousou as mãos sobre os joelhos, o charuto ficou a soltar fios torcidos de fumo.

— Não tenho o melhor… Esse chama-se Boba Fett e ainda não consegui contratá-lo. Gosta de trabalhar sozinho. Um mandaloriano de carácter difícil. Já se cruzou com alguns dos meus homens e os encontros nunca foram… amistosos. Não é um tipo que se possa convidar para uma cantina para beber um copo e combinar um ataque a um comboio de mercadorias. Simplesmente, o Fett não funciona assim.

— Quero o impossível.

Os olhos do bandido fecharam-se por um instante. Estava a verificar as suas hipóteses, a considerar as possíveis ousadias. Já tinha sido inconveniente ao escarnecer, à partida, do acordo que lhe estavam a propor. Podia estender ainda mais o seu descaramento. Prendeu o charuto entre os dentes, abriu os braços sobre o encosto da poltrona.

— Hum… Para o impossível, o teu almirantezinho não serve. Como é que ele se chama? Ah, o Harish Muitel! Para o impossível exijo mais, Vader.

O lorde negro fez uma pausa, permitindo que o seu sistema respiratório funcionasse e depurasse a nuvem de fumo que pairava languidamente no ar. Uma expiração, uma inspiração.

— Não existe mais – esclareceu Darth Vader, grave. – A nossa oferta foi feita. O almirante Muitel ser-te-á entregue como um traidor e deverás julgá-lo nas tuas famosas arenas. Em troca precisamos que um dos teus homens localize um rebelde que se tornou num herói entre esse maldito bando de arruaceiros devido a uma proeza paramilitar que o Império Galáctico não reconhece e repudia com veemência. A nossa inteligência localizou-o em Dantooine e em Yavin Quatro, recentementemente. Será uma caçada… simples. O almirante é o preço. O teu homem deverá ser um caçador de recompensas, ajuizaste bem. Só alguém especialista em capturar outras criaturas, com recurso a violência e outros meios pouco ortodoxos, poderá concluir com sucesso a encomenda que te fazemos hoje. A caçada.

Permanecia de pé, defronte de Jeiz Becka, a capa a envolver-lhe o corpo robótico e ameaçador, como uma asa de escuridão que se fundia com o ambiente sombrio daquela sala onde se dava a reunião secreta com o bandido infame. O verme que se julgava no mesmo patamar que ele, o braço direito do Imperador, o mestre do Lado Sombrio da Força, no jogo que os opunha, inaugurado oficialmente quando fora chamado a bordo da Executor.

Os dentes mordiscavam a ponta do charuto, uma careta a substituir gradualmente o sorriso. A pele picava-se-lhe com um prurido imaginário por estar a ficar incomodado com a proposta e as contrapartidas. Vader sentia as imprecisas variações de humor, as pequenas dúvidas que se alojavam no espírito combativo do bandido, aquelas intuições minúsculas que tantas vezes o teriam livrado de um desaparecimento prematuro. Era ridículo que se pusesse com tantas reticências diante dele, alguém com as capacidades extrassensoriais desenvolvidas e muito bem treinadas.

— Receio que não será suficiente… – anunciou Becka pedante. – Não chega para colocar um dos meus homens em campo e não chega seguramente para ir procurar pelo Boba Fett para lhe encomendar essa caça ao homem.

— Recordo-te que não existem opções neste acordo.

— Por que não?! – admirou-se Becka a fingir-se indignado. – Não estamos aqui para discutir os termos do contrato que me ligará, brevemente, espero, pois tenho uma reputação a defender… Que me ligará, dizia, ao Império Galáctico?

— E recordo-te que já te encontras ligado ao Império Galáctico, Becka. Por certo não julgarás que as tuas operações são realizadas sem o aval do Imperador…

— Não sou inocente a esse ponto, Vader.

— Não vamos ser inocentes – aceitou o lorde negro, sem perder a postura ou alterar a modulação da sua voz eletrónica. – O contrato é aquele que te foi exposto, sem acrescentar qualquer cláusula ou contrapartida que julgues mais apropriada. Não existem opções neste acordo – insistiu. – Nesta fase da nossa colaboração não estamos a discutir nada. Terás o almirante em troca do rebelde capturado. Usa o teu melhor homem, se julgas que o Fett é o mais indicado para esse trabalho, procura por ele, convence-o a trabalhar para ti. Nessa questão terás toda a liberdade para… negociar.

— Estás a ordenar-me o que devo fazer. Pensei que estávamos a estabelecer um acordo entre nós.

— Podes entendê-lo assim.

— Fico ofendido, Vader. Não sou um dos teus oficiais a quem podes dar ordens.

— Disse que o podes entender assim. Que se trata… do estabelecimento de um acordo.

— E se eu recusar a tua proposta? Se eu não quiser o teu almirantezinho?

Persistia no caminho da rebeldia, mas tinha plena consciência de que a partir do momento em que aceitara que não havia negociação, embora de modo tácito, estava em desvantagem. Louvável a tentativa de ser superior quando estava praticamente indefeso ante o adversário. Criatura abjeta que não sabia quando desistir da luta. Um verme guerreiro não deixava de ser um verme.

— Julgas que tens possibilidades para recusar, Becka?

O bandido riu-se. Por dentro, estava irritado.

— O que me acontece? Ficarei retido na Executor? Serei teu convidado especial até que me decida, por fim, a aceitar as tuas ordens?

Darth Vader observou-o por um longo momento. A irritação do outro aumentou, mas ele continuava a sorrir, o charuto entre dois dedos, rolando devagar, o odor acre do fumo que se espalhava pela sala, a posição de superioridade que se fendia, a carcaça quebrada expondo um homem apanhado numa armadilha inesperada, encurralado, a tensão a crescer onde antes havia descontração, uma mentira de domínio.

— Essa será apenas uma das consequências, Becka – respondeu o lorde negro, a voz átona. Não queria soar ameaçador, não queria esmagar, para já, o verme. Não pretendia enxotá-lo para que escapasse assustado. Apesar de tudo, precisava dele, da invisibilidade dos seus homens. Os rebeldes reagiriam mal se fossem abordados por imperiais, já um desgraçado faria uma aproximação subtil e perfeita. – Existem outras maneiras de te forçar a aceitar a nossa… proposta. A tua organização não subsistirá muito tempo sem a tua competente orientação e as decisões que sabiamente tomas em prol da sua prosperidade.

— Queres fazer-me teu prisioneiro se eu disser que não à vossa proposta.

— Não faltarão motivos para te acusar. Os teus feitos realizados à margem da lei são sobejamente conhecidos. Não faltarão igualmente testemunhas que contribuirão para um julgamento justo e uma condenação exemplar. Julgo que tens inimigos… bastante interessantes.

— Vais sabotar o meu sindicato…

A irritação borbulhava no espírito do bandido, que ele tentava ocultar já em desespero, mantendo-se artificialmente calmo, controlado, profissional. Contudo, a sombra vermelha da ira já se assomava aos seus olhos escurecidos.

— Ord Mantell não se manterá longe da influência política do Império, Becka. Já estiveram a operar nos territórios médios durante demasiado tempo sem qualquer jurisdição. Sem ti, o teu entreposto cairá nas mãos do Imperador.

— Estou rico e poderoso. Receiam o meu poder junto dos proscritos da galáxia?

— O Império sabe lidar com todos os povos da galáxia, adequadamente. Incluindo os proscritos.

De repente, o bandido levantou-se. Agitava os braços quando se pôs a andar em círculos pela sala e a falar, numa espécie de resumo do que já tinha sido discutido, a organizar as noções, a tentar aplacar a raiva que experimentava e que romperia com toda a imagem de polidez que quisera demonstrar até ali, a tentar encontrar uma saída, a pequena vantagem perdida.

— Não te percebo, Vader. A sério que não te estou a perceber… Chamaste-me para vir aqui conversar contigo e a mensagem que me foi entregue indicava que terias uma vantajosa oportunidade de negócio para me oferecer. Acima de tudo sou um homem de negócios e quando o Império Galáctico me contacta, sinceramente, esperava na realidade por um contrato comercial irrecusável, daqueles que tornam um homem rico em menos tempo que leva a percorrer a rota entre Lenti e Cursi, os planetas gémeos do sistema de Y’tera. Sinceramente… Não esperava um embuste, Vader!

O lorde negro não respondeu. Nem sequer seguia o bandido inquieto com o olhar opaco da sua máscara apática. Não precisava. Sentia-o através das vibrações quentes que este emanava nas suas deambulações e irritações. Um instante que aproveitou para fumar o charuto, soltar uma baforada de fumo denso. Desabafava, esperneava, lutava. Era patético e enfadonho.

— Estamos a falar de um embuste, não consigo classificar a tua proposta de outra forma que seja mais elegante. – Acrescentou sarcástico: – E perdoa-me se estou a ser ofensivo.

Vader não se manifestou.

— Não existe nenhum contrato comercial! Existe uma proposta ridícula para receber um almirante infeliz em troca de um qualquer rebelde que, supostamente, fez alguma coisa que incomodou o Império. E para que eu aceite essa encomenda bárbara e descabida, ameaças-me com a prisão, com uma sentença de morte, o desmantelamento do meu sindicato e a destruição de Ord Mantell. – Calou-se, subitamente iluminado pelo conhecimento e pela sabedoria. Soltou uma risada demente, esticou o braço, apontou com o charuto: – A Estrela da Morte! Tenho espiões que me contam que a vossa célebre estação espacial que aterrorizava a galáxia e que seria a arma suprema do universo foi destruída! É isso que querem vingar, Vader? Tu e o Império querem punir o herói rebelde que alcançou essa proeza!

O bandido abanou a cabeça, voltou costas.

— Para isso não precisam de mim.

Precisavam. Demasiado. Não podiam sujar as mãos naquele assunto melindroso. Não queriam, sobretudo. Uma verdade fria e contundente, como a morte limpa provocada pela lâmina de um sabre de luz. Era vergonhoso admiti-lo em voz alta, quando feito no silêncio cúmplice do espírito era doloroso. Aquela reunião era necessária, reafirmava, insistia, remoía, a colaboração daquela súcia maltrapilha e ambiciosa, ainda que tivesse de suportar a maledicência velada dos que não compreendiam, a quebra nos padrões de superioridade, de valor e de princípio. Aparentemente. Tudo continuaria igual após as conclusões, a glória obtida no final, nada comprometido, o orgulho intacto, a satisfação de coisa bem feira, a vitória sempre. Mesmo com as dores e as vergonhas.

— Encontrem-no por vossa conta.

— É um risco que não estamos dispostos a correr – revelou Vader, utilizando uma ligeira sinceridade.

Os ombros do bandido elevaram-se quando ele assentou os punhos na cintura.

— Não existem riscos… É só mais um rebelde.

Uma inspiração, uma expiração.

Por vezes era preciso ir mais fundo no despojar dos princípios.

A ameaça de esmagamento não tinha assustado o verme, tinha-o tornado, curiosamente, mais esperto, mais emotivo. E as emoções conduziam a reações inesperadas que apelavam a sentimentos profundos que, de outro modo, seriam inexistentes. Como a coragem e a honra. Pequenas luzes nas sombras. Se fosse mais fundo, se mergulhasse no inaceitável iria vencer as frágeis teimosias.

— Becka, o rebelde que está no centro desta preocupação invulgar sabe usar a Força. Compreendes o que acabei de dizer?

— A Força?

Houve uma contradição evidente nas oscilações emotivas do bandido. Já tinha ouvido falar dessa energia, não a compreendia totalmente e não desejava parecer um ignorante quando ainda conseguia manter uma certa personalidade. A segurança estava desfeita, porém a insolência continuava intacta e ele não se iria vergar. Preferia ser feito prisioneiro, entregar tudo o que construíra, a desistir das suas miseráveis ambições.

— Sim, a Força.

— Conheço… Era a religião de um bando de fanáticos no tempo da Antiga República. Histórias de embalar, crendices… Não acredito que exista. Sou um homem demasiado prático para me deixar convencer com ideias abstratas sobre a ordem universal. O mundo faz-se com coisas palpáveis, físicas, que se possam medir e avaliar.

A resposta foi surpreendente. A noção de religião estava correta, o bando de fanáticos igualmente. Havia camadas de presunção e de incredulidade a soterrar a capacidade de uma exploração mais aprofundada, o que era lamentável, a tal praticidade evocada como garantia para não se deixar enredar em algo que não era possível dominar e que, por definição, era perigoso. Vader desprezou o bandido com mais fervor, com azedume.

— Considero a tua falta de fé… perturbadora.

— A sério? – troçou o bandido com o charuto entre os dentes brancos.

— Mesmo que não acredites nesse poder – interrompeu Vader impaciente, estava a detestar manter aquela conversa –, deverás agir tendo presente esse pressuposto. O rebelde tem habilidades desconhecidas para o comum dos teus homens, a exigência do melhor dos caçadores de recompensas tem a sua razão de ser. Não regresses à minha presença com desculpas idiotas de que deixaste o rebelde escapar porque não estavas à espera que ele agisse desta ou daquela maneira. – Elevou um dedo negro. – Estou a avisar-te, Becka! Não podes falhar! Não te perdoarei.

— Estás a assumir que aceitei a tua proposta – rugiu o bandido.

— Não tens outra hipótese, não estás em posição de exigir nada.

Mas o bandido exigiu.

— Quero uma linha de crédito. Disponível dentro de três dias-padrão. Cinco milhões.

Vader teria sorrido se o pudesse demonstrar através da sua máscara apática.

— Ah… Dinheiro.

— Sou um homem de negócios. O que há de estranho? Estamos aqui a tentar estabelecer as bases de uma colaboração. Tudo se compra e vende… com dinheiro. Eu funciono assim. Não vejo qualquer problema na contrapartida que estou a exigir em troca da minha participação nessa caça ao homem. Os recursos do Império são inesgotáveis.

— Os recursos do Império estão a ser usados para terminar com a guerra civil com a Aliança.

— Capturar o tal rebelde não fará parte dessa guerra civil, Vader? Como te disse, não vejo por que razão precisam de mim e da minha organização. Porque usa essa tal Força? Ouvi dizer que também tu tens poderes mágicos… Usa-os e identifica a localização desse famoso rebelde!

— Estou a ser demasiado paciente contigo, Becka.

O bandido atirou o charuto por cima do ombro.

— Eu também não sou um homem com muita paciência para gastar. Nem tempo!

As concessões teriam de ser feitas. Miserável! Ele e o verme, dois miseráveis naquela sala. Descontente com a sua fraqueza, Vader disse, sentindo-se a sufocar nas próprias palavras, no amargor que lhe causticou a boca:

— Terás o almirante e uma linha de crédito. Em troca queremos mais do que o rebelde. – Antes de o bandido protestar, adiantou ferino: – Mencionaste Y’tera. Vais entregar-nos o controlo desse sistema, sem luta ou contestação.

— Não posso! O meu irmão está lá.

— Acabaste de o vender.

O bandido gaguejou alguns monossílabos incoerentes.

— O acordo está fechado, Becka. Regressa à minha presença com novidades sobre o rebelde. Se não concluíres esta missão, o almirante não te será entregue, a linha de crédito será imediatamente cortada, será exigida a devolução das verbas entretanto gastas com a aplicação de juros e tu serás feito prisioneiro como traidor.

— Isto não é justo!

— Nunca te assegurei um acordo justo. Apresentei-te uma proposta… que tiveste a desfaçatez de negociar e a inteligência de aceitar. Se eu o desejar, alteramos as condições do negócio. Não abuses da tua sorte. Estás numa posição mais do que favorável.

Jeiz Becka apertou os lábios, fungou ruidosamente. Demonstrava toda a sua fúria, despeito, indignação, humilhação, as regras da cortesia todas ultrapassadas, pouco se importava com o que poderia vir a seguir, que não seria pior do que aquilo que acabava de experimentar, com aquilo que lhe era exigido. Troçavam do seu poderio, do seu sindicato, daquilo que construíra, das suas capacidades, do seu nome. Acabava de trair o irmão, teria de apaziguar os ânimos em casa, haveria uma fação que o iria desertar apelidando-o de sabotador. Para servir o Império, a contragosto, comprava uma guerra com os seus.

Vader girou sobre os calcanhares, a sua capa negra adejou majestosamente. As portas duplas da sala deslizaram e entrou um oficial imperial com uma prancheta eletrónica nas mãos onde seria firmado o contrato. Era um homem fleumático, rígido, obediente. Esperava-se o mesmo do lendário e temido bandido, fleuma, rigidez e obediência. Becka, todavia, não era um instrumento que pudesse ser manobrado. A sua raiva aumentou e Vader rejubilou em segredo, conseguira mantê-lo subjugado através do Lado Sombrio da Força. Essa crença morta de um bando de fanáticos, transfigurada em poder incontestável.

— Capitão Lorth Needa – disse Vader ao oficial –, trate dos indispensáveis detalhes burocráticos com o nosso convidado. Recorde-se da minha advertência, discrição absoluta e classificação desse documento como secreto. Logo que o processo esteja concluído, envie comunicação para o Imperador, em Coruscant.

— Compreendido, lorde Vader.

O bandido mordia os lábios, passava o peso de uma perna para a outra.

— Posso… contactar Y’tera antes da passagem de jurisdição para o Império?

— Completamente fora de questão – sentenciou o lorde negro perentório. – Se eu souber que isso aconteceu, o contrato é resolvido e as consequências para o teu sindicato serão terríveis. Mais alguma coisa ou estamos terminados?

Depois de engolir em seco, o bandido retrucou:

— Estamos terminados.

— Perfeito.

As portas fecharam-se e Vader afastou-se com passadas largas.

Se tudo corresse conforme planeado e iria correr como planeado, não admitiria falhas naquele plano, o acordo já tinha conhecido um desvio relacionado com a linha de crédito concedida, o dinheiro não era problema, de facto, e a cedência tinha sido programada – até considerava que o bandido fora poupado, esperara uma exigência de quinze milhões – teria em breve a identidade do rebelde que ocupava as suas preocupações.

E se fosse um Skywalker…

Aplacou a excitação dessa probabilidade. Não se devia entusiasmar antes do tempo. Não se devia deixar dominar pelos resquícios de luz que, como centelhas mortas e geladas, tremeluziam no vasto negrume da sua pérfida alma. E apagou de si toda a comoção.


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Notas finais do capítulo

Vader não quer sujar as mãos numa caça ao homem que considera um assunto de somenos importância, porque o Império Galáctico é uma organização superior e tem outras preocupações na organização do universo. Para isso contratou o famoso bandido Jeiz Becka - sim, esse mesmo, o chefe da organização clandestina à qual Dak Ralter pertencia.
A conjungação de fatores ameaça ser desastrosa para Luke Skywalker...

Próximo capítulo:
Evacuação.