O nadador e o assistente escrita por phmmoura


Capítulo 37
Capítulo 37




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Os outros competidores entraram no vestiário após Nelson já ter terminado seus rituais pré-torneio.

Bem na hora, pensou o nadador, feliz que ninguém o vira fazendo o que geralmente faz antes dos torneios. Então um pequeno sorriso surgiu em seu rosto. O Cris teria rido se isso tivesse acontecido. E então ele ia querer que eu mostrasse os rituais.

Enquanto se entretinha pensando no namorado, por força do hábito, Nelson olhou para os outros nadadores, conferindo rosto a rosto. Não reconheço ninguém… Então notou por que ele não sabia nada deles.

O que estou fazendo…? Conferindo a competição…? Não é como se eu tivesse qualquer informação deles nem nada… Não é um torneio grande também… é só uma competição local… até o treinador não fazia ideia da competição…

Os últimos a chegarem no vestiário pararam ao ver Nelson. Embora hesitassem um pouco, eles pegaram as chaves e guardaram seus pertences nos armários. Então ficaram parados no canto, falando entre si enquanto se trocavam e olhando para Nelson de tempo em tempo.

Com um sorriso amargo, o atleta percebeu o motivo.

Nem queria pensar nisso, mas é o que ganho por ser o maior nome daqui… Ele riu em sua cabeça. Não que ser o maior nome da área me faça vencer nem nada… Como sempre, preciso fazer por merecer.

Nelson decidiu ignorar a atenção extra que recebia, incerto se gostava ou não daquilo.

Pensando bem, esse tipo de coisa acontecia quando tinha um nadador novo… ele ficava impressionado por estar no mesmo lugar que seus ídolos… espera… eu fiz o mesmo… acho que é como um ritual de passagem pra um atleta…

Ele estava tirando uma das toalhas do saco plástico entre o resto dos pertences que Cris o forçara a trazer quando alguém se aproximou dele.

— O-oi — disse o nadador, tenso. — Você é o Nelson, né?

Ele parecia ser alguns anos mais velho que Nelson. Apesar disso, parecia nervoso enquanto falava com o atleta. Os outros com quem ele sussurrou no canto permaneceram alguns passos atrás.

Deve ser nervosismo de pré-competição, pensou Nelson, sorrindo em sua mente. Não posso culpar o cara… Faz quanto tempo desde que senti isso? Espera, melhor não me lembrar… A primeira vez que bateu foi quando vomitei na piscina…

— Oi. — Nelson cumprimentou o competidor com um tom amigável.

Mas foi um erro; só deixou o nadador e os outros atrás mais nervosos ainda.

— E-Eu só queria dizer que te vi na TV hoje e… e-embora seja o seu r-retorno e tudo mais, d-d-digo, nós não vamos f-f-facilitar pra você — conseguiu dizer, tentando sair o mais confiante que podia, apesar do gaguejo. — V-Vamos todos nos esforçar. Não pense que será fácil!

Apesar da voz, os olhos do nadador jamais fraquejaram.

Os olhos dele brilham com o fogo de um verdadeiro nadador.

Nelson parou de sorrir. Ele mostrou um rosto sério e estendeu a mão.

— Vamos mostrar tudo que temos hoje, sendo assim — disse, com a voz determinada, olhando direto nos olhos do competidor.

Com uma risada nervosa, que parou quase imediatamente, o nadador agarrou a mão e apertou.

Os outros vieram para frente, empurrando o primeiro nadador para que saísse do caminho e pudessem cumprimentar Nelson.

— Isso aí, não vai ser moleza!

— Vamos nos esforçar!

Nelson sorriu e apertou a mão de todos.

Após os cumprimentos e promessas de terem uma boa competição, eles voltaram para o canto, para se prepararem.

Nelson observou-os por um momento. Então olhou em volta. Os outros nadadores viram tudo, mas estavam ocupados demais se preparando para se importar.

Esqueci como era essa sensação de vestiário, pensou o nadador.

Eu fui idiota… muito idiota… pensei que, já que era só um torneio municipal, seria fácil, mas estava errado. Estou competindo contra nadadores. São atletas que querem vencer. Só porque eles têm pouca chance não quer dizer que desistiram antes de tentar… Vou perder se subestimá-los.

— Então você é o famoso Nelson — disse uma voz perto dele.

O nadador se virou. Parado alguns metros longe, olhando para ele pelo canto do olho enquanto se aquecia, estava outro competidor.

— Sim, sou… Mas eu não usaria “o”. Sou só Nelson — disse, rindo de sua própria piada.

O atleta parecia jovem, e Nelson não pôde deixar de perceber seu corpo pequeno e magro.

Ele tem um bom físico pra um nadador. Com essa altura, tem vantagem na água, pensou o nadador antes de oferecer a mão com um sorriso sério.

Enquanto o atleta apertava a mão, Nelson também não deixou de notar as pernas raspadas dele.

Para chegar a esse ponto pra um torneio municipal… ele não nada como hobby… está almejando mais…

— Mesmo que negue, ou só não queira dizer em voz alta, os olhos de todos estão em você — disse o nadador mais esbelto. — Tinha até notícia sobre essa competição na TV. Normalmente, nunca mencionariam fora do programa de esportes. E seria uma menção bem pequena. Claro, se não fosse por você.

Nelson o encarou por um instante antes de responder.

— Você faz parecer com que só eu vá nadar hoje. Têm outros atletas — disse, ciente de que aqueles do outro lado do vestiário estavam escutando.

— Você tem razão. Tem mais nadadores, mas poucos querem ser profissionais — disse, quase desafiante.

Nelson olhou em volta. Aqueles que vieram falar com ele pararam seus preparativos e só assistiam.

— Você pode ter razão. Ainda assim, todos aqui ainda querem a medalha de ouro. Ninguém deveria ser subestimado.

Como eu já ia fazendo, pensou, com um sorriso irônico na mente.

O outro atleta sorriu.

— Você tem razão. E eu gostaria de agradecer.

— Pelo quê?

— Jamais pensei que seria tratado como competição por um nadador de nível olímpico.

Nelson soltou uma risada seca que surpreendeu o outro atleta.

— Foi mal, mas não estou nesse nível mais — disse, com a voz baixa. Ele olhou em volta para o vestiário simples. — Estou nesse nível agora. Preciso subir de volta para o nível olímpico.

O outro nadador o encarou em silêncio.

— Você… — Ele mordeu os lábios e olhou para o chão. Então olhou de volta para Nelson. — Acha que consegue voltar para aquele nível…? — perguntou com uma voz baixa e séria após um tempo.

O nadador o encarou direto nos olhos.

O silêncio se estendeu enquanto ele pensava na pergunta.

— Darei o meu melhor para chegar lá, não importa o que precise.

No instante em que disse aqui, algo parecia errado. Foi quando Nelson percebeu o que era. Enquanto se lembrava das palavras do namorado, as bochechas ficaram vermelhas.

— Não, estou errado. Não acho que vou voltar para aquele nível. Eu vou além — ele disse.

Sua voz transbordava de confiança, mas não havia arrogância naquelas palavras.

O outro nadador percebeu isso e não disse nada enquanto retribuía o olhar. Então seus olhos se encheram de admiração por Nelson.

— Isso é incrível, senhor Nelson. Jamais pensei que alguém teria força para recomeçar. Especialmente numa competição como essa — disse, e pelo tom, Nelson sabia que estava sendo honesto.

O nadador riu e sorriu enquanto coçava a bochecha para quebrar o clima sério.

— Poxa, não me chama de senhor. Me faz parecer mais velho do que sou. Pode me chamar só de Nelson. E mais, não é só força, é mais como se eu fosse tão inútil que não acho que consigo fazer nada além de nadar.

O outro nadador riu.

— Tudo bem, Nelson. E sou assim também. Sou bem inútil se estiver fora d’água.

— Se é assim vamos pra água e fazer só o que somos bons.

— Sim.

— Qual o seu nome, alias? Acho que você não disse.

— Sou Yuri — disse, oferecendo a mão.

— É um prazer conhecê-lo — disse Nelson, aceitando a mão.

Enquanto Yuri voltava para seu aquecimento, alguém abriu a porta do nada.

Todos se viraram e ninguém soube reagir enquanto uma garota corria para dentro, olhando em volta.

Mas, apesar do corpo pequeno, longo cabelo preto e saia, não era uma garota.

Era O Cris.

— Cris? O que você está fazendo aqui? — perguntou Nelson, com surpresa estampada no rosto.

O assistente se virou para ele na mesma hora.

Suas bochechas estavam vermelhas, o rosto suado e ele estava sem ar.

Mas, ao ver o nadador, o delicado garoto sorriu.

— Preciso falar com você agora — disse, com uma voz urgente.


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