O nadador e o assistente escrita por phmmoura


Capítulo 36
Capítulo 36




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— Esse é o lugar certo? — perguntou Mari quando estacionou o carro no estacionamento da escola.

— É sim — respondeu Cris, sem conferir nada. Ele já decorara o endereço.

Apesar da falta de uma atmosfera digna de uma competição oficial na escola, o assistente sentiu o estômago apertar. Estou tão nervoso, pensou, tentando ignorar a sensação.

Era mais complicado com a prima ao lado dele. Cris não conseguia deixar de perceber que as pernas dela não paravam de mexer.

— Para com isso — disse, segurando o joelho dela para impedir. — Tá me deixando nervoso.

— Não dá. Estou muito ansiosa — disse ela, movendo a perna apesar da mão do primo.

Cris desistiu e suspirou enquanto tirava a mão do joelho dela. Ele olhou na direção do prédio que parecia uma quadra esportiva e respirou fundo. Por que estou tão nervoso? Hoje vai ser fácil pro Nelson… É, deve ser… Não tem com o que me preocupar…

Apesar da ansiedade, Mari percebeu a mudança de humor de Cris.

— Ah, vai, priminho. Não precisa ficar assim. Melhor, me imite! Estou muito excitada pra essa competição! — disse ela, com um grande sorriso no rosto.

O assistente sabia. Não eram só as pernas que estavam inquietas, as mãos também não paravam.

Apesar de tudo, Cris não teve como escapar da influência daquele sorriso.

— É… Você tá certa! — disse o assistente, sorrindo também.

— Não devia estar surpreso com isso a essa altura, priminho. Mas, em vez de pensar em quão nervoso tá, pense no que o Nelson está sentindo.

— Como assim?

— Digo, ele tá acostumado a piscinas internas com arquibancadas e uma torcida imensa. Ir disso pra uma piscina de colégio é bem… uma queda e tanto, sendo honesta. Pode afetá-lo psicologicamente mais do que você imagina.

Cris ficou quieto por um instante.

— É verdade… mas ele vai superar isso. Tenho certeza.

— Mesmo, priminho? Apesar de ser uma competição local, é a primeira dele. Pode colocar mais pressão do que ele pensa. Especialmente se ele achar que vai ser como tirar doce de criança.

— Desde quando você é uma especialista em competições? Quando foi a última vez que você veio ver uma competição de natação? — perguntou Cris, a descrença no rosto crescendo enquanto encarava sua prima.

Mari murmurou, tentando se lembrar.

— Não faço ideia. Acho que provavelmente foi quando meu irmão ainda nadava.

— Três anos atrás? Sério? — Cris ergueu uma sobrancelha. — Então por que tá agindo como se fosse uma especialista do nada?

— Porque tem muita coisa envolvida — disse ela, com uma expressão estranhamente séria enquanto saía do carro.

Cris sabia que algo idiota estava por vir, portanto ficou quieto.

— Depois disso, espero que meu querido priminho seja atacado por trás com tanta força que nem consiga andar no dia seguinte — disse Mari com um rosto sério enquanto ele saía do carro.

— Como você consegue falar as coisas com essa cara? — perguntou Cris, sem expressão.

— Porque é meu maior desejo no momento. Ah, qual é, primo. Vai mesmo me dizer que não espera o mesmo?

Cris corou e tentou parar de sorrir, sem sucesso, enquanto caminhavam para o colégio.

— Mas não posso dizer isso…

— Há! Eu sabia! — gritou Mari, triunfante. — Você tem quase as mesmas expectativas que eu pra isso tudo.

— De onde veio esse interesse todo pela minha vida amorosa?

— Porque faz vidas desde que vi alguma ação. É difícil encontrar alguém quando você literalmente vive onde trabalha. Digo, caras que não são nadadores.

— Então por que não namora alguém do clube de novo?

Cris podia citar alguns estagiários dos departamentos médico e financeiro que ele não se importaria de ficar de joelhos. Mas isso era antes de eu conhecer o Nelson.

— Porque é um saco. Você deveria saber melhor do que ninguém. Meu último namorado foi… ah, puta merda… falando do diabo… — Mari ficou quieta e parou de andar.

Cris olhou em volta. Logo percebeu o motive para o silêncio repentino da prima. Ah, merda… porque logo ele…?

Um conhecido andava alguns passos na frente deles. Trajando um terno que o fazia se destacar no meio do colégio, o homem falava no celular e não notou o assistente e a prima.

— Por que ele está aqui? — perguntou Mari em voz baixa enquanto puxava Cris para trás de uma árvore.

— Provavelmente pra observar o Nelson… Meu pai não tem tempo pra vir nessas competições pequenas. Mas sem chance de ele não ter mandado alguém pra verificar… Não dá pra acreditar que é logo ele — disse Cris, sussurrando e de lábios pressionados.

— É, concordo. Por que logo ele? Não podia ter mandado um dos outros assistentes dele? Não posso olhar na cara daquele ali.

Ah sim… A Mari namorou ele… Se não me engano, ele traiu ela com uma colombiana durante os jogos pan-americanos…

— Você ainda não superou? Foi anos atrás.

— Foi um trauma, tá? Eu… Eu acho que tava apaixonada por ele — disse Mari, corando, um momento raro dela envergonhada.

— É, bem… eu nem queria te dizer, mas eu já peguei ele — disse Cris, tentando conter o seu sorriso.

— Quê? Nunca fiquei sabendo disso! Quando? Espera, o Marco é bi? Sem chances! Nunca notei!

— Uma pergunta de cada vez. Primeiro, transei com ele na festa de ano novo. Não acho que ele seja bi. Ele apenas caiu nos meus charmes naquela vez — disse, sem esconder seu orgulho.

— Você é uma vadia, Cris — disse Mari, mordendo os lábios enquanto se virava para seu ex. — O que vamos fazer?

— Como assim, o quê? Eu vou assistir ao Nelson nadar. Vim aqui só pra isso. Não tem motivo pra gente se esconder do Marco.

— É, eu sei, mas… ah merda… ele nos viu… — Mari acenou, desconfortável, enquanto Marco olhava na direção deles. — Apenas sorria e acene. Ele pode nos ignorar.

Mas os medos dela se concretizaram.

Marco terminou a ligação, guardou o celular, abotoou o terno e caminho até Cris e sua prima.

— Oi, Mari. Que… bom te ver — disse. O tom era tão forçado quanto o sorriso. Então ele se virou para o assistente e suas bochechas ficaram levemente rosadas. —Também é bom te ver, Cris…

— E-e aí, Marco. O que você está fazendo por aqui? — perguntou Mari, tentando forçar sua voz a soar o mais normal que podia.

— Vim conferir nosso nadador. Seu pai me pediu para contar os resultados dele assim que a competição acabar — disse ele para Cris. Então ele se virou para a ex. — Estou surpreso de vê-la aqui. Pensei que jamais a veria em outra competição novamente.

— Bom… as coisas mudam. Estou aqui pra apoiar o relacionamento do Cris com o Nelson… — O assistente olhou para ela de olhos arregalados. — …como nadador e assistente. Sabe, meu primo esteve se esforçando muito dessa vez. Espero que seja a primeira de muitas competições pro Nelson.

— Sim… Também espero — disse Marco, olhando para baixo, olhando para baixo para arrumar a gravata.

Cris logo percebeu que havia algo.

— Tem alguma coisa que a gente deveria saber? — perguntou o assistente em voz baixa. Ainda assim, ele não conseguiu esconder seus sentimentos.

Marco mordeu os lábios e esfregou sua barba feita.

— Eu não deveria falar, mas tem algumas pessoas que acham que o Nelson não vai conseguir produzir os mesmos resultados de antes do acidente. O acidente foi pesado. É incrível que ele tenha conseguido chegar tão longe após tudo. Sem dúvidas é…

— Ainda assim, não é a última chance dele, né? Ele ainda tem o torneio regional. O contrato dele é até lá.

— Sim, é. Mas a direção… ninguém falou ainda, mas acho que hoje é a última chance. Alguns não querem que o clube gaste mais recursos com ele. Mas tem outra coisa… Não estou aqui para conferir só ele… Também vim ver outro nadador. O nome dele é Lisandro. Ele é jovem, mas tem muito potencial… alguns querem acabar o contrato do Nelson e fazer um com ele.

Cris ficou chocado demais para dizer qualquer coisa. Não tem como… Eu não fiquei sabendo de nada disso… Eu sabia que hoje era mais que apenas a volta dele, mas pensar que seria mesmo a última chance…

Mari olhou para o ex-namorado, toda a alegria de seu rosto desaparecera, como se nunca tivesse estado lá.

— Fala a real, Marco. Os velhotes só querem uma desculpa pra cortar o Nelson? — perguntou ela com sua voz séria.

O homem ficou quieto por um tempo, olhando-a nos olhos.

— Não são todos. Sua mãe…  Como a chefe do departamento médico, ela acha que é impossível que ele volte ao que era. Mas seu pai se opôs. Ele acha que o Nelson pode ir até mais longe. Disse que não são todos que voltam de um acidente daqueles. Segundo ele, não devíamos demitir alguém que conseguiu — disse ele para Mari.

— E… e o meu pai? — perguntou Cris, engolindo em seco. Ele não tinha certeza se queria saber.

Marco ficou em silêncio por um tempo novamente.

— Você conhece seu pai, Cris. Ele não vai dizer nada a menos que tenha todos os fatos a disposição. Mas, pessoalmente, acho que ele está em cima do muro. Para ele, essa competição que vai dizer se o Nelson fica ou vai.

O assistente mordeu os lábios e virou-se na direção da piscina.

— Cris, serei franco. Essa competição é muito mais importante do que o que o Nelson provavelmente pensa.

Apesar de falar em voz baixa, as palavras de Marco foram um golpe forte para o assistente.

A gente não tinha ideia… e a gente pensava que seria uma vitória fácil… ah, merda… não tínhamos outra coisa na cabeça além de celebrar depois… mas agora tudo ganhou outro nível… embora seja só uma competição municipal…

— Cris, vai falar com ele. Ainda tem tempo antes da competição — disse Mari para o primo, dando um empurrão nas costas dele.

O assistente mostrou um pequeno sorriso para ela.

— Valeu — disse antes de ir.

Nelson… eu quero falar com você. Quero contar tudo que ouvi e que vai ficar tudo bem. Não se preocupe comigo. Não se preocupe conosco. Só pense em nadar. Dê tudo de si em cada braçada!

Os passos do assistente ficavam mais rápidos enquanto pensava em seu nadador e no homem que amava.

De repente, Cris corria em direção à piscina, pensando no rosto do namorado. Nelson…


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Notas finais do capítulo

Obrigado por lerem
Espero que tenham gostado
Uma notícia. Talvez não tenha cap novo semana que vem



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