O nadador e o assistente escrita por phmmoura


Capítulo 25
Capítulo 25




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— Você realmente gosta de me seduzir pro mal caminho, né? — disse Nelson, tentando tirar a atenção de si, esperando que o coração voltasse ao normal.

— Sim, mas é você quem fica seduzido por outro cara — respondeu Cris, com o sorriso malicioso familiar.

Nelson fechou os olhos, respirou fundo e saiu da piscina.

— Obrigado pela tentação, mas acho que é melhor eu treinar. Digo, faz um bom tempo…

— Eu sabia que você diria algo assim, já que é masoquista e tudo mais. — Cris suspirou alto e mostrou um sorriso gentil.

— Não sou. Eu sou o mais longe de masoquista quanto um cara normal pode ser — disse Nelson, fingindo estar irritado. Então parou de fingir. — Mas, se eu fosse um, e, de novo, não sou, isso não quer dizer que você é um super sádico?

Cris colocou uma mão no queixo e parou para considerar. Um segundo depois, seu sorriso alargou e suas bochechas ficaram com um tom vermelho.

— Tudo que escuto é que somos perfeitos um pro outro.

Nelson ficou corado e fingiu tossir.

— Então, o que tem pra hoje? — perguntou com uma voz estranhamente grave, tentando mudar de assunto o mais rápido que podia.

Ainda vermelho, o assistente tirou o celular da jaqueta. Depois de tocar na tela algumas vezes, ele assentiu e murmurou para si mesmo.

— Que… tudo isso pro primeiro dia? O que o treinador tem na cabeça? — murmurou, mais para si do que para Nelson. Ele balançou a cabeça e virou o celular para o nadador. — Essa é a agenda que o treinador fez para hoje. E, aparentemente, é só um treino leve, embora eu não possa ver qual parte disso tudo é “leve”…

O nadador arregalou os olhos. Piscou algumas vezes e leu de novo, só para se certificar de que lera certo.

— Isso tá certo? É o mesmo que eu fazia antes do acidente. Quero voltar logo, mas não tem como dar conta de tudo isso no primeiro dia de volta!

Cris virou a tela para si e pareceu surpreso.

— Ah, é… tem razão, essa é a agenda velha. No que estou com a cabeça — disse balançando a cabeça. Nelson ainda viu seu sorriso por trás dos lábios, não importa o quanto ele tentasse reprimi-lo. — Devo ter baixado e confundido de algum jeito. Foi mal.

— Você fez de propósito só pra me ver nervoso. — Nelson encarou-o com uma expressão vazia.

— Eu nunca faria isso — respondeu Cris com uma voz inocente falsa, levando o celular para mais perto do rosto, a fim de esconder sua expressão.

— Sabe, atuação não é o seu ponto forte.

Cris riu.

— Isso é a sua opinião — disse após parar de rir. Então mostrou a tela de novo. — Aqui está seu treino real.

Nelson olhou para seu assistente por um segundo antes de olhar para o celular.

— Um pouco pesado pra quem literalmente voltou hoje. Mas gostei. O treinador me conhece mesmo.

O nadador já estava se aquecendo quando Cris bloqueou seu caminho com uma perna.

— Calma lá. Antes que tenha expectativas, preciso dizer que você não deve dar tudo de si. Ordens do treinador.

— Então por que me obrigar a fazer tudo isso?

— Ele quer conferir se você tem qualquer especialidade.

— Hum? — A confusão estava estampada na cara de Nelson.

— O treinador disse que, já que você não tem muito tempo até o final do seu contrato, ele quer que foque em uma única modalidade.

— Ah… — Nelson sentiu o entusiasmo diminuir. — Agora eu entendi…

Antes do acidente, Nelson treinava todas as modalidades sem se focar em um em especial. Graças a seus esforços, tinha todas no mesmo nível. Mas seu treinador não gostava disso.

Quem tenta todas jamais dominará uma, lembrou-se das palavras do treinador. Eu era bom o bastante pra conseguir ir pras Olimpíadas na maioria das modalidades, mas quem sabe não o bastante para ganhar uma medalha de ouro em qualquer uma…

— Ah, saber disso o desanimou um pouco? — perguntou Cris, mais curioso do que simpático.

Nelson encarou aquele rosto fofo e suspirou.

— Se fez, você não deveria ser um pouco mais sensível com seu nadador?

— Nah, não é a meu estilo — disse, sorrindo enquanto balançava a mão.

Nelson não pôde conter seu próprio sorriso.

— Sei… E eu gosto muito disso em você — disse, sem pensar.

Cris ficou vermelho e quieto. Quando Nelson notou o que dissera, ele caminhou até o pódio de salto, com o rosto vermelho como um tomate.

O nadador ficou de pé no bloco de cimento, respirando fundo, focando-se na água para ignorar o olhar vindo de seu assistente.

— Vamos lá! — gritou ele o mais alto que podia.

— Ok… Vai! — gritou Cris, pressionando a tela do celular no instante em que o nadador pulou na água.

Nelson sentiu o impacto familiar de todo seu peso contra a água. Ele sorriu por um segundo antes de mover as pernas e braços para impulsionar-se até o outro lado da piscina.

Naquele momento, ele não conseguia pensar em mais nada. Sua felicidade por finalmente voltar. Sua ansiedade pela possibilidade de não atingir sua forma antiga. Seu medo do clube não renovar seu contrato. O jeito estranho que Cris o fazia sentir volta e meia. Toda a dor e pensamentos ruins durante sua reabilitação. Tudo.

Agora, só havia ele e a água.

Quando estava prestes a alcançar o outro lado, Nelson fez um giro. Não devo dar tudo de mim, né? Ele conteve sua força um pouco quando empurrou a parede com os pés. No momento em que seu impulso sumia, ele nadou com os braços, deslocando a água e ganhando velocidade. Então atingiu o outro lado, tocando a parede quando parou.

Para sua surpresa, Cris estava lá, esperando por ele com um sorriso.

— Quer ver seu tempo? — perguntou o assistente quando o nadador ergueu a cabeça acima da água para respirar.

Nelson olhou para Cris e o celular. Por um segundo, a memória do dia quando foram ao parque aquático uma semana atrás, quando viu seu tempo naquela hora, voltou e ele sentiu como se tivesse levado um soco no estômago. Ele balançou a cabeça para tanto responder quanto esquecer daquilo.

— Depois — disse, saindo da água e ficando de pé sobre o bloco de novo.

— Bom — disse Cris com um sorriso gentil. — Preparar… vai!

Nelson empurrou as penas no instante em que escutou o grito. Dessa vez, ele foi até o outro lado e voltou para mais nove vezes. Apesar de respirar por todo o trajeto, estava sem ar.

— Como… foi…? — Conseguiu perguntar ao assistente.

No instante que viu o rosto de Cris, mordendo os lábios e todo preocupado, o nadador sabia que não gostaria da resposta.

— Espera — disse ele, rápido, erguendo a mão antes que o assistente pudesse responder. — Se eu ouvir meu tempo, vai afetar o treinamento?

— Sim — disse Cris, em voz baixa, assentindo.

— Então deixa pra depois. Vamos continuar — disse Nelson, com a voz firme.

As preocupações de Cris pareceram desaparecer de imediato.

— Não seja tão decidido assim. É muito viril e posso acabar me apaixonando por você — disse, desviando os olhos como se estivesse com vergonha. Então ele balançou a cabeça. — Não é hora disso. Agora é nado de costas.

— Entendi — disse Nelson, saindo da piscina para ficar de pé no pódio de partida pela terceira vez.

Novamente, Cris gritou e cronometrou o tempo que Nelson levou para ir até o outro lado da piscina e voltar. Quando terminou com o nado de costas, foi a borboleta. Então o peito.

Quando Nelson estava na última volta das marcadas pelo treinador, ele estava exausto. Mas, já que não fora além do limite, forçou-se a terminar. Ainda que o tempo seja uma droga, vou terminar isso! gritou para si mesmo, tirando forças de onde não sabia.

No instante que tocou a parede, ele abriu os olhos para ver um par de pernas perante si. Ele ergueu a cabeça acima da superfície da água para respirar e descobriu-se olhando para a virilha de Cris. Nelson ficou vermelho e olhou para cima tão rápido que o pescoço doeu um pouco.

— Qual foi… — Começou, mas não completou após ver a expressão do assistente. — É tão ruim assim?

Cris encarou a tela em silêncio por um bom tempo, mordendo o lábio. Então suspirou e mostrou o telefone para Nelson.

— Veja por sua conta e risco.

O assistente marcara cada volta, e o aplicativo dera o melhor tempo, o pior e a média, além de algumas informações extras.

— Foi muito ruim… — Nelson mostrou um sorriso amarelo. Ele respirou fundo e exalou pela boca lentamente. — É a realidade. Só me resta me esforçar mais.

— Nelson…

— Ah, merda… Não posso lutar com a matemática… Acho que é por isso que sempre fui ruim nas aulas — disse o nadador com um sorrisinho.

Cris riu da piada.

— Que surpresa… você não está paranoico com isso… Acho que me preocupei por nada.

— Você quase soa desapontado que não fiquei paranoico — brincou Nelson novamente. — Para sua informação, não quero que torça meu braço ou sente nas minhas costas de novo. Doeu pra caramba.

— Que pena… Eu esperava ir além daquilo em breve — disse Cris, ficando vermelho de novo. — Ainda tem a questão da minha recompensa.

— Estou até com medo de perguntar — disse Nelson, desviando o olhar e então olhando para o homem vestindo um biquíni de novo.

— Melhor não. Ficaria chocado — riu o assistente. — Sendo franco, pensei que você ficaria todo nervoso e deprimido de novo. Mas, para sua sorte, não há necessidade de fazer o que planejei.

— Estou levemente curioso, mas meu medo da resposta fala mais alto… — Nelson não terminou a frase, certificando-se de manter a cabeça erguida.

Seu pescoço começava a doer, mas ele ainda se forçou a ficar com ela erguida. Tudo para que não olhasse para baixo, para a saliência entre as pernas de Cris. Por que parece que tá me chamando?

— Sabe por que estou exatamente nesta posição? — perguntou Cris com a voz brincalhona do nada.

— De novo, estou com medo de perguntar… — Nelson queria desviar o olhar, mas não havia qualquer lugar seguro para isso.

— É porque, caso tivesse ficado paranoico e começasse a nadar pra compensar, eu prenderia sua cabeça nas minhas pernas — Cris mostrou o sorriso malicioso.

Nelson se esforçou para ignorar a imagem formando-se em sua cabeça.

— Bom… graças aos Céus que fiquei de boa… né…?

— Ah, bem — disse Cris, colocando o celular no chão. — Ainda quero fazer isso.

No segundo seguinte, o assistente envolveu suas pernas em volta do pescoço de Nelson, puxando-o para mais perto antes que ele pudesse pensar em reagir.

Nelson tocou a virilha de Cris por um segundo com o nariz. Quando respirou, sentiu o cheiro do assistente e arregalou os olhos. Ele cheira bem, pensou, o rosto com uma tonalidade alarmante de vermelho.

Quando finalmente percebeu o que acontecia, Nelson colocou as duas mãos na borda da piscina e empurrou-se para longe da parede. Apesar das coxas quentes pressionarem suas orelhas, o nadador pôde ouvir Cris rir enquanto era puxado para a água.

Quando o nadador liberou-se, ele ergueu a cabeça para a superfície de novo.

— Por que você fez isso?

— Pra quebrar um pouco o gelo — disse o assistente, ainda rindo.

O nadador não conseguiu ficar bravo com aquela risada e sorriu, contra a vontade.

— Ora, seu… — Nelson nadou até Cris, quem tentava fugir.

Mas, como estava exausto, o nadador não conseguiu pegar seu assistente. Quando Nelson parou de nadar atrás de Cris, ele começou a flutuar, deixando pequenas ondas que criou levá-lo.

— Ei, Cris?

O assistente nadou para mais perto e flutuou próximo a Nelson, as cabeças deles quase se tocaram.

— O que foi?

— Acha que consigo voltar para minha forma anterior? — perguntou Nelson em voz baixa, mas, com o silêncio da piscina interna, suas palavras pareciam altas.

Cris ficou quieto por um momento.

— Acho que é melhor se parar de pensar em recuperar sua antiga forma. Você deveria almejar mais do que isso. Almeje o futuro, não o passado.

Nelson sorriu para aquelas palavras. O que eu precisava ouvir… Tenho sorte de ter ele, pensou, ainda flutuando.

— Valeu.

Cris parou de flutuar e puxou Nelson para debaixo d’água. Com um grande sorriso, o assistente moveu sua boca em um “De nada”.

Até debaixo da água um pouco gelada, Nelson sentiu o calor espalhar-se dentro de si e sorriu também. Tenho sorte mesmo…


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