O nadador e o assistente escrita por phmmoura


Capítulo 1
Capítulo 1




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Nelson escutou as palavras com uma expressão vazia. Mas, enquanto entendia o que elas significavam, ele tentou controlar sua vontade de sorrir.

— Tem certeza dessa vez, doutor? — ele perguntou, sem deixar a excitação crescer. Se deixasse, não teria como ele aguentar voltar aqui caso o médico estivesse errado. De novo.

— Sim. Dessa vez estou confiante. Sei que você está tentando não sair pulando de alegria, mas, da minha perspectiva, está curado. Dá pra ver que o inchaço diminuiu por completo e o movimento da junta está de volta ao normal. A dor que você reclamou é normal. Não dá pra voltar ao que era tão rápido — disse o médico com um sorriso gentil. — Hoje é o último dia em que nos vemos. E com sorte, será o último por um bom tempo.

Sem perceber, ele prendia o fôlego. Mas com as palavras do fisioterapeuta, Nelson soltou um suspiro aliviado. Dessa vez ele não tentou conter mais o sorriso.

— Muito obrigado, doutor.

O homem riu.

— Você tem um exame de ressonância magnética amanhã, então não faça nada precipitado e tente voltar pra piscina logo — disse ele com uma expressão preocupada, mas logo adicionou — mas aposto que já já vai estar na água ganhando várias medalhas pra gente.

Ele agradeceu ao homem mais uma vez, apertou a mão dele e deixou a sala enquanto outro paciente entrava. Nelson pegou o celular e sorriu quando viu as mensagens de seus amigos e familiares. Mas, quando estava prestes a responder, seus dedos pararam. É melhor esperar… Se eu falar que estou curado e descobrir que não… Não vou conseguir olhar eles no rosto… não de novo…

Respirando fundo, ele mandou uma mensagem primeiro para seus pais. Acabei de sair da fisioterapia. Tenho ressonância magnética amanhã pra conferir se tá tudo bem. Ele considerou adicionar a opinião do médico, mas achou melhor não. Depois de mandar o mesmo aos amigos, ele colocou o celular no bolso de novo.

Quando o aparelho vibrou, um sorriso agradável apareceu em seus lábios. Mas ele não leu as mensagens. Nelson saiu do departamento médico do clube Padro Maranhão, um grande prédio de quatro andares, e foi até o parque. Ele sentou no banco e observou as pessoas do clube relaxando ou fazendo algum exercício fora d’água. Ele reconheceu a maioria das pessoas e acenou de volta quando notaram ele sentado lá. Para sua sorte, ninguém foi falar com ele. Sabia que o assunto de sua lesão viria à tona e não conseguia lidar com o otimismo deles, embora não fizessem de má fé.

Dessa vez ele pegou o celular após vibrar novamente. Vai dar tudo certo, filho. Seu pai e eu estamos rezando por você, escreveu sua mãe. Você vai ficar bem, pode esperar. Eu vou ver você ganhar uma medalha este ano, respondeu o pai. Massa. Como eu esperava. Agora podemos competir de novo, seu amigo respondeu. E muitas outras mensagens desse tipo.

Sentindo-se melhor, Nelson voltou ao prédio do dormitório. Mas não o fez imediatamente. Ele pegou o caminho mais longo, passando pelas várias academias e piscinas. Sem perceber, seus pés o levaram até a piscina que mais usava antes do acidente.

Sem ninguém por perto, ele caminhou perto da borda da piscina, observando a água parada com uma expressão vazia. Estive na água desde o acidente, mas agora não vai ser só pra hidroterapia. Vai ser pra valer. Pra treinar… Pra competir, ele pensou, a excitação o preenchendo. Depois de meses, finalmente vou poder voltar.

Embora estivesse dentro do clube, demorou quase quinze minutos para chegar ao dormitório. Ele estava cansado quando chegou. Não pensei que taria tão fora de forma, pensou com um sorriso fraco enquanto se levantava diante dos quatro prédios que abrigavam mais de mil atletas indo de várias divisões de quase todos os esportes aquáticos.

Mesmo da entrada, ele podia escutar uma música baixa vindo do lado do dormitório masculino. Só tão se safando porque quase todo mundo tá em Londres agora, pensou Nelson, pegando seu cartão de acesso. Não tem como a diretoria deixar uma festa numa quinta-feira assim de boa.

— Aí está você — falou uma voz familiar. Quando se virou, viu seu amigo, Marcelo, caminhando com duas grades de cervejas. — Pensei que não dar as caras. Me dá uma mão com isso aqui.

— Dar as caras pra quê? — Nelson pegou uma das grades e perguntou.

— O começo da nova temporada — disse seu amigo como se fosse algo óbvio.

Todos o cumprimentaram quando eles entraram no saguão. Havia uma TV nos fundos mostrando os melhores momentos dos eventos de hoje dos atletas brasileiros, mas já que não era sobre a delegação de natação, foi colocada no mudo.

Após ele conversar com amigos e conhecidos, Nelson pegou uma cerveja e sentou no sofá.

— Então, cara, diz aí. Sei que você tá escondendo algo — disse Marcelo em voz baixa, embora com toda a música, dança e diversão em volta, ninguém prestava atenção neles.

— Ele disse que tem certeza que estou curado — disse Nelson.

Marcelo observou o rosto do amigo por um instante. Então bebeu sua cerveja.

— Mas você não quer celebrar até ter 100% de certeza.

— É…

— Já que te conheço, não vou falar pra não se preocupar. Melhor, vou te falar pra relaxar, já que não dá pra fazer nada a respeito, deixe que as preocupações de amanhã fiquem pro você do futuro.

— Você sempre diz isso — riu Nelson.

— E sempre ajuda — disse Marcelo, fazendo brinde com Nelson. — Mas falando sério. As piscinas ficaram chatas sem você.

— Sei. Você finalmente tá ganhando algumas medalhas agora que estou fora — disse Nelson com um sorriso convencido.

— Eu ganhava até com você lá. — Marcelo deu um soco no braço dele.

— Era tanto bronze que seu quarto nunca deve ter chegado na era do metal.

As pessoas em volta riram.

— Você é um idiota, sabia?

— Valeu — disse Nelson, rindo com os outros.

— Quando é seu exame?

— Amanhã de manhã.

— Seus pais vão?

— Eles precisam trabalhar. E não quero dar trabalho.

Eles ficaram em silêncio por um tempo. Nelson terminou sua cerveja, mas não pegou outra.

— Vai dar tudo certo, cara. A sorte tá do seu lado. Você melhorou antes do que todo mundo esperava. É por isso que o clube não desistiu de você.

Nelson passou a mão pelo rosto.

— É. Vou admitir que isso me preocupou. — Desde o acidente, ele ficou longe das piscinas. Sabia que ia melhorar, mas isso não tirava a preocupação com o clube.

O contrato dele era até o Campeonato Mundial de Desportos Aquáticos do ano que vem. Mas isso só seria depois das Olimpíadas. Depois do acidente, o clube o ajudou e apoiou, mas ninguém falou nada sobre o contrato dele. Não iriam abandoná-lo, ele tinha certeza disso. Mas, se não produzisse o mesmo ou ao menos resultados próximos à antes do acidente, eles poderiam não renovar seu contrato para o próximo ciclo olímpico. Especialmente agora que não sou mais sub-18…

— Não fique assim, cara. Eles têm fé em você. Não te deram uma assistente nova?

— Som… mas foi inesperado — disse em voz baixa. — Especialmente após tudo.

— Não foi culpa sua. Nem dela. Foi um acidente — disse seu amigo e rival com uma expressão séria. — Qual o nome da sua nova assistente, hein?

— Cris — disse Nelson de uma vez, inclinando-se contra o sofá. — Cris… Prado Maranhão.

Como ele esperava, o rosto de Marcelo se encheu de surpresa.

— Puta merda. Tá de brincadeira. Alguém da Família?

— Também não acreditei.

— Te lasca vei. Devia tá super animado. Isso quer dizer que o clube vai apostar pesado em você. Porra, cara… alguém da Família… — A surpresa de Marcelo deu lugar a um sorriso com significado oculto. — E dado seu histórico com suas duas últimas assistentes, quem sabe a diretoria não esteja planejando te deixar entrar pra Família.

— Vira essa boca pra lá, cara. Não sou mais uma criança. Não posso me envolver com minha assistente… de novo. Preciso me focar, senão eu… — Ele não completou a frase.

— Tá bom. — Marcelo sorriu e concordou. — Só pra você saber, nossa aposta ainda tá de pé.

— Que aposta? — outra voz se juntou a conversa deles.

Nelson e Marcelo olharam para cima. Uma garota com cabelos que iam até os ombros, usando um shorts curto combinado com meias na altura do joelho e uma camisa debaixo de uma jaqueta igualmente simples estava parada perto deles.

— Não sabe a reputação desse cara? — Marcelo sorriu e deu espaço pra garota sentar no sofá. Ela sentou e sorriu também. — Apostei 50 contos que ele vai se apaixonar pela nova assistente também.

— Também? — A garota inclinou a cabeça, confusa. — Ele se apaixonou pela última?

— Então. Ele é famoso por isso. Meu melhor amigo e rival aqui se apaixonou pelas antigas assistentes.

— Assistentes? Plural? Sério? — A garota se virou para Nelson, cerrou os olhos e sorriu para ele. — Fiquei sabendo algumas coisas quanto a isso, mas não achei que era verdade. Quem sabe isso não vai deixar as coisas mais interessantes.

— Não vá tirando conclusões. Ele não é um pegador que fica dando em cima das assistentes. Nem pensar, o nosso atleta aqui é mais um daqueles caras românticos que se apaixonou pra valer por aquelas garotas.

— Sei que é difícil, mas poderia fechar essa boca uma vez na vida? — reclamou Nelson, de rosto vermelho. Ele olhou para a garota, que ainda sorria para ele. — Sinto muito pelo meu amigo idiota. Ele não vai descansar até levar minha reputação pro lixo.

— Só estou dizendo a verdade — disse Marcelo, dando de ombros.

— E eu disse que não tenho tempo pra isso. Preciso me focar — respondeu Nelson, negando com a cabeça.

— Você disse exatamente a mesma coisa da última vez. — Marcelo mostrou um sorrisinho de escárnio. — Mas tudo bem. Não vou falar mais do passado. Só que isso não quer dizer que você vai pular fora da aposta.

— Não acho que vai ser tão fácil arrumar esses 50 contos — disse a garota. Ambos se viraram para ela.

— Ah, não, fala sério. — Marcelo balançou a cabeça, em surpresa falsa. — Por quê? Conhece a menina?

— Antes de responder, preciso perguntar: posso entrar na aposta?

Marcelo riu e Nelson fez cara feia. Nem a conheço e a garota já pensa isso de mim…

— De boa. Quanto mais, melhor. E aí, por que acha que não vai ser fácil?

— Porque não sou tão fácil — disse ela com um sorriso malicioso. — E sou homem.


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