Depois daquele passeio, não nos encontramos por alguns dias.

Nesse tempo, percebi que estava evoluindo ou pelo menos aprendendo a lidar com meus sentimentos polifônicos, dissonantes. Foi uma boa hora para buscar harmonia em mim, já que talvez eu estivesse me tornando obcecado por Ariel. Talvez nossa aproximação súbita tivesse me ajudado a perceber que eu já tinha aquela voz para mim, mesmo enquanto não estávamos juntos, mesmo enquanto éramos apenas bons amigos.

Naqueles dias também ganhei mais companhia.

No começo do outono, quando ainda era raro ouvir o som ríspido das folhas secas tocando o chão, meus pais me levaram a um abrigo de animais abandonados e de lá voltei para casa com Bach, um filhote de labrador agitado, macio e inocente que cresceria para se tornar meu cão-guia e meu melhor amigo.

Depois de Bach, não vivi mais um dia plúmbeo sequer. Seu latido agudo e amoroso, sua mania de pular no meu colo enquanto eu tocava piano... Sua presença tornara tudo mais feliz.

Aqueles dias sem Ariel me mostraram que eu podia ter sua voz, mas também podia apreciar a orquestra magnífica que o mundo regia sem pausas.

Eu já estava esquecendo da delicadeza da melodia das canções do vento de outono.