Toda vez que eu pensava em voltar, me lembrava de como estava sendo tratada. As pessoas que me criaram, pessoas pelas quais eu tinha tido afeição, não estavam mais ali pra mim, nem sabia onde eles tinham se metido.

E caiu a ficha de que não eram minha família. Afinal, família não te trata da forma como me trataram durante anos, como se eu fosse um objeto, uma posse, um porco para o abate. Como eu poderia ter tolerado isso durante tanto tempo? Qual era o meu problema?

Dizendo a mim mesma de que não iria desistir, comecei a ter pensamentos que até então não tinha tido. Por que e deveria continuar seguindo as regras deles? Onde se encontravam os ditadores nesse momento em que eu não conseguia ver ninguém?

Dormi em cantos escuros, com frio, com fome e sede, com o único desejo de me afastar cada vez mais. Era tóxico, era ruim. Seguir em frente é isso, certo? Mesmo sofrendo a curto prazo, saber que isso é o certo. Mesmo seu coração implorando pra voltar, fazer seu cérebro se recordar dos momentos de dor.

Eu tinha sido usada. Mas estava me descobrindo como um plúmbeo: feita de chumbo.